CARACTERIZAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA, SANITÁRIA E IMUNOLÓGICA DE ANIMAIS DA RAÇA CURRALEIRO:

comparação com outras raças bovinas

JULIANO, R. S.; FIORAVANTI,M. C. S.

EV/UFG

rrinbox@hotmail.com clorinda@vet.ufg.br

Palavras chaves: Bovinos Curraleiros, perfil epidemiològico, perfil sanitário, perfil imunológico

 

INTRODUÇÃO

            No Brasil a primeira introdução de gado bovino data de 1534, em São Vicente. Em 1759, nas margens dos rios das Almas e Canabrava (Sertões de Amaro Leite, atualmente Mara Rosa) dois padres Jesuítas teriam seis fazendas de criar, contendo mais de três mil cabeças de gado denominado Curraleiro (PRIMO, 1992).

 Pouco sabe-se sobre o número de animais ainda existentes, a localização e características de seus criatórios, bem como, as particularidades fisiológicas e sanitárias da raça (CARVALHO, 1985).

 O desaparecimento dessas raças naturalizadas, representa uma perda irreparável para a ciência, pois com eles desaparecerão  inúmeras informações contidas na sua estrutura genética, desenvolvidas através de séculos de seleção natural, como a adaptação e uma maior resistência a doenças e parasitas.

O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo. Porém, este potencial é prejudicado devido a uma exploração ineficiente. Animais não especializados, nutrição deficiente e a conduta sanitária incipiente mantêm o nosso plantel com uma produtividade semelhante a dos países desenvolvidos, nas décadas de 40 e 50 (VARELA & WERNECK 1981).

Para RADOSTITIS & BLOOD (1986) qualquer programa de saúde animal obrigatoriamente deve incluir a vigilância de doenças infecciosas específicas como a brucelose, leucose, diarréia viral bovina, leptospirose e tuberculose. Essa vigilância tem como objetivo primário identificar os portadores para então efetivar a sua eliminação do rebanho.

A quantificação dos componentes do sistema imunológico estabelece parâmetros importantes para a avaliação do mesmo em situações de normalidade ou quando submetidos à condições de estímulo ou supressão.

A genética e as implicações sobre a resistência às doenças só podem ser compreendidas se forem abordadas paralelamente aos estudos epidemiológicos das enfermidades na população. Faz-se necessário conhecer os problemas sanitários que afetam a população, as características epidemiológicas destas enfermidades (BISHOP et al., 2000).

 Este projeto de tese tem como objetivo a caracterização epidemiológica, avaliação sanitária das enfermidades de maior impacto econômico em rebanho bovino e a caracterização da resposta imunológica em bovinos da raça Curraleiro, comparado a outras raças criadas sob as mesmas condições.

MATERIAL E MÉTODOS

Serão selecionadas propriedades rurais com criação de bovinos da raça Curraleiro concomitante a animais de outras raças, submetidos a manejo semelhante.

Será realizada a distribuição de questionários epidemiológicos com o objetivo de caracterizar os criatórios selecionados, para aspectos relacionados aos animais, à propriedade rural e aos produtores. A elaboração do questionário foi procedida com base na metodologia proposta por THRUSFIELD (1990), ROUQUAYROL (1991) e ROCHA & LEITE (1996), sendo estabelecidas variáveis que serão trabalhadas basicamente por meio de perguntas fechadas.

Serão escolhidas, aleatoriamente, 15 fêmeas adultas de cada raça, em uma mesma propriedade, com idade entre 2,5 e 5 anos e clinicamente saudáveis.

As amostras de sangue serão obtidas em tubos coletor de sangue à vácuo de 10 ml sem anticoagulante e após a retração do coágulo, levados à centrifugação à 2500 RPM. O soro obtido será dividido em alíquotas, colocados em tubos “eppendorf” e armazenados a 20 graus negativos.

Para o exame de brucelose será realizada a prova do antígeno acidificado tamponado, que é muito sensível e de fácil execução, será o único teste de triagem. Os animais que reagirem ao teste serão submetidos a um teste confirmatório, com o 2-Mercaptoetanol, que é mais específico, sendo esta prova executada em laboratórios credenciados, seguindo a metodologia proposta pelo órgão oficial de Defesa Sanitária (MAPA, 2002).

A prova de soroaglutinação microscópica (SAM) com antígenos vivos será o teste de escolha para o diagnóstico sorológico de leptospirose atual ou anterior, sendo específica para cada sorovar (MANUAL DE CONTROLE DA LEPTOSPIROSE, 1989).

O diagnóstico sorológico da leucose, IBR e BVD será realizado pelo teste de ELISA, conforme recomendação de WEIBLEN (1992), por meio de reagentes comerciais, seguindo as recomendações do fabricante. A detecção de anticorpos anti-toxoplasma será feita por meio de teste de hemaglutinação e a de Neospora caninum por imunofluorescência indireta (IFI). Os procedimentos básicos do teste de ELISA e hemaglutinação e IFI foram descritos por MADRUGA et al (2001)

Para a avaliação da tuberculose os bovinos serão tuberculinizados por inoculação intradérmica na região da paleta, de forma comparada, com PPD bovina e aviária, como método eficaz no controle das reações falso positivas, conforme preconiza o MAPA (2002)

O diagnóstico sorológico da leucose em bovinos será feito em animais com idade superior a sete meses e vacas no período de 30 dias pré ou pós parto (REICHEL et al., 1998).

