ESTUDO ANATOMOPATOLÓGICO DE LESÕES DE DERMATITE DIGITAL EM BOVINOS

CASTRO, G.R.1; FIORAVANTI, M.C.S.2; ARAÚJO, E.G.2; SILVA, L.A.F.2; PAULA, R.R.3; BRITO, L.A.B.4

1 Médica Veterinária, Mestranda em Ciência Animal pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás e Bolsista de Formação de Pesquisador/ CNPq.

2 Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária da Escola de Veterinária / UFG

3 Acadêmico do Curso de Graduação em Medicina Veterinária da EV/UFG e Bolsista de Iniciação Científica/CNPq

4 Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária da Escola de Veterinária / UFG (orientador)

Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás

Endereço eletrônico: castrogr@bol.com.br

labbrito@vet.ufg.br

Palavras chave: Bovinos, dermatite digital, histopatologia, imunoistoquímica

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o mercado agropecuário tem passado por mudanças causadas especialmente, pela abertura dos mercados e, conseqüentemente, pela alta concorrência entre os diferentes segmentos produtivos. A qualidade dos produtos de origem animal tornou-se uma preocupação constante destes setores e a Sanidade Animal, sobretudo na bovinocultura leiteira adquiriu grande expressividade nesta era globalizada. Objetivando aumentar a produtividade, os criatórios fizeram investimentos expressivos em seleção para produção de leite, implementaram tecnologias de manejo e introduziram novos modelos de criação. Apesar dos inúmeros benefícios que a introdução dessas medidas trouxeram para as propriedades, diversos problemas sanitários têm surgido, dentre estes, destacam-se as enfermidades digitais em especial a dermatite digital.

A dermatite digital (DD) foi descrita primeiramente na Itália na década de 70 por CHELI & MORTELLARO ficando conhecida como "Doença de Mortellaro" (BLOWEY et al., 1994). Hoje são utilizadas diversas terminologias como sinônimos para enfermidade, sendo dermatite digital papilomatosa, dermatite verrucosa, verruga peluda e a doença do morango os mais utilizados. Pesquisadores têm buscado uma padronização da nomenclatura no que se refere à caracterização clínica da enfermidade, sugerindo que a dermatite digital apresenta 3 formas de apresentação bastante distintas: a forma inicial, a forma erosiva e a proliferativa. RED & WALKER (1998) baseados na histopatologia e imunocitoquímica acreditam que a dermatite digital papilomatosa e dermatite digital são denominação para mesma doença.

O projeto tem por objetivo estudar os aspectos anatomopatológicos relacionados à dermatite digital em bovinos de aptidão leiteira, caracterizando histologicamente e por meio da imunoistoquímica a enfermidade nas fases, inicial, erosiva e proliferativa e avaliar alguns aspectos epidemiológicos.

2 METODOLOGIA

Participarão do projeto bovinos de aptidão leiteira portadores de dermatite digital na fase inicial (Grupo I), dermatite digital erosiva ou ulcerativa (Grupo II) e dermatite digital proliferativa ou verrucosa (Grupo III). Os Grupos I, II, III serão constituídos cada um por 10 animais, sendo que sempre que se efetuar a colheita de material, em cada dois bovinos portadores de lesão, escolher-se-à um animal saudável com características semelhantes e oriundos da mesma propriedade, para compor o Grupo IV (controle), sendo este formado por 15 animais, totalizando ao final das colheitas 45 amostras.

O projeto será conduzido em propriedades rurais que exploram bovinos de aptidão leiteira no Estado de Goiás, preferencialmente em propriedades localizadas em um raio de até 200 quilômetros a partir dos limites do município de Goiânia. Durante as visitas, além das colheitas por meio de biópsia de tecido para análise histopatológica das lesões de dermatite digital, um questionário será utilizado objetivando avaliar alguns aspectos epidemiológicos, relacionados à doença.

O diagnóstico da enfermidade se fundamentará nas características das lesões descritas por GREENOUGH & WEAVER (1997) e NICOLETTI (2004). Os bovinos que apresentarem edema, hiperemia, hipertermia, e aumento acentuado da sensibilidade da extremidade distal do membro acometido comporão o G I representando a fase inicial da enfermidade. A forma erosiva (GII) da dermatite digital é caracterizada por uma lesão circular irregular variando de um a quatro centímetro de diâmetro, coberta por debrís diftéricos, com visível tecido de granulação (GREENOUGH & WEAVER, 1997). Segundo NICOLETTI (2004), a lesão é circunscrita por um bordo epitelial branco, de centro avermelhado, com inúmeras papilas córneas brancas, dando à ferida um aspecto de morango. A dermatite digital proliferativa ou papilomatosa (GIII) inicia-se como uma dermatite moderada e superficial, podendo ser considerada uma evolução da lesão erosiva. Possui aspecto hiperplásico em "couve-flor", com presença de pêlos na periferia da lesão e descarga serosa nas proximidades do bulbo dos talões (TROTT et al. 2003).

Inicialmente os animais serão contidos em decúbito dorsal, com o auxílio de cordas ou em bretes apropriados e as extremidades distais dos membros serão higienizados com água e sabão e em seguida será realizada a anestesia locorregional intravenosa com cloridrato de lidocaína. Para remoção do fragmento será feita incisão em forma de cunha de acordo com a localização da lesão. Após a colheita dos fragmentos os animais serão tratados cirurgicamente e as lesões receberão curativos locais e serão aplicados por via intramuscular de três doses de oxitetracilclina na dosagem de 20 mg / kg, com intervalos de 48h (ROMANI, 2003).

