Titulo: A música de câmara brasileira e sua utilização para fins pedagógicos

Unidade Acadêmica onde o trabalho foi desenvolvido: EMAC/UFG

Palavras-Chave: música de câmara brasileira

Nome dos autores:

Paula Thalita de Oliveira Ayres paulathalita@yahoo.com.br

Lúcia Silva Barrenechea lucia.barrenechea@brturbo.com

Justificativa / referencial teórico

A música de câmara se traduz numa das atividades mais enriquecedoras do ser humano, que é a interação artística e pessoal, uma troca de experiências, que envolve sentimentos, idéias e a construção coletiva de uma mensagem sonora. Por definição, o termo música de câmara geralmente se refere à música para pequenos conjuntos de instrumentos solistas, escrita para performance em circunstâncias domésticas, numa pequena sala de concertos, diante de uma audiência de tamanho limitado (Tilmouth, 1980). A grade curricular dos cursos de música da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás contém a disciplina Música de Câmara na 2a, 3a, e 4a série. A ementa deixa bem claro o que deve ser abordado na disciplina:

Leitura, execução e interpretação de peças do repertório de câmera para o instrumento/canto, com dificuldades progressivas, abrangendo gêneros e estilos da música ocidental até a contemporaneidade.

Percebe-se a necessidade de realizar um levantamento do repertório utilizado na disciplina Música de Câmara nos cursos de música da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, e a partir daí apontar alternativas de repertório de câmara pouco freqüentado, mais especificamente do compositor Estércio Marquez Cunha (n. 1941), considerado um dos compositores goianos de maior destaque no meio artístico e acadêmico nacional. A obra de câmara de Estércio Marquez Cunha consiste num corpus extremamente variado, tanto na formação e tamanho dos grupos, quanto na forma e procedimentos composicionais, o que poderia enriquecer de maneira significativa o contato do aluno com a produção musical contemporânea brasileira, que é o que recomenda a ementa da disciplina Música de Câmara.

A música de câmara fornece um meio de expressão particularmente íntimo de idéias musicais (Ulrich, 1966). Ao se iniciar no estudo da música, o indivíduo, inevitavelmente, deve se deparar com a experiência de fazer música com um pequeno grupo de pessoas. Ao se propor a exploração da obra de câmara de Estércio Marquez Cunha como uma ferramenta pedagógica, espera-se estabelecer uma ampliação do espectro de conhecimento do repertório de música brasileira contemporânea pouco freqüentado, e como conseqüência disso, estabelecer também uma interação maior do compositor vivo e atuante com sua comunidade artística e acadêmica.

A análise para fins didáticos das obras de câmara de Marquez Cunha terão como embasamento teórico os estudos de Ulrich em seu livro Chamber Music, onde ele devota um capítulo inteiro à produção camerística contemporânea, e os escritos de Weisberg, que em seu livro Performing Twentieth-Century Music, aborda elementos básicos produção musical contemporânea, como ritmo, técnicas composicionais e preparação da partitura. Como literatura de apoio, o livro Performance Practice, que consiste em capítulos de diferentes autores sobre diferentes períodos históricos e seus estilos musicais, oferece a visão de Griffiths sobre a mudança estética que a música do século XX apresentou e suas implicações no que tange nossa percepção da música do passado distante.

Metodologia

Este trabalho tem, portanto, os objetivos de: realizar um levantamento do repertório de obras musicais utilizadas na disciplina Música de Câmara dos cursos de música da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, com o intuito de detectar a abrangência de gêneros e estilos da música ocidental dos diferentes períodos históricos, assim como a diversidade de formação e número de instrumentos, dando enfoque nas formações instrumentais com o piano; identificar a freqüência da utilização do repertório de câmara de compositores brasileiros nessa mesma disciplina; fazer um levantamento das obras de câmara do compositor goiano Estércio Marquez Cunha que possam ser utilizadas como ferramenta pedagógica na disciplina Música de Câmara, levando em consideração o grau de dificuldade e a formação instrumental; analisar, com fins pedagógicos, as obras selecionadas, com o intuito de classificar os níveis de dificuldade encontrados nos diferentes instrumentos e na formação do grupo como um todo.

Este projeto se caracteriza como uma pesquisa de natureza qualitativa, que envolve o método fenomenológico, e está dividido nas seguintes etapas: levantamento bibliográfico e documental, que inclui a coleta de artigos de periódicos e de jornais, partituras, grades curriculares e ementas de disciplinas, assim como de programas de provas públicas e partituras de obras musicais; análise dos dados bibliográficos e documentais; análise das obras de câmara do compositor Estércio Marquez Cunha baseada nos autores mencionados acima; e a redação do trabalho.

