CRIANÇA OBEDIENTE É CRIANÇA FELIZ?

PRÁTICAS EDUCATIVAS DISCIPLINADORAS NA EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA.

Autores: Prof. Dra. Ivone Garcia Barbosa

Renato Barros de Almeida (Bolsista Pibic/CNPq)

Prof. Dda. Solange M. O. Magalhães

Unidade Acadêmica: Faculdade de Educação

E-mails: garciasoares@cultura.com.br

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smom@terra.com.br

RESUMO: Nossa pesquisa constitui-se um subprojeto da pesquisa Políticas Públicas e Educação da Infância em Goiás: histórias, concepções, projetos e práticas, realizada pelo grupo de pesquisa em educação da infância da FE/UFG. Como professores e pesquisadores, continuamente perguntamos de que modo podemos contribuir na formação de valores e educação de crianças, enquanto cidadãs. Investigamos práticas socializadoras na escola, objetivando compreender suas articulações com o movimento da realidade, apontando possíveis indícios de posições corretoras tradicionais ou de novas formas de se pensar tais práticas por mães-professoras. Algumas questões nortearam-nos: Qual a representação de mães-professoras sobre a disciplina? Formas disciplinadoras naturalizadas por professoras podem ser consideradas "violência"? Criança obediente, comportada, quietinha é uma criança feliz? Além da pesquisa bibliográfica, realizamos um levantamento de informações da representação sobre "disciplina", "disciplina na escola" e "violência doméstica" com 17 mães-professoras da rede pública municipal, graduandas do curso Pedagogia na FE/UFG. A análise dos dados baseou-se em um referencial sócio-histórico-dialético, referindo-se aos aspectos quantitativo-qualitativos extraídos do discurso das mães e das professoras. Concluímos que, apesar de haver mudanças nas práticas e reflexões sobre a educação infantil, algumas professoras sentem dificuldade em concretizar novas formas de lidar com a disciplina, entrecruzando os papéis de professora e mãe.

PALAVRAS CHAVES: infância, práticas disciplinadoras, mães-professoras

INTRODUÇÃO: O interesse pelos temas disciplina e violência tem sido recorrente e, segundo nossos pressupostos, isso mantém uma relação não apenas com a mudança nas relações sociais mais amplas, mas também no que diz respeito às transformações no campo educacional, quer no âmbito familiar, quer no escolar. Quanto à este último, Barbosa (1997) afirma que uma visão de orientação mais dialética sobre os processos de ensino-aprendizagem e desenvolvimento exigem uma postura diferenciada e crítica do professor, que abranja não aspectos do conteúdo e da metodologia, como também no que concerne às relações interpessoais e sócio-políticas que se estabelecem entre os sujeitos envolvidos nesse processo. Educadores se queixam da questão disciplinar mostrando uma real impossibilidade de lidar com aquela em suas práticas educativas. Se de um lado, a razão para essa incerteza encontra-se no processo de reestruturação social e cultural dos diferentes grupos humanos, de outro se pode buscar aquela no cerne das relações estabelecidas no interior da escola e na forma de compreender o processo de constituição do conhecimento. A ênfase educacional atual não é mais, por exemplo, apenas sobre o bom e o mau aluno, sobre o aluno que obedece e o que não obedece. Compõe a discussão o grupo que vai receber uma informação do professor, informação essa que não pode ser considerada pronta e acabada, havendo a expectativa de que a criança-estudante manipule-a, para reelaborá-la/transformá-la em conhecimentos próprios: dela e de seu grupo.A disciplina, portanto, não pode ser referida como aquele ato individual da criança em que apenas espera uma ordem imposta pela autoridade, na qual um expõe e os outros reproduzem. Como se pode observar, mudando a visão de mundo, de homem, de infância, de conhecimento e de educação, muda, também, a ordem de funcionamento na organização escolar. Aí se encontra a dificuldade do educador: é exigido que refleta critica e historicamente sobre as normas e a ordem já estabelecidas; recebidas e repassadas como uma "herança".

Material e Método: Referenciando-nos numa abordagem sócio-histórico-dialética, optamos por uma metodologia do tipo qualitativa; propndo questionários à 17 mães-professoras da rede pública, alunas dos cursos de Pedagogia da FE/UFG, que assinaram um Termo de Livre Consentimento. A análise baseou-se principalmente nos aspectos qualitativos extraídos dos seus discursos.

Resultados e Discussâo: O termo disciplina aparece predominantemente associado à idéia de indisciplina, conforme falas das mães-professoras, o que reforça estudos que mostraram que as práticas de educadores em geral buscam eliminar a indisciplina entre as crianças, adolescentes ou alunos (D’Antola, 2000; Barbosa, Magalhães, Mendes e Barros, 2003). Pressupostos subjacentes às explicações das educadoras revelam diferentes concepções do processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento, bem como do papel e do lugar social da criança. Essas idéias devem ser revistas já que as crenças sobre o fenômeno da indisciplina difundidos no meio educacional são determinantes da prática pedagógica, sendo negativas quando se sustentam em pressupostos preconceituosos e equivocados sobre as dimensões biológica, sócio-cultural e psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento humanos.

Conclusões: Muitas afirmativas sobre a disciplina/indisciplina parecem se valer de explicações de senso comum ou pseudocientíficas, o que indica a necessidade de se constituir um suporte teórico mais consistente para as graduandas de Pedagogia sobre a temática. Algumas afirmativas retomam versões predeterministas e individualistas sobre o desenvolvimento humano, porém, também notamos falas que anunciam mudanças importantes nas posturas das mães-professoras, devendo-se considerar, pois, as possíveis contradições dos discursos e das realidades educacionais, incluindo a prática docente.

Referências Bibliográficas:

BARBOSA, I. G. Formação de conceitos na pré-escola: uma versão sócio-histórico-dialética. São Paulo, FEUSP, 1997. (tese de doutorado).

BARBOSA, I. G.; MAGALHÃES, S. M. O.; MENDES, R.; BARROS, R. Práticas educativas e formação de valores no cotidiano escolar. In: Anais do Terceiro congresso Norte-Nordeste de Psicologia. João Pessoa/PB, 2003.

D’ANTOLA, A. (Org.). Disciplina na escola: autoridade versus autoritarismo. São Paulo:EPU, 2000.