PERFIL METABÓLICO SANGÜÍNEO E URINÁRIO
E ASPECTOS MORFOLÓGICOS ÓSSEOS DE CÃES EM CRESCIMENTO, DA RAÇA DOGUE ALEMÃO,
SUBMETIDOS À SUPERALIMENTAÇÃO
Aluna de Doutorado: Severiana Cândida Mendonça Cunha
Carneiro
severianacunha@uol.com.br
Orientadora: Profª Drª Maria Clorinda Soares
Fioravanti
clorinda@vet.ufg.br
Palavras
chaves: Cães, osso, perfil bioquímico e superalimentação
No Brasil, a
ANFAL (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos) publica um balancete anual
sobre a situação e produção de alimentos para animais de companhia, setor que
desde 1997 apresenta crescimento anual entre 18% e 20%. No ano 2000 produziu
cerca de um milhão de toneladas de alimentos, com faturamento de 980 milhões de
reais. Atualmente, apenas 32% dos 27 milhões de cães e 11 milhões de gatos do
Brasil recebem alimentação industrializada. Para satisfazer a 93% da demanda do
mercado interno, como ocorre na Alemanha, calcula-se que seja necessária a
produção de 2700 milhões de toneladas de alimentos nos próximos cinco anos
(PRADA, 2002).
Entretanto,
devemos ressaltar que o perfil nutricional da ração e o uso de métodos de
alimentação adequados durante o crescimento controlam os fatores nutricionais
de risco para a manifestação de doenças esqueléticas. Existem três métodos
básicos de alimentação de cães em crescimento: ad libitum ou à vontade, limitação de tempo ou limitação de ração
(RICHARDSON & TOLL, 1996).
O
desenvolvimento do esqueleto no cão resulta da interação de influências genéticas,
ambientais e nutricionais. Destes fatores a nutrição é de fundamental
importância para evitar a manifestação das doenças do esqueleto de cães de
grande porte em crescimento (CASE et al., 1998). A energia, proteína, cálcio,
fósforo e vitamina D afetam criticamente o desenvolvimento dos ossos. Quando
administrados em excesso, quase todos esses nutrientes passam a ser nocivos
para o crescimento normal do esqueleto. (HEDHAMMER et al., 1974).
As doenças do
esqueleto associadas à nutrição que ocorrem com maior freqüência nos cães em
crescimento são a displasia coxofemoral, a osteocondrose e a osteodistrofia
hipertrófica (CASE et al., 1998). Considerando que a maioria desses distúrbios
está relacionada com cães de grande porte e com a ingestão excessiva de ração,
podendo ou não estar associada com o uso de suplemento comercial, faz-se
necessário a orientação correta por parte dos profissionais para que os
proprietários alimentem seus animais de forma correta. (RICHARDSON, 1997).
O
fundamento deste projeto consiste em estabelecer relação entre o volume ósseo
total e porcentual de cartilagem no osso (constituição óssea) e o perfil
metabólico sanguíneo e urinário frente a uma dieta a base de ração super-premium
com o método de alimentação à vontade. Estes parâmetros servirão
para caracterizar resposta do organismo frente à superalimentação durante o
desenvolvimento dos animais; simulando as condições de criação empregadas pela
maioria dos criadores. Estas avaliações permitirão a obtenção de dados para
estabelecer a
dinâmica das alterações no desenvolvimento do esqueleto, além de auxiliar na
determinação de métodos de alimentação adequada em relação às dietas à base de
rações super premium.
MATERIAL E MÉTODOS
A parte experimental deste projeto foi realizada no
Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás,
no período de março a novembro de 2002. Foram utilizados 14 animais da espécie
canina, todos machos, da raça Dogue Alemão, peso corpóreo médio inicial de 8 kg
e com dez semanas de idade, provenientes de seis ninhadas diferentes,
adquiridas em canis particulares.
A dieta fornecida para os cães do experimento
consistiu de uma ração comercial seca extrusada. O fornecimento da ração para
os animais foi de acordo com os tratamentos adotados neste experimento. Para os
cães do tratamento 1 (T I – à vontade) o fornecimento foi livre e individual
das 8h às 18h. Para o tratamento 2 (T II - restrito) a ração foi fornecida em
quantidades preestabelecidas pelo fabricante, considerando-se a idade e o peso
corporal, fornecidas em três refeições individuais diárias, às 7h, 12h 30min e
às 17h.
