UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

Departamento de Filosofia/FCHF

Toni Cezar Pinto Ferreira Barros

 

O HOLISMO em Neurath, Carnap e Quine

Resumo informativo

Uma das principais contribuições dos filósofos no final do século XIX e início do século XX à filosofia da ciência e à semântica foi à tese, inspirada nos avanços científicos das ciências exatas e naturais, de que não há uma única teoria verdadeira sobre o que se passa no mundo empírico, mas, sim, a possibilidade de construção de múltiplas versões, igualmente satisfatórias, de explicação do mesmo. É nessa perspectiva que esse texto analisa o trabalho de Pierre Duhem -"Algumas Reflexões acerca da Física Experimental"- e de Willard Van Organon Quine - "Dois Dogmas do Empirismo". No primeiro, há uma noção holista essencialmente voltada à ciência, quase sem nenhuma alusão à semântica, talvez porque seu espaço de discussão não seja filosófico propriamente dito, mas científico. Por outro lado, em Quine, há uma orientação, basicamente por causa de sua critica ao Círculo de Viena, rumo a semântica em geral. Assim, concluem-se basicamente dois pontos intimamente ligados: primeiro, a possibilidade de uma interpretação holista para a semântica geral, que vai da filosofia passando pela ciência até o senso comum; e segundo, o holismo, iniciado por Duhem, restrito a ciência, chega a Quine com uma abrangência semântica.

Palavras-chave: Holismo, semântica, Duhem e Quine

 

 

 

Resumo expandido

A pesquisa de questões específicas de filosofia da ciência, como o convencionalismo, o holismo e o reducionismo, que interessam à metodologia científica em geral nas variadas áreas da ciência natural e das ciências humanas, assim como as questões mais próximas da área de filosofia da linguagem, como o problema da divisão entre enunciados analíticos e sintéticos ou a questão do significado e da referência de enunciados e palavras, que também são temas recorrentes na lingüística, permite um diálogo com outras áreas da pesquisa acadêmica. A discussão teórica sobre questões fundamentais da atividade científica, como a questão de métodos, da linguagem científica, do alcance do conhecimento científico, é essencial para estabelecer parâmetros de compreensão dessa atividade. Tais parâmetros podem, de forma na maioria das vezes indireta, influenciar os rumos das pesquisas futuras nas ciências em geral.

Uma das principais contribuições dos filósofos no final do século XIX e início do século XX à filosofia da ciência e à semântica foi à tese, inspirada nos avanços científicos das ciências exatas e naturais, de que não há uma única teoria verdadeira sobre o que se passa no mundo empírico, mas, sim, a possibilidade de construção de múltiplas versões, igualmente satisfatórias, de explicação do mesmo. De forma que o projeto de pesquisa, no qual este plano de trabalho está inserido, tem o objetivo de estudar as teses Holistas e Convencionalistas em Neurath, Carnap e Quine. Assim sendo, nesse sub-projeto, num primeiro momento, buscava clarear as noções holistas nesses três filósofos. Porém, após a leitura minuciosa dos textos indicados na referência bibliográfica em português e em espanhol seguida de fichamentos regulares acompanhados e discutidos com a orientadora, decide reorientar a minha estratégia de pesquisa. Percebi que seria difícil pesquisar o holismo em Neurath, Carnap e mesmo em Quine, sem antes compreender com clareza o seu maior ícone: Duhem. Então, procurei entender o contexto histórico do "Círculo de Viena" até Quine, lendo filósofos como: Poincaré, Carnap, Neurath, Schlick, Wittgenstein e alguns comentadores. De forma que achei melhor, por razões de delimitação da pesquisa e simplicidade, discutir e apresentar a obra de Quine: "Dois Dogmas do Empirismo", nesse ponto, como em tantos outros, foi fundamental a leitura do artigo da orientadora Profa. Dra. Sofia Stein: "Holismo e Gramática lógica".

Para tanto, nessa pesquisa, centrei-me fundamentalmente em duas obras: "Algumas Reflexões acerca da Física Experimental" de Duhem e "Dois Dogmas do Empirismo" de Quine. No primeiro, há uma noção holista essencialmente voltada à ciência, quase sem nenhuma alusão à semântica, talvez porque seu espaço de discussão não seja filosófico propriamente dito, mas científico. Por outro lado, em Quine, há uma orientação, basicamente por causa de sua critica ao Círculo de Viena, rumo a semântica em geral. Nesse autor, há distinções, muitas vezes não muito claras, entre "holismo epistemológico" e "holismo semântico".

Assim sendo, conclui basicamente dois pontos intimamente ligados: primeiro, a possibilidade de uma interpretação holista para a semântica geral, que vai da filosofia passando pela ciência até o senso comum; e segundo, o holismo, iniciado por Duhem, restrito a ciência, chega a Quine com uma abrangência semântica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARNAP, Rudolf. La construcción lógica del mundo. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1988.

HAHN, Hans & NEURATH, Otto & CARNAP, Rudolf. A Concepção Científica do Mundo "O Círculo de Viena". Cadernos de História e Filosofia da Ciência, vol.10, 1986, p.5-20.
MARICONDA, Pablo Rubén (Org.). A Filosofia da Física de Pierre Duhem. Ciência e Filosofia, nš 4, 1989, p.87-118.

MARCONDES, Danilo.Duas concepções de analise no desenvolvimento da filosofia analítica. In: Paradigmas filosóficos da atualidade, org. por Maria Cecília. Campinas: Papirus, 1989.
POINCARÉ, Henri. A Ciência e a Hipótese. Brasília: Editora UNB, 1984.

RYLE & AUSTIN & QUINE & STRAWSON. Ensaios. Seleção de Oswaldo Porchat. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os Pensadores).
SCHLICK, M. & CARNAP, R. Coletânea de textos. Seleção de Pablo Rúben Mariconda. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os Pensadores).

STEIN, S. I. A.(1998) Holismo e gramática lógica. In: BRITO, Adriano & VALE, Oto A. (Orgs.). Filosofia, Linguística, Informática: aspectos da linguagem. Goiânia: Editora da UFG, 1998. p. 35-48.