Título: "IMAGEM IMPERIAL E IMAGINÁRIO POLÍTICO NO MUNDO ROMANO: UMA ANÁLISE DO GOVERNO DE ADRIANO EM DION CÁSSIO".

Autor: Américo Henrique Marquez do Couto

FCHF – Departamento de História

E-mail: americouto@bol.com.br; anteresa@terra.com.br

Resumo: O Império Romano, como forma de governo, foi, de certa forma, o período de auge e declínio da societas romanum. Procuraremos enfatizar as relações conceituais entre poder e imaginário, que nos possibilita reconstruir com mais detalhes a ótica do sistema de governo neste período histórico. O termo poder possui inúmeras definições e interpretações possíveis. Neste trabalho, vamos considerá-lo como sendo a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos. Já acerca de imaginário salientamos como Bachelard (1943:22) que este não hesita em direcionar os caminhos do sonho e do devaneio para o estudo do imaginário e, juntamente com Bronislaw Baczko conjuga os símbolos e os sistemas de ordem que explicam pontos sincronizados da teoria dos imaginários. Este afirma que:

"(...) os imaginários sociais fornecem, um sistema de orientações expressivas e afetivas, que correspondem a outros estereótipos oferecidos aos agentes sociais: ao indivíduo relativamente ao grupo social, aos grupos sociais relativamente à sociedade global, às suas hierarquias e relação de dominação". (BACZKO, 1985:311).

Os senadores perderam paulatinamente parte de seus poderes, porém continuaram exercendo uma forte influência na produção literária. Neste sentido, escrevem ou patrocinam obras sobre os Imperadores. Dentre elas, vamos analisar a obra História Romana que descreve o governo do Imperador Adriano.

Palavras Chave: Roma; Império; Poder; Imaginário.

 

 

 

 

 

Resumo Expandido:

O Império Romano, como forma de governo, configurou-se a partir de 31 a.C, com a vitória de Caio Otávio sobre Marco Antônio na Batalha do Actium, descaracterizando o segundo Triunvirato. Com isso, Otávio tornou-se o Imperador, dando aos romanos sua forma mais concreta de sistema político. Durante o Principado, o poder dos Imperadores denotou-se como uma expressão superior, tornando-os as maiores representações de Roma.

Segundo Georges Balandier, o poder político mostra-se pela linguagem que usa, na qual procura obter o consentimento dos súditos. O poder efetua marcações lingüísticas, agindo por imagens, símbolos e por palavras que efetuam uma forte influência permanente sobre os governados (BALANDIER, 1989:100). Poder se relaciona diretamente com dominação, expressando que este domina os que o detêm e, por isso, estabeleceu uma dominação ilimitada sobre os súditos. Os Imperadores romanos utilizavam do poder para capacitar a manipulação de forças e para controlar as movimentações de violência social e desordem. No entanto, o seu uso fez surgir, especialmente, a partir das Dinastias dos Antoninos e dos Severos, uma série de problemáticas estruturais no Império Romano.

Segundo Georges Balandier, o poder político mostra-se pela linguagem que usa, na qual procura obter o consentimento dos súditos. O poder efetua marcações lingüísticas, agindo por imagens, símbolos e por palavras que efetuam uma forte influência permanente sobre os governados (BALANDIER, 1989:100). Poder se relaciona diretamente com dominação, expressando que este domina os que o detêm e, por isso, estabeleceu uma dominação ilimitada sobre os súditos. Os Imperadores romanos, utilizavam do poder para capacitar a manipulação de forças e para controlar as movimentações de violência social e desordem. No entanto, o seu uso fez surgir, especialmente, a partir das Dinastias dos Antoninos e dos Severos, uma série de problemáticas estruturais no Império Romano.

O imaginário pode ser percebido como locus de investigação científica e obedece a experiência do Kairos que se refere à realidade inerente ao movimento social, definindo assim as categorias definitivas ou modelos intocáveis da estrutura política típica de governos como os do Império Romano. Segundo alguns historiadores, o imaginário revitaliza conteúdos, imagens e emoções que anunciam formações discursivas sobre o contexto de discurso imperial. (SWAIN, 1994,46-50). O imaginário compõe / decompõe sentidos que migram através de formação discursivas homogêneas e / ou heterogêneas, criando imagens saturadas de paixões / rejeições, ou seja, transfiguradas da realidade sócio-política, modelando conjuntos de relações sociais que compreende maior ou menor lapso de tempo histórico.

