UTILIZAÇÃO DE INOCULAÇÃO ARTIFICIAL PARA IDENTIFICAÇÃO DE FONTES DE RESISTÊNCIA A MANCHA ANGULAR DO FEIJOEIRO COMUM.

Reis, F. G.1, Cerqueira, E. B. 1, Sartorato, A 2, Costa, J. G. C. 2, Rava, C. A. 2, Sibov, S. T. 1 e Carneiro, M. S. 1. 1 Universidade Federal de Goiás, Caixa Postal 684, Cep 74001-970 – Goiânia – GO. 2 Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, Cep 75375-000 – Santo Antônio de Goiás.– GO.

E-mail: fafireis286@yahoo.com.br

monalisa@icb.ufg.br

Palavras-Chave: feijão, Phaeoisariopsis griseola, inoculação, fontes de resistência

1.INTRODUÇÃO:

A mancha angular do feijoeiro comum, cujo agente causador é o fungo Phaeoisariopsis griseola (Sacc.) Ferraris, é uma doença que tem atraído atenção de produtores e pesquisadores devido a surtos mais precoces e intensos nos últimos anos. É predominante onde as condições climáticas apresentam temperaturas moderadas acompanhadas por períodos de alta umidade, sendo tais características típicas de regiões tropicais e subtropicais, como a América Latina e África (Bianchini et al., 1997). As perdas de rendimento são maiores quanto mais precoce for o aparecimento na cultura, podendo comprometer até 70% da produção (Sartorato & Rava, 1992).

Entre os métodos de controle da mancha angular encontram-se as práticas culturais, o emprego de fungicidas e a resistência genética. Entretanto, nem as práticas culturais nem o controle químico ou a associação de ambos, apresenta uma total eficiência no seu controle. Além disto, o tratamento químico pode acarretar danos ao meio ambiente. Assim, o desenvolvimento de cultivares resistentes é a maneira mais eficaz e econômica, para o produtor, na redução das perdas ocasionadas pela doença. O objetivo deste trabalho foi avaliar 23 genótipos de feijão (Aruã, Carioca Rubi, Diamante Negro, Magnífico, Pérola, Piatã, Soberano, Uirapuru, Valente, Mar 2, Cornell 49-242, AND 277, Ouro Negro, CNFC 7806, CNFC 7813, CNFC 9504, CNFC 10276, CNFP 10281, CNFP 7776, CNFP 10120, CNFP 10125, CNFP 10138 e CNFP 10150) pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma (BAG) e ao Programa de Melhoramento Genético da Embrapa Arroz e Feijão quanto à resistência aos patótipos 63.19 e 63.23 de P. griseola por meio de inoculação artificial.

2. MATERIAL E MÉTODOS:

Os experimentos foram conduzidos em casas de vegetação situadas na EMBRAPA Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás, GO. Os patótipos de P. griseola e os genótipos de feijão utilizados neste trabalho foram cedidos pela EMBRAPA Arroz e Feijão.

2.1 ISOLADOS E PREPARO DO INÓCULO

Foram utilizados dois isolados monospóricos (Ig 664 e Ig 669), sendo estes caracterizados, respectivamente, como raça 63.23 e 63.19 por meio de inoculação na série diferenciadora descrita por Pastor-Corrales & Jara (1995). Os conídios foram obtidos a partir da cultura de isolados monospóricos em meio BDA, que foram tranferidos para placas de Petri, contendo meio de extrato de folhas de feijão. Obteve-se o inóculo pela adição de água destilada e a raspagem da superfície da placa com um pincel (Nietsche et al., 2000). O material foi filtrado com gaze em um bécker contendo 100ml de água destilada e 2 gotas de espalhante Estravon. A concentração de conídios foi verificada com hemacitômetro e ajustada para 2,5 x 104 esporos/ml.

2.2 INOCULAÇÃO E AVALIAÇÃO

Para avaliação dos genótipos quanto à resistência às raças 63.23 e 63.19, foram plantados 4 vasos (com 5 sementes cada) de cada um dos genótipos, sendo dois vasos para a inoculação de cada raça. Como testemunha suscetível foi utilizada a cultivar Rosinha G-2. Quatorze dias após o plantio, a primeira folha trifoliolada de cada planta foi inoculada com a suspensão de esporos nas faces adaxial e abaxial, com o auxílio de um atomizador DeVilbis nº 15. As plantas inoculadas foram mantidas em câmara úmida por, aproximadamente, 30 horas, sendo, posteriormente transferidas para casa de vegetação.

