Remanescências do movimento de contracultura dos anos 60 na cidade de Goiânia

Autora: Juliana Faria Meneguelli

Unidade: Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia – FCHF

E-mails: juliana_faria1983@yahoo.com.br

rabelo@fchf.ufg.br (orientador)

Palavras-Chave: Movimento estudantil, sociologia da cultura, ação coletiva, anos 60.

Introdução

Este sub-projeto de pesquisa faz parte de um plano de estudo e pesquisa mais geral sobre a ação coletiva em sociedades em transformação, sob a orientação do Prof. Doutor Francisco C. E. Rabelo. Consistiu de um estudo bibliográfico sobre o movimento de contracultura dos anos 60, a que se seguiu um levantamento das remanescências do seu ideário em peças literárias, registros da impressa e entrevistas com pessoas que participaram a época em questão e ainda são representações do nosso objetivo maior.

O interesse dessa pesquisa sempre se orientou para uma avaliação mais rigorosa da presença do ideário da contracultura e sua possível influência em movimentos ecológicos, de jovens, de mulheres, movimentos pacifistas, entre outros.Esse estudo virá contribuir, certamente, para uma percepção mais aguda desse movimento nas orientações da ação coletiva ainda hoje, entendendo-se não como algo localizado em movimentos e grupos específicos, mas em termos mais gerais do que, aparentemente, se coloca.

Material e Método

Na primeira etapa da pesquisa utilizamos, exclusivamente, a pesquisa bibliográfica, pois este tipo de procedimento vai ao encontro, neste momento, do que nos propomos a estudar, que consiste na reconstrução da caminhada histórica que o movimento de contracultura dos anos 60 percorreu.Esta pesquisa bibliográfica foi feita por meio de livros, artigos e revistas da época ou por aqueles que retrataram o período em questão. O material usado nesta primeira parte da pesquisa foi selecionado por meio da necessidade do trabalho e da relevância do material, fomos muito seletivos com relação ao material utilizados para não ficarmos presos a somente um dos grandes temas que este tema nos proporciona.Além da pesquisa bibliográfica sobre o movimento de contracultura já prevista, ela foi ampliada para cobrir as abordagens teóricas predominantes na sociologia da cultura que procuraram explicá-lo.

Na segunda etapa, foram levantadas as manifestações do movimento de contracultura, através da pesquisa em jornais de então e que remetem à época, como o Jornal 4º Poder, da Universidade Federal de Goiás que foi fechado em 64 devido ao Golpe Militar. Além de pesquisa em jornais correntes goianos que publicaram matérias sobre a época ou sobre mudanças que ocorreram a partir ou por causa das mudanças da década de 60.

A pesquisa ainda englobou três entrevistas com pessoas que tiveram relevância no cenário goianiense e que nos elucidou sobre o momento em questão. A primeira entrevista foi com o Prof. Nestor Mota, presidente do Instituto Goiano de Yoga. A segunda foi com a Profª. Doutora Telma Camargo da Silva, professora da UFG e uma das fundadoras de dois grupos feministas de Goiânia. A derradeira com o Prof. Everaldo Pastore, professor da UCG, um dos fundadores da ARCA e seu atual vice-presidente. Neste ponto utilizamos a análise do discurso tão usado nas análises de pesquisa deste porte.

Resultados e Discussão

Nos anos 60 a juventude, não só no Brasil, mas em vários países da Europa e da América Latina, nos Estados Unidos e no Japão, apareceu no cenário político contestando a sociedade, principalmente seu sistema escolar e universitário. A revolta tinha na autoridade seu alvo principal. A década também foi marcada pela radicalização ideológica e pelo auge das ideologias revolucionárias, que tiveram na juventude, especialmente estudantil, sua protagonista principal. O que a cultura juvenil questiona não é que o poder desapareça, mas que ele seja visível e que possa ser avaliado.

Os movimentos de contestação e contracultura nascidos na década de 1960 emergiram como uma manifestação espontânea da necessidade de mudança nos valores antinaturais, arcaicos e cristalizados que regem as sociedades atuais. Os movimentos estudantis criaram um novo sujeito social e histórico: os estudantes, ou melhor, os jovens. Sua práxis os colocava como sujeitos coletivos sem que as teorias prévias os houvessem constituído ou designado.

É dentro da insatisfação da juventude que surge uma cultura própria para a mesma. Cultura nesta época se entendia como uma maneira de ser e agir específico e diferente das demais. A cultura passou a ser devidamente assimilada e comercializada pela indústria cultural, universalizando-a através dos meios de comunicação. Mesmo se opondo à industrialização da cultura, é através da indústria cultural que esses movimentos jovens acabam se expandindo e se deixando assimilar.

