FEEDBACK CORRETIVO PARA A PRODUÇÃO ORAL DE APRENDIZES DE INGLÊS: UM ESTUDO DE
CASO[1]
Autora: SILVA, M. D./UFG
Orientador: Francisco José Quaresma de Figueiredo
PALAVRAS-CHAVE: Erro; correção oral; professor.
Hoje, o erro é devidamente reconhecido por
pesquisadores e profissionais da área de ensino de línguas como fator positivo
e fundamental para o processo de aprendizagem de uma língua, como diagnóstico
do que está indevido, do que necessita de atenção e do que resta a ser
aprendido (Figueiredo, 2002; Lyrio, 2001; Lima, 2002, entre outros). Já a
correção dos erros orais tem sido contemplada com um olhar de dúvida e
incerteza quanto à sua capacidade de contribuir para uma maior eficácia do
processo e aprendizagem de alunos e de prover mudanças duradouras na
interlíngua[2] do aprendiz.
No entanto, é indiscutível o fato de que, sem correção oral na sala de aula, os
alunos dificilmente estariam aptos a detectarem diferenças entre sua
interlíngua e a língua-alvo.
O foco principal dos estudos mais
recentes realizados no contexto atual do ensino de línguas, tem sido o aprendiz
(como ele aprende, interage com os colegas, como fatores afetivos influenciam
sua aprendizagem). No tocante à correção escrita, por exemplo, têm sido
realizados estudos inovadores e importantes, em que os próprios alunos são
responsáveis pela correção de seus erros e se engajam em exercícios onde a
colaboração e a interação constituem fatores fundamentais para que atinjam seus
objetivos rumo a aprendizagem da língua (Figueiredo, 2001). Adicionalmente, o
professor não deixa de ter um papel determinante na sala de aula, que consiste,
entre diversas coisas, em organizar os eventos de sala de aula, guiar e motivar
o aluno para a aprendizagem. A importância da intervenção do professor no
desenvolvimento e na aprendizagem do aluno é bastante ressaltada por Vygotsky,
proponente do sociointeracionismo, pois, para ele, “o professor tem o papel
explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos,
provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente” (Oliveira, 1993, p. 62).
Desse modo, meu interesse e o foco deste estudo é a correção feita pela
professora da turma.
Este trabalho tem como objetivo geral analisar as
correções realizadas pela professora durante as aulas de inglês. As metas
específicas são:
a)
identificar os tipos de
erros mais corrigidos pela professora;
b)
identificar os tipos de
correção adotados pela professora;
c)
identificar quais tipos
de correção contribuem para uma mudança imediata da produção do aprendiz;
d)
fornecer dados que
contribuam para uma reflexão acerca do(s) tipo(s) de correção oral mais
significativa(s) para o processo de aprendizagem, ou seja, aquela(s) que mais
contribui(em) para a auto-correção;
e)
fornecer dados que
possibilitem conhecer as atitudes e sentimentos dos alunos quanto à correção
oral e seus próprios erros;
verificar
se há equivalência entre as expectativas
dos alunos e a prática de correção da professora da turma.
Foi investigada durante todo o primeiro semestre de 2004
uma turma de inglês do 3º ano do curso de Letras de uma universidade pública do
estado de Goiás. A pesquisa se caracteriza como um estudo de caso, visto que,
em um primeiro momento, um assunto foi proposto (no caso, correção de erros
orais). Além disso, apenas momentos específicos das aulas gravadas foram
selecionadas e estudadas (Nunan, 1992). O objeto de estudo é observado no seu
ambiente natural, provendo informações valiosas sobre o contexto em que ocorre.
Para a coleta e a análise dos dados,
foram utilizados métodos qualitativos. Parte da análise também foi feita por
meios quantitativos para uma melhor representação e interpretação dos dados,
sendo estes expostos por tabelas e gráficos.
Vários procedimentos de coleta foram
adotados para dar maior validade ao estudo. Tal triangulação dos dados permite
se chegar a uma maior compreensão dos fatos ali constatados.