Quartoze dias após a inoculação, foi realizada a avaliação visual das manchas exibidas em cada um dos três folíolos de cada planta, segundo uma escala diagramática variando de 1 a 4mm, e a avaliação do índice de infecção, que corresponde à área foliar ocupada pelas lesões, empregando-se uma escala diagramática de 0 (sem sintomas) a 100% (severidade máxima de infecção), desenvolvida pelo CNPAF (Sartorato, 1989).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 ISOLADOS 664 (RAÇA 63.23) E 669 (RAÇA 63.19)

A resistência de alguns genótipos pertencentes ao BAG foi detectada em condições de casa de vegetação. Foram considerados susceptíveis aqueles genótipos que apresentaram uma severidade superior a 15%. Para o patótipo 63.19 as cultivares Aruã, Carioca Rubi e Magnífico apresentaram 80% de severidade da doença enquanto e para o patótipo 63.23, Soberano e Uirapuru foram os mais afetados pela doença (severidade de 80%). Os genótipos CNFP 7776 (BRS Grafite), CNFC 7806 (BRS Requinte), CNFC 7813 (BRS Pontal), MAR 2, Cornell 49-242 e AND 277 foram resistentes a ambos os patótipos empregados.

Para se iniciar programas de melhoramento é necessário que se tenha bons genótipos, ou seja, estes devem apresentar resistência e ser de fácil aceitação no mercado, por possuírem outras qualidades de interesse econômico. Com a prévia identificação destas fontes de resistência, permite direcionar de maneira mais eficiente os cruzamentos entre genitores contrastantes, o que pode levar a linhagens de sucesso, como no caso do feijão. É interessante que seja feita a avaliação para outras raças de P. griseola a fim de obter genótipos que reuniam o máximo de genes de resistência, permitindo assim uma maior durabilidade da cultivar no mercado. Uma nova ferramenta que pode auxiliar nesta identificação de genótipos é a utilização marcadores moleculares.

4. CONCLUSÕES

As fontes de resistência identificadas neste trabalho, CNFP 7776 (BRS Grafite), CNFC 7806 (BRS Requinte), CNFC 7813 (BRS Pontal), já podem ser incorporadas em programas de melhoramento que visam à resistência a mancha angular. As cultivares BRS Grafite, BRS Requinte e BRS Pontal foram recentemente, registrados e lançados no mercado pela Embrapa Arroz e Feijão. Além da resistência a outras raças de mancha angular, estas cultivares apresentam também outras características de grande interesse para o agricultor, o que facilita sua aceitação no mercado.

5. REFERÊNCIAS

BIANCHINI, A.; MARINGONI, A. C.; CARNEIRO, S. M. T. P. G. Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIM FILHO, A.; CAMARGO, L. E. A.; REZENDE, J. A. M. (Eds). Manual de Fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 3 ed. São Paulo: Agronômica Ceres Ltda, 1997. v. 2, cap. 34, p.376-399.

NIETSCHE, S.; BORÉM, G. A.; ROCHA, R. C.; PAULA JR, T. J.; BARROS, E. G.; MOREIRA, M. A. RAPD and SCAR markers linked to a gene conferring resistance to angular leaf spot in common bean. J. Phytopathology, v. 148, p. 117-121, 2000.

SARTORATO, A. Resistência vertical e horizontal do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) a Isariopsis griseola Sacc. 1989. 131 f. Tese (Doutorado em Agronomia: Fitopatologia)-Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, São Paulo, 1989.

SARTORATO, A.; RAVA, C. A. Influência da cultivar e do número de inoculações na severidade da mancha angular (Isariopsis griseola) e nas perdas na produção do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris). Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 17, p. 247-251, 1992.

PASTOR-CORRALES, M. A.; JARA, C. A. Lá evolucion de Phaeoisariopsis griseola con el frijol comúm en América Latina. Fitopatología Colombiana, v. 19, p. 15-22, 1995.

 

6. FONTE DE FINANCIAMENTO

APOIO: CNPQ e EMBRAPA Arroz e Feijão.