O delineamento experimental foi em blocos
casualizados, com dois tratamentos e sete repetições. Os filhotes foram
distribuídos em cada tratamento, de modo que, cada ninhada foi igualmente
representada em ambos os tratamentos, sendo dois
irmãos representando um bloco. As mensurações da altura da cernelha, do
perímetro torácico e o peso dos animais foram realizadas a cada sete dias, às
7h da manhã e com todos os animais em jejum.
As amostras de sangue foram colhidas semanalmente
para realização do hemograma, lipidograma, proteínograma, provas de função
hepática e renal. A urina foi colhida quinzenalmente para a dosagem de cálcio,
fósforo, creatinina e proteína. Ao final do experimento foi feito um ensaio
alimentar de digestibilidade com cada cão. Posteriormente, tanto a matéria
fecal, quanto o lote de ração utilizados naquele período serão submetidos às
análises bromatológicas.
Aos oito meses de idade, após o ensaio alimentar,
todos os cães foram submetidos à cirurgia para a ressecção da junção
costocondral da nona costela para avaliações histopatológicas e
histomorfométricas.
A estatística a ser utilizada será a análise de
variância e teste
não paramétrico de Mann & Whitney. Os testes estatísticos serão realizados
pelo programa de sistema para análises estatísticas (UFV/SAEG, 1997).
RESULTADOS
E IMPACTOS ESPERADOS
Os resultados serão importantes na determinação dos
parâmetros sangüíneos e urinários, relacionando-os com possíveis alterações
metabólicas envolvidas com cães submetidos à condição nutricional de
superalimentação e verificar o efeito da idade nesses parâmetros. Este estudo
possibilitará a consolidação de conhecimentos na área de nutrição e terapêutica,
subsidiando a definição de protocolos corretos de alimentação de cães de raças
gigantes em fase de crescimento. Adicionalmente, será possível a avaliação de
um protocolo de determinação dos coeficientes de digestibilidade aparente e que
permitirá a comparação dos resultados com aqueles já obtidos por outras
instituições ou descritos na literatura.
RISCOS E DIFICULDADES
Considerando-se que a parte experimental do projeto
que envolvia os animais já foi executada, os riscos referentes às demais
atividades são mínimos. As únicas dificuldades que poderão existir são aquelas
relacionadas à determinação da metodologia mais adequada para a realização da
descalcificação das amostras de tecido ósseo e à determinação dos critérios a
serem utilizados nas medidas histomorfométricas.
Quanto à realização da estatística, poderá haver
dificuldades quanto à execução das provas, em virtude da restrita
disponibilidade de máquinas operando programas computacionais, porém já foram
inclusive adquiridas mais versões autorizadas do programa computacional SAEG
para serem utilizados pelos pesquisadores da Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Goiás.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. CASE, L. P., CAREY, D. P., HIRAKAWA, D. A. Nutrição canina e felina: manual para profissionais. Madrid: Hartcaurt
Brace, 1998. 424p.
2. HEDHAMMER, A., WU, F., KROOK, L., SCHRYVER, H. F.; LAHUNTA, A.;
WHALEN, J. P.; KALLFEZ, F. A.; NUNEZ, E. A.; HINTZ, H. F.; SHEFFY, B. E.; RYAN,
G. D. Overnutrition and skeletal disease: an experimental study in growing
Great Dane dogs. Cornell Veterinarian,
Ithaca, v. 64, suplemento.5, p. 1-160, 1974.
3. PRADA, F. Alimentos premium e super-premium para animais de estimação. II
Simpósio sobre nutrição de animais de estimação, Colégio Brasileiro de Nutrição
Animal, Campinas, 2002, 149p.
4. RICHARDSON, D. C. Ortopedia do
desenvolvimento: influências nutricionais no cão. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN,
E. C. Tratado de medicina interna
veterinária. 4. ed. São Paulo: Manole, v. 1, cap. 55, p. 358-365, 1997.
5. RICHARDSON, D.C. & TOLL, P.W. Relationship of nutrition to
developmental skeletal disease in young dogs. Veterinary Practice Publishing
Company. Santa Barbara:
Califórnia, v. 4, n. 1, 1996, 9 p.
6.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV) SAEG (Sistema de Análises Estatísticas
e Genéticas) Viçosa-MG, 1997. (versão 7.0).