"VISÍVEIS E INVISÍVEIS: A AFIRMAÇÃO DE IDENTIDADES BISSEXUAIS ENTRE JOVENS UNIVERSITÁRIOS GOIANOS"

CAVALCANTI, D. Camila.

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS/DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

E-MAIL: milacavalcanti@zipmail.com.br; luizman@turbo.com.br

RESUMO

A redefinição de valores tradicionais e modernos está a gerar concepções acerca da sexualidade que possibilitam uma maior legitimidade para representações e práticas sexuais até então vistas como excêntricas ou desviantes. Em contrapartida, tais valores geram nos indivíduos conflitos reais na construção de suas identidades. Em alguns contextos sociais, a própria noção de identidade sexual e de gênero está em xeque, sendo possível pensar a realização pessoal dos indivíduos bissexuais a partir de uma redefinição dos significados e do lugar das relações afetivo-sexuais em suas vidas cotidianas.

Este sub-projeto insere-se na pesquisa mãe "Sexualidades de estudantes universitários - um estudo sobre valores, crenças e práticas" que vem sendo realizada desde agosto de 2003 estando neste momento na fase final de elaboração dos questionários e aplicação dos pré-testes.

PALAVRAS-CHAVE: Identidade, Bissexualidade, Sexualidade, gênero.

INTRODUÇÃO

A bissexualidade é a orientação sexual referente às pessoas que desejam outras de ambos os sexos afetiva e/ou sexualmente em um mesmo momento da vida ou em fases distintas. Ser bissexual é sentir atração por homens e mulheres podendo envolver caracteres de identidades hetero e homossexual ou simplesmente abarcar outras definições ainda não facilmente externizadas, estereotipadas e palpáveis.

A identidade sexual e de gênero vem por muito tempo abarcando um conceito unitário baseado em um binarismo hetero/homossexual, no qual outros elementos e possibilidades são excluídos e estigmatizados. "Em nossa cultura a representação majoritária da sexualidade se organiza a partir de dois pólos bem marcados, a heterossexualidade e a homossexualidade, e a cada pólo correspondem identidades bem definidas, quais sejam, os heterossexuais e os homossexuais" (SEFFNER: 2004 235).

Assim, indivíduos bissexuais passam muitas vezes despercebidos, invisíveis numa representação e significação onde se faz proibido discordar de uma lógica binária e polarizada. A identidade é produzida por e através dos sistemas de representação através de um processo cultural que viabiliza e decifra os sistemas de símbolos que nos apropriamos para definir aquilo que somos e podemos ser. "A representação inclui práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos posicionando-nos como sujeitos" (SILVA: 2000, 17).

A produção desses significados faz parte de uma relação de poder que modela e posiciona a nossa inserção no mundo. Quando escapamos desses significados ou simplesmente os (re) significamos saímos de nosso papéis e somos condicionados a exclusão e marginalização.

No caso da bissexualidade, a mistura de homo e heterossexualidade comprova a teoria de que nossa sexualidade perpassa por várias possibilidades e sentimentos e corrobora a idéia de uma identidade mutável e flexível que não necessariamente precisa ser volúvel e invisível.

MATERIAIS E MÉTODOS

O interesse por investigar o conjunto de valores, crenças e práticas sociais de estudantes universitários, na tentativa de buscar decifrar valores e significados acerca da sexualidade, implicará a elaboração de questionários e a definição de amostras estatisticamente significativas. Os questionários e as entrevistas serão analisados a partir de uma compreensão interpretativa que valorize, concomitantemente, as dimensões quantitativa e qualitativa do universo pesquisado. A pesquisa dividi-se na aplicação de um questionário fechado e posteriormente em um roteiro de entrevistas que deverão ser realizados com os alunos devidamente matriculados nos cursos de biológicas, exatas, humanas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aparentemente, a construção de uma identidade bissexual, tanto masculina como feminina se apresenta de forma confusa e ambígua, levando a uma primeira constatação de que estes indivíduos não existem ou são invisíveis, dissimulando em caracteres ora de hetero ora de homossexualidade.

Por seu caráter ambivalente, a bissexualidade como orientação sexual questiona a polaridade existente na construção de gênero, onde o masculino e o feminino se constroem no reconhecimento de quem está dentro do outro. A oposição entre o masculino/ feminino e mais tarde entre a heterossexualidade/homossexualidade fez com que ignorássemos as diversas possibilidades de interpolação que um indivíduo possui quando modela a sua identidade.

Como não conseguimos rotular esses indivíduos em nenhum desses pólos eles acabam por ser relegados à marginalidade e/ou ao esquecimento. Nesse sentido, a afirmação de uma identidade bissexual proposta por esse trabalho está inserida em uma discussão que, apesar de reconhecer o valor dos movimentos sociais que lutaram pela legitimação de suas identidades, tenta entender e analisar as diversas possibilidades, tendências e práticas que perpassam a construção do eu, e que de forma alguma representam um movimento linear, único e estável.

Este sub-projeto está inserido em uma pesquisa maior, onde os resultados se pautaram nos objetivos atendidos pela aplicação, análise e interpretação dos pré-testes, questionários e realização das entrevistas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SEFFNER, Fernando. Representações da masculinidade bissexual: um estudo a partir dos informantes da rede bis-Brasil. In: CÁCERES, CARLOS F. e outros (editores). Ciudadanía sexual em América Latina: abriendo el debate. Perú: Universidade Peruana Cayetano Heredia, 2004.

WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org). Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.