Relações Familiares de Produção e Meio Ambiente

no Município de Silvânia (GO)

Anapaula Hoekveld dos Santos

Fausto Miziara

Trabalho desenvolvido na FCHF

hoekveld@terra.com.br fausto@fchf.ufg.br

Resumo

 

O município de Silvânia destaca-se pelo grande número de produtores familiares, que constituem uma parcela significativa da população do município. Este estudo tem como objetivo a caracterização dos produtores familiares de Silvânia com o propósito de configurar o ambiente sócio-econômico das unidades familiares de produção do município e mostrar sua relação com o meio ambiente. Isto será possível por meio da análise detalhada dos dados obtidos pelos Censos Agropecuários. Partiu-se de uma pesquisa já realizada, sob a orientação do Professor Dr. Fausto Miziara, com 182 produtores familiares do município. Procurou-se fazer uma caracterização dos produtores utilizando-se dados obtidos por meio da análise de um questionário que lhes foi aplicado durante a referida pesquisa. Com isso, será possível proceder uma amostragem que seja significativa da realidade dos mesmos. E, para melhor compreender estes dados, buscou-se apoio teórico nos autores que preconizam a especificidade da produção familiar. Constatou-se que os produtores familiares estudados intensificaram sua inserção no mercado, com isso adotando padrões tecnológicos modernos e maximizando a exploração de suas unidades produtivas. Essas alterações na relação com a natureza determinaram mudança nos impactos provocados.

 

 

Introdução

O problema central deste plano de trabalho é saber, através da maneira como os produtores familiares de Silvânia se organizam e do modo como utilizam a terra, qual a relação que eles estabelecem com o meio ambiente. Para tanto, este estudo busca a caracterização desses produtores familiares e do ambiente sócio-econômico em que eles estão inseridos para, desta forma, estudar a relação entre a produção que eles desenvolvem e o impacto causado ao meio ambiente.

Existem poucos estudos específicos sobre o impacto ambiental da produção familiar. A pertinência e relevância deste trabalho repousam no interesse em perceber qual o impacto desta forma de produção agrícola sobre o meio ambiente, incentivar e contribuir para o debate da questão agrária no estado de Goiás, relacionando-a com a questão ecológica.

 

Material e métodos

Os recursos metodológicos utilizados estão em consonância com a pesquisa mais ampla conduzida pelo professor Dr. Fausto Miziara. Desse modo, dados obtidos por meio de uma pesquisa, orientada pelo professor, feita com 182 produtores familiares do município de Silvânia serão utilizados e analisados aqui para que se tenha um perfil destes produtores e da realidade que estes vivenciam.

Para perceber como os produtores familiares de Silvânia interagem com o meio ambiente, suas estratégias reprodutivas, modernização da produção e utilização de recursos hídricos e solo, foram analisados dados estatísticos dos Censos Agropecuários de 1970, 1975, 1980, 1985, 1995-1996.

Por meio da revisão literária - de estudos fundamentais para um bom entendimento das questões que envolvem a questão da produção familiar - das análises dos dados dos Censos Agropecuários e dos questionários aplicados aos produtores familiares foi possível perceber como historicamente tem se dado as diferentes formas de relação entre os produtores familiares de Silvânia e a natureza. As principais obras analisadas foram: Bradão (1986), Cândido (1979), Graziano Neto (1985), Heredia (1979), Lamarche (1993), Graziano da Silva (1981), Sorj (1980) e Warderley (1999).

Resultados e discussão

 

Por meio deste estudo, pôde-se perceber que todo produtor provoca impacto ao meio ambiente, seja ele um produtor que pratica uma agricultura mais tradicional ou um produtor que faça uso de equipamentos modernos, que utiliza produtos agroquímicos e produz para o mercado. A relação dos produtores com a natureza é, de maneira geral, estabelecida com base na apropriação dos recursos naturais e na exploração da potencialidade dos solos, sobretudo por meio de técnicas de produção que buscam o aumento da produtividade. Com o desenvolvimento do capitalismo, o processo de produção é cada vez menos guiado pela necessidade de sobrevivência do homem, passando a ser determinado pelo processo de acumulação de capital.

No Brasil, a partir da década de 60, com o advento da Revolução Verde, as técnicas agrícolas tiveram uma grande evolução. A incorporação de novas fronteiras de produção e o crescente uso de fertilizantes e defensivos químicos no controle de plantas daninhas e insetos, num primeiro momento, aumentou consideravelmente a produtividade. Entretanto, surgiram outros desafios decorrentes da utilização desmedida dessas tecnologias, como a contaminação do meio ambiente.

É necessário perceber que, muito antes do processo de modernização recente, desde a implantação do sistema de monocultura no Nordeste do Brasil imperial até o ciclo do café, na região Centro-Sul, é possível observar as agressões sofridas pela Natureza. E, apesar de possuir uma lógica de produção diferente da produção capitalista, as unidades de produção familiar têm sua parcela no processo de desgaste ambiental.

No caso dos produtores familiares de Silvânia a inserção nesse processo de modernização se deu mediante a forte vinculação com a pecuária leiteira. Analisando-se os dados para o município percebe-se que a área de pastagem se mantém relativamente uniforme, mas a composição é alterada porque a área de pastagens plantadas aumenta em relação às naturais. O aumento das pastagens plantadas, assim como a transformação de áreas de pastagens em área de lavoura, evidenciam o aumento do impacto ambiental devido á intensificação da utilização de recursos naturais disponíveis. No caso dos produtores familiares estudados na pesquisa anterior do prof. Fausto Miziara, 82% da área total das propriedades é utilizada com atividades voltadas para a pecuária leiteira, enquanto apenas 17,7% é empregada na produção de alimentos para o grupo doméstico.

Conclusão

Disso pode-se concluir que a relação dos produtores familiares com o meio ambiente é determinada pela articulação de duas ordens de fatores. A primeira diz respeito à lógica interna dessa atividade. Devemos lembrar que os produtores mantêm algum grau de autonomia e que sua inserção ou não ao mercado passa por um processo de decisão do grupo doméstico. No caso de Silvânia podemos constatar uma forte vinculação ao mercado, representada pela crescente dedicação à pecuária leiteira. A segunda ordem de fatores diz respeito ao padrão tecnológico dominante. No caso dos produtores familiares de Silvânia a inserção no mercado implicou em utilizar um padrão tecnológico advindo do processo de modernização, com utilização massiva de insumos químicos. A busca pela produtividade elevada necessária à sobrevivência determinou uma utilização especialmente intensiva da terra.

 

Bibliografia

 

BRANDÃO, Carlos Rodrigues; RAMALHO, José Ricardo. Campesinato Goiano. Goiânia, Editora da UFG, 1986.

CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do Rio Bonito: um estudo sobre o caipira paulista e a transformação de seus meios de vida. São Paulo: Livraria duas cidades, 1979.

GRAZIANO NETO, Francisco. Questão Agrária e Ecologia: crítica da Moderna Agricultura. São Paulo, Editora Brasiliense. 1985.

HEREDIA, Beatriz Maria Alásia de. A Morada da Vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra. 1979.

LAMARCHE, Hugues (coord.) A Agricultura Familiar. Campinas, Editora da Unicamp. 1993.

SILVA, José Graziano da. O Que é Questão Agrária. São Paulo, Editora Brasiliense. 1981.

SORJ, Bernardo. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.

WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO, João Carlos (org). Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 2. ed. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. p. 21-55.

 

Trabalho desenvolvido com financiamento do Programa Institucional de Inciação Científica (UFG/CNPq).