Em nossa pesquisa, dentro da concepção teórica apresentada anteriormente, procuramos analisar os principais fatos do governo do Imperador Adriano, segundo a História Romana, escrita por Dion Cássio, no século III d.C. Procura-se observar como esta obra, escrita por um senador transcreve suas ações, um século depois, já que este governou entre 117 e 138 d.C. As obras do núcleo senatorial, como a História Romana, estão carregadas de exemplos vividos por personagens históricos, pois para deixar claro os exemplos de vícios e virtudes a serem ressaltados, os autores destas obras personificavam estas qualidades e defeitos em antigos magistrados e governantes.

Dion Cássio nos refere algumas passagens da relação entre o Senado e o Imperador Adriano, nas quais, o Imperador negociou ajuda econômica para as conquistas e trocou favores com estes por meio da nomeação de cônsules, além disso, Adriano foi responsável por uma das maiores reformas executadas no prédio do Panteão, prédio este no qual se reuniram imagens de deuses vindos de várias províncias romanas; províncias das quais advinham vários senadores. Adriano também promoveu várias festas ao longo de seu governo, nas quais se cercava de senadores. Ações estas que reforçam a tese de Le Glay, Voisin e Le Bohec que apresentam o Imperador como um bom estrategista, um legislador importante e um administrador competente e que possuiu uma relação regular com o senado pela demonstração de vantagens para ambos os lados (LE GLAY, et alii, 1991: 300-307)

Adriano possui um gosto especial pela Grécia e, diante das suas riquezas artísticas a classificou de "terras dos mistérios" (DIO 69:445). Durante sua vida estudou a cultura grega e quando foi Imperador concedeu benefícios inúmeros à região, tais como construções públicas, recursos econômicos e até a fundação de cidades em sua homenagem. Vale ressaltar ainda que beneficiou ainda mais a região de nascimento de Antíno, seu favorito.

Inferimos ainda que na obra de Dion Cássio, a imagem construída do Imperador Adriano apresenta-se de forma positiva, ou seja, mesmo com uma mescla de características positivas e negativas, os pontos favoráveis às suas ações são superiores. Segundo Millar (1964: 27-43), esta imagem de Adriano, apresentada por Dion Cássio, pode estar direcionada a concretos interesses próprios, pois sendo ele de uma cidade (Nicéia) que recebera benfeitorias de Adriano, seria natural a transposição de uma imagem positiva. Contudo, as representações da vida de Adriano não deixam de ser complexas já que apresentem controvérsias com diversos setores, como no interior do próprio Senado. Vale salientar que a Historia Romana é uma obra escrita no III século que se refere a um Imperador que governou um século antes.

Infelizmente Dion Cássio não nos informou quais fontes foram por ele utilizadas para escrever sobre imperadores cujo governo ele não vivenciou. Portanto, o que este autor nos fornece é uma releitura bastante pessoal da imagem de Adriano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FONTES DOCUMENTAIS

DION CASSIUS. Roman History. English translation by Eamest Cary. London: Harvard University Press, 1995. v. 8.

OBRAS GERAIS

ALFÖLDY, Géza. A História Social de Roma. Lisboa: Presença, 1989.

BALANDIER, Gaston. Antropologia Política. São Paulo: Difel, 1969

BACZKO, Bronslaw. "A imaginação social". In: Enciclopédia Einaudi. Porto: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda,1985.

GRANT,Michael. Gli Imperatori Romani. Roma: Newton Compton, 1993

LE GALL, Joël; LE GLAY, Marcel. L’Empire Romain. Paris: Press Universitaires de France, s/d. v.02.

_____________; VOISIN, Jean – Louis; LE BOHEC, Yann. Histoire Romaine. Paris: Press Universitaires de France, 1991.

MILLAR, Fergus. A study of Cassius Dio. Londres: Oxford at the Clarendon Press, 1964.

PETIT, Paul. Histoire Générale de l’Empire Roman. Paris: Seuil, 1974. v. 2 e 3.

SWAIN, Tânia Navarro (org). História no Plural. Brasília: Ed. Unb, 1994.

WALBANK, F. W. El Veranillo de los Antoninos (pp. 33 – 55); Tendencias en el Imperio del Siglo II d. De J. C. (pp. 57 – 77). In: La pavorosa revolución: La decadencia del Imperio Romano en Occidente. Madrid: Alianza Editorial, 1981.

ZANKER, P. Augusto e il Potere delle Immagimi. Torino: Giulio Einaudi, 1989.