EFEITO DE DIFERENTES SUBSTRATOS NO DESENVOLVIMENTO DE MUDAS DE CAGAITA (Eugenia dysenterica DC.)

 

Reider Benevides Ferreira1, Juarez Patrício de Oliveira Júnior1, Ronaldo Veloso Naves1, Andréia Luiza Salgado1, Larissa Leandro Pires1; Wilson Oliveira Mesquita1

 

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1  Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – UFG. Goiânia – GO.

   Email: reiderb@pop.com.br.  Email orientador: juarez@agro.ufg.br.

 

Palavras-chave: cagaita, Eugenia dysenterica, substratos, frutíferas do cerrado.

 

INTRODUÇÃO

 

A cagaiteira (Eugenia dysenterica DC.) é uma espécie da família Myrtaceae, nativa da região do cerrado. Produz frutos levemente ácidos e muito saborosos, que podem ser aproveitados in natura, em forma de licores, sorvetes, sucos e geléias (Almeida et al., 1998; Silva et al., 2001).

Sabe-se que as plantas nativas da região do cerrado são heterogêneas com relação ao seu comportamento reprodutivo (Souza et al., 2001; Souza et al., 2002), logo, a realização de um trabalho de produção de mudas de espécies nativas visando o repovoamento de áreas requer estudos mais pormenorizados frente às possibilidades existentes, sobretudo com relação ao desenvolvimento de substratos mais eficientes. Neste contexto, a utilização de resíduos agroindustriais como a cinza de bagaço de cana-de-açúcar para composição de substratos é uma das alternativas mais utilizadas atualmente por viveiristas da região metropolitana de Goiânia-GO, contudo, não existem evidências científicas da eficácia de seu emprego na produção de mudas de espécies nativas do cerrado. Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo testar diferentes substratos, em diversas proporções, no desenvolvimento de mudas de cagaiteira.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi conduzido na Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, na cidade de Goiânia, Goiás, latitude 16º 35´ 12´´ e longitude 49º 21´ 14´´ Grw, a 730 m de altitude, no período de fevereiro a outubro de 2003.

Foram selecionadas mudas homogêneas de cagaiteira (E. dysenterica) com altura média de 12,2 cm e com um diâmetro médio de caule de 2,1 mm. Os substratos para o experimento foram feitos a partir de terra de subsolo (Latossolo Vermelho Amarelo) sob vegetação de cerrado típico; cinza de bagaço de cana-de-açúcar e calcário. Após a mistura dos componentes obteve-se cinco substratos: terra de subsolo (TPSC); terra de subsolo + calcário (TPCC); terra de subsolo + 1/3 do volume com cinza (1/3 SC); terra de subsolo + 1/3 do volume com cinza + calcário (1/3 CC); e, terra de subsolo + 2/3 do volume com cinza (2/3 SC). O uso do calcário foi para se obter uma saturação por bases de 70% . Depois de prontos, os substratos foram transferidos para sacos plásticos de polietileno preto com capacidade de 4 l (0,02  x 15,0  x 25,0 cm) e, então, foi realizado o plantio das mudas e levados para casa de vegetação, sob telado, com sombreamento de 50%.

O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados, constando de cinco blocos e cinco tratamentos em um esquema fatorial 2x2 + 1 (adicional). Cada parcela foi composta por oito mudas, perfazendo um total de duzentas mudas.

Foram coletados dados referentes à altura, diâmetro do caule a 2cm do solo e peso fresco e seco da parte aérea e do sistema radicular das mudas. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística e as médias desses dados foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Na Tabela 2 são mostrados os valores obtidos de diâmetro de caule, altura, peso fresco e seco do sistema radicular e da parte aérea das mudas de cagaiteira em função dos substratos testados. Observou-se que os melhores resultados, para todas as variáveis testadas, foi obtido com a utilização do substrato TPCC.

 

Tabela 2. Comparação entre diâmetro de caule (mm), altura (cm), peso fresco e seco do sistema radicular e parte aérea das mudas de cagaiteira (Eugenia dysenterica DC.) em função dos substratos testados. Goiânia, Goiás. 2003.

Tratamentos(1)

MÉDIAS(2)

Diâmetro

Altura

PFPA

PSPA

PFSR

PSSR

(mm)

(cm)

(g)

(g)

(g)

(g)

TPSC

2,7 b

     19,3 ab

3,32 b

1,99 b

11,64 b

5,37 b

TPCC

3,2 a

     21,6 a

5,35 a

3,16 a

18,47 a

8,77 a

1/3SC

2,6 b

     16,8 b

3,11 b

1,94 b

13,21 b

6,08 b

1/3CC

2,5 b

     17,6 b

3,21 b

2,02 b

13,73 b

6,18 b

2/3SC

2,6 b

     18,1 b

2,96 b

1,71 b

11,24 b

4,79 b

Média

2,7

      18,7

3,59

2,16

13,66

6,24

DMS (Tukey 5%)

0,4

        2,5

0,84

0,47

3,36

1,95

 (1) PFPA= Peso Fresco da Parte Aérea; PSPA= Peso Seco da Parte Aérea; PFSR= Peso Fresco do Sistema Radicular; PSSR= Peso Seco do Sistema Radicular.;

(2)  Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

Com relação ao efeito dos componentes testados sobre as variáveis testadas, observou-se que os tratamentos sem cinza + calcário apresentaram melhores resultados (Tabela 3 e 4).

