EFEITO DE SUBSTRATO NA EMERGÊNCIA DE SEMENTES DE ARATICUM

 

CAVALCANTE, T.R.M.; NAVES, R.V.; BRAGA FILHO, J.R. & SILVA, L.B.

 

Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da UFG

 

e-mail: tadeucavalcante@yahoo.com.br

e-mail: ronaldo@agro.ufg.br

 

Palavras-chave: Annonaceae, araticum, Annona crassiflora, sementes

 

INTRODUÇÃO

 

A Annona crasssiflora Mart. 1841, conhecida como araticum, bruto, cabeça-de-negro, cascudo, marolo e pinha-do-cerrado, encontra-se amplamente distribuída no Cerrado, sendo uma das 25 espécies mais freqüentes desse bioma (RIBEIRO et al., 2000), com maiores densidades em Latossolos Vermelho Amarelo (NAVES, 1999). Apesar de amplamente distribuída, a germinação dessa espécie é, naturalmente, lenta (RIBEIRO et al., 2000), havendo registros de sua ocorrência por até 240 a 300 dias (MELO et al., 1998).

 Apesar da importância das espécies frutíferas da família Annonaceae, são poucos os trabalhos realizados, em particular com araticum. Dado esse fato, este trabalho teve como objetivo avaliar a emergência de sementes de A. crassiflora em diferentes substratos.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no campus da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás – EA / UFG, Goiânia, Goiás, no período de março a julho de 2004. As sementes foram provenientes de frutos maduros, adquiridos no mercado local da cidade.

A extração das sementes foi feita com jato d’água sob alta pressão, sendo os frutos colocados em uma sacola de arame. As sementes foram contadas, pesadas em balança digital e imersas em solução de ácido giberélico (progib) na proporção de 4000mg.L-1, por 73h. Após esse período, as sementes foram novamente pesadas e imersas em solução fungicida por 20h e 30 minutos. Após a imersão, as sementes foram imediatamente semeadas em diferentes substratos, sendo utilizado uma semente por tubete plástico PVC (262 mL), a uma profundidade de cerca de 2cm.

Foram avaliados 11 substratos: T1 - solo retirado a uma profundidade entre 20 - 40 cm (SP); T2 -SP + 10% de areia grossa; T3 -SP + 20% de areia grossa; T4 -SP + 30% de areia grossa; T5 -SP + 40% de areia grossa; T6 -SP + 50% de areia grossa; T7 -SP + 60% de areia grossa; T8 -SP + 70% de areia grossa; T9 -SP + 80% de areia grossa; T10 -SP + 90% de areia grossa e T11 - areia grossa. A emergência das plântulas foi avaliada durante 105 dias após a semeadura (D.A.S.), com observações diárias, considerando emergida a plântula com epicótilo ou ápice do caulículo acima do substrato. O índice de velocidade de emergência (IVE) foi determinado segundo Popinigis (1977).

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com 11 tratamentos e três repetições. Os resultados de percentagem de emergência foram submetidos à ANOVA. Para comparações das médias dos tratamentos foi utilizado o teste de Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os tratamentos foram estatísticamente iguais. Portanto, a decisão de utilizar solo, ou mesmo areia grossa, como substrato para germinação de sementes de A. crassiflora, dependerá do bom senso do viveirista, assim como do custo, da facilidade e disponibilidade para sua obtenção.

A germinação das sementes de araticum nos substratos T-3 e T-4 foram próximos de 60%, valor também encontrado por MELO et al. (1998). Entretanto, a percentagem de germinação citada por MELO et al. (1998) foi obtida em um período de 240 - 300 dias, o que vai de encontro com as atividades de um viveiro, onde normalmente se busca um curto período de tempo associado à alta percentagem de germinação (RIBEIRO et al., 2000). Em estudos realizados no CPATU, Belém-PA, com sementes de Annona muricata, foi obtido aos 60 dias, índice de germinação maior que 90% (CALZAVARA, 1987).

