IMUNOISTOQUÍMICA DE RECEPTORES DE SUPERFÍCIE EM MACRÓFAGOS ESPUMOSOS: estudo comparativo entre placas de aterosclerose em humanos e fígado de bovinos

(Projeto de Pesquisa)

 

TRINDADE, B. R.; ARAÚJO, E. G.; FLEURY, L. F. F.; MENEZES, L. B.; LINO JÚNIOR, R. S.; FIORAVANTI, M. C. S.

 

Escola de Veterinária da UFG

 

Mestrando: brunorodriguestrindade@bol.com.br

Orientadora: clorinda@vet.ufg.br

 

Palavras-chave: aterosclerose, fígado de bovinos, macrófagos espumosos.

 

1 INTRODUÇÃO

Ao considerar-se a taxa de abate do ano de 2003 de 36% nos Estados Unidos, 42% no México e 62% na Itália, evidencia-se o potencial de desenvolvimento da pecuária de corte no Brasil que apresenta uma taxa avaliada em 24% (ANUALPEC, 2003). Isso mostra também a necessidade urgente de aumento da eficiência deste setor, para que o Brasil possa competir no mercado globalizado. LUCHIARI FILHO (2000) confirma a importância dos setores da produção animal e da indústria da carne para a economia brasileira, porém CARNEIRO (2001) cita que a baixa produtividade do rebanho brasileiro torna a maioria dos criatórios inviáveis e despreparados para competir com rebanhos e segmentos mais eficientes e organizados. Portanto pesquisas que procurem identificar os mecanismos envolvidos na baixa eficiência produtiva dos rebanhos são de extrema importância para o país.

FIORAVANTI (1999) trabalhando com bovinos aparentemente normais encontrou correlação negativa entre peso vivo das fêmeas e dos machos e o número de macrófagos espumosos encontrados no fígado. A correlação negativa também foi significativa entre a intensidade da doença e o peso vivo das fêmeas, conseqüentemente apesar de as lesões histopatológicas não provocarem sinais clínicos e não determinarem alterações macroscopicamente observáveis, o funcionamento do órgão foi afetado, refletindo-se negativamente no ganho de peso.

A reação granulomatosa no fígado de bovinos apresenta grande semelhança com a presente em placas de aterosclerose em humanos. Como a etiopatogenia da aterosclerose está bem caracterizada, espera-se que um estudo comparativo utilizando diferentes marcadores para macrófagos espumosos possa elucidar pontos importantes ainda obscuros na etiopatogenia do processo que determina o surgimento dessas células em fígado de bovinos aparentemente saudáveis.

 

2 METODOLOGIA

Serão utilizados 20 fragmentos de aorta de humanos, colhidos pelo serviço de Patologia da Faculdade de Medicina/UFG, nos quais pela coloração de triagem de HE tenha sido identificadas placas de aterosclerose e 20 fragmentos de fígado de bovinos aparentemente saudáveis que foram mantidos em pastagem de Brachiaria sp. por um período mínimo de seis meses que na coloração de HE apresentaram aglomerados de macrófagos espumosos. Os cortes serão submetidos à coloração de Mallory para fibras colágenas (LUNA, 1968); calleja com permaganato para evidenciação das fibras elásticas (SCHEVER & LEFKOWITCH, 1994); retículo-reticulina para evidenciar as fibras reticulares (SCHEVER & LEFKOWITCH, 1994). Será também realizada a imunoistoquímica de todos os fragmentos.

A técnica de imunoistoquímica, utilizará anticorpos primários dirigidos contra o receptor CD14, CD36, CD68, VCAM - 1, ICAM - 1 e vimentina, este último utilizado como controle positivo, evidenciando a presença de fibras colágenas. A técnica será realizada segundo protocolo do Laboratório de Imunoistoquímica da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp/Botucatu (LAUFER AMORIM, 2002).

