DETECÇÃO DE
ASTROVÍRUS EM AMOSTRAS FECAIS DE CRIANÇAS COM GASTROENTERITE AGUDA PROVENIENTES
DAS CIDADES DE GOIÂNIA – GOIÁS E BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL.
SANTOS, R. A. T.1; SILVA, P. A.1;
BORGES, A. M. T.1; TEIXEIRA, J. M. S.2; GIUGLIANO, L. G.3;
XIMENES, R. O.1; SILVA, D. F. V.1; CARDOSO, D. P. P.1
(1Laboratório
de Virologia Humana, Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia – Goiás; 2Instituto de Saúde
do Distrito Federal, LACEN, Brasília – Distrito Federal; 3Laboratório
de Microbiologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília,
Brasília – Distrito Federal).
E-mail:
rat_santos@yahoo.com.br
Palavras-chave:
Astrovírus, RT-PCR, Cultivo Celular
INTRODUÇÃO
Os astrovírus humanos, família Astroviridae, são reconhecidos como um
dos agentes virais causadores de gastroenterite em crianças. São vírus não
envelopados com aproximadamente 28 nm de diâmetro e possuem uma fita simples de
RNA (ssRNA) de polaridade positiva
com 6.8 a 7.6 Kb. O genoma contém três regiões de leitura aberta (ORFs) designadas ORF-1a e ORF-1b, que
codificam proteínas não-estruturais incluindo a polimerase viral, e a ORF-2 que codifica proteínas estruturais
que compõem o capsídeo viral. Diferentes metodologias têm sido utilizadas para
a detecção de astrovírus, sendo que a RT-PCR
com iniciadores desenhados para a região do capsídeo viral, é atualmente
empregada em larga escala para a detecção destes agentes (Lewis et al., 1994; Medina et al., 2000; Matsui;Greenberg, 2001;
Cardoso et al., 2002).
O presente estudo teve como objetivos a detecção de astrovírus pela RT-PCR em espécimes fecais de crianças com gastroenterite aguda provenientes das cidades de Goiânia-GO e Brasília-DF, além do cultivo de amostras para astrovírus em células Caco-2.
MATERIAL E MÉTODOS
Material de estudo – Consistiu de amostras fecais coletadas de crianças menores de 5 anos de idade que apresentavam quadro de gastroenterite aguda. Um total de 1244 amostras fecais foi obtido entre outubro de 1994 a janeiro de 1996 e março de 1998 a agosto de 2002.
Metodologia – O ssRNA viral foi extraído a partir das suspensões fecais a 20%, seguindo a metodologia descrita por Boom et al., (1990) com modificações. A seguir, o DNA complementar (cDNA) foi obtido a partir de um volume de 16 mL de RNA, acrescido de 2 mL do iniciador randômico pd(N)6 (Amersham Pharmacia Biotech, Inc.). Posteriormente, foi utilizada para amplificação 10 mL do cDNA utilizando o par de iniciadores específicos Mon 269 e Mon 270 desenhados para a região ORF-2 resultando num amplicon de 449 pb, conforme descrito por Noel et al., (1995).
No procedimento de cultivo, as
suspensões fecais a 20% foram tratadas, previamente, com antibióticos e
antifúngico, utilizando o método de Brinker et
al., (2000) com modificações, utilizando a linhagem celular Caco-2
(adenocarcinoma de cólon humano).
RESULTADOS
Tabela 01. Percentagem de amostras positivas para astrovírus de acordo com a cidade de coleta.
Local |
No |
% |
Goiânia |
21/743 |
2,8 |
Brasília |
25/501 |
5,0 |
Total |
46/1244 |
3,7 |
Tabela 02. Percentagem de
amostras positivas para astrovírus provenientes de crianças das cidades de
Goiânia-GO e Brasília-DF de acordo com a faixa etária.*
Faixa etária (meses) |
No |
% |
< 6 |
11/305 |
3,6 |
7-12 |
14/426 |
3,3 |
13-24 |
6/295 |
2,0 |
25-36 |
3/102 |
2,9 |
> 36 |
6/92 |
6,5 |
Total |
40/1220 |
3,3 |
*24 amostras sem informação a respeito da idade, sendo 6 delas positivas para astrovírus.
Tabela 03. Percentagem de
amostras positivas para astrovírus provenientes de crianças das cidades de
Goiânia-GO e Brasília-DF em relação aos meses do ano.*
Meses |
No |
% |
Setembro – Março |
44/779 |
5,6 |
Abril – Agosto |
2/464 |
0,4 |
Total |
46/1243 |
3,7 |
c2 = 20.77 p<0,001
*1 amostra sem informação a respeito da data de coleta, sendo esta negativa para astrovírus.
