ANATO-FISIOLOGIA E PERFORMANCE MUSICAL: revisão da literatura e sugestões de procedimentos preventivos aplicáveis ao performer

Bolsista PIBIC: Vívian Deotti Carvalho – viviandeca@brturbo.com

Orientadora: Profa Dra Sonia Marta Rodrigues Raymundo - soniaray@cultura.com.br

Palavras-chave: Anato-fisiologia, Performance Musical, Música de Câmara, Piano.

INTRODUÇÃO – Instrumentistas freqüentemente ficam sujeitos a situações que exigem maior esforço físico do que estão habituados, como a preparação para uma prova prática, um teste de seleção, apresentações em recitais, festivais e outros. Neste contexto, aulas práticas e ensaios normalmente se realizam em grande número e num curto espaço de tempo. Estes exemplos corriqueiros de sobrecarga de trabalho geram, sem dúvidas, o desconforto, as dores localizadas, as tensões musculares, fadiga, stress físico e distúrbios que fogem do equilíbrio natural do organismo. Para evitar que estes desequilíbrios corporais tornem-se constantes ou se agravem, é de extrema importância a adoção de medidas preventivas. Grande parte da literatura sobre anato-fisiologia aplicada ao músico que atua no palco, o performer, está em língua estrangeira ou em periódicos de pouca circulação no meio musical, o que tem contribuído com o aumento do nível de interferências negativas na performance musical (Ray, Vieira e Dias, 2002), bem como distanciado o músico das medidas de prevenção disponíveis e aplicáveis à sua realidade.

JUSTIFICATIVA – A estrutura do corpo humano é estudada pela anatomia e as funções de cada órgão pela fisiologia. Mais especificamente, a anatomia é a ciência que estuda a constituição do corpo do ser humano enquanto a fisiologia é a ciência que estuda a atribuição de funções dos órgãos e as condições que determinam estas funções. Este trabalho pretende abordar o termo anato-fisiologia de forma a estabelecer relações entre a estrutura e a função das partes do corpo envolvidas na atividade do performer musical. O alto grau de incidência de problemas de origem anato-fisiológica em músicos no exercício da profissão indica que grande parte destes profissionais não têm consciência de suas limitações físicas e fisiológicas (Andrade e Fonseca, 2000). Além do perfomer musical geralmente perceber distúrbios anato-fisiológicos somente depois que seu corpo manifesta o desconforto físico, a demora em detectar estes distúrbios, bem como a carência de literatura direcionada ao problema, dificultam os possíveis procedimentos preventivos. Isto tudo, somado falta de interação entre profissionais da área de saúde com a música (Mcardle, Katch, e Katch, 1974), reforça a pertinência do experimento ora proposto.

OBJETIVOS – O projeto tem por objetivo: 1) apresentar um registro de bibliografia comentada como revisão da literatura relevante sobre o tema publicada em português e inglês; e 2) organizar uma coleção de medidas preventivas que sirva de referência para o músico que deseja evitar distúrbios anato-fisiológicos.

MATERIAL E MÉTODOS – Por se tratar de uma proposta de revisão de literatura e elaboração de material de apoio ao músico (e demais interessados na relação música-saúde), optamos pelo parâmetro qualitativo e trabalharemos com consulta bibliográfica e reflexões sobre dados previamente coletados em três etapas, a saber: 1) Pesquisa Bibliográfica - Consulta (com Fichamento) à livros, periódicos, gravações em vídeo, apontamentos de palestras e conferências relacionando distúrbios anato-fisiológicos à atividade do performer musical; 2) Organização e análise do Material pesquisado - Organização dos fichamentos e análise dos mesmos em relação ao material previamente coletado e elaboração de relatório parcial e 3) Preparação de material para publicações e apresentação dos resultados - Elaboração da coleção provisória de medidas preventivas que sirva de referência para o músico que deseja evitar doenças provenientes de distúrbios anato-fisiológica.

RESULTADOS E DISCUSSÕES – Este trabalho de pesquisa foi desenvolvido em dois momentos principais: um levantamento de dados bibliográficos com o intuito de realizar uma revisão da literatura disponível referente a distúrbios anato-fisiológicos relacionados à atividade do performer musical. Num segundo momento, através da análise dos dados coletados na revisão da literatura, elaborou-se uma coleção provisória de medidas preventivas que servirão como base para a elaboração de hipóteses e de um questionário a ser aplicado no segundo semestre de 2005, com o objetivo de se elaborar uma coleção de medidas preventivas mais consubstanciadas.

