INFLUÊNCIA DE DIFERENTES NÍVEIS PROTÉICOS NA DIETA SOBRE A FUNÇÃO RENAL DE CÃES

(Projeto de Pesquisa)

 

FERREIRA, R. P.; STRINGHINI, J. H.; BORGES, F. M. O., FIORAVANTI, M. C. S.

 

Escola de Veterinária da UFG

 

Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Ciência Animal da EV - Bolsista CNPq -  aferreira@cultura.com.br

Orientadora - clorinda@vet.ufg.br

 

 

Palavras-chave: Bioquímica, proteína, eletroforese, biópsia.

 

INTRODUÇÃO

A doença renal é uma afecção comum na clínica de pequenos animais, pois, 50% dos animais acima de oito anos apresentam lesões renais e destes, 40% evoluem para a insuficiência renal crônica (IRC), uma doença de caráter progressivo e irreversível (BORGES & NUNES, 1998; TOLEDO, 2001). A IRC manifesta-se quando em torno de 75% do parênquima renal encontra-se comprometido, sendo caracterizada pela incapacidade dos rins em desenvolverem suas funções normalmente, como conseqüência de uma série de patologias (MARKWELL et al., 1994). Os mecanismos envolvidos com a origem e progressão da IRC podem estar relacionados a mudanças no padrão da perfusão dos néfrons funcionais remanescentes, cuja lesão glomerular progressiva resulta normalmente em redução contínua da taxa de filtração glomerular (TFG) e em esclerose glomerular (GUIJARRO & KEANE, 1994). Os rins são responsáveis pela filtração dos metabólitos orgânicos, principalmente a uréia, assim como pela regulação dos fluidos corporais e balanço eletrolítico, além disso, também participa da regulação endócrina de outros sistemas, como a produção de hemácias e o metabolismo ósseo (BETO & BANSAL, 2004). A redução na capacidade renal de excreção de catabólitos protéicos nitrogenados e não-nitrogenados provocam sinais de uremia e anormalidades laboratoriais compatíveis com o quadro de IRC. Os indicadores bioquímicos comumente utilizados no diagnóstico da IRC em cães referem-se às dosagens dos níveis sangüíneos de uréia, de creatinina, de fósforo, assim como a avaliação do equilíbrio ácido-básico, o acompanhamento da pressão sangüínea, do colesterol sérico, índices eritrocitários e sinais clínicos da insuficiência renal (KRONFELD,1993 e MARKWELL et al., 1994).

As anormalidades clínicas observadas em distúrbios da função renal podem ser influenciadas pelo consumo de calorias, de fósforo, de sódio, de potássio, de proteína e de ácidos, soma-se a isso o fato de os rins poderem estar sujeitos às próprias agressões e à propensão individual do animal em desenvolver essa patologia (FINCO et al., 1992 ; BROWN et al., 1998). As recomendações de manejo conservativo para cães com IRC incluem a redução no consumo de proteína total e de fósforo, além da melhoria na qualidade da proteína ingerida, sendo apontados como responsáveis pela amenização das anormalidades bioquímicas, o que eleva a qualidade de vida e reduz a progressão da insuficiência renal (LEIBETSEDER et al., 1991; FINCO et al., 1992; HANSEN et al., 1992; KRONFELD, 1993; HARTE et al., 1994; KRONFELD, 1994). Por outro lado, dietas contendo níveis protéicos muito baixos podem acarretar alterações metabólicas em cães sadios, principalmente sobre a função hepática, conforme constatado por DAVENPORT et al. (1994). Alguns autores discordam da possibilidade de dietas com alta proteína causarem lesão renal em cães saudáveis, pois esta observação estaria baseada em achados em ratos, os quais não poderiam ser estendidos para os cães (ROBERTSON et al., 1986; FINCO & BROWN, 1989).

Dessa maneira, este projeto de pesquisa foi concebido no sentido de auxiliar a elucidação de algumas das questões descritas. A função renal de cães sadios será monitorada durante o período no qual os animais estarão sendo alimentados com dietas elaboradas com níveis protéicos diferenciados. As avaliações para o acompanhamento da evolução clínica de cada animal serão realizadas concomitantemente aos exames laboratoriais que são utilizados na clínica veterinária rotineiramente para verificação de possíveis patologias ligadas ao sistema renal.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Neste trabalho serão estudados 24 cães sem raça definida (SRD), com idade superior a dois anos, machos e fêmeas. O delineamento experimental será inteiramente casualizado, com três tratamentos e oito repetições. Cada tratamento será composto por oito animais, aos quais serão fornecidas dietas formuladas com níveis protéicos variáveis quanto à energia metabolizável, durante um período de seis meses. As dietas constituirão de uma ração comercial seca, extrusada e isocalórica, com níveis protéicos de 11% (dieta I), de 22% (dieta II) e de 32% (dieta III) representando, respectivamente, os tratamentos I, II e III. Serão comparados os parâmetros clínicos e metabólicos referentes à função renal dos animais, por meio do hemograma, da bioquímica sanguínea e urinária e da urinálise. Além disso, serão feitos testes de função renal, avaliação eletroforética das proteínas séricas e urinárias, biópsia renal e estudo histopatológico. Os dados obtidos serão tabulados e submetidos à análise estatística descritiva (SAMPAIO, 1998). Conforme o comportamento das variáveis, serão realizadas as análises estatísticas paramétricas ou não-paramétricas por meio do programa estatístico SAEG (2003).

