Vendedores ambulantes: causas, dinâmica e conflitos do comércio informal no espaço público do centro de Goiânia
LEITE, A. T. B.
FCHF – Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia
ikatereza@uol.com.br
cleao@fchf.ufg.br
Resumo
O objetivo desta investigação é identificar as variáveis que caracterizam as atividades informais do centro de Goiânia. A técnica sistemática de coleta de informações utilizada foi o questionário, sendo que a pesquisa empregou uma amostra de 203 questionários aplicados entre os camelôs que atuam nas áreas centrais de Goiânia. Utilizou-se a técnica estatística de Análise Fatorial, através de uma análise de "componentes principais". A partir do uso desta técnica, pretende-se testar a hipótese de existência de alguns fatores causais que determinam, entre as variáveis observadas, o motivo de ingresso na informalidade. Os resultados da análise fatorial parecem indicar que os fatores que explicam o fenômeno estão relacionados à migração de trabalhadores desempregados do interior para Goiânia, ao tempo de permanência do camelô na atividade, à proteção de que o camelô dispõe no que se refere aos direitos trabalhistas, entre outros. Constata-se que o desemprego levou os trabalhadores a exercerem atividades informais no centro de Goiânia.
Palavras-chave: desemprego, análise fatorial e trabalho informal.
Singer (2003) sustenta que a crescente "informalização" se refere a uma tendência mundial e é resultado do processo de abertura das economias nacionais à competição internacional e das mudanças que a informatização trouxe para o mundo do trabalho. Com isso, o emprego formal no Brasil começou a diminuir enquanto o emprego informal e o trabalho autônomo aceleraram o ritmo de seu crescimento.
Com a precarização do trabalho, os trabalhadores, que eram assalariados e trabalhavam em tempo integral, passaram a ser engajados como autônomos, avulsos, trabalhadores em tempo parcial ou por tempo limitado ou sua ocupação foi eliminada pelos progressos da informática (Singer, 2003).
Em razão disso, o trabalhador é obrigado a descobrir novas alternativas de ocupação, criando novas formas de inserção no mercado de trabalho. Assim, o setor informal apresenta-se como um campo de trabalho alternativo às pessoas que não possuem "condições de empregabilidade" (Guimarães, 2002).
No universo do setor informal, o enfoque dado por esta pesquisa é acerca da comercialização de rua. Nesta esfera, a principal questão que se coloca para esta pesquisa é entender quais são as causas da inserção de trabalhadores no comércio de rua do centro de Goiânia. Uma das hipóteses desta investigação é que os trabalhadores se inserem na atividade informal do centro de Goiânia em razão do desemprego.
Esta pesquisa busca, portanto, caracterizar as atividades informais do centro de Goiânia e, a partir daí, conhecer quem são os camelôs que atuam no comércio de rua desta região.
Os dados sobre os indicadores da ocorrência do trabalho informal no centro de Goiânia foram coletados a partir da aplicação de 203 questionários entre os 1065 vendedores ambulantes registrados na SEDEM (Secretaria de Desenvolvimento Municipal) no ano de 2003.
A análise fatorial foi empregada neste estudo a fim de obter os fatores envolvidos no processo de decisão de inserção no comércio informal goianiense. Trata-se de uma técnica multivariada que serve para reduzir a complexidade de variáveis a uma maior simplicidade (Kerlinger, 1980).
A análise fatorial foi elaborada em 4 etapas, sendo que a primeira etapa busca determinar a matriz de correlações entre todas as variáveis e a segunda etapa procura extrair os fatores mais significativos para representar os dados. Já a terceira etapa refere-se à rotação dos "componentes principais" e busca encontrar uma estrutura simples de associação entre os fatores e as variáveis, enquanto a quarta etapa limita-se à geração dos escores fatoriais, que são os coeficientes de correlação.
A Correlação Linear Simples foi utilizada para operacionalizar a pesquisa, pois verifica a existência e o grau da relação existente entre variáveis aleatórias, examinando se o grau de correlação entre variáveis é fraco, forte e nulo. Assim, a análise fatorial é empregada como referencial empírico nesta pesquisa para agrupar as variáveis que têm um alto coeficiente de correlação, a fim de determinar as relações entre as diversas variâncias compartilhadas (Kerlinger, 1980).
As variáveis fornecidas pelo questionário nos dão algumas informações que permitem a caracterização das atividades informais desta região.
A partir do resultado final de uma análise fatorial, pode-se tentar deduzir qual é a natureza dos 11 fatores que foram extraídos pelo método dos "componentes principais" e que conseguem explicar cerca de 67% da variabilidade dos dados. Sendo assim, pretende-se interpretar o significado de cada um dos fatores comuns. Como os fatores – originários da análise fatorial – possibilitam a análise dos dados agrupados, pode-se definir o fator através das correlações com as variáveis.
Nestas condições, os fatores que apresentam maior peso explicativo do fenômeno do ingresso na informalidade estão mais fortemente correlacionados às variáveis que remetem à posse de terras no interior, ao último emprego no interior, ao tempo de residência no interior, ao motivo que levou o trabalhador a migrar do interior, ao tempo de residência em Goiânia, ao número de pessoas que trabalham na família, entre outras.
Conclui-se que os principais fatores que caracterizam as atividades informais dos camelôs que atuam no centro de Goiânia referem-se à migração da força de trabalho do pequeno proprietário de terras do interior para Goiânia; ao tempo de exercício no comércio de rua do centro de Goiânia; à composição familiar do camelô; a relação entre homem e principal fonte de renda; à relação entre a quantidade de pessoas e o trabalho e à segurança financeira do camelô.
O principal fator explicativo do fenômeno é formado por variáveis relacionadas ao desemprego, o que implica dizer que os camelôs que estão inseridos no centro de Goiânia são ex-desempregados, sejam eles provenientes de Goiânia ou do interior.
Para estes trabalhadores, que estão afastados do acesso ao trabalho por terem baixa escolaridade e apresentarem uma idade avançada para os parâmetros de eficiência das empresas formais, o comércio de rua é considerado uma ocupação que lhes garante o sustento e lhes retira da condição de desempregados.
Fonte de financiamento: CNPq