 

COLEÇÃO PROVISÓRIA DE MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA DOENÇAS DE PROVENIENTES DE DISTÚRBIOS ANATO-FISIOLÓGICOS

1) utilizar o recurso de mapeamento proposto pela Técnica de Alexander (Conable, 1995), como ferramenta de auto-visualização corporal, pois a técnica ajuda a identificar movimentos que estejam sendo executados de forma inadequada. A partir desta identificação, o músico pode utilizar a Técnica para prevenir ou corrigir lesões, bem como melhorar a qualidade de sua performance.

2) antecipar mentalmente todos os movimentos corporais (até mesmo cada uma das notas que serão tocadas numa passagem mais complexa, com dinâmicas e expressões diversas), implicando numa melhora da qualidade da performance. Uma vez que os músculos são comandados pelo cérebro através do sistema nervoso (Kaplan, 1987), o processo cognitivo no aprendizado e execução musical passa a ser fator relevante no domínio de técnicas de execução instrumental.

3) O estudo do instrumento musical feito com auxílio verbal, também colabora para uma assimilação mais efetiva do conteúdo estudado (Gannett apud Ray, 2002).

4) A prática de esportes (ou outro tipo de trabalho corporal), como forma de evitar problemas de stress físico e adquirir maior resistência física para lidar com uma alta carga horária de atividade. (Andrade e Fonseca, 2000)

5) Os alongamentos são recomendados antes, durante e logo após o período de estudo do performer musical para evitar problemas de stress físico (Andrade e Fonseca, 2000). Porém, devem ser feitos com orientação ou podem acarretar em problemas.

6) Intervalos de descanso durante o estudo diário dos instrumentistas são recomendados para evitar problemas de stress físico, uma vez que a musculatura não suporta a grandes esforços por longos períodos de tempo ininterruptos. O instrumentista, portanto deve tentar conseguir o máximo de rendimento em períodos intercalados por pausas para descanso (Kaplan, 1987).

7) Leituras sobre psicologia e fisiologia aplicadas são recomendadas aos instrumentistas, que ao ampliar seu conhecer sobre seus limites físicos e psicológicos, estarão evitando possíveis distúrbios anato-fisiológicos (Andrade e Fonseca, 2000).

8) Cuidados com a postura: a Técnica de Alexander a entende a relação de equilíbrio entre cabeça e pescoço como componentes do controle primário do nosso corpo e lidera qualquer movimento. Segundo a técnica, os músculos da cabeça são os únicos músculos que possuem o poder de tensionar o resto do corpo, prejudicando qualquer atividade física. (Conable, 1995).

 

CONCLUSÃO – A principal conclusão deste projeto está na própria coleção de medidas provisórias contra doenças de provenientes de distúrbios anato-fisiológicos. Entretanto, podemos afirmar que, ao realizarmos o levantamento bibliográfico, bem como a análise do mesmo, percebemos a necessidade de se ampliar a pesquisa para que a coleção de medidas seja expandida. Esta etapa está prevista para 2005.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, E. e FONSECA, J. Artista-Atleta: reflexões sobre a utilização do corpo na performance dos instrumentos de cordas. Revista PerMusi, BH. V.2, 2000. p. 118-128.

CONABLE, Barbara e William. How to Learn the Alexander Technique: a manual for students. 3ª ed. Portland: Andover Press, 1995.

GERLING, Cristina Capparelli e SOUZA, Jusamara. A Performance como objeto de Investigação. I Seminário Nacional de Pesquisa em Performance Musical, 2001, Belo Horizonte. Anais do I SNPPM... Belo Horizonte: UFMG, 2001. p.114-125.

KAPLAN, José Alberto. Teoria da Aprendizagem Pianística: uma abordagem psicológica. 2a ed. Porto Alegre: Editora Movimento, 1987. p.17- 49.

KRAMPE, R. T., TESCH-RÖMER, C. e ERICSSON, K.A. "Biographien und Alltag von Spitzenmusikern. Musikpädagogische Forschung, 12, p.175-188, 1995.

MCARDLE, W., KATCH, F. e KATCH, V. Fisiologia do Exercício. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1974.

RAY, Sônia. Fases Integradas no Estudo do Instrumentista de Cordas. Revista Per Musi, Belo Horizonte, volume 4, 2002. P.72-80.

SLOBODA, A. John. The Musical Mind: the cognitive psychology of music. Nova York: Oxford University Press, 1985.

Fonte de financiamento: CNPq (Bolsa PIBIC)