Título: "AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE AMOSTRAS DE ÁGUA MINERAL NATURAL, ENVASADA, COMERCIALIZADAS EM GOIÂNIA, GOIÁS".

Autores: GUIMARÃES, A.P.R.C.; SERAFINI, A.B.

Unidade Acadêmica: Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - IPTSP

E-mail: anapaula_rcg@yahoo.com.br; abisol@iptsp.ufg.br

Palavras-Chave: água mineral; qualidade microbiológica; coliformes; Pseudomonas.

INTRODUÇÃO

O monitoramento da qualidade da água consumida pelos seres humanos nem sempre é realizado com a atenção e cuidados devidos, motivando o aumento do consumo de água mineral em certos setores da população, já que esse produto é associado a um elevado grau de pureza e a aplicabilidades medicinais e terapêuticas (EIROA et al, 1996).

Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Águas Minerais (ABINAM, 2002) indicam que entre 1997 e 2001 o setor registrou crescimento de 104%. O consumo per capita/ano nacional passou de 24,9 L, em 2001, para 27 L em 2002.

Água mineral natural é aquela obtida diretamente de fontes naturais ou artificialmente captadas, de origem subterrânea, caracterizada pelo conteúdo definido e constante de sais minerais (composição iônica) e pela presença de oligoelementos e outros constituintes (Brasil, 2000).

Apesar de a água mineral estar associada à pureza, ela pode apresentar contaminação, mesmo sabendo-se que sua extração provém de mananciais subterrâneos e que, quando atravessa uma superfície de rocha e terra, perde grande parte das bactérias e matéria orgânica (HILUY et al, 1994). Uma microbiota alóctone, não proveniente da fonte, pode surgir durante as etapas de engarrafamento, processamento ou mesmo do ambiente (COELHO et al, 1998), incluindo bactérias saprófitas, bem como patógenos humanos (FLEET; MANN, 1986).

A legislação brasileira em vigor (Resolução n° 54/2000 do Ministério da Saúde), que regulamenta os critérios microbiológicos para água mineral, determina ausência de Coliformes fecais, exigindo também análises para coliformes totais, Enterococcus, Clostridium sulfito-redutores e Pseudomonas aeruginosa, cujo número de unidades formadoras de colônia (UFC) deve ser inferior a 2/100 mL de água. Ainda, de um grupo de 5 amostras, apenas uma pode estar contaminada.

O objetivo do presente estudo foi avaliar a qualidade microbiológica das marcas de água mineral comercializadas em Goiânia, Goiás, através da comparação do perfil microbiológico das amostras coletadas com o padrão de qualidade microbiológica estabelecido pela legislação vigente.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisadas amostras de 15 marcas de água mineral, coletadas com a colaboração da Vigilância Sanitária Municipal de Goiânia, em estabelecimentos comerciais, nas embalagens originais e lacradas. As amostras tinham prazos de validade entre 25 de novembro de 2004 e 22 de maio de 2005 e foram analisadas no Laboratório de Microbiologia de Alimentos do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás, no primeiro semestre de 2004.

As análises microbiológicas atenderam os critérios e padrões microbiológicos estabelecidos pela Resolução–RDC n.º 54 (Brasil, 2000) e foram realizadas de acordo com American Public Health Association-APHA (1998).

Foram analisadas cinco amostras (conforme a RDC nº 54 para enquadramento como amostragem representativa) de cada uma das 15 marcas de águas minerais avaliadas, comercializadas em embalagens de 500 mL e 1,5 L. Quando constatada a presença de microrganismos na primeira análise, foi analisado outro grupo de cinco amostras da marca, com mesma data de fabricação e volume, sendo avaliadas, no total, 105 amostras de água mineral.

Seis alíquotas de 100 mL foram retiradas, filtradas e as membranas incubadas em meio específico, procedendo-se a contagem de Coliformes totais, Coliformes fecais, bactérias heterotróficas, Enterococcus, Pseudomonas aeruginosa, Clostridium sulfito-redutores e Clostridium perfringens e pesquisa de Salmonella sp e Escherichia coli.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre as 15 marcas analisadas, 06 (40%) apresentaram contaminação por coliformes totais e 05 (33,3%) por coliformes fecais, em todas as cinco amostras avaliadas, tanto na primeira quanto na segunda análise. Uma das cinco amostras de uma das marcas apresentou P. aeruginosa, mas somente na primeira análise.

