ESTUDO CLÍNICO E HISTOLÓGICO DA CÓRNEA ÍNTEGRA DE COELHOS (ORYCTOLAGUS CUNICULUS) SUBMETIDOS AO TRATAMENTO LOCAL COM COLÍRIOS ANESTÉSICOS
AMARAL, A. V. C.; CHAVES, N. S. T.; SILVA, L. A F.; ARAÚJO, E. G.; SOUZA, M. A.; MENEZES, L. B.; ROCHA, S. M.; SOUZA, A. N.; LIMA, F. G.
Escola de Veterinária – UFG
Mestranda: andreiavcvet@hotmail.com
Orientador: troncoso@vet.ufg.br
Palavras-chave: coelhos, córnea, proparacaína, tetracaína.
INTRODUÇÃO
Os anestésicos locais desempenham um papel de extrema importância na oftalmologia humana e veterinária. Manipulações simples para fins diagnóstico, como a tonometria ou inspeção a busca de corpo estranho ocular, seriam praticamente impossíveis sem a anestesia tópica (COUTINHO, 1988; MOREIRA et al., 1999). Os colírios anestésicos mais comumente usados são o cloridrato de proparacaína e o cloridrato de tetracaína (RAPUANO, 1990; GRANT & ACOSTA, 1994; ROCHA et al., 1995; MOREIRA et al., 1999; STILES et al., 2001).
A adoção de agentes anestésicos no pós-operatório tem se solidificado, apesar de seu conhecido efeito tóxico à córnea quando utilizados cronicamente (MOREIRA et al., 1999). Como principais manifestações clínicas do uso excessivo e indiscriminado de anestésicos locais, o epitélio corneano desenvolve ceratite puntiforme e há perda de epitélio da área central (DASS et al., 1988; ZAGELBAUM et al., 1994). Edema e infiltrados no estroma corneal, descamação celular e dobras na membrana de Decemet também foram evidenciados (RAPUANO, 1990; KIM et al., 1994; ROCHA et al., 1995).
O presente estudo objetivou avaliar e comparar, utilizando parâmetros clínicos e histológicos, as alterações corneanas promovidas pelo uso local do cloridrato de proparacaína a 0,5% e do cloridrato de tetracaína a 0,5% na córnea íntegra de coelhos (Oryctolagus cuniculus).
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Hospital Veterinário e no Laboratório de Histopatologia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás no período compreendido entre fevereiro e agosto de 2004, utilizando 45 coelhos da raça Nova Zelândia, de ambos os sexos, pesando entre 2,0 e 2,8kg. Após avaliação física e clínica, os animais foram numerados na orelha esquerda e divididos em nove grupos (A, B, C, D, E, F, G, H, I) usando para casualização uma tabela de números aleatórios. Os grupos A, B e C receberam colírio anestésico a base de cloridrato de proparacaína a 0,5%. Os grupos C, D e E foram tratados com colírio a base de cloridrato de tetracaína a 0,5%. Nos grupos G, H e I receberam solução fisiológica a 0,9%, instilada da mesma forma e freqüência dos outros tratamentos.
O protocolo terapêutico instituído teve a mesma freqüência para todos os grupos, constando de instilações a cada duas horas, durante doze horas do dia. Os animais dos grupos A, C e G foram tratados por três dias, dos grupos B, D e H por sete dias e, dos grupos C, E e I, por 15 dias. Foram utilizadas preparações de colírios anestésicos disponíveis no comércio. Os animais receberam ração comercial e água à vontade.