O processamento histológico será realizado no Laboratório de Histopatologia do Setor de Patologia Animal do Departamento de Medicina Veterinária da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, de acordo com a técnica rotineira de inclusão em parafina descrita por LUNA (1968). Os cortes obtidos de todos os fragmentos colhidos serão corados pela técnica de hematoxilina e eosina (LUNA, 1968), vermelho congo e azul de toluidina modificado para visualização de células inflamatórias, pela técnica de Gram para a visualização da flora bacteriana (LUNA, 1968), ácido periódico de Schiff (PAS) modificado, para marcar polissacarídeos e fungos, tricrômio de Masson, para observação das fibras colágenas e da queratina e Warthin-Starry para detecção de espiroquetas (BEHMER et al., 1976).

Para imunoistoquímica serão utilizados fragmentos já emblocados em parafina segundo a técnica de rotina sendo laminados a 3-5 micrômetros de espessura e aderido em lâminas silanadas, com o objetivo de detectar antígenos tissulares, por meio da utilização de anticorpos específicos (GIMENO, 1995). Após a aderência, as lâminas serão incubadas em estufa a 36°C, para facilitar o processo de desparafinização. A técnica de imunoistoquímica utilizará anticorpos dirigidos contra bactérias em espiral, semelhantes às espiroquetas provavelmente do gênero Treponema ou Borrelia associadas com esta enfermidade podal, e será realizado segundo a metodologia proposta por WAKAMATSU et al. (1995). No final do processo os cortes serão analisados em microscópio ótico de campo claro.

Os resultados obtidos nos exames anatomopatológicos serão analisados segundo teste t de "Student", se a distribuição assim permitir, caso a mesma não seja normal, poderão ser realizados testes não paramétricos como o X2 e ou Kruskall-Waliss.

4 RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

Espera-se com esse estudo dar um grande passo para a melhoria da sanidade do rebanho bovino e conseqüentemente colaborando para o aumento da produtividade. Essa linha de raciocínio encontra sustentação, no fato da etiopatogenia não estar totalmente esclarecida, seja pela dificuldade de se estabelecer o processo inicial desencadeante, seja pela complexidade e diversidade das lesões. Portanto ao concluir esta pesquisa espera-se ter contribuído em parte para o esclarecimento da etiopatogenia da dermatite digital bovina. Uma definição seqüencial de eventos histológicos, bem como as técnicas de imunoistoquímica detectando moléculas (antígenos) teciduais, seriam de grande valor no diagnóstico anatomopatológico e na investigação científica desta enfermidade permitindo estabelecer medidas de controle e tratamento adequado, minimizando os prejuízos junto aos produtores e ainda estaria dando substancial contribuição à comunidade científica que tem se dedicado a estudar as diferentes lesões de casco nos animais de produção.

A dedicação ao estudo das enfermidades dos dígitos de bovinos tem aproximadamente 30 anos e ainda há muitas perguntas sem respostas, principalmente no que se refere à definição do agente etiológico, se os treponemas que estão envolvidos são agentes primários ou apenas co-participantes, se os protocolos de tratamento recomendados têm surtido efeito esperado, se o produtor é capaz de prevenir o estabelecimento da doença em sua propriedade e sua disseminação, enfim a continuidade por esta linha de pesquisa é oportunamente justificável.

 

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BEHMER, O. A.; TOLOSA, E. M. C.; NETO, A. G. F. Manual de técnicas para histologia normal e patológica. São Paulo: EDART, 1976. 241p.

2. BLOWEY, R. W.; DONE, S. H.; COOLEY, W. Observations on the pathogenesis of digital dermatitis in cattle. The Veterinary Record: London, v. 135, p. 115-7, 1994.

3. GIMENO, E.J. Fundamentos de imunohistoquimica aplicada a patologia veterinária. In: Encontro Nacional de Patologia Veterinária, 7, 1995, Belo Horizonte. Anais...Belo Horizonte: UFMG/UFV/CBPA, 1995. p.17-51.

4. GREENOUGH, P. R & WEAVER, A. D. Lameness in cattle, 3. ed., Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1997, 336 p.

5. LUNA, L. G. Manual of Histologic Staining Methods of the Armed Forces Institute of Pathology. 3. ed. New York: McGraw-Hill, 1968. 258p.

6. NICOLETTI, J. L. M. Manual de Podologia Bovina. Barueri: Manole, 2004. 125p.

7. READ, D. H., WALKER R. L. Comparison of papillomatous digital dermatitis and digital dermatitis of cattle by histopathology and immunohistochemistry. Proc. 10th Intl. Symp. on Lameness in Ruminants, Lucerne, Switzerland, p. 268-269, 1998.

8. ROMANI, A. F. Aspectos epidemiológicos de lesões podais, fatores de risco e caracterização da inflamação do tecido interdigital em bovinos de aptidão leiteira no Estado de Goiás. 2003, 68f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

9. TROTT, D.J.; MOLLER, M.R.; ZUERNER, R.L.; GOFF, J.P.; WATERS, R.; ALT, D.P.; WALKER, R.L.; WANNEMUEHLER, M.J. Characterization of Treponema phagedenis-Like Spirochetes isolated from papillomatous digital dermatitis lesions in dairy cattle. Journal of Clinical Microbiology, p. 2522-2529, 2003.

10. WAKAMATSU, A; SIMÕES, A.B.; KANAMURA, C.T.; PINTO, G. A.; METZE, I.L.; VASSALO, J.; CARVALHO, L.V.; GAYOTTO, L.C.C.; SEIXAS, M.T.; SANTOS, R.T.M.; PAES, R.A.P.; IRAZUSTA, S.P.; NONOGAKI,S.; ALVES, V.A.F. Manual de Imuno-Histoquímica com Menções a Técnica de Hibridização Molecular. Sociedade Brasileira de Patologia, Belo Horizonte. 1995, 99 p.