A fonte primária de dados da
pesquisa é constituída pelas interações entre alunos e professora, obtidas por
meio de gravações em vídeo e em áudio. Os dados secundários, ou seja, aqueles
que serviram para confirmar e auxiliar na interpretação dos dados primários,
foram os questionários iniciais respondidos pela turma e pela professora, as
notas de campo da pesquisadora e as entrevistas ao final do período de gravação
das aulas.
Os dados analisados até o presente momento, mostram
uma tendência da professora em corrigir mais erros de pronúncia e de gramática.
Os erros de pronúncia são corrigidos principalmente de forma explícita através
de repetições. Nestes casos, a
professora pede o auxílio de outros alunos para efetuar a correção. Os erros de
gramática são corrigidos por meio da elicitação da forma correta pela professora.
Isto significa que a professora provê aos alunos oportunidades para que eles
mesmos percebam e corrijam seus próprios erros.
Ao corrigir, a professora da turma
utiliza um tom de voz diferenciado o qual mostra ao aluno que algo que ele
produziu oralmente na língua-alvo não está totalmente preciso, ou seja, não
está de acordo com as regras da língua em questão. Expressões faciais que
indicam estranhamento constituem formas explícitas de correção pela professora.
Dados obtidos nas entrevistas com os alunos da turma indicaram que alguns deles
interpretam estas atitudes como algo negativo.
Na entrevista feita com a
professora, ela afirma preocupar-se bastante com a precisão da produção oral
dos alunos, pois ela acredita que isto é fundamental para alunos do curso de
Letras, que são, ou futuramente se tornarão, professores de inglês.
A partir dos dados obtidos, pode-se
entrever que os alunos receiam produzir oralmente em sala de aula, pois se
preocupam demasiadamente com a precisão de formas esperadas pela professora. A
implicação desta constatação para o ensino de línguas no Brasil, principalmente
sob o prisma do ensino comunicativo, é a de que o professor deve procurar
estratégias e momentos diversos para a correção oral de forma que não iniba o
aluno a falar em sala de aula.
FIGUEIREDO,
F. J. Q. de. Correção com os pares: os efeitos do processo de correção
dialogada na aprendizagem da escrita em língua inglesa. Belo Horizonte, 2001.
(Doutorado em Letras: Lingüística Aplicada) – Faculdade de Letras, Universidade
Federal de Minas Gerais.
______.
Aprendendo com os erros: uma perspectiva comunicativa de ensino de
línguas. 2 ed. Revista e Ampliada. Goiânia: Ed. da UFG, 2002.
OLIVEIRA,
M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento – um processo sócio-histórico.
São Paulo: Scipione, 1993.
LIMA,
M. dos S. Aquisição de L2/LE e o insumo instrucional na sala de aula. In: ARAÙJO, D.D. e
STURM, L. (Org.). Século XXI: Um novo
olhar sobre o ensino e a aprendizagem de línguas estrangeiras. Passo Fundo: UPF Editora, 2002.
LYRIO,
A.L.L. Expectativas de professores e alunos em relação à correção do erro oral
em língua inglesa. In: LEFFA, V.J. (Org.) O
professor de línguas estrangeiras: construindo
uma profissão. Pelotas: Educat, 2001.
NUNAN, D. Research methods
in language learning. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
Fonte
de financiamento: CAPES
[1] Título provisório da dissertação de Mestrado, a ser defendida até março de 2005, a qual se baseia em uma pesquisa feita durante o primeiro semestre de 2004 em uma universidade do Estado de Goiás.
[2] Selinker (1972) define interlíngua como um “sistema lingüístico separado”, que evidencia o desenvolvimento lingüístico do indivíduo na segunda língua. A interlíngua é particular e é representada como um continuum que apresenta influências da primeira língua do aprendiz, mas que ainda difere da língua-alvo. Este termo será definido e discutido de forma mais detalhada no capítulo teórico deste estudo.
[3] Apenas uma pequena parte dos dados coletados foram analisados até então, visto que a dissertação ainda está sendo redigida.