QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ALFACE (Lactuca sativa L) EM FUNÇÃO DO TIPO DE ADUBAÇÃO ORGÂNICA

 

MACHADO, S.S.1; MOURA, C.J.2

 

1 Universidade Federal de Goiás, simone_machado@hotmail.com

2 Universidade Federal de Goiás, celso@agro.ufg.br

 

PALAVRAS-CHAVES: cama de frango, torta de mamona, contaminação fecal, salmonela.

 

RESUMO

Este estudo teve como objetivo a avaliação microbiológica de alface produzida com a utilização de adubos orgânicos cama de frango e torta de mamona. Todas as amostras, adubadas com cama de frango tratada, torta de mamona e ausência de adubação, apresentaram baixa contaminação fecal e ausência de Salmonella sp.

 

INTRODUÇÃO

O consumo de verduras cruas constitui importante meio de transmissão de várias doenças infecciosas e parasitárias pela freqüente prática de irrigação de hortas com água contaminada por matéria fecal ou por utilização de adubos inadequados (Takanaiagui et al., 2000). De acordo com Frank & Takeushi (1999), vegetais frescos, especialmente alface, foram identificados como veículos de bactérias patogênicas relevantes para a saúde pública, tais como Salmonella sp. e E.coli. Há uma crescente demanda por hortaliças sem agroquímicos, o que leva muitos produtores a fazer uso pouco racional de materiais orgânicos como fonte de adubação, colocando em risco a saúde do consumidor.

 

OBJETIVO

Este estudo teve como objetivo a avaliação microbiológica de alface (Lactuca sativa L) produzida com a utilização de cama de frango tratada e torta de mamona.

 

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em uma empresa produtora de hortaliças, localizada no município de Aparecida de Goiânia – GO. Utilizou-se alface do tipo crespa, da cultivar Mariane, com 45 dias de ciclo, produzida em sistema convencional. Foram realizadas quatro repetições da combinação dos adubos cama de frango, proveniente do tratamento de compostagem de 40 dias, e torta de mamona com três tipos de aplicação – a lanço, incorporado ao solo; no sulco de plantio e na cova a uma profundidade de 10 cm. A aplicação dos adubos foi feita no plantio das mudas, na quantidade de 20 ton.ha-1 para todos os tratamentos. As irrigações foram realizadas quando necessárias por aspersão, utilizando água de poço artesiano localizado na propriedade e previamente aprovada quanto a sua qualidade microbiológica. As amostras foram coletadas em 01/05/04 e analisadas no Laboratório de Microbiologia do Setor de Tecnologia de Alimentos da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, quanto a Coliformes [método alternativo “SimPlate (CEC) para contagem de coliformes totais e E. coli”] e Salmonella sp. (Vanderzant, 1992).

 

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Tabela 1. Avaliação microbiológica de alfaces tratadas com diferentes tipos e aplicação de adubação orgânica.

 

Valores médios*

Tratamento

Coliformes Totais (NMP/g)

E. coli (NMP/g)

Salmonella sp.

CAMA DE FRANGO À LANÇO

7,8 x 102

5,0 x 101

Ausência/25g

CAMA DE FRANGO NO SULCO

1,5 x 102

Ausência

Ausência/25g

CAMA DE FRANGO NA COVA (10 cm)

3,5 x 102

Ausência

Ausência/25g

TORTA DE MAMONA À LANÇO

2,5 x 101

Ausência

Ausência/25g

TORTA DE MAMONA NO SULCO

5,0 x 102

Ausência

Ausência/25g

TORTA DE MAMONA NA COVA (10 cm)

5,0 x 103

Ausência

Ausência/25g

SEM ADUBAÇÃO

7,0 x 101

Ausência

Ausência/25g

* Média de 04 amostras, analisadas em duplicata.

 

Segundo a Resolução – RDC nº 12, o índice máximo de coliformes fecais permitido em hortaliças frescas é de 100 NMP/g, e quanto à Salmonella, deve estar ausente em 25g do alimento. Os resultados demonstraram que para todos os tratamentos as amostras se enquadraram na legislação; os valores encontrados são também compatíveis com os valores relatados por Machado (2003) em pesquisa microbiológica de alface adubada com adubo orgânico de origem animal.

Silva & Bosquirolo (1996) em pesquisa de presença de Salmonella em cama de frango proveniente de um sistema de integração de frangos, no período de 10 semanas encontraram resultado positivo para 2,8% das amostras avaliadas.  Entretanto, os resultados encontrados nessa pesquisa sugerem que o maior risco de contaminação microbiológica de alface não se encontra nos adubos orgânicos utilizados no presente estudo.

É imprescindível, portanto, que o produtor atenda aos princípios preconizados pelas Boas Práticas de Fabricação, quanto às ações educativas de preceitos de higiene pessoal e de produção que evitem a contaminação do produto nas etapas colheita e pós-colheita, além de atender as Boas Práticas Agrícolas, no que diz respeito à procedência dos insumos e práticas de tratamento que visem à eliminação de microrganismos patogênicos.

 

CONCLUSÕES

Os resultados encontrados no presente trabalho levam as seguintes conclusões:

 - A alface produzida utilizando como única fonte de adubação a torta de mamona apresentou qualidade microbiológica compatível com a legislação vigente;

- A alface produzida utilizando como única fonte de adubação a cama de frango resultante de tratamento de compostagem de 40 dias apresentou qualidade microbiológica conforme as exigências da legislação vigente;

- As formas de aplicação dos adubos não alteraram o nível de contaminação fecal.

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Resolução RDC nº 12, 2 jan. 2001. Aprova o regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da União [República Federativa do Brasil], Brasília, jan. 2001.

 

FRANK, J.; TAKEUSHI, K. Direct observation of E. Coli O157:H7 inactivation on lettuce leaf using confocal scanning laser microscopy. In: International Conference of International Committee on Food Microbiology and Hygiene, 17, 1999, Vendhoven. Proceedings...Vendhoven, Committee on Food Microbiol. Hyg., 1999, p.795-797.

 

MACHADO, D.C. Qualidade microbiológica de hortaliças orgânicas cultivadas na Universidade Federal de Goiás entre abril a julho, 2001. Tese de Doutorado (Instituto de Patologias Tropicais da Universidade Federal de Goiás), Goiânia, 2003, 56p.

 

Silva, E.N.; Bosquiroli, S.L. Epidemiological occurence of Salmonella

in a broiler integrated company. In: World Poultry Congress; 1996;

New Delhi, India. p.385-389.

 

Takayanagui OM, Febrônio LH, Bergamini AM, Okino MH, Castro e Silva AA, Santiago R, Capuano DM, Oliveira MA, Takayanagui AM. Fiscalização de hortas produtoras de verduras no município de Ribeirão Preto, SP. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical  nº33, p.169-174, 2000.

 

VANDERZANT, C.; SPLITSTOESSER, D. F. Compendium of methods for the microbiological examination of foods. Washington: American Public Health Association, 1992. 3 ed.1219p.

 

 

 

 

 

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