Turismo e Cultura: Potencialidades da Festa "Caçada da Rainha" em Colinas do Sul-GO.
Diogo Marçal Cirqueira - IESA diogogeo@hotmail.com
Orientadora: Profª Drª Maria Geralda de Almeida – IESA galmeida@iesa.ufg.br
Órgão financiador: CONCITEG
Palavra chave: turismo, cultura, festa, tradição
No presente trabalho fazemos uma abordagem sobre a festa "Caçada da Rainha", evento que ocorre na segunda semana de Julho no município de Colinas do Sul. Localizado na porção Nordeste do Estado de Goiás, entre o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e o Lago de UHE de Serra da Mesa, o município se mostra rico em atrativos turísticos, tanto naturais quanto culturais, como é o caso da festa.
Uma das motivações para nos colocarmos a estudar a festa "Caçada da Rainha" é a grande popularidade que a mesma vem alcançando atualmente, fruto de uma tentativa por parte da gestão municipal de implantar o turismo em Colinas do Sul. Isso vem ocasionando algumas modificações nos rituais e andamento da festa. Assim, analisamos até que ponto o turismo emergente poderá ser benéfico para as manifestações culturais, proporcionando renda às pessoas, e até que ponto poderá ocasionar distúrbios na comunidade e na festa "Caçada da Rinha".
O turismo, pois, se não implantado de forma responsável afeta a valorização do patrimônio cultural, substituindo seu sentido enquanto "propriedade" de um povo pela sua capacidade de transformação em cenário destinado ao consumo. Isso nos leva a buscar formas de implantação de um turismo que envolva toda a comunidade dando autonomia para que a mesma possa manter suas tradições.
Como procedimentos metodológicos primeiramente realizamos um levantamento bibliográfico interdisciplinar, na qual as abordagens sobre o proposto tema fossem diferenciadas; visita a campo, com entrevistas junto a turistas e comunidade local na busca de identificar a relação turista/autóctone; e observação empírica sobre as etapas da festa: as folias, as missas de devoção ao Divino Espírito Santo e Nossa Senhora do Rosário, a caçada da Rainha e o batuque da Rainha.
A "Caçada da Rainha" é uma festa de cunho religioso, onde possui três momentos principais, envolvendo os giros das Folias, o batuque da Rainha e a caçada da Rainha. O "profano" e o sagrado se debatem em todos momentos na festa, vendo-se junto a ritos religiosos à presença atos cuja religião católica não permite, como por exemplo, as bebidas alcoólicas.
A festa envolve toda a comunidade do município, seja em sua organização ou como participantes do festejo, transformando o lugar e criando uma territorialidade no período de ocorrência da manifestação: o espaço e as pessoas passam a ter um novo significado simbólico.
No trabalho de campo realizado podemos verificar que a festa "Caçada a Rainha" do município de Colinas do Sul pode ser considerada um potencial turístico, tendo em vista seus aspectos culturais serem singulares na região e a mesma já se constituir como atrativo.
Todavia, cabe nos esclarecer alguns pontos e discussões sobre a festa. As modificações já ocorridas devido à "turistificação" e perdas de tradições. E ainda o papel do poder municipal tanto na organização como no gerenciamento da festa. Também cabe ressaltar a infra-estrutura do município para recepção dos turistas.
No que tange à infra-estrutura do município podemos verificar que o mesmo possui hotéis, pousadas e restaurantes. Geralmente muito movimentados durante o período da festa por turistas vindos de São Paulo, Goiânia, Brasília e municípios do entorno.
A maior parte dos "turistas" são ex-moradores de Colinas do Sul. A festa para estes tem um significado diferente, pois é um momento de reencontro com familiares, amigos e de encontro com suas próprias raízes, sendo um momento singular aos mesmos.
A divulgação da festa se dá em escala regional proporcionada pela Secretaria de Turismo do Município, é feita por meio de cartazes, que são espalhados por toda a região. Mas, uma grande parte dos turistas que visitam a festa provem de grandes centros, como Goiânia, Brasília, São Paulo e etc. que, descobrem a festa por meio de amigos, familiares, e da mídia, sendo carente a divulgação da mesma nas grandes cidades.
Podemos observar várias mudanças na festa, tendo em vista os relatos de moradores e participantes de outros anos. Como por exemplo, algumas alterações na ordem cronológica e desaparecimento de alguns rituais.
Segundo alguns entrevistados houve rumores na cidade que a data da festa seria modificada ou alterada para o ano de 2005. Os interessados em tal mudança são a Secretaria de Turismo do Município. A prefeitura tem interesse na mudança, para que o início da festa seja na sexta-feira e o termino no domingo, pois, seguindo o ciclo do Divino Espírito Santo, a festa se inicia no sábado e terminar na segunda-feira. Isso seria adequado para a movimentação da cidade se perdurar pelos três dias. O que com freqüência não acontece, pois a maioria dos visitantes retornam para seus municípios no domingo.
A comunidade se mostram contraria a tais mudanças, desejando que a data da festa se mantenha, pois a mesma faz referência a ciclo religioso do Divino Espírito Santo. Podemos observar que há uma preocupação por parte desses moradores em manter a autenticidade da festa, assim como seus elementos simbólicos.
A festa Caçada da Rainha é um grande atrativo turístico, mas, o turismo deve ser implantado de forma responsável, dando autonomia e envolvendo toda a comunidade nesse processo e proporcionando um sentimento de alto estima na mesma. Só assim as manifestações poderão ser conservadas e transmitidas para gerações futuras, além de se estabelecer como uma forma de renda extra a comunidade.
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