Tabela 04. Associação entre astrovírus e outros agentes virais causadores de gastroenterite.
Associação |
No |
Astrovírus / Rotavírus |
6 |
Astrovírus / Calicivírus |
6 |
Astrovírus / Adenovírus |
1 |
Astrovírus / Calicivírus / Rotavírus |
1 |
Total |
14 |
O cultivo de astrovírus foi realizado para 20 amostras, sendo que em 11 delas foi observado (após a primeira passagem em células Caco-2) efeito citopático visível e característico para o agente viral em estudo. Em 4 dessas amostras foi observada por RT-PCR positividade para o agente.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
·
Neste estudo, o índice de detecção para astrovírus foi
de 3,7%, o que está de acordo com dados da literatura (Mustafá et al., 2000; Medina et al., 2000; Cardoso et al., 2002). Foi observada diferença
no índice de detecção de astrovírus nas duas cidades onde o estudo foi
realizado, sendo que em Brasília-DF foi detectado o maior índice (5,0%).
·
Foi observada a presença do agente em todas as faixas
etárias estudadas entre 40 amostras positivas.
·
Em relação aos meses do ano, foi observado maior índice
de positividade para astrovírus entre os meses de setembro a março
(p<0,001), que correspondem à estação chuvosa em Goiânia-GO e Brasília-DF,
contrastando-se com a ocorrência de rotavírus nessas cidades que é maior nos
meses correspondentes ao período de baixa umidade (Cardoso et al., 2003).
·
Em 14 (30,4%) amostras foi observada infecção dupla ou
tripla com outros agentes virais, dificultando afirmar qual o agente causal da
infecção. Estudo realizado por Róman et
al., (2003) também relata percentual de co-infecção viral semelhante entre
astrovírus e rotavírus.
·
Dados deste estudo confirmam dados previamente
reportados em Goiânia e reforça a circulação de astrovírus como agente de
gastroenterite aguda em crianças das cidades de Goiânia-GO e Brasília-DF.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BOOM, R, et al. Rapid and simple method for
purification of nucleic acids. J Clin
Microbiol, v. 28, p. 495-503, 1990.
2. BRINKER,
J.P.; BLACKLOW, N.R.; HERRMANN, J.E. Human astrovirus isolation and propagation
in multiple cell lines. Arch Virol,
v. 145, p. 1847-1856, 2000.
3. CARDOSO,
D.P.P, et al. Detection and genotyping of astroviruses from children with acute
gastroenteritis from Goiânia, Goiás, Brazil. Med Sci Monit, v.8, p. 624-628, 2002.
4.
CARDOSO, D.P.P, et al. Epidemiological features of rotavirus
infection in Goiânia, Goiás, Brazil, from 1986 to 2000. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 98, p. 25-29, 2003.
5.
LEWIS, T.L, et al. Analysis of astrovirus serotype 1 RNA,
identification of the viral RNA-dependent RNA polymerase motif, and expression
of a viral structural protein. J Virol, v. 68, p. 77-83, 1994.
6. MATSUI, S.M.; GREENBERG, H.B. Astrovirus. In: KNIPE,
D.M; HOWLEY P.M.; GRIFFIN, D.E.; MARTIN, M.A.; LAMB, R.A.;ROIZAMAN, B. Fields Virology, 4ed., Philadelphia:
Lippincott-Raven Press, v.1, cap. 28, p. 875-893, 2001.
7. MEDINA, S.M, et al. Identification
and type distribution of astrovirus among children with gastroenteritis in
Colombia and Venezuela. J Clin Microbiol,
v. 38, p. 3481-3483, 2000.
8. MUSTAFÁ,
H.; PALOMBO, E.A.; BISHOP, R.F. Epidemiology of astrovirus infection in young
children hospitalized with acute gastroenteritis in Melbourne, Australia, over
a period of four consecutive years, 1995 to 1998. J Clin Microbiol, v. 38, p. 1058-1062, 2000.
9. NOEL,
J.S, et al. Typing of human astrovirus from clinical isolates by enzyme
immunoassay and nucleotide sequencing. J
Clin Microbiol, v. 33, p. 797-801, 1995.
9.
RÓMAN, E, et al. Acute viral gastroenteritis: proportion and clinical
relevance of multiple infections in Spanish children. J Med Virol, v. 52, p. 435-440, 2003.
Órgãos de Fomento: CAPES, CNPq