A contagem de bactérias heterotróficas foi realizada como um parâmetro a mais de controle de qualidade, pois não é exigida para água mineral, devendo, para água potável, ser menor que 500 UFC/mL (Brasil, 2004). Quatro (26,7%) marcas continham bactérias heterotróficas, mas em número inferior a 500 UFC/mL. Os demais microrganismos pesquisados não foram encontrados nas amostras.

Considerando-se os valores determinados pela Resolução - RDC nº 54, seis dentre as quinze marcas avaliadas não obedeceram aos padrões de qualidade microbiológica exigidos pela legislação devido aos altos índices de coliformes totais e fecais detectados. As outras nove marcas mostraram-se isentas de contaminação, estando em conformidade com o que determina a legislação vigente.

Estudo realizado em Marília/SP não detectou coliformes fecais em 18 amostras e apenas uma delas apresentou coliformes totais (ALVES et al, 2002). Em Recife, dentre as 10 marcas avaliadas, 20% estavam fora do recomendado pela legislação (SILVA; CALAZANS, 2003) e no Rio de Janeiro, de 74 amostras de 26 marcas, 21,6% estavam contaminadas (TANCREDI et al, 2002).

A ausência de bactérias decorrentes de contaminação fecal não justifica a ausência de microrganismos potencialmente patogênicos. São assim, diversas as razões que tornam necessário desenvolver um serviço de garantia da qualidade da água mineral oferecida à população (NASCIMENTO, 1999).

CONCLUSÕES

A porcentagem de marcas que não podem ser consideradas como de boa qualidade microbiológica, com relação ao determinado pela legislação, foi elevada (40%), representando risco para o consumidor.

Os resultados encontrados comprovam a necessidade de fiscalização da água mineral comercializada na cidade de Goiânia, de forma a garantir a qualidade do produto e detectar as falhas nos processos que envolvem desde a captação da água na fonte até o seu armazenamento e comercialização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, N. C.; ODORIZZI, A. C.; GOULART, F. C. Análise microbiológica de águas minerais e de água potável de abastecimento, Marília, SP. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 6, p. 749-751, dez. 2002.

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (APHA). Standard methods for the examination of water and wastewater. 20th ed. Baltimore: APHA, 1998. Part 9000.

Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais - ABINAM. Setor de água mineral continua em franca expansão no país. ABINAM, 2002. Disponível em: <http://www.abinam.com.br/ed21-0609.asp>. Acesso em: 24/07/2004

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 518 de 25 de março de 2004. Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 mar. 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC nº 54 de 15 de junho de 2000. Estabelece padrões microbiológicos para águas minerais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 jun. 2000.

COELHO, D.; PIMENTEL, I. C.; BEUX, M. Uso do método substrato cromogênico para quantificação do número mais provável de bactérias do grupo dos coliformes em águas minerais envasadas. Boletim do Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 45-54,1998.

EIROA, M.N.U.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F.A. Avaliação microbiológica de linhas de capacitação e engarrafamento de água mineral. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 165-169, 1996.

FLEET, G.; MANN, F. Microbiology of natural mineral water: an overview with data on Australian waters. Food technology, Australia, v.38, n. 3, p.106-110, 1986.

HILUY, D.; PERDIGÃO, G.; ARAGÃO, M.; PEIXOTO, T. Avaliação das águas minerais comercializadas em Fortaleza. Higiene Alimentar, São Paulo, v. 8, n. 33, p. 17-19, 1994.

NASCIMENTO, M. L. Preservação da Qualidade das Águas Minerais Naturais e Águas de Nascente. Instituto Geológico e Mineiro. 1999. Disponível em: <www.igm.pt/edicoes_online/diversos/aguas>. Acesso em: 16/02/2004

SILVA, J.; CALAZANS, G. Avaliação bacteriológica de águas minerais consumidas na cidade do Recife–PE. 2003. Disponível em: <www.prac.ufpb.br/anais/anais/saude/aguasminerais.pdf>. Acesso em: 15/12/2003.

TANCREDI, R.C.; CERQUEIRA, E.; MARINS, B. Águas minerais consumidas na cidade do Rio de Janeiro: avaliação da qualidade sanitária. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: <www2.rio.rj.gov.br/governo/vigilanciasanitaria/boletins/bol13>. Acesso em: 12/11/2003

FONTE DE FINANCIAMENTO: CNPq