O período de emergência das sementes de A. crassiflora foi, em média, de 44,90 a 92,18 dias (Tabela 2), enquanto que Donadio et al. (1998) mencionaram que sementes de A. muricata germinaram entre 25 e 35 dias. Em pesquisas realizadas no CPATU, observou-se que sementes de Rollinia mucosa iniciaram a germinação entre 20 e 25 dias após a semeadura, estendendo-se até 45 dias, às vezes até 57 dias, com 90% de germinação (COSTA & MÜLLER, 1995). Comparativamente ao observado por COSTA & MÜLLER (1995), em R. mucosa,  A. crassiflora  apresentou, aproximadamente, o triplo de tempo para  a emergência das sementes e índice germinativo duas vezes menor em relação `a espécie observada por esses últimos autores.

 

Tabela 2 - Emergência de plântulas de araticum (Annona crassiflora Mart. 1841), Annonaceae, em diferentes substratos, durante 105 dias de observação após a semeadura, em Goiânia, Goiás - mar 2004-jul 2004

Tratamento

Emergência de Plântulas

 

 

Início

Final

 

DAS2

IVE3

%

T1 - solo retirado entre 20 - 40cm de profundidade (SR)

48

89

0,068572

27,08a1

T2 -SR + 10% de areia grossa

50

87

0,078125

31,25a

T3 -SR + 20% de areia grossa

42

97

0,205451

52,08a

T4 -SR + 30% de areia grossa

44

97

0,134729

52,08a

T5 -SR + 40% de areia grossa

42

103

0,114072

39,58a

T6 -SR + 50% de areia grossa

42

93

0,116313

41,66a

T7 -SR + 60% de areia grossa

44

84

0,104405

37,50a

T8 -SR + 70% de areia grossa

42

97

0,117381

43,75a

T9 -SR + 80% de areia grossa

44

78

0,125635

43,75a

T10 -SR + 90% de areia grossa

45

96

0,077507

27,08a

T11 - areia grossa

51

93

0,067207

25,00a

Média

44,90909

92,18182

0,109945

38,25545

C.V.

 

 

 

31,60378

R2

 

 

 

54,7785

1Letras iguais, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

2 DAS = Dias após semeadura; 3 IVE = Índice de velocidade de emergência;

 

Conclusões

 

1 - As diferentes misturas entre solo e areia grossa em nada afetam a emergência de Annona crassiflora;

 

2 - A emergência é desuniforme, com IVE igual a 0,10, e percentagem de germinação igual a 38,25%.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CALZAVARA, B.B.G.; MULLER, C.H. Fruticultura tropical: a gravioleira (Annona muricata L.). Belém-PA: CPATU/EMBRAPA, 1987. 36p. (Série Documento, 47).

 

CARVALHO, N.M. de; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. Campinas: Fundação Cargill, 1983. 408p.

 

COSTA, J.P.C. da; MÜLLER, C.H. Fruticultura tropical: o biribazeiro Rollinia mucosa (Jacq.) Baill. Belém: EMBRAPA-CPATU, 1995. 35p. (EMBRAPA-CPATU. Documentos, 84).

 

DONADIO, L.C.; NACHTIGAL, J.C.;  SACRAMENTO, C.K do. Frutas exóticas. Jaboticabal: Funep, 1998. 279p.

 

MELO, J.T. de; SILVA, J.A. da; TORRES, R.A. de A.; SILVEIRA, C.E. dos S. da; CALDAS, L.S.  Coleta, propagação e desenvolvimento inicial de espécies do cerrado. In: SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. (Ed.) Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: Embrapa-CPAC, 1998. p.243.

 

NAVES, R.V. Espécies frutíferas nativas dos cerrados de Goiás: caracterização e influências do clima e do solo. Goiânia, 1999. 206p. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás.

 

POPINIGIS, F. Fisiologia de sementes. Brasília: AGIPLAN, 1977. 289p.

 

RIBEIRO, J.F.; BRITO, M.A. de; SCALOPPI JUNIOR, E.J.; FONSECA, C.E.L. da  Araticum (Annona crassiflora Mart.). Jaboticabal: Funep, 2000. 52p. (Série Frutas Nativas, 12).

 

 

 

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