AS PRODUÇÕES DE ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

E POSSÍVEIS RELAÇÕES ENTRE ARTE E RELIGIOSIDADE

Autora: Mariana Pedrosa Marcassa, aluna do 4o ano do curso de Licenciatura em Artes Visuais na FAV/UFG, bolsista PIBIC-CNPq 2003/2004. E-mail: marianamarcassa@hotmail.com

Orientador: Márcio Pizarro Noronha. Professor da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. E-mail: marcpiza@terra.com.br

Palavras Chaves: Arte e Religiosidade. História da Arte. Antropologia da Arte.

I. INTRODUÇÃO

Integrando o Projeto de Pesquisa Docente intitulado FIGURAÇÕES DO DIVINO: IDENTIFICAÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS DAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS NA FIGURAÇÃO ARTÍSTICA BRASILEIRA RECENTE (1980-2002), este sub-projeto centrou-se na abordagem teórica da História e da Antropologia da Arte e das Novas Teorias da Arte. As análises de Jean-Pierre Vernant e Regis Debray foram de fundamental importância neste estudo, privilegiando os seus modelos teóricos / métodos de análise das respectivas figurações artísticas e suas interrelações com a ordem cultural vigente, com especial atenção para as relações entre arte e o imaginário religioso. Buscou também encontrar e analisar a presença de elementos do pensamento religioso nas produções pictóricas do Brasil, localizadas a partir da década de 80 até os dias atuais e estudar o processo histórico artístico de mesmo período.

Como finalização, apresenta-se uma breve discussão sobre a presentificação do pensamento religioso na obra Manto da Apresentação, de Arthur Bispo do Rosário.

II. MATERIAIS E MÉTODOS

A abordagem dos objetos foi de caráter temporal-espacial-cultural e buscou identificar:

- determinados conjuntos de produtos (as artes visuais e seus suportes);

- de produtores (perfis de artistas);

- de elementos já identificados nos processos institucionais de mapeamento da produção artística brasileira e regional contemporâneas;

- e/ou de imaginários e tradições religiosas presentificadas nas produções artísticas, com enfoque predominante para os imaginários religioso católico e afro-brasileiro.

III. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para pensar Arthur Bispo do Rosário e as possíveis relações entre Arte e Religiosidade é preciso refletir sobre os contextos histórico-artísticos em que sua produção se faz relacionar, assim como também, sobre a manifestação do pensamento religioso que se percebe em suas produções.

Neste caso, as vertentes da história da arte ocidental - o pensamento Duchampiano de arte, os movimentos da Pop Art e do Minimalismo -, que influenciaram e influenciam a produção da arte desde a década de 50 aos dias atuais, são de fundamental importância para uma compreensão do pensamento artístico contemporâneo.

Arthur Bispo não se pretendia artista, porém, seu raciocínio imagético nos proporciona um mundo encantado de assemblages, redy-mades e objetos tridimensionais revelando a proximidade entre "seu mundo em miniatura" e a produção contemporânea da arte.

Bispo antecedia ou contemporaneamente produzia objetos que propunham reflexões artísticas tão relevantes quanto àquelas propostas pela arte Pop, Conceitual, do Novo Realismo, de Duchamp, de Oiticica, etc.

Ironia do destino: na tentativa de evocar religiosidade, materializar para a comunicação com mundo invisível, fez-se arte. E enquanto este projeto se propunha fazer justamente o contrário: buscar a religiosidade em obras que se propunham ser artísticas.

Entretanto, não é o fato de Arthur Bispo do Rosário ter sido uma pessoa decididamente religiosa em sua conduta de vida que determinaria sua obra na possível relação Arte e Religiosidade, mas sim, a imagética que encontramos em suas produções e que proporcionam, evocam, materializam um pensamento religioso: o da busca pela comunicação com o mundo não visível, o da atribuição de ânima ao inanimado, e o fornecimento de imagens da vida psíquica (a subjetividade, os fenômenos culturalmente situados da vida privada e íntima).

IV. CONCLUSÃO

Foram 50 anos de muita dedicação para que este manto sagrado um dia viesse a estar pronto. Uma obra que se revelava ‘outra’ a cada instante, a cada bordado, a cada interferência que sofria ao longo deste processo.

Para Arthur Bispo esta era a sua peça mais importante: com o Manto ele se apresentaria a Deus, se transformaria e completaria a tríade São José, Nossa Senhora e ele, Jesus. Como um símbolo, a vestimenta reúne suas concepções sobre o sagrado, sintetiza um pensamento religioso, evoca uma comunicação com o invisível.

Bispo também atribuiu ânima ao inanimado. A vestimenta tinha alma, era ela quem o faria completo para se transformar e se apresentar a Deus. "Esse é pra quando eu transformar e traz os nomes das pessoas que vou proteger", dizia Bispo (ARTHUR BISPO apud HIDALGO:1996:74).

Através destes bordados, (nomes das "virgens prediletas", figuras, datas e pensamentos diversos) o manto se revela como ambiente propício à morada das imagens da vida psíquica, à subjetividade, aos fenômenos culturalmente situados da vida privada e íntima de Arthur Bispo do Rosário.

Sendo assim, o Manto da Apresentação se revela uma ligação entre o Céu e a Terra, o Invisível e o Visível, o Sagrado e o Profano.

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar do ocidente. Petrópolis: Vozes, 1993.

HIDALGO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

VERNANT, Jean-Pierre. Entre mito e política. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2002.