O movimento hippie buscava a libertação e valorização do individualismo, o respeito dos desejos individuais, o máximo do prazer individual, para tanto, seria necessário se libertarem das convenções impostas pela sociedade ocidental. O movimento hippie representava a expressão máxima de contestação, a quebra de tudo que era convencional e tradicional, possuíam um radicalismo bem humorado.

Liberação social e liberação pessoal, assim, davam-se as mãos, sendo sexo e drogas as maneiras mais óbvias de despedaçar as cadeias do Estado, dos pais e do poder dos vizinhos, da lei e da convenção.

Em todas as manifestações podiam ocorrer mortos, alguns feridos e muitos espancados. A paz e o amor desembocaram, então, na violência. No declínio do movimento, uma minoria radicalizou ainda mais, caindo na clandestinidade da ação terrorista, como os Baader-Meinhof, na Alemanha; as Brigadas Vermelhas, na Itália; os Panteras Negras, nos Estados Unidos, e outras organizações extremistas (radicais) que só foram desmanteladas no anos 70 e 80.

No Brasil de 68, os protestos dos estudantes universitários e secundários, reivindicando o restabelecimento das liberdades democráticas, a suspensão da censura à imprensa, a concessão de mais verbas para a educação, a abertura de mais vagas na universidade se intensificaram, que resultou mais tarde com o fechamento do Congresso e na decretação do Ato Institucional nº 5.

Em Goiânia houve neste período um grupo de estudantes que também lutou a favor da cultura, foi o GEN (Grupo de Escritores Novos). O GEN surge em 1963 com a proposta de estudar e refletir criticamente os grandes nomes da literatura universal, além de promover cursos à comunidade, como o curso de Introdução à Técnica da Poesia com participação de vários dos integrantes do GEN, e lançamento de livros. Termina em 1969, devido à burocracia e a mesmice que descambavam as reuniões. O movimento, em si, estava esgotado.

A cultura jovem tornou-se a matriz da revolução cultural no sentido mais amplo de uma revolução nos modos e costumes, nos meios de gozar o lazer e nas artes comerciais, que formavam cada vez mais a atmosfera respirada por homens e mulheres urbanos. Foi ao mesmo tempo informal e antinômica, sobretudo em questões de conduta pessoal.

Conclusões

A partir do estudo do movimento de contracultura e todas as suas nuances podemos afirmar que uma nova moral, uma nova ética, novos valores foram cultivados na mente das pessoas, graças àqueles jovens dos anos 60.

O mundo assistiu nas décadas de 60 e 70 à organização dos movimentos das chamadas minorias, no bojo das lutas pelos direitos civis. Nesse período é formada a consciência da especificidade da situação de parcelas da população humana como os negros, índios, mulheres.

Já nos anos 80, os estudos de gênero adquirem orientações mais complexas. As mulheres organizaram-se em grupos e movimentos, as estratégias ampliaram-se e configuraram-se desde a ocupação do espaço público e a inserção do mercado de trabalho, manifestações nas ruas e organizações dos fóruns de 8 de março e a participação nos partidos políticos. Essa mobilização permitiu o resgate dessa mulher como sujeito que contribui para a existência criadora de um mundo de igualdade. As mulheres goianas participaram de mobilizações políticas, como as Diretas Já, e nas primeiras eleições pós-ditadura militar foram candidatas com plataformas feministas de atuação. Outras militavam no movimento de trabalhadoras nos sindicatos e nos bairros. A formação de grupos feministas que enfocaram prioritariamente a questão da sexualidade feminina também foi constatada.

Em relação ao movimento ambientalista o que se conclui é que a preocupação com a natureza não é oriunda do movimento de contracultura, muitos pensadores já falavam sobre ela. O que nos chama a atenção é o viés diferente que esta preocupação incorpora depois dos anos 60. A atual preocupação não é a transformação da natureza e, sim, a permanência desta, pois desde a Revolução Industrial a natureza tem sido a grande vítima do desenvolvimento acelerado, do progresso. E também há a preocupação com as causas populares, pois se o homem faz parte da natureza também se encontra na preocupação dos ativistas.

Enfim, podemos concluir que os acontecimentos de 1968 nos deixaram um caminho livre para exercer a atividade crítica e essa é a questão essencial para nós. Em 1968 não queríamos ter um problema de geração; os da dissidência insistiam que a questão era de classe, mas sabem que há um problema geracional. A história deste século XX mostrou que a violência deve ser um último recurso contra as ditaduras, contra os sistemas totalitários. E, desde que haja um início de exercício democrático, é pela convicção, pela reforma, pelo voto, pela eleição, pelo trabalho político de fôlego que se opera a transformação social. Pois este século que passou nos ensinou que a violência é tão destruidora para aqueles que a exercem quanto para aqueles sobre os quais é exercida.

Fonte de Financiamento: CNPq

Bolsa de iniciação científica voluntária.