ADMINISTRAÇÃO IN OVO DE ÁCIDO ORGÂNICO EM EMBRIÕES DE FRANGOS DE CORTE
OLIVEIRA ASC1, LEANDRO NSM2, STRINGHINI JH2, CAFÉ MB2, GONZÁLES E3, SANTOS MM1
1Mestrandos em Ciência Animal EV/UFG Bolsista CNpQ
2 Professores da EV/UFG
3 Professora convidada EV/UFG
INTRODUÇÃO
As técnicas de inoculação massiva in ovo de vacinas é uma prática cada vez mais utilizada em avicultura industrial. Com esse procedimento é possível a imunização precoce dos embriões sem que se observe comprometimento do desenvolvimento embrionário e da eclodibilidade (OHTA e KIDD, 2001). A evolução dessa técnica possibilita que se adote um sistema de suplementação exógena do embrião de frango de corte, capaz de promover o desenvolvimento precoce do trato gastrintestinal (TGI) do neonato, preparando-o para melhor aproveitar o alimento nas horas seguintes ao seu nascimento. Um dos produtos que poderia ser usado é o ácido orgânico, com a finalidade de facilitar a colonização de bactérias úteis no TGI do pintainho e promover o amadurecimento mais rápido da mucosa do intestino delgado. Os ácidos orgânicos são substâncias que têm uma carboxila na molécula, como muitas substâncias orgânicas. Porém, quando o termo ácido orgânico é empregado está subentendido que se trata de ácidos graxos voláteis, de cadeia curta, fracos, como o ácido butírico O objetivo do estudo foi o de avaliar a viabilidade da suplementação in ovo do butirato de sódio, um sal do ácido butírico, via inoculação de embriões de frangos de corte, medindo-se o desempenho aos 10 dias e o desenvolvimento de órgãos do aparato gastrintestinal dos pintos submetidos ou não a um jejum alimentar de 36 horas após a eclosão.
MATERIAL E MÉTODOS
337 ovos embrionados de 16 dias de incubação, originados de matrizes Cobb de 50 semanas de idade foram selecionados, pesados e distribuídos em três incubadoras, mantidas a 37,8 ºC e 55% UR. No dia seguinte (D17), metade dos ovos com embriões viáveis de cada incubadora foram inoculados, via cavidade alantoidea, com 0,3 mL de uma solução contendo 8 mg de butirato de sódio (Adimix TM Butyrate-C, Invenutri-AD), constituindo-se no grupo butirato. A outra metade recebeu um inóculo com água destilada (grupo placebo). Dois dias antes do nascimento, cada ovo foi acondicionado em sacos de filó para discriminar cada ave ao seu tratamento dentro de cada incubadora. Após a eclosão de 80% dos ovos, os pintainhos viáveis foram distribuídos em baterias aquecidas, segundo um delineamento em blocos casualizados em esquema fatorial 2x 2 (2 inoculações = placebo e butirato; 2 períodos de jejum após o alojamento = 0 e 36 h), com 4 tratamentos e 10 repetições de 6 aves cada uma. Metade dos grupos experimentais recebeu água e ração à vontade logo após o alojamento. A outra metade somente foi alimentada com ração e água após 28 h do alojamento, correspondente a 36 h da eclosão média. Logo após o nascimento e ao final do período experimental (10 dias de idade das aves), foram coletados órgãos do aparelho digestivo (proventrículo, moela, fígado, intestino) de 10 pintos de cada tratamento para avaliações morfométricas. Além disso, foram coletados e calculados dados de desempenho (peso, ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar) e mortalidade Os resultados obtidos foram analisados por ANOVA para P<0,05, com o auxílio do programa computacional SAEG (3).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O peso médio dos ovos inoculados foi de 62,06± 0,25. Do total de ovos inoculados com placebo (167) e butirato (170), 94,61% e 91,76% eclodiram, respectivamente. Os pesos médios dos pintainhos inoculados com placebo e butirato foram, respectivamente, 49,68 ± e 49,14 ± g. Esses dados demonstram que as condições de incubação foram adequadas, com percentuais de eclosão e pesos ao nascimento similares entre os dois grupos experimentais. A análise estatística dos dados de desempenho e mortalidade (Tabela 1) revelou que não houve interação significativa (P>0,05) entre os fatores estudados (inoculação e jejum). A suplementação in ovo com butirato não influenciou (P>0,05) os resultados de desempenho e mortalidade, Porém, independente da inoculação de butirato, o jejum do neonato de 36 horas pós-eclosão afetou negativamente o peso, ganho de peso e a conversão das aves, concordando com GONZALES et al (2000). Entretanto, aos 10 dias de idade, observou-se que os proventrículos das aves inoculadas com butirato e alimentadas à vontade, apresentaram pesos absolutos e relativos inferiores (Tabela 2) ao das aves inoculadas com placebo e não jejuadas (P<0,05). Além disso, observou-se que independente do jejum alimentar, a moela e o peso relativo do intestino foram menores quando as aves eram oriundas de embriões inoculados com butirato (Tabela 3). Já para o comprimento do intestino, esse foi maior quando as aves receberam butirado no período embrionário. Estes dados preliminares são indicativos de que a inoculação do embrião com butirato, embora sem se refletir no desempenho das aves aos 10 dias de idade, afetou o desenvolvimento de órgãos importantes do TGI. Os pesos menores observados para o proventrículo, moela e intestino observados aos 10 dias de idade das aves, merecem uma investigação mais detalhada, principalmente quanto à morfometria microscópica. Sabendo-se que o ácido orgânico é um produto que age como agente antimicrobiano (HART e SCHETZ, 1972), é plausível supor-se que o menor peso para esses órgãos possa ser o resultado de uma diminuição da espessura da mucosa, resultado de uma proteção conferida pelo produto.