A caracterização do sistema imunológico dos animais deverá abordar aspectos relacionados a imunidade celular e humoral.

A quantificação da atividade oxidativa de neutrófilos será realizada pelo teste de NBT (CIARLINI, 1998).

Para a avaliação da imunidade humoral será feita a separação das frações protéicas de albuminas e globulinas por eletroforese em gel de agarose, (CANAVESSI, 1997) e pela determinação de IgG e IgM por imunodifusão radial (MANCINI et al., 1965).

Será realizada a contagem total de leucócitos em câmara de Newbauer e a quantificação diferencial de linfócitos B e linfócitos T CD4+ e CD8+ será feita por meio de imunocitoquímica em esfregaço sanguíneo obedecendo o protocolo proposto por HSU et al. (1981).

Os resultados serão apresentados por estatística descritiva e quando necessário far-se-á a correlação das variáveis utilizando-se métodos estatísticos apropriados, na dependência da distribuição dessas variáveis dentro da população e da apresentação de características paramétricas ou não.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.BISHOP, S. C.; MacKENZIE, E. H., VAN der WAAIJ; WOODLIAMS, J. A., Relationships between disease resistance and genetic conservation in: GLOBAL CONFERENCE ON CONSERVATION OF DOMESTIC ANIMAL GENETIC RESOURCE, CONSERVATION AND BIOTHECHNOLOGY, 15 2000, Brasília. Proceedings... Brasília: RBI , 2000.

2.CANAVESSI, A. M. O. Valores do perfil eletroforético das proteínas séricas de bovinos da raça Nelore (Bos indicus) criados na região de botucatu, São Paulo:influência dos fatores etários e sexuais. Botucatu, 1997. 108p. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia –UNESP.

3.CARVALHO, J. H. Pé-duro, patrimônio preservado no Piauí. Dirigente Rural, São Paulo, p. 26-28, 1985.

4.CIARLINI, P. C., Leucograma e metabolismo oxidativo dos neutrófilos em ovelhas naturalmente infectadas por nematódeos gastrointestinais ao final da gestação, durante a lactação e após o desmame: influência de fatores raciais e hormonais. 1998. 104f. Tese doutorado, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia UNESP, Botucatu.

5.HSU, S. M., RAINE, L., FANGE, R. H.  A comparative study of the peroxidase - antiperoxidase method and avidin biotin complex method for studying polypeptide hormones with radioimmunoassay antibodies. American. Journal of Clinical and. Pathology, v.75, p.734-41, 1981.

6.MADRUGA, C. R.; ARAÚJO, F. R.; SOARES, C. O., Imunodiagnóstico em Medicina Veterinária. Campo Grande: Ministério.da Agricultura Pecuária e abastecimento, 2001, 360p.

7.MANCINI, G.; CARBONARA, A. O.; HEREMANS, J. S., Immunochemical quantitation of antigens by single radial immunodiffusion, Immunochemistry, New York, v.2, p.235-238, 1965.

8.MANUAL de controle da leptospirose, 2 ed., Brasília, Ministério da Saúde-Fundação Nacional de Saúde-Centro Nacional de Epidemiologia-Coordenação de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos, 1989, 98p.

9.MAPA, Coordenação de Informática, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Apresenta texto de Defesa Animal. Disponível em www.agricultura.gov.br/sda/ssa/sda_pncebt.htm , Acessado em 15. Set. 2002.

10.PRIMO, A. T. El ganado bovino Iberico en las Americas: 500 años despues. Archives de Zootecnia, Buenos Aires, v.41, p.421-432, 1992.

11.RADOSTITS, O. M., BLOOD, D. C. Manual de controle da saúde e produção dos animais. São Paulo: Manole., 1986. 530p.

12.ROCHA, C. M. B. M., LEITE, R. C. Caracterização dos produtores de leite do Município de Divinópolis. In: CONGRESSO PANAMERICANO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 15, Campo Grande, 1996. Anais... Campo Grande: SONVET, 1996, p.192.

13.ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia econômica. São Paulo: MEDSI, 1991, 393p.

14.THRUSFIELD, M. V.  Epidemiologia Veterinária. Zaragoza : Acribia, 1990, 339 p.

15.VARELA, G. M.; WERNEEK, G. J.  Sanidade animal, a necessidade de uma conscientização. Informativo. Agropecuário, Goiânia, v. 7. n. 73, p. 2, 1981.

16.WEIBLEN, R. Doenças víricas que interferem na produção leiteira. In: CHARLES T. P., FURLONG, J. Doenças dos bovinos de leite adultos. EMBRAPA/CNPGL. Coronel Pacheco. p.1-82. 1992.