Hemogramas de bovinos (Bos taurus) sadios da raça Curraleiro: Influência do fator sexo

PAULA NETO, J. B.; VIEIRA, D.; BARINI, A. C., LOBO, J. R., BORGES, A. C., COELHO, M. M. S., SANTOS, V. F., MIGUEL, M. P., CHIQUETTO, C. E., FIORAVANTI, M. C. S.

Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, CP 131, CEP 74001-970, Goiânia, Goiás. joaonettovet@hotmail.com, clorinda@vet.ufg.br

Palavras-chaves: Hematologia, bovinos, raça Curraleiro, hemograma

INTRODUÇÃO

Embora, atualmente, estejam vulneráveis à extinção são animais que demonstram peculiares ímpares de uma raça nativa que vem sofrendo ao longo do tempo a ação da seleção natural a ponto de expressarem características específicas de tais condições, entre elas a rusticidade.

Com o desenvolvimento da hematologia clínica veterinária demonstrou-se cientificamente, que fatores de variabilidade primários, tais como: condições ambientais, tipo de criação, alimentação, raça, idade e sexo, influem sobre os constituintes sanguíneos em várias espécies e as diferenças entre os valores normais obtidos por vários pesquisadores devem-se a estes fatores (JAIN, 1993). No bovino, as condições ambientais e regionais, o tipo de criação e alimentação, a qualidade do alimento, higiene, condições do solo, variações estacionais, idade e número de animais, sexo, raça e condições patológicas subclínicas, influenciam significativamente nos resultados laboratoriais desta espécie (HAIDER et al., 1989; BIRGEL JUNIOR, 1991; BIRGEL, 1997; FAGLIARI et al., 1998c).

BIRGEL JÚNIOR (1991), GONÇALVES et at. (2001) verificaram influência do sexo no eritrograma, com valores inferiores nas fêmeas em relação aos machos, nas variáveis número total de hemácias, concentração de hemoglobina, volume globular e superiores no volume corpuscular médio.

Segundo BENESI et al. (2002), no estudo dos componentes do leucograma de zebuínos sadios da raça Nelore, não houve influência significativa do sexo sobre a maioria dos componentes do leucograma, exceção feita aos eosinófilos que demonstraram influência significativa em relação ao sexo, na qual as fêmeas apresentaram maiores valores em relação aos machos.

 

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Veterinário (LAC/HV) da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (EV/UFG) - Goiânia, GO e em propriedades localizadas nos Estados de Goiás, Bahia e Tocantins, no período de setembro a dezembro de 2003. O principal critério utilizado foi a pureza zootécnica dos animais.

Para cumprirem-se os objetivos desta pesquisa foi utilizada uma amostra constituída por 300 animais da raça Curraleiro (Bos taurus), hígidos previamente selecionados, mantidos em regime extensivo. O tamanho da amostra foi determinado em função da dimensão da população nacional de animais dessa raça, que se encontra reduzida, estimando-se existir entorno de 2000 animais. Os animais foram alocados em seis grupos, divididos de acordo com a faixa etária (meses), sendo: 0 a três, três a seis, seis a 12, 12 a 24, 24 a 36 e >36 meses.

Para a determinação do hemograma foi realizado o eritrograma (contagem do número de hemácias, dosagem do teor de hemoglobina, determinação do volume globular, determinação dos índices hematimétricos absolutos (VCM – volume corpuscular médio, HCM – hemoglobina corpuscular média e CHCM – concentração da hemoglobina corpuscular média) e o leucograma (contagem total e diferencial de leucócitos).

Para análise dos dados realizou-se a estatística descritiva dos dados, obtendo-se as médias, desvio padrão e coeficiente de variação para todos os parâmetros avaliados e, posteriormente, para comparação das médias entre as diferentes faixas etárias foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, em nível de significância 5%. A análise estatística foi realizada com auxílio do programa: Sistema de Análise Estatísticas e Genéticas – SAEG (RIBEIRO JÚNIOR, 2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a avaliação dos resultados e interpretação da análise estatística do eritrograma em função do sexo, observou-se que os valores não apresentaram diferenças significativas (p<0,05), entre machos e fêmeas. Resultados similares foram apontados por BIRGEL JÚNIOR (1991) e GONÇALVES et al. (2001).