 

Tabela 3.  Efeito dos componentes dos substratos sobre o diâmetro (mm) e altura das mudas (cm) de cagaita (Eugenia dysenterica DC.). Goiânia, Goiás. 2003.

Componente

Diâmetro (mm)

 

Altura (cm)

Sem calcário

Com calcário

 

Sem calcário

Com calcário

Sem cinza

        2,7 a B(1)

        3,2 a A

 

      19,3 a B

       21,6 a A

1/3 de cinza

        2,6 a

        2,5 b

 

      16,8 b A

       17,6 b A

2/3 de cinza

        2,6 a

           ----

 

      18,1 ab

             ----

(1) Letras minúsculas iguais na coluna e letras maiúsculas iguais na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

Tabela 4.  Efeito dos componentes dos substratos testados sobre o peso fresco e seco do sistema radicular e da parte aérea das mudas de cagaiteira (Eugenia dysenterica DC.). Goiânia, Goiás. 2003.

Componentes

Sistema radicular

 

Parte aérea

Peso fresco

 

Peso seco

 

Peso fresco

 

Peso seco

s/ calcário

c/ calcário

 

s/ calcário

c/ calcário

 

s/ calcário

c/ calcário

 

s/ calcário

c/ calcário

Sem cinza

11,64 b B(1)

18,47 a A

 

5,37 ab B

8,77 a A

 

3,32 a B

5,35 a A

 

1,99 a B

3,16 a A

1/3 de cinza

13,21 a A

13,73 b A

 

6,08 a A

6,18 b A

 

3,11 a A

3,21 b A

 

1,94 a A

2,02 b A

2/3 de cinza

11,24 b

----

 

4,79 b

----

 

2,96 a

----

 

1,71 a

----

(1) Letras minúsculas iguais na coluna e letras maiúsculas iguais na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Baseado na recomendação da Comissão de Fertilidade de Solos de Goiás (1988), observou-se que os valores de concentração de potássio presente nos substratos foram muito altos nos tratamentos com cinza (TPSC=43,0 mg/dm3, TPCC=57,0 mg/dm3, 1/3SC=392,0 mg/dm3, 1/3CC=382,0 mg/dm3 e 2/3SC=1.518,0 mg/dm3). Segundo Malavolta (1980), altas concentrações de potássio podem inibir a absorção de outros cátions como o cálcio e o magnésio.

O fornecimento de nutrientes em quantidades adequadas é fundamental para um bom desenvolvimento de mudas. Neste caso, o excesso de K presente nos substratos pode ter promovido a deficiência de um dos nutrientes mais importantes no desenvolvimento de cagaiteiras, o cálcio. Melo (1999) conduziu experimento com adubações e verificou que o cálcio é um dos nutrientes que mais contribuem para o desenvolvimento da planta. Logo, o desempenho ruim dos substratos com cinza é explicado por excesso de potássio liberado nos substratos.

 

CONCLUSÃO

 

Concluiu-se que:

1-     O substrato com melhor desempenho foi o composto por terra de subsolo + calcário (TPCC);

2-     O uso de cinza, nas proporções de 1/3 e 2/3 do volume total, mostraram-se desfavoráveis ao desenvolvimento das mudas de cagaiteira.

 

REFERÊNCIAS

 

Almeida, S.P., C. E. B. Proença, S. M. Sano & J. F. Ribeiro. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina-DF: Embrapa-CPAC, 1998. 464p.

 

Comissão de Fertilidade de Solos de Goiás. Recomendações de corretivos e fertilizantes para Goiás: 5º aproximação. Goiânia: UFG/EMGOPA, 1988. 101p.

 

Malavolta, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres. 1980. 254p.

 

Melo J.T. de. Resposta de mudas de espécies arbóreas do cerrado a nutrientes em Latossolo Vermelho Escuro. 1999. 119p. Tese (Doutorado em Ecologia). Departamento de ecologia – UnB.Brasília, 1999.

 

Silva, R.S.M.; J.L. Chaves & R.V. Naves, Caracterização de frutos e árvores de cagaita (Eugenia dysenterica DC.) no sudeste do Estado de Goiás, Brasil. Revista Brasileira de Fruticultura. Jaboticabal-SP, v.23, n.2, p.330-334, 2001.

 

Souza, E.R.B. de.; I.F. Carneiro,; R.V. Naves,; J.D. Borges,; W.M. Leandro & L.J. Chaves. Emergência e crescimento de cagaita (Eugenia dysenterica DC.) em função do tipo e do volume de substratos. Pesquisa Agropecuária Tropical. Goiânia, v.31, n.2, p.89-95, 2001.

 

Souza, E.R.B. de.; R.V. Naves, I.F. Carneiro, W.M. Leandro & J.D. Borges, Crescimento e sobrevivência de mudas de cagaiteira (Eugenia dysenterica DC.) nas condições do cerrado. Revista Brasileira de Fruticultura. Jaboticabal-SP, v.24, n.2, p.491-495, 2002.