A)    Bloqueio da peroxidase endógena (50% de metanol + 50% de peróxido de hidrogênio a 3% - 10 minutos);

B)    Incubação com BSA a 1% (câmara úmida – 10 minutos – temperatura ambiente);

C)    Incubação com anticorpo primário (câmara úmida – over night – 4oC);

D)    Incubação com anticorpo secundário biotinilado (câmara úmida – 1 hora – temperatutra ambiente);

E)    Incubação com complexo ABC (câmara úmida – 1 hora – temperatura ambiente);

F)     Cromógeno (DAB – até o momento da visualização da reação);

G)    Lavagem em água corrente – 10 minutos;

H)    Contracoloração com methyl green a 2% (10 minutos - 58oC).

Os cortes serão analisados em microscópio de campo claro. O procedimento será realizado no Setor de Patologia da Escola de Veterinária da UFG. Será feita a classificação dos aglomerados de macrófagos espumosos em positivos e negativos para cada um dos receptores utilizados. A quantificação da expressão de receptores CD14, CD36 e CD68 nos aglomerados de macrófagos espumosos presentes nos fragmentos de placas de aterosclerose e fígado de bovinos será realizada estabelecendo-se escores. Sendo que em caso de ausência de marcação de receptores em todo fragmento o escore será zero, se até 25% dos aglomerados apresentarem marcação positiva o escore será um, de 25% a 50% dois, de 50 a 75% três e acima de 75% atribuir-se-á escore quatro ao fragmento. As freqüências obtidas em placas de aterosclerose em humanos e fígado para cada um dos receptores que serão pesquisados, CD14, CD36, CD68, ICAM - 1 e VCAM – 1, serão comparadas pelo teste de c2 com correção para a continuidade ou pelo teste exato de Fischer, dependendo das freqüências obtidas, ao NS de 5% (CURI, 1997). Os escores obtidos com a quantificação da expressão dos receptores CD14, CD36 e CD68, em placas de aterosclerose em humanos e fígado de bovinos, serão comparados pelo teste não paramétrico de Mann & Whitney utilizando-se o programa estatístico SAEG (UFV, 2003).

 

3 RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

Espera-se determinar a patogenia da enfermidade, pois se observada a expressão dos mesmos receptores de superfície, destacadamente o CD36, nos macrófagos espumosos do fígado de bovinos assim como nas placas de aterosclerose em humanos inferir-se-á que estas células estão realizando a mesma função em ambos os processos, ou seja, a fagocitose de colesterol ou triglicerídeo modificado por oxidação. A obtenção deste possível resultado poderá contribuir para a determinação definitiva da etiologia da enfermidade, ajudando a esclarecer se a enfermidade está ligada a esporidesmina ou diretamente a braquiária. Com a determinação da patogenia da enfermidade será possível obter subsídios para o estabelecimento de medidas profiláticas, como a utilização de anti-oxidantes, objetivando evitar perdas e conseqüentemente melhorar o desempenho dos animais para que a pecuária de nosso país, muito dependente do regime de criação a pasto, tenha mais condições de competir no atual mercado global.

 

REFERENCIAS

 

1.      ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2003. Ed. Argos, 400p.

 

2.      CARNEIRO, R.B. Avaliação do desempenho e das características de carcaça de novilhos nelore, suplementados a pasto, na estação chuvosa. Goiânia. 2001. 122p. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Goiás.

 

3.      CURI, P. R. Metodologia e análise da pesquisa em ciências biológicas. Botucatu: Tipomic, 1997. 256 p.

 

4.      FIORAVANTI, M. C. S. Incidência, avaliações clínica, laboratorial e anatomopatológica da intoxicação subclínica por esporidesmina em bovinos. Botucatu, 1999. 256p. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista

 

5.      LUNA, L. G. Manual of histologic staining methods of the Armed Forces Institute of Pathology. 3ed. New York: McGraw-Hill, 1968. 258p

 

6.      LAUFER AMORIM, R. Roteiro para a realização da técnica de imunosistoquímica. Botucatu: Laboratório de imunoistoquímica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista, 2002. 5 p. [Apostila].

 

7.      SCHEVER, P. J.; LEFKOWITCH, J. H. Liver biopsy interpretation. 5ed. Philadelphia: Sauders Company, 1994. 315p.

 

8.      UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA/SAEG. Sistema de análises estatísticas e genéticas. Versão 8.1, Viçosa: 2003. 301 p. (Manual do usuário).