O leucograma apresentou variações nos valores do número absoluto de leucócitos e linfócitos, onde os valores encontrados nos machos foram superiores em relação às fêmeas. GRAZIEN (1968) verificou que os machos apresentaram valores de leucócitos e linfócitos superiores ao das fêmeas, relatando que o sexo é um dos fatores que influência com o leucograma.

BIONDO (1996) e BENESI et al. (2002) não observaram influência do fator sexo no eritrograma e/ou leucograma, porém BENESI et al. (2002) citam um número maior de eosinófilos em fêmeas em relação aos machos. Neste estudo o mesmo comportamento foi observado para os eosinófilos.

CONCLUSÃO

A avaliação dos resultados dos hemogramas dos 300 animais sadios da raça Curraleiro possibilitou concluir que Os constituintes morfológicos sanguíneos dos bovinos da raça Curraleiro sofreram significativas influências do fatores sexuais. O sexo influenciou nos valores médios do número de leucócitos e linfócitos que foram maiores nos animais machos em relação às fêmeas e no número absoluto de eosinófilos que foi maior nas fêmeas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

 

  1. BENESI, F. J., COSTA, J. N., BIRGEL, E. H., D`ANGELINO, J, L., AYRES, M. C. C., FILHO, I. R. B. Leucograma padrão de bovinos da raça Nelore (Bos indicus). Influência de fatores sexuais. Veterinária Notícias, Uberlândia, v.8, n.1, p.59-66, 2002.
  2. BIONDO, A. W. Hemograma de bovinos (Bos indicus) sadios da raça Nelore no primeiro mês de vida, criados no estado de São Paulo: influência de fatores etários e sexuais. 1996. 76f. Tese (Mestrado em Clínica Veterinária) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
  3. BIRGEL, E. H., D’ANGELINO, J. L., BARROS FILHO, I. R., AYRES, M. C. C., BENESI, F. J. COSTA, J. N. Eritrograma dos bovinos da raça Canchim, criados no Estado de São Paulo. Arquivo da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, Salvador, v. 19, n.1, p. 23-27, 1997.
  4. BIRGEL JR., E. H. O Hemograma de bovinos (Bos taurus, Linnaeus, 1758), da raça Jersey, criados no Estado de São Paulo. 1991, 172f. Dissertação (Mestrado em Patologia Bovina) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
  5. FAGLIARI, J. J., SANTANA, A. E., LUCAS, F. A., CAMPUS FILHO, E., CURI, P. R. Constituintes sanguíneos de vacas das raças Nelore (Bos indicus) e Holandesa (Bos taurus) e de bubalinos (Bubalus bubalis) da raça Murrah durante a gestação, no dia do parto e no puerpério. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.33, n.3, p.273-282, 1998c.
  6. GONÇALVES, R. C., PAES, P. R. O., ALMEIDA, C. T., FONTEQUE, J. H., LOPES, R. S., KUCHEMBUCK, M. R. G., CROCCI, A. J. Influência da idade e sexo sobre o hemograma, proteínas séricas totais, albumina e globulina de bovinos sadios da raça Guzerá (Bos indicus). Veterinária Notícias, Uberlândia, v.7, n.1, p.61-68, 2001.
  7. GRAZIEN, C. K. Leucocyte values in Queensland cattle. Research in Veterinary Science, London, v. 09, p. 544-550, 1968.
  8. HAIDER. M. J., SIDDIQUI, H. R. Haematology of cattle during summer and winter. Chemosphere, New York, v. 19, s/n, p. 12, 1989.
  9. JAIN, N. C. Essentials of veterinary hematology. Pennsylvania: Lea & Febiger, 1993. 989p.
  10. RIBEIRO JÚNIOR, J. I. Análises estatísticas no SAEG. Viçosa – UFV, 2001. 301p.