Título: COMUNICAÇÃO EDUCATIVA, NOVAS TECNOLOGIAS E CIDADANIA

Autores: VIDAL, Mariella Guimarães Gaia, MEDEIROS, Magno, RAIZAMA, Fernanda Alves

Universidade Federal de Goiás Facomb Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia

Endereço eletrônico marygaia@yahoo.com.br e magnomedeiros@uol.com.br

Resumo: De que maneira as escolas trabalham as novas tecnologias nas escolas do Ensino Médio em Goiânia é a pergunta que norteia a pesquisa. Os vértices comunicação, educação e novas tecnologias foram trabalhados e investigados através de formulários, questionários, planilhas e observação livre aplicados aos atores envolvidos no processo da inclusão das novas tecnologias nas escolas goianienses. A metodologia utilizada teve por intenção saber como alunos e professores lidam com as novas tecnologias, se estas promovem conhecimento e interação homem/máquina. O ProInfo foi questionado em suas diretrizes e bases a fim de saber se suas propostas condizem com a sociedade em rede na qual estamos inseridos e se os alunos serão cidadãos preparados para este novo tempo. A pesquisa revelou que os alunos trabalham pouco no computador, muitos não sabem da existência do laboratório, e a falta de profissionais capacitados emperram o processo. Os professores tampouco estão preparados para essa revolução tecnológica dentro das salas de aula. Existe um desinteresse muito grande em aprender a utilizar as novas tecnologias como meio para produzir conhecimento e os NTEs aplicam o projeto federal ProInfo de forma que os computadores estão para os alunos tal qual o quadro negro e o giz. Pelos resultados foi possível inferir que o problema central vem do ProInfo, que reduz as possibilidades das novas tecnologias a ferramentas pedagógicas, e se ramifica na pouco evolução intelectual dos professores que trabalham as tecnologias produzindo informação e não conhecimento. Os alunos por sua vez estão excluídos desta sociedade informacional que a globalização gerou já que o programa federal não consegue promover uma interação homem/ máquina eficiente.

Palavras-chave : comunicação, educação, novas tecnologias

INTRODUÇÃO

A problemática da educação no país é um uma questão que vem sendo debatida ao longo de muitas décadas com discursos inflamados e apaixonados de políticos, educadores e da sociedade brasileira em geral. A máxima de que a educação é a solução para as misérias brasileiras já se tornou lugar-comum e atualmente é possível observar como o Brasil ainda permanece com um certo atraso no quesito educação. Apesar das taxas de analfabetismo estarem caindo progressivamente o Brasil ocupa a 73ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Econômico (IDH) com taxa de analfabetismo de 13,6% ficando atrás de países como Costa Rica e Trinidad e Tobago. Em 2001, Goiás apresentou taxa de analfabetismo de 27% segundo censo do IBGE. Foi neste cenário que a presente pesquisa se iniciou na cidade de Goiânia. O objetivo desta pesquisa não foi diagnosticar em que condições estava o estudo em Goiás mas investigar os vértices comunicação, educação e cidadania tendo como pano de fundo essa triste realidade apresentada acima. Dessa forma a pesquisa integrada procurou investigar:

  1. se professores e estudantes estão promovendo uma educação para a comunicação e uma comunicação para a educação;
  2. relevância e viabilidade do programa federal ProInfo;
  3. se as propostas e diretrizes que configuram o ProInfo por meio dos Núcleos de Tecnologia Educacionais estão conseguindo promover uma interação homem-máquina a fim de que consiga promover o item número 1.

O problema que a pesquisa tenta responder é se os usos, as práticas e os produtos que a escola faz das tecnologias eduacacionais e comunicacionais estão a serviço de uma formação crítica, criativa, ética, humana e cidadã, de professores e estudantes.

Esta investigação é pertinente na medida em que cada vez mais o mundo está conectado através de computadores multimídia com processadores de altíssima velocidade, CD-ROM, Internet, banco de dados portáteis, redes de videotexto, jornais eletrônicos e todo esse aparato tecnológico está transformando radicalmente nosso cotidiano, e embora tais equipamentos e programas tenham sido gerados a partir do conhecimento científico e tecnológico, a verdade é que as escolas brasileiras ainda não estão se beneficiando como deveriam de todos esses produtos e recursos.

