UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

MUSICOTERAPIA

 

 

 

Artigo Expandido

 

 

 

Título: CORO TERAPÊUTICO - BENEFÍCIOS PARA A MEMÓRIA DO IDOSO

 

Autores:

Lara Teixeira Karst - Graduanda do Curso de Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG

Email: larakarst@pop.com.br

Thayane Xavier de Freitas - Bacharel em Musicoterapia pela Escola de Música e Artes Cênicas da UFG

Email: thayanefreitas@hotmail.com

 

Orientadora:

Eliane Leão - Pós Dr.ª pela Auburn University /CNPq, Dr.ª em Educação, Profª. do Mestrado em Música da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG.

Email: elianewi2001@yahoo.com

N.º PRPPG: 3400000043

 

 

Unidade Acadêmica onde o trabalho foi desenvolvido:

Escola de Música e Artes Cênicas da UFG

 

 

 

 

 

 

Goiânia

2004

RESUMO

Este trabalho resultou de uma revisão bibliográfica acerca dos processos cognitivos da memória e a relação entre música e memória, a fim de verificar os benefícios que o Coro Terapêutico (ZANINI & LEÃO, 2002) pode oferecer à memória do idoso. O trabalho deu continuidade à pesquisa iniciada em 2002, em que foram observadas onze sessões/aula do coro terapêutico, com o objetivo de transformar as observações em protocolos. Estes protocolos foram analisados pela equipe, com enfoque nas atividades realizadas e manifestações dos participantes voltadas para a memória. Posteriormente, os estudos sobre os processos cognitivos da memória e a relação entre música e memória foram relacionados aos fenômenos observados no coro terapêutico. As observações foram obtidas através do experimento realizado na UNATI – Universidade Aberta à Terceira Idade / UCG – Universidade Católica de Goiás. À partir destas investigações, foi possível verificar que as atividades realizadas no coro terapêutico levaram à prática/estimulação da memória dos idosos participantes, ao trabalhar com elementos diretamente ligados à manutenção da memória como: atenção, repetição, percepção, associação. A música envolve atividades complexas como o reconhecimento de seus elementos, mobilizando funções cerebrais, como percepções e associações de ações conscientes ou inconscientes, funcionando como uma atividade neuropsicológica que mantém a memória ativa e aumenta a atividade mental.

 

Palavras-chave

Pesquisa em Musicoterapia; Coro Terapêutico; Memória do Idoso; Psicologia da Música.

 

1 - INTRODUÇÃO

A memória é algo de grande importância no processo de envelhecimento, pois está diretamente ligada à identidade do ser. Segundo DALMAZ (2004, p. 30) "Somos quem somos porque aprendemos e lembramos". O exercício das lembranças que enfatiza a riqueza das experiências vividas, sejam elas individuais ou coletivas, pode proporcionar ao idoso uma maior consciência de sua história de vida, ajudando no restabelecimento, reestruturação e reconhecimento de sua identidade e sua ligação com seu mundo.

Esta pesquisa teve como objetivos: fazer um levantamento bibliográfico sobre os processos cognitivos da memória, para a realização da análise e relação dos elementos observados no experimento com o material teórico; verificar quais atividades do coro terapêutico contribuíram direta ou indiretamente para a manutenção, resgate e exercício da memória dos participantes; averiguar a importância do resgate da memória para o idoso, observando o desenvolvimento da expressão pessoal através do resgate histórico no decorrer das sessões/aula.

Este trabalho vai de encontro às necessidades de se estudar a clientela da Terceira Idade, considerando que a população brasileira está em processo de envelhecimento populacional, com o aumento da expectativa de vida. De acordo com GOLDSTEIN (2002) "Estima-se que a partir de meados do próximo século, a população brasileira com mais de 60 anos será maior que a de crianças e adolescentes com 14 anos ou menos".

A presente pesquisa buscou fundamentos teóricos que averiguassem os efeitos benéficos que a atividade do coro terapêutico (ZANINI e LEÃO, 2002) proporcionam à memória do idoso, considerando que os lapsos de memória são queixas constantes entre os idosos, e que afetam diretamente sua auto-estima e participação social.

 

2 - METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, foi feita uma revisão bibliográfica acerca dos processos cognitivos da memória e a relação entre música e memória. Num segundo momento, relacionou-se as descobertas da área com os fenômenos que foram observados no coro terapêutico. As observações foram obtidas através do experimento realizado na UNATI – Universidade Aberta à Terceira Idade / UCG – Universidade Católica de Goiás, onde aconteceram onze sessões/aulas, com duração de noventa minutos cada, conduzidos pela musicoterapeuta. O grupo observado era formado por vinte e cinco participantes voluntários, de faixa etária de cinqüenta a noventa e três anos, com somente um participante do sexo masculino. Os dados coletados resultaram em protocolos que posteriormente foram analisados pala equipe, com enfoque nas atividades, manifestações e comentários voltados para a memória. O programa do experimento teórico/prático, consistiu de atividades como: relaxamento, exercícios de respiração, aquecimento vocal, improvisação vocal (BRUSCIA, 2000), jogos musicais e de memória, interpretação de canções, expressão corporal e vocal, escolha de repertório, resgate de músicas conhecidas, apresentações públicas visando o estímulo às relações interpessoais e, prática de música em conjunto.

