Universidade Federal de Goiás
Instituto de Física
Laboratório de Ressonância Magnética
Orientando: Daniel Matias da Silva Santos
daniel@fisica.grad.ufg.brOrientador: Fernando Pelegrini
pelegrin@fis.ufg.brEstudo por Ressonância Paramagnética
Eletrônica de Cerâmicas de Xisto e Xisto/Argila
Introdução
Este trabalho tem por finalidade investigar a possibilidade do uso do xisto da região de Portelândia - Goiás, puro e associado a outros materiais, como matéria prima para produção de cerâmicas, avaliando os efeitos de compactação e tratamentos térmicos. Através da experiência de Ressonância Paramagnética Eletrônica determinamos as modificações dos espectros do querogênio o dos metais de transição (Fe3+, Mn2+) presentes na amostra, avaliando os efeitos de transformações físicas e químicas produzidas por tratamento térmico.
O interesse inicial pelo aproveitamento dos rejeitos do processamento do xisto deu origem, a partir da década de oitenta, às atuais linhas de pesquisa em materiais cerâmicos.
Palavras Chave: Xisto, Cerâmica, RPE.
Materiais e Métodos
Em uma experiência de Ressonância Paramagnética Eletrônica, a amostra em estudo é exposta em uma cavidade especial, a um fluxo contínuo de radiação eletromagnética de alta frequência, a faixa de micro-ondas, sob ação de um campo magnético intenso e estático, gerado por um eletromagneto, e um campo fraco de modulação, gerado por bobinas de Helmholtz.
A propriedade fundamental de um elétron é seu momento angular intrínseco S, denominado spin. O momento magnético de um elétron é dado por:
µe = -gβS |
(1) |
onde g é uma constante conhecida como fator de Landé, β é o magneton de Bohr, e S é o spin eletrônico.
Se aplicarmos um campo magnético estático sobre o sistema, a energia de interação entre o campo e o momento magnético eletrônico será dada por:
H = - µe.H |
(2) |
Substituindo a equação (1) em (2) e tomando a direção do campo externo aplicado H na direção do eixo z, obtemos:
H = gβHSz |
(3) |
onde Sz é a componente do spin eletrônico na direção do campo magnético aplicado.
Como Sz = ± ½ para o elétron teremos duas orientações permitidas para o spin, chamadas de "paralela" ou de "antiparalela" ao campo magnético H.
Temos então dois valores possíveis para a energia:
H = ± (½)gβH |
(4) |
conhecida por energia Zeeman.
Para induzir transições entre estes dois estados de spin deve ser cedida ao sistema uma energia de valor igual a Δ
E = gβH (diferenηa entre os níveis de energia). Se for aplicado sobre o sistema um campo magnético oscilante de freqüência ν pode-se obter a energia necessária para a transição. Neste caso a energia do fóton hν deve corresponder a energia necessária para a transição, isto é,
h ν = gβH |
(5) |
A ressonância é caracterizada apenas por dois parâmetros, seu valor de g, calculado com a relação (5) e a forma da linha. Através destes parâmetros podemos reconhecer a presença de certas espécies químicas presentes nas amostras analisadas.
No caso geral, a energia total do sistema é diferente da equação (2) sendo acrescentados termos referentes a outras interações. Uma interação importante é a interação entre o spin eletrônico e o spin nuclear chamada de interação hiperfina.
Resultados e discussão
Foram preparadas amostras finamente pulverizadas e compactadas a alta pressão, na forma de pastilhas, de xisto puro e misturado com diferentes materiais, na proporção de 1:1. Com o objetivo de verificar possíveis alterações no espectro de RPE das amostras, realizamos experimentos com as amostras tratadas termicamente a diferentes temperaturas. Essas amostras estão relacionadas na tabela 1.
Tabela 1- Características das amostras. As amostras foram preparadas na
proporção de um para um.
Amostra |
Constituição |
Dimensão dos Grãos ( μm) |
Tratamento Térmico |
1 |
Xisto Puro |
70 < d < 120 |
Sem Aquecimento |
2 |
Xisto Puro |
70 < d < 120 |
500º C por 1 hora |
3 |
Xisto + Argila |
D < 70 |
500º C por 1 hora |
4 |
Xisto + Níquel Oxidado |
70 < d < 120 |
500º C por 1 hora |
5 |
Xisto + Níquel Silicatado |
70 < d < 120 |
500º C por 1 hora |
6 |
Xisto Puro |
70 < d < 120 |
800º C por 2 horas |
7 |
Xisto + Argila |
D < 70 |
800º C por 2 horas |
8 |
Xisto + Níquel Oxidado |
70 < d < 120 |
800º C por 2 horas |
9 |
Xisto + Níquel Silicatado |
70 < d < 120 |
800º C por 2 horas |
Comparando os espectros das amostras 1, 2 e 6 observamos uma redução considerável da intensidade do sinal do querogênio devido ao tratamento térmico. Isto ocorre porque a elevação de temperatura promove o rompimento das ligações heteroatômicas das moléculas de querogênio, e os heteroátomos são parcialmente liberados, especialmente o oxigênio na forma de CO2 e H2O.
Os espectros das amostras com argila não apresentaram diferenças significativas se comparadas com as amostras de xisto puro aquecido. O sinal do sextupleto hiperfino do Mn2+ não aparece nas amostras 4, 8 e 9, o que evidencia a ocorrência de processos de recombinação química ativados pelo tratamento térmico. Já na amostra 5 ainda ocorre a presença deste sinal, o que nos mostra que o processo de recombinação química é acelerado com o aumento da temperatura, visto que na amostra 9 a temperatura e o período de aquecimento foram superiores.Conclusão
De acordo com o que foi proposto neste plano de trabalho de iniciação científica, que é a caracterização por RPE de cerâmicas de xisto puro e de misturas de xisto com outros materiais, os objetivos iniciais foram alcançados.
Não podemos concluir, entretanto, que o xisto da região de Portelândia é uma matéria prima viável para a fabricação de cerâmicas, visto que ainda não foram realizados estudos sobre a estrutura e dureza das amostras. Esses estudos, bem como as investigações sobre a contribuição dos diversos materiais para o processo de sinterização, serão realizados posteriormente.
Finalizando, constatamos que a técnica de Ressonância Paramagnética Eletrônica se constitui num bom método experimental para a verificação de propriedades paramagnéticas de qualquer material.
Referências Bibliográficas