Desenvolvimento e geração de emprego em Goiânia

LOPES, J. D.

Universidade Federal de Goiás

Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia

Departamento de Ciências Sociais

E-mail: julianadias@independiente.com

Resumo:

Verifica-se, ao longo dos anos 1940-1980, o aumento da população urbana de Goiás, que se constituiu a partir de então como importante mercado de consumo. Goiás não havia se integrado ao modelo primário-exportador que regia a economia brasileira antes de 1930. A estrada de ferro e a Rede Mineira de viação ligam GO a MG - o que facilitou o acesso de produtos goianos aos mercados. A partir de 30, Goiás iniciou nova fase de ocupação agrícola com a função de fornecedor produtos agrícolas à região sudeste. Notamos que até 1970 o predomínio econômico se concentrou no setor primário que, depois, perdeu espaço ao setor terciário. Isso se explica pelo fato de que nesse momento estávamos no período militar e o estatuto da terra entrou em vigor acarretando êxodo rural favorecendo, assim um aumento da população urbana e em conseqüência o desenvolvimento do setor terciário. Já em Goiânia durante todo o período estudado verifica-se a predominância do setor terciário. Podemos sustentar que esse fenômeno de predominância do setor terciário em Goiânia faz dessa cidade um importante entreposto comercial.

Palavras chaves: desenvolvimento, setores econômicos, Goiânia.

 

Com a Marcha para o Oeste implementada a partir do primeiro governo Vargas, Goiás se insere na divisão regional do trabalho como fornecedor de produtos primários se desenvolvendo essencialmente a partir do setor primário.

Goiânia ao longo do período estudado (1930-1980) apresentou acelerado crescimento populacional e se desenvolveu como importante entreposto comercial. Segundo dados do IBGE, a população de Goiânia era em 1950 de 52.201, em 1960 de 150.306, em 1970 de 380.773, e em 1980 de 717.948. Esse aumento foi essencialmente urbano. Já em relação à população ocupada verificamos que nesse período houve o predomínio do setor terciário como principal absorvedor de mão-de-obra.

Em Goiás a população urbana cresceu significativamente e até a década de 70 o setor primário foi predominante. Segundo Chaveiro, Goiânia se configurava como basicamente terciária no que tange à economia e era, contraditoriamente, capital de um estado essencialmente agrário. Nessa relação Goiânia exerceu importante função, pois era receptora de produtos vindos de outras regiões do país e distribuidora desses produtos para os demais municípios do Estado, ocorrendo, assim, o predomínio do setor terciário.

A partir do governo Juscelino Kubitscheck, com a construção de Brasília e da BR-153, Goiás entra em uma nova fase de sua história econômica devido a uma série de medidas que favoreceram a entrada maciça do capital externo no Brasil que redefiniu o processo de acumulação do capital, entrando em cena assim novos atores sociais tais como grandes investidores norte-americanos que passaram, então, a reorientar toda a política econômica de geração de emprego.

Nossa opção teórico-metodológica sobre a relação de Goiás com o restante do país foge das concepções dualista tipo: centro/periferia, moderno/arcaico. Entendemos, assim como Borges, que apesar de Goiás ser predominantemente um estado agrário, exerceu sua função de fornecedora de produtos primários colaborando para o desenvolvimento do sudeste.

Entendemos por desenvolvimento algo que traz aumento de qualidade de vida à população. Em Goiânia verificamos acelerado crescimento populacional e urbano, sendo inegável uma melhoria na qualidade de vida da população, pois seria um erro ignorarmos as melhorias educacionais, de infra-estrutura e transporte, de saúde, etc.

Segundo a concepção de Bresser Pereira, "o desenvolvimento é um processo de transformação econômica, política e social, através da qual o crescimento do padrão de vida da população tende a tornar-se automático e autônomo" (PEREIRA; 1977). Segundo esse autor o desenvolvimento não ocorre de forma parcelada, ou seja, para ter desenvolvimento é preciso que haja transformações sociais, políticas e econômicas.

Compreendemos que Goiânia não atingiu esse crescimento autônomo e que, apesar de ter ocorrido conquistas políticas e sociais, estas não foram suficientes, uma vez que, predominou essencialmente o crescimento econômico.