 

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos protocolos analisados pôde-se observar alguns elementos, tais como: 1 - apreensão/atenção e recuperação de informações, que ocorriam durante a prática musical através do canto, leitura das músicas e performance musical. Manter a atenção é um dos fatores essenciais para a codificação e recuperação de dados na memória; 2 - exercício da percepção, os participantes eram incentivados a descrever e/ou compreender informações básicas das músicas como melodias, gênero, estilo, autor, intérprete. Esta atividade trabalhava o exercício da memória pois, os sinais sonoros eram confrontados com dados já armazenados, para então ocorrer a identificação e discriminação da informação; 3 - repetição, os participantes eram incentivados a efetuar o resgate de atividades de outras sessões (exercícios de respiração, aquecimento vocal e improvisação vocal), favorecendo a recuperação das informações e funcionando como propiciadores do exercício da memória de curto prazo, através da repetição das informações; 4 - associação, o incentivo do resgate de canções seguidas do canto das mesmas possibilitou aos participantes a recordação de fatos remotos de importância emocional, auxiliando na elaboração e organização das informações, há muito tempo guardadas e que muitas vezes eram lembradas de forma confusa.

 

4 - CONCLUSÔES

As informações sobre os processos cognitivos da memória, os tipos de memória e a importância do resgate da memória do idoso têm tornado possível a consolidação do trabalho do coro terapêutico, como uma atividade que exercita a memória. Através das dinâmicas e técnicas musicoterápicas desenvolvidas nas sessões/aula, trabalha-se com elementos essenciais ao exercício, manutenção e resgate da memória de curto prazo, longo prazo e memória de trabalho. Estes elementos foram identificados como: motivação, que está diretamente ligada à evocação da memória e que é estimulada através da valorização da pessoa e do grupo; a atenção estimulada através da prática e percepção musical e favorecida pelo relaxamento; os exercícios de repetição e seqüência de atividades, que funcionam como treinamento para a memória de curto prazo e de trabalho. O resgate de canções significativas para a vida de cada participante é uma ferramenta para o exercício da memória de longo prazo e elaboração e significação das lembranças que surgem de forma confusa.

A prática musical em conjunto via coro terapêutico vai de encontro a conteúdos emocionais internos, que são itens essenciais para a memória. As lembranças que muitas vezes vêm acompanhadas das canções ou vice-versa trazem emoção aos participantes, levando o musicoterapeuta responsável pelo grupo a manejar um espaço para a troca de experiências. Segundo ZANINI (2002, p. 70) "As experiências vividas e o modo de ver o mundo trazem subjetividade e complexidade ao ser humano. O seu cantar é um reflexo deste todo existencial".

Observou-se assim, à partir do coro terapêutico que a prática musical pode ser utilizada como ferramenta de auxílio aos traços enfraquecidos da memória, pois ajuda o idoso a associar a música aos acontecimentos passados, uma vez que, ao ouvir um estímulo musical, o cérebro refaz o caminho que leva à evocação da lembrança, ou seja, a elaboração, a organização e a lembrança do contexto no momento da codificação propiciam a ligação dos fatos que podem auxiliar na recuperação/resgate da memória. Além disso, a recordação de músicas que marcaram a história de vida de cada participante e o compartilhamento em grupo destas lembranças atualizavam as informações que eram comentadas entre os participantes, sendo melhor compreendidas pelo grupo, proporcionando a auto-expressão e a elevação da auto-estima dos mesmos. Todos estes elementos mostraram que as atividades planejadas para o coro terapêutico podem beneficiar o exercício da memória do idoso.

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUSCIA, K. Definindo a musicoterapia. Tradução por Mariza Velloso Fernandez Conde. 2.ed. Rio de Janeiro: Enelivros,2000.

DALMAZ, C. e NETTO, C.A. A Memória. Artigo da revista Ciência e Cultura -temas e tendências – Neurociências. São Paulo: SBPC, 2004.

GOLDSTEIN, L. L. Produção Científica Brasileira na Área da Gerontologia. Revista Com Ciência SBPC/Labjor - São Paulo, 2002.

ZANINI, C. R.O. e LEÃO, E. Therapeutic Choir – a Music Therapist’s Look at the New Millenium Elderly, 10th World Congress of Music Therapy, Oxford, England, 23/07/2002.

ZANINI, C. R. O. Coro Terapêutico - um olhar do musicoterapeuta para o idoso do novo milênio. Dissertação de mestrado. Goiânia: EMAC/UFG, 2002.

 

 

Fonte de Financiamento

Pibic/CNPq