CONCLUSÕES
A técnica da inoculação in ovo do butirato de sódio, na concentração de 8 mg/ovo, é viável, uma vez que não afeta a desenvolvimento embrionário, as características do neonato e o desempenho dos pintos até 10 dias. Entretanto, a inoculação do butirato não evitou o prejuízo de desempenho determinado pelo jejum do nenonato. Porém, importantes órgãos do TGI foram afetados pela inoculação in ovo do butirato, indicativo de que novos ensaios devem ser conduzidos para esclarecer esses efeitos. Sugere-se, ainda, uma continuidade das pesquisas, com avaliações das aves até a idade de abate da ave e submetidas a desafios ambientais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GONZALES, E., KONDO, N., SALDANHA, E.S.P.B., PIZZOLANTE, C.C., DECUYPERE, E. Performance of broiler chickens subjected to neonatal fast. In: WORLD’S POULTRY CONGRESS, 21, 2000, Montreal, Canadá. Anais (Compact disk)… Montreal: WPA, 2000. (Doc. 8.2.19.).GONZALES, E et al., 2000.
HART H., SCHUETZ, R.D. Organic chemistry: a short course. Michigan: MSU, 1972. 500p.
OHTA, Y., KIDD, M.T, ISHIBASHI, T. Embryo growth and amino acid concentration, profiles of broiler breeder, eggs, embryos, and chicks after in ovo administration of amino acids. 2001. Poultry Science, v.80, p.1425-1429, 2001.
SAEG – Sistemas de Análises Estatísticas. v.8. Viçosa: FAB, UFV, Cd-rom. 1999.
Tabela 1. Desempenho e mortalidade de pintos de corte de 10 dias de idade originados de embriões inoculados ou não com butirato de sódio no período embrionado e submetido ou não a jejum de ração e água por 36 horas após a eclosão.
Jejum |
||||
Variável |
Inoculação |
0 h |
28 h |
Média |
Peso vivo, g |
Placebo |
251 |
229 |
240 |
Butirato |
245 |
227 |
236 |
|
média |
248 a |
228 b |
||
Ganho de peso, g |
Placebo |
202 |
179 |
190 |
Butirato |
195 |
178 |
187 |
|
média |
199 a |
179 b |
||
Consumode ração, g |
Placebo |
246 |
239 |
243 |
Butirato |
235 |
236 |
236 |
|
média |
241 |
238 |
||
Conversão.alimentar |
Placebo |
1,217 |
1,44 |
1,28 |
Butirato |
1,212 |
1,326 |
1,27 |
|
média |
1,215 a |
1,335 b |
||
Mortalidade, % |
Placebo |
1,98 |
1,67 |
1,82 |
Butirato |
1,67 |
0,00 |
0,83 |
|
média |
1,82 |
0,83 |
a, b. Na mesma linha, diferente pelo F test (P<0.05). 1 Correspondente a 8 e 36 h depois da eclosão, respectivamente. 2 Como sal de n-butyric acid sodium 98 ± 2%.
Tabela 2. Peso absoluto (g) e relativo (%) do próventrículo, moela, fígado e intestino e comprimento do intestino (cm) de pintos de corte de 10 dias de idade originados de embriões inoculados ou não com butirato de sódio no período embrionado e submetido ou não a jejum de ração e água por 36 horas após a eclosão.
Jejum1 |
||||||||
In ovo |
0 h |
28 h |
Média |
|||||
Variável |
%1 |
%1 |
%2 |
|||||
Proventriculo, g |
Placebo |
2.39 A |
1.08 A |
2.03 |
0.93 |
2.21 |
1.00 |
|
Ác. butírico |
2.02 B |
0.89 B |
2.14 |
0.96 |
2.08 |
0.92 |
||
Média |
2.20 |
0.99 |
2.09 |
0.94 |
||||
Moela, g |
Placebo |
12.23 |
5.60 |
11.07 |
5.03 |
11.65 |
5.31 X |
|
Ác. butírico |
10.89 |
4.77 |
10.48 |
4.71 |
10.8 |
4.74 Y |
||
Média |
11.56 |
5.18 |
10.78 |
4.87 |
||||
Fígado, g |
Placebo |
7.99 |
3.63 |
8.49 |
3.87 |
8.24 |
3.75 |
|
Ác. butírico |
7.82 |
3.41 |
8.39 |
3.78 |
8.11 |
3.60 |
||
Média |
7.91 |
3.52 |
8.44 |
3.83 |
||||
Peso do intestino, g |
Placebo |
17.53 |
7.94 |
17.17 |
7.87 |
17.35 |
7.90 X |
|
Ác. butírico |
17.28 |
7.55 |
16.61 |
7.47 |
16.95 |
7.51 Y |
||
Média |
17.40 |
7.75 |
16.89 |
7.67 |
||||
Comp. do intestino, cm |
Placebo |
87.72 |
- |
79.92 |
- |
83.83 X |
- |
|
Ác. butírico |
88.15 |
- |
80.25 |
- |
84.20 Y |
- |
||
Média |
87.93 |
- |
80.10 |
- |
- |
1
Em relação ao peso vivo da ave antes do abate. 2 Transformado em arcoseno antes da análise estatística.A, B, Na coluna, mostra o efeito da inoculação dentro de jejum, segundo o teste F (P<0,05).
X, Y, Na coluna, mostra o efeito da inoculação, independente do jejum, segundo o teste F (P<0,05).
AGRADECIMIENTOS Ao CNPq e à Perdigão Agropecuária, Unidade de Rio Verde, GO pelo apoio financeiro.