Na época da edificação de Goiânia muitos migrantes aqui chegaram e segundo Bernardes estabeleceram-se relações trabalhistas próximas à do mundo rural convivendo com relações de trabalho dentro dos padrões legislativos.Na época estudada havia o predomínio do chamado fordismo como padrão de acumulação, todavia não verificamos a predominância destas práticas na nova capital do que então se edificava.

Nosso objetivo foi identificar qual o setor que predominou na economia de Goiás e de Goiânia. Notamos que em Goiás até 1970 o predomínio se concentrou no setor primário e depois perdeu espaço, nesse momento estávamos no período militar e o estatuto da terra entrou em vigor acarretando êxodo rural assim aumentou o número da população urbana e em conseqüência o desenvolvimento do setor terciário.

Podemos sustentar que o fenômeno de predominância do setor terciário em Goiânia faz dessa cidade um importante entreposto comercial. Verificamos que durante o período estudado a indústria que mais cresceu foi a de produtos alimentícios e isso pode confirmar a hipótese de haver grande relação com a produção de produtos agrícolas do Estado para abastecer a indústria de transformação.

Percebemos que a geração de emprego em Goiânia se deu a partir do setor terciário. Para nós isso ocorreu devido à posição e função que Goiânia exerceu polarizando o comércio tanto com os demais municípios do Estado como com outras regiões do país. Essa cidade foi planejada e construída com base em relações trabalhistas ora de acordo com a lei trabalhista ora não. Mas por causa desse fato não podemos afirmar que as relações trabalhistas não estavam enquadradas dentro do desenvolvimento capitalista, pois as mesmas relações tradicionais contribuem para o desenvolvimento desse sistema.

Compreendemos que a não predominância do setor primário na capital de um estado agrário se deveu a fatores estruturais que contribuíram para que essa cidade desempenhasse função polarizadora,interligando a região com as demais regiões do país – exercendo, assim, o papel central de capital do Estado.

Constata-se que Goiás tem que ser grande importador de produtos manufaturados, uma vez que o setor secundário se desenvolveu o suficiente para satisfazer as necessidades existentes no Estado. Então percebemos que a substituição de importações na região poderia se realizar uma vez que existia uma capacidade de consumo formada. No entanto isso não se verificou, predominando a prática das trocas entre regiões que se especializaram ao máximo de forma que obtivessem melhores resultados - leis das vantagens comparativas. Assim a região sudeste se especializou em produtos industriais, enquanto Goiás se especializou em produtos primários, havendo assim trocas entre ambas as regiões.

Os pensadores da Cepal defenderam uma idéia contrária à lei das vantagens comparativas, segundo esses pensadores os países pobres ficavam prejudicados no comércio internacional. Assim eles planejaram a industrialização do país, rompendo com o modelo agrário-exportador numa tentativa industrializante. Mas esse plano não significou a industrialização em todo o país, então fazemos a mesma crítica feita pelos pensadores da Cepal de que essas leis favoreciam os ricos, aumentando assim a dependência e a pobreza dos "excluídos" da sociedade.

A teoria do desenvolvimentismo propunha a intervenção do Estado na economia e o desenvolvimento do mercado interno via industrialização, mas Goiás não participou dessa onda industrializante exercendo função de fornecedor de produtos alimentares à região Sudeste. No entanto, verifica-se a intervenção do estado na economia. Diante desse quadro concluímos que Goiás exerceu importante função para o desenvolvimento capitalista. No entanto, ficou prejudicado devido à insuficiência do setor secundário em sua estrutura produtiva.

Verifica-se, pois, que as transformações da economia goiana advinda do período histórico conhecido como populismo e militarismo estimularam o desenvolvimento do setor de comércio e prestação de serviços em nossa capital com vistas, entre outros fatores, à inserção de Goiás em uma nova divisão regional do trabalho baseada na expansão e fixação do modo capitalista de produção.

 

Referências Bibliográficas:

BORGES, Barsanufo Gomides. Goiás nos quadros da economia nacional: 1930-1960. Goiânia: Ed. UFG, 2000.

BERNARDES, Genilda D’arc.Construtores de Goiânia:o cotidiano no mundo do trabalho.São Paulo, 1989.Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Pontifícia Universidade de São Paulo

CHAVEIRO, Eguimar F.Goiânia uma metrópole em travessia.São Paulo,2001. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo

PEREIRA, Luiz C. Bresser. Desenvolvimento e crise no Brasil. 7ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1977.