PALAVRAS CHAVE: fotossensibilização, ovinos, Brachiaria sp, saponina esteroidal

Na região Centro Oeste são descritos casos espontâneos de fotossensibilização hepatógena em ruminantes e eqüinos mantidos em pastagens de Brachiaria sp. Inicialmente a doença foi atribuída ao fungo Pithomyces chartarum, mas estudos recentes sugerem a participação de saponinas esteroidais contidas na forrageira como causadoras da doença (MEAGHER et al., 1996). CRUZ et al. (2000) reproduziram colangiopatia associada a cristais em ovinos alimentado-os com B. decumbens e identificaram diferentes sapogeninas em amostras dessa pastagem, conteúdo ruminal e bile de ovinos. Em outro trabalho, CRUZ et al. (2001) conseguiram reproduzir a colangiohepatopatia em ovinos pela administração de extratos fracionados de B. decumbens. Nos dois experimentos a quantidade de esporos do fungo era pequena. Recentemente foi isolada protodioscina, uma saponina esteroidal, nas folhas da gramínea B. decumbens (HARAGUCHI et al., 2003).

Amostras do capim B. decumbens de um piquete, onde estavam os ovinos, e de outro piquete, da mesma fazenda, onde havia bovinos que não apresentavam fotossensibilização, foram colhidas para contagem de esporos do fungo usando a técnica de DIMENNA; BAILEY (1973) e para análise do teor da protodioscina pelo método espectrofotométrico usando reagente de Ehrlich em 515nm (GJULEMETOWA et al., l982). Foram analisadas as atividades séricas das enzimas hepáticas (GGT e AST) e dos níveis de bilirrubina, proteínas totais, albumina e colesterol do soro de cinco ovinos do lote afetado, sendo três amostras de animais jovens (dois com e um sem sinais clínicos) e duas de animais adultos sem sinais clínicos. Um ovino foi necropsiado e para os exames histológicos, os órgãos foram processados rotineiramente para inclusão em parafina e corados com HE e pela técnica de Mallory.

O surto ocorreu em um lote de 28 ovinos no mês de novembro de 2003 introduzidos há, aproximadamente, 50 dias em piquete formado com B. decumbens que estava em floração. Oito animais apresentaram sinais clínicos caracterizados por secreção amarelada ocular e nasal; destes seis morreram em um período máximo de cinco dias. Na bioquímica sérica foi observado que os animais jovens apresentaram elevação da atividade sérica da GGT e AST; os valores de bilirrubina e colesterol estavam acima do considerado normal para a espécie e os de proteína total e albumina estavam dentro da normalidade.

O animal submetido à necropsia apresentou opacidade unilateral de córnea, ressecamento de focinho, moderada icterícia, evidenciação do padrão lobular no fígado e vesícula biliar acentuadamente distendida e repleta. Histologicamente, a principal alteração observada no fígado foi a presença de imagens negativa de cristais, semelhantes a fendas de colesterol na luz de alguns ductos biliares, associada a infiltrado inflamatório mononuclear peri-ductal. Havia macrófagos espumosos multinucleados localizados, principalmente, na região centroacinar, alguns deles contendo, também, imagens negativa de cristais. No coração visualizou-se áreas multifocais de degeneração e necrose de fibras musculares com proliferação de tecido conjuntivo associadas à presença de linfócitos. Nos rins observaram-se imagens negativas de estruturas semelhantes a fendas de colesterol na luz de alguns túbulos.

As pastagens de B. decumbens de bovinos e ovinos apresentaram 5000 esporos por grama de pasto e nenhum esporo, respectivamente. Os teores da protodioscina de B. decumbens foram de 1,63 % e 2,36% para pastos de bovinos e ovinos, respectivamente.

A avaliação da bioquímica sérica indicou que os três ovinos jovens apresentavam lesão hepática aguda. Esses achados associados ao quadro clínico-patológico descrito permitem o estabelecimento do diagnóstico de fotossensibilização hepatógena, de características semelhantes às descritas por outros pesquisadores (MEAGHER et al., 1996, CRUZ et al., 2000, CRUZ et al., 2001) na intoxicação por B. decumbens. A partir da observação de elevados teores de protodioscina nesse estudo, associada aos resultados de CRUZ et al. (2000), pode-se sugerir que as fotossensibilizações ocorridas, em ovinos, em pastagens de Brachiaria sp são devidas a mais de um tipo de saponinas, e não somente a uma em especial.

Assim, no presente estudo, a ausência de esporos de P. chartarum nas pastagens analisadas e a presença de teor elevado de protodioscina nas amostras de B. decumbens sugerem que, nesse caso, a fotossensibilização foi causada por saponinas esteroidais.

Agradecimentos. À CAPES pela bolsa de Doutorado concedida.

CRUZ, C.; DRIEMEIER, D.; PIRES, V.S.; COLODEL, E.M.; TAKETA, A.T.C.; SCHENKEL E.P. Isolation of steroidal sapogenins implicated in experimentally induced cholangiopathy of sheep grazing Brachiaria decumbens in Brazil. Veterinary and Human Toxicology, Manhattan. v. 42, n. 3, p. 142-145. 2000.

CRUZ, C.; DRIEMEIER, D.; PIRES, V.S.; SCHENKEL, E.P. Experimentally induced cholangiopathy by dosing sheep with fractionated extracts from Brachiaria decumbens. Veterinary Diagnostic Investigation, Columbia, 13: 170-172. 2001.

DIMENNA, M.E.; BAILEY J.R. Pithomyces chartarum spore counts in pasture. New Zealand Journal of Agricultural Research. Wellington,v. 16, n. 3, p. 343-351. 1973.

HARAGUCHI, M.; CUNHA, H.A.; MIMAKI, Y.; BRUM, K.B.; LEMOS, R.A.A; YOKOSUKA, A.; SASHIDA, Y. Furostanol glicosídicos nas folhas de Brachiaria decumbens. 26ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Poços de Caldas. 2003.

MEAGHER, L.P.; MILES, C.O.; FAGLIARI, J.J. Hepatogenous photosensitization of ruminants by Brachiaria decumbens and Panicum dichotomiflorum in the absence os sporidesmin: lithogenic saponins may be responsible. Veterinary and Human Toxicology, Manhattan, v. 38, n. 4, p. 271-274. 1996.