UTILIZAÇÃO DE SILICEA E BIOTERÁPICO NO TRATAMENTO DA MASTITE SUBCLÍNICA EM VACAS LEITEIRAS

THOMAZ, L.W.*; MACEDO,E.F.; GODOY, R.R.; BUENO, V.F.F.; MESQUITA, A.J.

*Ms.Med.Veterinária. UFG/ EV /CPA / LQL - liandrathomaz@ig.com.br

Palavras-chave: Homeopatia, Silicea, Bioterápico, Mastite subclínica.

1. INTRODUÇÃO

A mastite é uma das doenças que causa os maiores prejuízos a cadeia produtiva do leite constituindo-se, portanto numa das mais importantes doenças do gado leiteiro em todo mundo. Seus prejuízos podem ser sentidos pelo produtor, a indústria e o consumidor.

A homeopatia vem tendo um importante papel na produção do leite orgânico, podendo ser considerada um instrumento na busca da redução dos custos do tratamento da mastite e, conseqüentemente amenizando os prejuízos para a indústria e para a saúde pública.

Desta forma, objetivou-se com o presente estudo para avaliar o efeito da utilização de medicamentos homeopáticos - bioterápico complexo e da Silicea - na redução da mastite subclínica em vacas leiteiras, pois sabe-se que durante a lactação não se recomenda o tratamento de vacas com antibióticos ou quimioterápicos.

2. OBJETIVO

Avaliar o efeito da utilização de medicamentos homeopáticos – Silicea 12CH associada a um Bioterápico complexo - na redução da contagem de células somáticas do leite de vacas com mastite subclínica.

3. MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado numa propriedade rural com vacas mestiças holandesas. A seleção dos animais para compor os grupos experimentais foi realizada em função da contagem de células somáticas (CCS) apresentadas pelas amostras de leite do rebanho leiteiro.

Selecionaram-se 26 vacas do rebanho das quais foram colhidas amostras de leite em frascos previamente esterilizados para isolar e identificar microrganismos e elaborar o bioterápico.

O bioterápico complexo foi elaborado com patógenos isolados oriundos das amostras de leite colhidas dos animais previamente selecionados, em solução hidroalcoólica a 70% na 30CH. A Silicea foi utilizada na 12CH.

Em função da média da CCS, os animais foram distribuídos em dois grupos: Grupo Controle e Grupo Experimental. O tratamento foi realizado duas vezes ao dia durante 90 dias. Administrou-se, via oral, 15 gotas de Silicea e 15 gotas do bioterápico complexo adicionadas a 50 gramas de açúcar. O grupo controle recebeu 30 gotas da solução hidroalcoólica também adicionadas a 50 gramas de açúcar cristal. Realizou-se a CCS quinzenalmente para monitorar os animais.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A média geral da CCS dos animais do grupo controle, foi obtida de três resultados de cada vaca, antes do início e de oito resultados de cada vaca ao término do experimento. Nota-se que essa média antes do início do experimento (870,6 x 1000) foi maior do que a média geral ao final do experimento (599,6 x 1000). Isto, provavelmente deveu-se às melhores condições de manejo adotadas e à freqüência de monitoramento dos animais que passou a ser diária durante todo período experimental. Apesar da média geral da CCS ao término do experimento ter sido menor, os resultados dos testes do CMT permaneceram praticamente inalterados, sendo em média uma cruz (+).

No grupo experimental, em geral, as médias da CCS ao término do experimento (690,7 x 1000) foram maiores ou muito semelhantes às médias da CCS no início do experimento (574,4 x 1000). Nota-se que as duas médias também são similares. Por outro lado, os resultados dos testes de CMT também permaneceram praticamente inalterados, sendo em média uma cruz (+).

Não houve diferença estatística significativa, a = 0,05, entre os grupos (p=0,67), nem entre períodos de colheita das amostras de leite (p=0,23) e nem interação entre grupo e período (p=0,99).

BENITES (2000) verificou que no processo inflamatório crônico 48,36% de PMN e 51,63% de MN encontram-se no lúmen alveolar, e THIERS et al (2001) constataram que não ocorrem diferenças entre os PMN e os MN em amostras de leite com CMT (+) e (-). Essas constatações permitem inferir que nos casos de CCS equivalentes a reações de CMT (+) e inferiores, prevalece na glândula mamária um estado de imunidade.

