A noção de subjetividade nos periódicos especializados em Psicologia da Educação: os enfrentamentos teóricos

ALMEIDA, C. V. R.

RESENDE, A. C. A.

Faculdade de Educação – NEPPEC

e-mail: alohavicentini@hotmail.com (bolsista)

e-mail: aazeres@uol.com.br (orientadora)

O presente plano de trabalho integra um projeto de pesquisa mais amplo desenvolvido pelo NEPPEC (Núcleo de Estudo e Pesquisa em Psicologia, Educação e Cultura da FE-UFG) que busca, dentro a grande área de "Educação e Cultura" e da linha de pesquisa intitulada "Subjetividade e Cultura" rastrear e analisar a produção teórica no campo da Educação na sua interface com as Ciências Sociais em geral e com a Psicologia em particular. A pesquisa na qual esse plano de trabalho se insere objetiva discutir as concepções de subjetividade com as quais a educação tem operado e as decorrências teóricas e metodológicas dessas concepções. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que teve por objetivo geral efetuar o rastreamento, a leitura e a documentação de artigos sobre subjetividade publicados em periódicos especializados em Psicologia da Educação no período de 1990 a 1999. A partir desse mapeamento, foi possível apreender a noção de subjetividade que a Educação tem elaborado na sua relação com o campo da Psicologia. Esse mapeamento nos permitiu colocar em questão a discussão acerca dos desafios da subjetividade em tempo de transformações radicais no mundo do trabalho, e apontar para o predomínio da tendência de tomar a subjetividade pelos seus estados manifestos e externalidade.

Palavras-chave: subjetividade; psicologia da educação; trabalho; educação

Introdução

Esse subprojeto integra o projeto de pesquisa intitulado "Subjetividade e Trabalho: o recorte da Psicologia para a Educação", financiado pelo CNPq e desenvolvido no NEPPEC (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicologia, Educação e Cultura da Faculdade de Educação da UFG) que busca, dentro da grande área de "Educação e Cultura" e da linha de pesquisa intitulada "Subjetividade e Cultura" do Programa de Pós-Graduação em Educação, rastrear e analisar a produção teórica no campo da Educação na sua interface com as ciências sociais em geral e com a Psicologia em particular.

O objetivo da pesquisa é discutir o recorte que da psicologia no campo das Ciências Sociais em geral e da Educação em particular, acerca da temática da subjetividade. Partindo do pressuposto de que a Psicologia tem historicamente recortado a subjetividade pelos seus estados manifestos, pela sua apresentação e aparência (Resende, 2001) busca-se compreender como essa questão tem sido resolvida hoje no campo da educação, especialmente em tempos de transformações radicais no mundo do trabalho. Nessa perspectiva, aponta-se para a existência de fortes indicativos de que a subjetividade esteja sendo tomada pela sua manifestação cognitiva, ou seja: subjetividade é inteligência.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que rastreou a produção teórica sobre Educação e Trabalho e Psicologia da Educação no Brasil entre 1990 e 1999, buscando apreender como se efetiva a discussão sobre subjetividade nas suas vinculações com a educação e a psicologia da educação. O Universo dessa pesquisa compreende os artigos publicados em periódicos especializados na área de Psicologia da Educação, no período de 1990 a 1999, consultados nas principais bibliotecas goianas e que fazem referência à temática da subjetividade e do trabalho.

Material e métodos:

A constituição do Universo pesquisado foi feita a partir do levantamento, nas bibliotecas da Universidade Federal de Goiás e da Universidade Católica de Goiás, dos periódicos especializados na área de Psicologia que atendessem ao critério da periodização proposta, de 1990 a 1999. A partir desse levantamento inicial, foram selecionados para análise os periódicos de maior expressividade nacional. . Da biblioteca da Universidade Federal de Goiás foram selecionados dois periódicos: Psicologia: Teoria e Pesquisa, e Boletim de Psicologia. Da biblioteca da Universidade Católica de Goiás foram selecionados quatro periódicos: Cadernos de Psicologia; Psicologia: Reflexão e Crítica; Doxa: Revista Paulista de Psicologia e Educação e Paidéia: Caderno de Psicologia e Educação.

A composição da amostragem dos artigos foi feita a partir do critério da referência, no resumo, à temáticas vinculadas à Psicologia da Educação. Dos 789 resumos analisados no total foram selecionados 141 que faziam referência à Psicologia da Educação, que foram organizados, a partir dos resumos, em planilhas de identificação. Desses 141 artigos, 67 atendiam ao segundo critério proposto de referência direta ou indireta à temática da subjetividade.