A escola não pode de forma alguma prescindir das vantagens pedagógicas suscitadas a partir de tais tecnologias, até porque vivenciamos a era informacional, onde o conhecimento e a informação são os geradores de riqueza e poder. Nesta revolução tecnológica atual focada nos processos na qual a matéria-prima é a informação, a realidade virtual desconecta os indivíduos dos mass-media, enquanto conecta as expressões individuais de comunicação. Não estar na rede equivale a não existir na estrutura social. Portanto, ficar alheio a estas transformações seria o mesmo que deixar de contribuir para a formação de cidadãos cultural e socialmente ativos neste novo tempo.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa integrada onde outra bolsista investiga as práticas de outras 2 escolas, cada bolsista com seu plano de trabalho específico. A amostragem são 4 escolas públicas do Ensino Médio divididas por regiões centrais e periféricas da cidade de Goiânia. Colégio Estadual Presidente Castello Branco, CEPAE, Colégio da Polícia Militar Hugo de Carvalho Ramos, Colégio Estadual Aécio de Oliveira Andrade.

A pesquisa foi dividida em 3 fases:

  1. Uma investigação das práticas laboratoriais no campo da mídia educativa presente nos espaços escolares; através de questionários aplicados à 30 alunos do Ensino Médio das escolas públicas de Goiânia selecionadas de acordo com uma lista fornecida pelo NTE das escolas que provavelmente estariam com seus equipamentos fornecidos pelo ProInfo em funcionamento. Formulários e planilhas preenchidos pelos dinamizadores do laboratório de informática e responsáveis pelas tecnologias adquiridas com o programa federal.
  2. investigação de como os professores interagem com as linguagens relacionadas ao universo dos alunos e sua preparação para lidar com as tecnologias educacionais; através de questionário aplicados a 8 professores de diferentes disciplinas com perguntas objetivas e subjetivas visando investigar a intimidade do corpo docente com as novas tecnologias.
  3. Visitas ao Núcleo de Tecnologia Educacional do Estado a fim de saber os critérios e como se dá o processo de inserção das tecnologias educacionais dentro das salas de aula.

A observação participante das práticas e conversas informais com todos os envolvidos no processo educacional foi utilizada nas 3 etapas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A etapa primeira da metodologia revelou que os alunos usam muito pouco os laboratórios de informática, que 47% dos alunos usam mensalmente outros 47% semanalmente e 6% não usam. Dos que usam, 83% são para fins de pesquisa e 17% para lazer. Muitos desconheciam o fato de existir um laboratório em sua escola e um colégio até o fim desta pesquisa ainda não havia inaugurado o laboratório por falta de profissional capacitado. As planilhas evidenciaram que os equipamentos são excelentes e com inúmeras possibilidades e em número suficiente.

A etapa segunda revelou a falta de interesse por parte dos professores em lidar com as novas tecnologias e a participarem dos cursos gratuitos oferecidos pelo NTE, e que os professores possuem razoável contato com as mais diversas mídias, mas pouco trabalham nelas para enriquecimento das aulas. E mostrou ainda a fraca formação dos professores no campo da informática.

A etapa terceira da investigação mostrou que o NTE aplica as diretrizes do ProInfo no estado de Goiás, de forma meramente tecnicista, usada como bengala pedagógica o NTE se defende afirmando que pelo programa ainda estar em fase de implementação o computador não tem como ser mais que uma ferramenta pedagógica tal como o giz e o quadro negro.

CONCLUSÕES

Diante dos resultados foi possível inferir como as tecnologias estão a serviço de um mero apoio pedagógico, que os paradigmas convencionais escolares continuam mantidos no universo virtual a que foram transpostos, que as novas tecnologias geraram mais informação que conhecimento, que a raiz do problema está nas diretrizes do ProInfo que reduzem as possibilidades de uso conferindo apenas um verniz de modernidade nas escolas, que os professores estão muito distantes da evolução intelectual necessária para trabalharem as novas tecnologias de modo que transformem os alunos em cidadãos mais críticos e reflexivos, e finalmente que os alunos das escolas públicas já estão automaticamente excluídos nessa sociedade em rede, que se apresenta neste terceiro milênio, no qual os que estão desconectados equivalem a não existirem na estrutura social.

O tema educação, novas tecnologias e cidadania não se esgota aqui. É necessário ainda que muitos pesquisadores se interessem por esta abordagem e analisem várias facetas do tema como, por exemplo, a inserção das novas tecnologias no ensino fundamental e na universidade e só assim será possível a construção de uma realidade diferente desta apresentada nesta pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

CITELLI, Adilson. Comunicação e educação: a linguagem em movimento. São Paulo: Ed. Senac SP, 2000.

GIROUX, Henry. Novas perspectivas críticas em educação. Porto Alegre. Artes Médicas.1996.

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 1998.

MORAN,José Manuel. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus,2000.

NISKIER, Arnaldo. Educação à distância: a tecnologia da esperança. São Paulo: Loyola, 1999.

PFROMM NETO, Samuel. Telas que ensinam. Campinas, SP: Alínea, 1998.

PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola sem/com futuro: educação e multimídia. Campinas, SP: Papirus, 1996.