RURALIDADES, SABERES E SENTIDOS DA ESCOLA RURAL EM GOIÁS

EDUCAÇÃO E ESCOLA RURAL EM GOIÁS

PINHEIRO, S. J.; PESSOA, J. M.

Núcleo de Estudos Rurais – NERU

Faculdade de Educação – UFG

silvioufg@hotmail.com

jmpessoa@terra.com.br

 

Palavras-chave: Educação, Escola Rural e Ruralidades.

Ao avaliarmos a relevância das propostas de estudos científicos do meio rural a partir da visão oficial sobre o desenvolvimento territorial do Brasil, certamente, não consideraremos o real valor desses estudos, tendo em vista que, de acordo com os últimos dados do IBGE, o Brasil está com 81% de sua população no meio urbano e apenas 19% na zona rural. Entretanto, esse olhar oficial vem sofrendo várias criticas. Uma delas diz respeito à metodologia adotada por esse instituto de pesquisa. Outra está relacionada ao crescente processo de desaceleração do êxodo rural vivido pelo país. E, outro ainda, que se remete ao caso específico de Goiás, tem a ver com fato de que o aglomerado urbano que aumenta significativamente a taxa de urbanização nesse Estado é a capital, que, por ser relativamente nova, ainda apresenta muitos referenciais socioculturais do universo rural. Levando em consideração todos esses aspectos que se contrapõem à visão oficial, podemos constatar a pertinência de estudos sobre o meio rural, tais como os desenvolvidos por este subprojeto e o projeto a que ele está vinculado. A pesquisa Educação e Escola Rural em Goiás está integrada a pesquisa Ruralidades, Saberes e Sentidos da Escola Rural em Goiás, coordenada pelo Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa. O subprojeto tem como objetivos analisar os dados da realidade sócio-econômico-cultural e educacional dos municípios de Cavalcante, Rio Verde e Goiás, e dessa forma produzir um conhecimento sistematizado sobre a educação rural nesses três municípios; sistematizar os resultados obtidos pelos membros da equipe do projeto Ruralidades, Saberes e Sentidos da Escola Rural em Goiás durante o desenvolvimento da pesquisa, buscando conferir unidade a eles. A princípio foi feito um estudo teórico preparatório de textos sobre educação rural, estudo este, que embasará as atividades subseqüentes. Foram realizados também trabalhos de campo nos três municípios escolhidos pela pesquisa: Rio Verde, Goiás e Cavalcante. A análise dos dados coletados durante a pesquisa permite confirmar que a economia, a estrutura social e o desenvolvimento educacional estão interligados; os movimentos sociais podem interferir positivamente na realidade social e educacional dos municípios; as idéias de progresso, de desenvolvimento e de modernização ainda são relacionadas, erroneamente, à urbanização; e a modernização do campo expulsa para a cidade parte da população que o habita. Assim, o município de Cavalcante, caracterizado como tipo representativo das comunidades rurais tradicionais, apresenta uma economia menos desenvolvida, oferecendo menores índices de desenvolvimento social e condições educacionais mais precárias que a dos outros municípios estudados. Esse município ainda não sofreu um processo intenso de urbanização, nem de modernização do campo e, por isso, ainda preserva a maior parte de sua população e de suas escolas no meio rural. Já o município de Rio Verde se configura como o extremo oposto desse caso, apresentando melhores indicadores econômicos, sociais e educacionais. Ele está imerso em um intenso processo de modernização da atividade agro-pastoril e de urbanização. Sendo assim, apesar da base de sua economia ser a agropecuária, a grande maioria de sua população habita a cidade. Tendo em vista que a mecanização do campo força a imigração de parte da população camponesa para a cidade, devido à necessidade de menor quantidade de trabalhadores e de mão-de-obra especializada, esse município sofreu um significativo êxodo rural, seguido da desativação de uma grande quantidade de instituições escolares localizadas no meio rural. Sebastião Arantes (1975) analisa a modernização da agricultura no município de Rio Verde, mostrando, de maneira bem descritiva, como a chegada da modernização alterou a vida do camponês. O município de Goiás, por sua vez, se revela um município específico, tendo em vista que é