Resultados e Discussões:

Contemporaneamente a questão da subjetividade é colocada em pauta de maneira radical no campo das ciências e práticas sociais. Nessa perspectiva, o pensamento psicológico se atualiza, uma vez que a divisão do trabalho, a fragmentação do objeto e sujeito da produção terminaram por constituir esse campo científico como um campo estrito que se ocuparia de um objeto aparentemente estrito: a vida subjetiva, espiritual, o psiquismo, a consciência psicológica. Certamente que, a rigor, a subjetividade não haveria de ser, enquanto totalidade, mais própria à psicologia do que à sociologia, à história, à antropologia ou à educação. Todavia, a par disso, o campo próprio da subjetividade foi instaurado e delegado à psicologia. Responsável privilegiada pela elucidação, compreensão e constituição da subjetividade, a psicologia contribui enormemente para qualificá-la e defini-la.

A pesquisa na qual esse plano de trabalho se insere objetivou discutir as concepções de subjetividade com as quais a educação tem operado e as decorrências dessas concepções. Foi mapeado, em periódicos da área de Psicologia e Educação as temáticas que põem em causa as noções de sujeito e subjetividade com suas implicações teóricas e metodológicas. A partir desse mapeamento, é possível apreender a noção de subjetividade com a qual se está trabalhando, ou seja, a noção de subjetividade que a educação tem elaborado na sua relação com o campo da psicologia. Essa compreensão permite colocar em questão a discussão acerca dos desafios da subjetividade e da vinculação da educação em suas interfaces com as ciências sociais e a psicologia em particular.(Campos e Guareschi,2000)

A radicalidade com que essa questão tem sido recolocada hoje não poupa a área da Educação. (Lajonquière, 1999) Quando não mais se questiona a validade da consideração da subjetividade na compreensão dos fatos sociais, é interessante observar que a psicologia histórica predominantemente recortou para as ciências humanas e sociais em geral, e para a educação em particular, a subjetividade pelos seus estados manifestos, sua exteriorização, sua aparência. E hoje, quando a educação se coloca a questão da subjetividade em tempos de transformações no mundo do trabalho, mais uma vez essa tendência se manifesta: a psicologia informa que subjetividade é cognição, inteligência. Essa tendência se expressa claramente nos dados coletados nos periódicos, uma vez que o recorte da educação é predominantemente realizado pelos processos cognitivos e da aprendizagem. Nessa perspectiva, os dados coletados apontam coerentemente para uma predominância da educação enquanto prática escolar e vincula predominantemente a temática da subjetividade ao campo da Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento. (Coll et alli, 1995)

Nessa perspectiva, é possível afirmar que a psicologia que mais se apresenta como auxiliar no embate da relação entre indivíduo e sociedade é a que põe em perspectiva a exterioridade do sujeito; ou seja, o recorte que a psicologia faz para a educação é o recorte dos processos mentais, ou da motivação, ou da cognição, ou da socialização tal qual eles se apresentam e se manifestam imediatamente. Tomado dessa forma, o indivíduo é explicado por suas exteriorizações tornadas independentes e autônomas frente às relações sociais concretas travadas por ele. Não há dúvidas de que essa compreensão do indivíduo, fundada na análise exclusiva de suas externalizações, não explicita as relações fundamentais que se efetivam no mundo, ou seja, as relações entre a subjetividade e a objetividade. Dessa forma, a psicologia termina por definir mecânica e invariavelmente aquelas relações que o indivíduo estabelece concreta e historicamente com o mundo em que vive.

Conclusão:

Os dados coletados permitem estabelecer algumas tendências gerais que podem ser sintetizadas da seguinte forma: a) os artigos, a par de predominantemente objetivarem abordar, problematizar e criticar as implicações teóricas e, principalmente práticas do sujeito no campo educacional, terminam por enfrentar esse desafio sem estabelecer uma conexão clara entre a objetividade e a subjetividade. Ou seja, o sujeito termina por se reduzir ao sujeito "prático". b) A noção de subjetividade, quando mediada na discussão no campo da Psicologia da educação, é predominantemente localizada no âmbito da Psicologia da Aprendizagem ou Desenvolvimento. c) Essa predominância "cognitivista" implica a resolução da questão da subjetividade na consideração de um sujeito prático, no aluno, na escola formal, mais pelos processos de objetivação do que de subjetivação.d) Não é clara a constituição lógica, categorial da subjetividade, o que fica evidenciado na significante quantidade de "não explicitado" tanto no que se refere a enfoques teóricos, áreas, autores citados e enfoques metodológicos. A imprecisão resulta uma subjetividade sendo tomada por sujeito, por desenvolvimento, por inteligência, por capacidade de adaptação, por cognição, entre outras.

RESENDE, Anita C. A. Subjetividade em tempos de reificação: um tema para a psicologia social. In: ESTUDOS, Goiânia, Ed. UCG, 2001 (511-539)

LAJONQUIÈRE, Leandro. Infância e Ilusão (Psico) Pedagógica. Petrópolis, Vozes, 1999

COLL, César, PALACIOS, Jesus, MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento Psicologógico e Educação, Porto Alegre, Artes Médicas, 1995

CAMPOS, Regina H. F., GUARESCHI, Pedrinho. Paradigmas em Psicologia Social. Petrópolis, 2000.