Realizou-se avaliações oftalmológicas diariamente para controle dos aspectos clínicos da córnea, utilizando fonte de luz branca, lupa pala e oftalmoscópio direto. No final de cada tratamento os animais foram tranqüilizados com 4mg/kg de acepromazina a 1% por via intramuscular e sacrificados com injeção de pentobarbital sódico a 1,25%, 60 mg/kg, utilizando a veia marginal da orelha. As córneas foram retiradas e em seguida transferidas para frascos individuais contendo formol tamponado a 10% para posterior inclusão em parafina. Foram feitos cortes histológicos de cinco micrômetros de espessura dos tecidos inclusos na parafina e corados pela hematoxilina e eosina (HE) e tricrômio de Mallory segundo LUNA (1968).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foi verificada nenhuma alteração clínica na córnea, que, durante todo o experimento manteve sua transparência e integridade. Nos animais tratados com colírio a base de cloridrato de tetracaína a 0,5% foram observados hiperemia conjuntival em nove animais (60%), discreta secreção ocular mucosa em cinco (33,33%) e discreto edema conjuntival em cinco (33,33%) e discreto edema palpebral em dois animais (13,33%) a partir do segundo dia de aplicação, persistindo até o dia do sacrifício. Nos animais que receberam colírio a base de cloridrato de proparacaína a 0,5% observou-se discreta hiperemia conjuntival em dois animais (13,33%) a partir do sexto dia de tratamento, de forma intermitente. Não foram observadas alterações nos animais tratados com solução fisiológica a 0,9%.
Ao exame histopatológico pode-se observar células epiteliais sem alterações, dispostas ordenadamente, feixes colágenos do estroma corneal organizados, perfeitamente visualizados pela coloração de Mallory, ausência de sinais inflamatórios e de edema estromal, membrana de Descemet sem alterações. Os resultados histológicos são condizentes aos encontrados por MEDEIROS et al (1999), que avaliou a influência da tetracaína e proparacaína na reparação de defeito epitelial corneano.
CONCLUSÕES
O uso local de colírios a base do cloridrato de proparacaína a 0,5% e do cloridrato de tetracaína a 0,5% de coelhos não promoveu alterações clínicas e histopatológica na córnea aos 3º, 7° e 15º de tratamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO, D. Farmacologia e terapêutica ocular. Rio de Janeiro: Pirâmide, 1988. 278 p.
DASS, B. A.; SOONG, H. K.; LEE, B. effects of proparacaine on actin cytoeskeleton of corneal epithelium. Journal ocular Pharmacology, v. 4, n. 3, p. 186-194, 1988.
GRANT, R. L.; ACOSTA, D. Comparative toxicity of tetracaine, proparacaine and cocaine evaluated with primary cultures of rabbit corneal epithelial cells. Exp. Eye. Res., v. 59, n. 4, p. 469-478, 1994.
KIM, J. Y.; CHOI, Y. S.; LEE, J. H. Keratitis from corneal anesthetic abuse after photorefractive keratectomy. J. Cataract. Refract. Surg., v. 23, n. 3, p. 447-449, 1997.
MEDEIROS, F. W.; ALVES, M. R.; CRESTA, F. B.; JOSÉ, N. K. Influência do uso tópico de tetracaína e proparacaína na reparação de defeito epitelial corneano. In: CONGRESSO DE OFTALMOLOGIA DA USP, 2., 1999, São Paulo. Anais..., São Paulo, 1999.
MOREIRA, L. B.; KASETSWAN.; SANCHEZ, D.; SHAH, S. S.; LABREE, L.; MCDONNELL, P. J. Toxicity of topical anesthetic agents to human keratocytes in vivo. Journal Cataract Refractive Surgery, v. 25, p. 975-980, 1999.
RAPUANO, C. J. Topical anesthetic abuse: a case report of bilateral corneal ring infiltrates. J. Ophthalmic Nurs. Technol., v. 9, n. 3, p. 94-95, 1990.
ROCHA, G.; BRUNETT, I.; LEFRANÇOIS, M. Severe toxic keratopathy secondary to topical anesthetic abuse. Can. J. Ophthal., v. 30, p. 198-202, 1995.
STILES, J.; KROHNE, S.; RANKIN, A.; CHANG, M. The efficacy of 0,5% proparacaine stored at room temperature. American College of Veterinary Ophthalmologists, v. 4, p. 205-207, 2001.
ZAGELBAUM, B. M.; TOSTANOSKI, J. R.; HOCHMAN, M. A.; HERSH, P. S. Topical lidocaine and proparacaine abuse. American Journal Emergence medicine, n.12, v.1, p. 96-97, 1994.
FONTE DE FINANCIAMENTO
Foram obtidos recursos financeiros do CNPq, e PROAP.