caracterizado por uma economia relativamente fraca, movimentada, contudo, principalmente pela produção agrícola familiar decorrente de assentamentos de reforma agrária. A presença de movimentos sociais em Goiás também constitui um mecanismo de pressão política que é refletido nos indicadores econômicos, sociais e educacionais desse município. Segundo Luiz Bezerra Neto (1999) a educação no movimento é tão importante como a luta pela terra ou pela reforma agrária. O autor faz ainda uma crítica quanto à forma de organização da educação no país, na qual a educação rural não é levada em conta, ou seja, o ensino pensado e construído para o meio urbano, é aplicado ao meio rural, sem que se faça qualquer adaptação. Percebemos que as formas de viabilização da educação no campo são dificultadas, principalmente nos municípios de Cavalcante e Goiás, pois esse setor não faz parte da dotação orçamentária dos Estados, ficando a mercê dos orçamentos da escolarização urbana. Esse panorama cria um quadro de precariedade no funcionamento da escola do campo em relação a vários aspectos: aos elementos humanos disponíveis para o trabalho pedagógico, às escolas mal distribuídas geograficamente; à infra-estrutura e os espaços físicos inadequados: à falta de condições de trabalho; à organização curricular descontextualizada; e à ausência de uma formação inicial e continuada adequada ao da vida dos povos do campo. Maria Fonseca (1987), observando esse quadro de precariedade, mostra como há dificuldade para se efetivar uma educação rural, dificuldade esta que pode se relacionar às condições de vida e de trabalho no campo. Cândido Grzybowski (1986) entende que é necessário, como alternativa, que se veja a educação como política social – uma atividade humana concreta e histórica – que se determina no bojo de relações sociais entre classes, e se constituí, ela mesma, em uma das formas concretas de tais relações. A educação de pequenos produtores, de assalariados e de suas famílias, depende tanto das propostas que são veiculadas pelas classes dominantes através do seu coletivo – Estado – como da participação e capacidade dos trabalhadores rurais em fazer valer os próprios interesses, nas práticas educacionais de que participam, por meio de suas organizações de classe. Bernardo Mançano (1998) discute sobre as políticas públicas que inferiorizam o campo, e que vêem o camponês como atrasado, não moderno e dependente do urbano. A "integração" proposta é falsa. A política educacional brasileira ignora a necessidade, tão evidente, de um projeto específico para a escola Rural; escola esta que não se concretiza em uma escola no campo ou para o campo, nem em uma escola da cidade no campo, mas em uma escola do campo, com a cultura, os valores e a luta do campo. Com o quadro de precariedade em que se encontra o ensino no meio rural, entendemos que há necessidade de conversão em política de Estado das propostas da Educação do Campo que garantam: o acesso com qualidade; o respeito às diferenças regionais; a promoção de processos pedagógicos inovadores (isso é importante para uma educação voltada para a realidade do campo); abertura de espaços de participação social para implementar, acompanhar e avaliar as políticas de educação. Nesse sentido, os Conselhos Municipais e Estaduais de Educação precisam se tornar espaços democráticos que incluam a participação do povo campesino e incorporem suas demandas.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANTES, Sebastião. O Pranto dos Inhambus. Goiânia, Editora Cultura Goiana, 1975.

ARROYO, Miguel Gonzalez e FERNANDES, Bernardo Mançano. A educação básica e o movimento social no campo: Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo. Luziânia, 1998.

 

FONSECA, Maria T. L. Pensando o ensino rural. In: Interação: Revista da Faculdade de Educação. UFG, jan./dez. 1987.

 

GRZYBOWSKI, C. Esboço de uma alternativa para pensar a educação no meio rural. In: Contexto e Educação. Universidade de Ijuí, Ano 1, nş 4, out/dez 1986, p. 47-59.

NETO, Luiz Bezerra. Sem Terra aprende e ensina: estudo sobre as práticas educativas do movimento dos trabalhadores rurais. Campinas, SP. Autores Associados, 1999.

 

Fonte de Financiamento: FUNAPE