Considerando que a média geral da CCS do grupo experimental foi 690,7 (x1000 células/mL), na glândula mamária das vacas deste grupo a imunidade predominou sobre a alergia. Assim, pode-se inferir que a resposta imunológica desses animais frente aos patógenos, provavelmente ocasionou uma barreira para a ação dos medicamentos homeopáticos utilizados. Isso pode explicar, em parte, porque o bioterápico complexo não foi eficaz no tratamento da mastite subclínica.

ALMEIDA, et al. (2003) trabalhando com a mastite clínica por S.aureus e individualização dos animais, verificou que o tratamento homeopático foi mais eficaz em diminuir a reação ao CMT em um menor período de tempo. MAFFEI (1978) relatou que a alergia constitui o mecanismo defensivo do organismo na luta contra os agentes patogênicos, e que a imunidade consiste num choque antígeno-anticorpo que se processa nos humores, portanto, não há sintomas anatomopatológicos. O autor relatou ainda que a alergia e a imunidade são fenômenos opostos, quando a alergia predomina a imunidade está baixa.

Assim considerando, o medicamento homeopático utilizado por ALMEIDA, et al. (2003) foi eficaz porque no organismo predominava a alergia. Outro aspecto pode ter contribuído para os resultados do referido autor, foi o fato de que os medicamentos homeopáticos estimulam a resposta imunológica do organismo. Ao contrário do experimento de ALMEIDA, et al. (2003) no presente estudo trabalhou-se com a mastite subclínica na qual predominou a imunidade, não houve individualização dos animais e foram utilizados dois medicamentos associados. Esses fatores podem justificar parcialmente a baixa eficácia dos medicamentos homeopáticos na diminuição da CCS.

BRIONES (1990) afirmou que o uso do bioterápico na fase aguda da infecção permite uma rápida eliminação do agente infeccioso e suas toxinas, no momento em que começa a produção de anticorpos, reduzindo assim a duração da enfermidade. Diferentemente do afirmou o autor, o bioterápico foi empregado no tratamento da mastite subclínica, momento em que predominava a resposta imunológica fato que pode justificar também a baixa performance dos medicamentos homeopáticos na diminuição da CCS.

5. CONCLUSÃO

Nas condições em que foi realizado o presente estudo, pode-se concluir que:

Deve-se considerar que muitas questões ficaram em aberto em relação ao uso de medicamentos homeopáticos no tratamento da mastite subclínica. Mas, pode-se afirmar pelos resultados obtidos no presente trabalho que o uso do bioterápico complexo no tratamento da mastite subclínica não foi eficaz. Dessa forma torna-se necessário à realização de mais estudos sobre o tema, com vistas elucidar o potencial uso dos medicamentos homeopáticos no controle da mastite subclínica e de outras doenças de interesse da medicina veterinária.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. ALMEIDA, L.A.B.; BRITO, J.R.F.; BRITO, M.A.V.P.; PIRES, M.F.A.; BENITES, N.R. Comparação da intensidade do processo inflamatório de glândulas mamárias avaliado através do CMT em vacas leiteiras mestiças Holandês-Gir, inoculadas experimentalmente com Staphylococcus aureus e tratadas com Cefoperazone e medicamento homeopático. In: I CONGRESSO BRASILEIRO DE HOMEOPATIA VETERINÁRIA, 2003, São Paulo. Anais eletrônicos... [CD-ROM], São Paulo: AMVHB, 2003.
  2. BENITES, N.R.; MELVILLE, P.A.; COSTA, E.O. Features and intensity of inflammatory response in bovine mammary glands. In: SYMPOSIUM ON IMMUNOLOGY OF RUMINANT MAMMARY GLAND, 2000, Stresa. Proceedings... Stresa: International Dairy Federation, p. 30-35, 2000.
  3. BRIONES, F. Manual de Medicina Veterinária Homeopática: teoría y práctica de la aplicación de la homeopatia en medicina veterinária. Santiago de Chile: Hochstetler Ltda, 1990. 242p.
  4. MAFFEI, W.E. Os Fundamentos da Medicina. 2.ed. São Paulo: Artes médicas, p.281-294. 1978.
  5. THIERS, F.O.; BENITES, N.R.; COSTA, E.O. Proporção de Polimorfonucleares Neutrófilos (PMN) e Mononucleares (MN) no leite comparados aos escores de CMT. Napgama, São Paulo, v.4, n.4, p.3-5, 2001.

ÓRGÃO DE FOMENTO

Esta pesquisa teve toda a parte laboratorial financiada pelo Laboratório de Qualidade do Leite do Centro Pesquisa em Alimentos da EV / UFG – GO.