Resultados parciais e discussões

Até o presente momento foi realizado um levantamento de dados documentais para que se pudesse detectar a abrangência de gêneros e estilos da música ocidental dos diferentes períodos históricos, assim como a diversidade de formação e número de instrumentos, dando enfoque nas formações instrumentais com o piano utilizadas na disciplina Música de Câmara dos cursos de Música da EMAC/UFG. Para tanto, foi necessário pedir auxílio à Profª Ms. Denise Zorzetti, uma das coordenadoras da disciplina, que forneceu programas das provas públicas realizadas nos anos de 2002 e 2003. Através desses programas foi possível identificar o tipo de repertório e formações instrumentais mais freqüentados. Vale ressaltar que essa é uma disciplina prática, que exige uma organização complexa de grupos, ensaios e aulas, pois envolve alunos de instrumento e canto dos cursos de Música e Educação Musical, que nem sempre têm os horários coincidentes no que tange o trabalho extra-aula.

Ao analisar o repertório apresentado nos anos de 2002 e 2003, percebe-se que quase não foram utilizadas obras de compositores brasileiros nos grupos com piano. De sessenta obras apresentadas em prova pública, apenas duas eram de Osvaldo Lacerda e uma de José Ursicino da Silva "Duda", ambos compositores brasileiros vivos. Em relação aos estilos e períodos históricos, pode-se afirmar que o repertório, no todo, abrange um largo espectro, sendo que os grupos interpretaram obras de compositores atuantes no período barroco até o século XX. É importante destacar que a proporção de obras de compositores do século XX com a de outros períodos históricos é desigual. Foi utilizado um número muito maior de obras dos séculos XVIII e XIX do que do século XX.

Em seguida, foi consultado o catálogo de obras do compositor Estércio Marquez Cunha (Garcia, 2002) para apontar obras suas escritas para as formações instrumentais com piano mais encontradas na disciplina Música de Câmara. Num levantamento preliminar, foi possível identificar as seguintes composições: treze obras para piano e voz, três para piano e violino, uma para violoncelo e piano, duas para piano e flauta, três para clarineta e piano, uma para trompete e piano, uma para trombone e piano, uma para voz, flauta e piano, uma para flauta, violino e piano, uma para piano, violoncelo e flauta, uma para três flautas, duas clarinetas, fagote, violino e piano, que perfaz o total de 28 criações.

Conclusões

Ao analisar o conteúdo programático da disciplina Música de Câmara dos cursos de Música da EMAC/UFG, percebe-se que há muito que se explorar em termos de variedade de repertório. Nota-se que obras de compositores contemporâneos e, principalmente, de compositores brasileiros, contemporâneos ou não, são pouco freqüentadas. Tal situação merece uma análise mais profunda, para estabelecer seus reais motivos. Sabe-se que o acesso a tal repertório não é simples. Muitas vezes os compositores não têm suas obras publicadas, restando à comunidade musical recorrer ao contato pessoal com o compositor, por telefonema ou e-mail, para obter cópias das obras. Os professores responsáveis pela disciplina Música de Câmara também desempenham papel importante na construção do repertório dos alunos. Cabe a eles realizar uma pesquisa em sites da internet e catálogos de obras, para em seguida solicitar à biblioteca da universidade que adquira tais obras.

A coleta de dados realizada até então revela que os objetivos da disciplina Música de Câmara estão sendo apenas parcialmente cumpridos, pois o período de mais de meio século – segunda metade do século XX até os dias de hoje – não tem sido explorado a contento. Uma vez que seja concluída a análise das obras de câmara de Estércio Marquez Cunha, espera-se contribuir para a divulgação de um repertório contemporâneo que possa ser explorado na disciplina Música de Câmara e que a partir deste trabalho, outras pesquisas revelem outras obras musicais dignas de pertencer a um repertório de câmara freqüentado.

Referências Bibliográficas

GARCIA, Nilsea Maioli. A música para piano de Estércio Marquez Cunha: estudo de uma linguagem musical. Goiânia, 2002. 179 p. Dissertação (Mestrado em Música) – Escola de Música e artes Cênicas, Universidade Federal de Goiás

GRADE CURRICULAR DO CURSO DE BACHARELADO EM MÚSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, Goiânia, 2000. Ementa da disciplina Música de Câmara I, II e III.

GRIFFITHS, Paul. The 20th century since 1940. In: BROWN, Howard Mayer; SADIE, Stanley (Ed.). Performance Practice: Music after 1600. New York: Norton, 1989. p. 483-491.

TILMOUTH, Michael. Chamber Music. In: The New Grove Dictionary of Music and Musicians, vol. 4. London: Macmillan, 1980.

ULRICH, Homer. Chamber Music. 2 ed. New York: Columbia University Press, 1966.

WEISBERG, Arthur. Performing Twentieth-Century Music: A Handbook for Conductors and Instrumentalists. New Haven: Yale University, 1993.

Fonte de financiamento: bolsa PIBIC/CNPq/UFG