 

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

Este trabalho mostra grande relevância, pois irá fornecer informações importantes acerca de alguns aspectos nutricionais em relação à função renal de cães, nas condições aqui existentes, tendo em vista o enfoque preventivo na melhoria da qualidade de vida dos animais. Além disso, este estudo possibilitará a consolidação de conhecimentos na área de nutrição clínica de pequenos animais, uma vez que irá elucidar os protocolos mais adequados na formulação de alimentos para cães adultos.

 

RISCOS E DIFICULDADES

Existem algumas limitações quanto ao espaço físico disponível para a realização do experimento, havendo um número restrito de baias, nas quais os animais deverão ficar alojados. Além disso, a execução do projeto dependerá de financiamento, que será solicitado tanto à iniciativa privada, quanto a órgãos públicos.

 

FONTE DE FINANCIAMENTO: CNPq

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.      BETO, J. A; BANSAL, V. K. Medical nutrition therapy in chronic kidney failure: integrating clinical practice guidelines. Journal of the American Dietetic Association, Chicago, v. 104, n. 3, p. 404-409, 2004.

2.      BORGES, F. M., NUNES, I. J. Nutrição e manejo alimentar de cães na saúde e na doença. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária (UFMG), Belo Horizonte, n. 23, p.1-103. 1998.

3.   BOZZETTI, F. Nutritional issues in the care of the elderly patient. Critical Reviews in Oncology/Hematology, New Iork, v. 48, n. 2, p. 113-121, 2003.

4.   BROWN, S. A.; FINCO, D. R.; BARTGES, J. W.; BROWN, C. A.; BARSANTI, J. A. Interventional nutrition for renal disease. Clinical Techniques in Small Animal Practice, Orlando, v. 13, n. 4, p. 217-223, 1998.

5.      DAVENPORT, D. J.; MOSTARDI, R. A.; RICHARDSON, D. C.; GROSS, K. L.; GREENE, K. A.; BLAIR, K. Protein-deficient diet alters serum alkaline phosphatase, bile acids, proteins and urea nitrogen in dogs. Journal of Nutrition, Philadelphia, v. 124, n. 12, p. 2677-2679, 1994.

6.      FINCO, D. R.; BROWN, S. A. Newer concepts and controversies on dietary managment of renal failure. In: KIRK, R. W. (Ed.). Current Veterinary Therapy X (Small Animal Practice). Philadelphia: W.B. Saunders, 1989. p. 1198-1201.

7.      FINCO, D. R.; BROWN, S. A.; CROWELL, W. A.; GROVES, C. A.; DUNCAN, J. R.; BARSANTI, J. A. Effects of phosphorus/calcium-restricted and phosphorus/calcium-replete 32% protein diets in dogs with chronic renal failure. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 53, n. 1, p. 157-163, 1992.

8.      GUIJARRO, C.; KEANE, W. F. Lipid-induced glomerular injury. Nephron, New Iork, v. 67, n. 1, p. 1-6, 1994.

9.      HANSEN, B.; BARTOLA, S. P. D.; CHEW, D. J.; BROWNIE, C.;NAGODE, L. Clinical and metabolic findings in dogs with chronic renal failure fed two diets. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 53, n. 3, 1992.

10. HARTE, J. G.; MARKWELL, P. J.; MORAILLON, R. M.; GETTINBY, G. G.; SMITH, B. H. E.; WILLS, J. M.  Dietary management of naturally occurring chronic renal failure in cats. Journal of Nutrition, Philadelphia, v. 124, n. 12, p. 2660-2662, 1994.

11. KRONFELD, D. S. Dietary management of chronic renal disease in dogs: a critical appraisal. Journal of Small Animal Practice, London, v. 34, n. 5, p. 211-219, 1993.

12. KRONFELD, D. S. Dietary management of renal senescence and failure in dogs. Australian Veterinary Journal, Sydney, v. 71, n. 10, p. 328-331, 1994.

13. LEIBETSEDER, J. L.; NEUFELD, K. W. Effects of medium protein diets in dogs with chronic renal failure. Journal of Nutrition, Philadelphia, v. 121, n. 11, p. 145-149, 1991.

14. MARKWELL, P. J.; HARTE, J. G. Nutritional management of chronic renal failure in the dog and cat. The Veterinary Annual, Bristol, v. 34, p. 174-180, 1994.

15. ROBERTSON, J. L.; GOLDSCHMIDT, M.; KRONFELD, D. S.; BOVEÉ, K. C. Long term renal responses to high dietary protein in dogs with 75 per cent nephrectomy. Kidney International, New Iork, v. 29, p. 511-519, 1986.

16. SAMPAIO, I. B. M. Estatística aplicada à experimentação animal. Belo Horizonte: FEPMV,1998, 221 p.

17. TOLEDO, E. G. H. Perfil eletroforético de proteínas séricas e urinárias de cães normais e de portadores de insuficiência renal crônica. 2001. 52 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.

18. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV). Sistema de análises estatísticas e genéticas: Manual do usuário (SAEG). Versão 8.1, Viçosa, 2003. 301 p.