Atividade Fungitóxica de Extratos de Ocimum gratissimum.
Produtos Naturais Isolados e Derivados
Sintéticos sobre Paracoccidioides
brasiliensis
SALES, W. S.; LEMOS, J.
A.; PAULA, J. R.;SILVA, M. R. R.
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública –
UFG
werther@doctor.com
rosario@iptsp.ufg.br
O aumento na incidência de infecções fúngicas tem
sido motivo de preocupação. Doenças, como a paracoccidioidomicose, são
geralmente silenciosas e de diagnóstico tardio, dificultando seu tratamento e
prognóstico . Pelos diversos efeitos colaterais dos antifúngicos atuais,
a resistência dos fungos aos mesmos e seu alto custo, terapias alternativas,
como plantas medicinais, vêm sendo utilizadas pela população. Tem-se estudado
os princípios antimicrobianos e
antifúngicos destas plantas. Ocimum
gratissimum (alfavaca-cravo) foi objeto deste estudo, por apresentar
propriedades antimicrobianas. Verificou-se, por teste de suscetibilidade de
diluição em ágar, a inibição do crescimento de células leveduriformes e da
transição da fase filamentosa para leveduriforme no P. brasiliensis pelo óleo essencial desta planta e seu principal
constituinte, o eugenol. Verificou-se
o comportamento de dois isolados de P.
brasiliensis através de curva de crescimento adicionando-se ao meio de
cultura concentrações de 500 e 250µg/mL de eugenol e/ou óleo essencial. A
diferença da curva de crescimento de P.
brasiliensis sobre o controle
mostrou-se significativa (teste t ,p <
0,05) no 11° e 13° dias para P.
brasiliensis 1578 sob eugenol em concentração de 500µg/mL. Verificou-se que
compostos de O. gratissimum, como o
eugenol, apresentam atividade
inibitória in vitro para P. brasiliensis.
Palavras-chave:
Paracoccidioidomicose; Ocimum
gratissimum.
O Ocimum gratissimum, conhecido como alfavaca, é uma das plantas mais
utilizadas popularmente. A alfavaca, segundo FARIAS et al, 1994, possui ação contra alguns
fungos como Aspergillus sp, dermatófitos e Trichoderma
sp e bactérias como Staphylococcus sp. Há indicações de que a atividade de
O. gratissimum
deve-se principalmente ao Eugenol, principal
constituinte desta planta. Vários experimentos têm mostrado que a atividade
biológica é maior quando a planta é coletada ao meio dia, pois o Eugenol apresenta-se em maior concentração neste horário
(SILVA et al, 1999).
O Paracoccidioides brasiliensis causa a paracoccidioidomicose, uma infecção com elevado
número de casos registrados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil
(LACAZ, 1994, Restrepo 2000, Coutinho et al. 2002), e a micose sistêmica mais comum em indivíduos
imunocompetentes.
Paracoccidioides brasiliensis é encontrado, na natureza sob a forma miceliana
(> 25ºC) e no hospedeiro como levedura (35-37ºC) (Franco et al. 2000). O
processo de dimorfismo também ocorre in
vivo. Quando a doença se manifesta no hospedeiro, ocorre a maioria das
vezes pela inalação do fungo na fase miceliana o qual se transforma
gradualmente na forma leveduriforme.
Diante do exposto, constata-se que a paracoccidioidomicose
assume um papel relevante no contexto de nossa saúde pública, levando-se em
conta, entre outros, os fatores geográficos. Assim, o uso de plantas medicinais pode representar um recurso
terapêutico alternativo barato para o tratamento de doenças fúngicas de
importância em nossa região.
Nosso objetivo foi avaliar a atividade do óleo
essencial e do eugenol de O. gratissimum
no crescimento de células leveduriformes e
na transição do micélio para levedura em P. brasiliensis.
A planta, O. gratissimum
L., foi cultivada no Horto de Plantas Medicinais da Faculdade de
Farmácia/UFG, coletada volta das 11h da manhã e dessecadas à temperatura
ambiente. Por hidrodestilação, o óleo essencial foi
extraído das folhas frescas de O. gratissimum e acondicionados a – 10°C até utilização. O
eugenol, substância química, componente do óleo
essencial foi obtida comercialmente do laboratório Sigma Co. USA.
Foram utilizados nos testes de suscetibilidade, isolados de Paracoccidioides brasiliensis
( 01 e 1578), obtidos de pacientes que procuraram nosso laboratório. Foi preparado meio de caldo RPMI 1640,
tamponado com ácido morfolínopropanosulfônico (MOPS)
a pH 7,0 o qual foi distribuído em 11 tubos de ensaio, de tal modo que o 1º
contivesse 9 ml deste meio e
os demais 5 ml. Ao tubo numero 1
foi adicionado 100mg de cada um dos extratos de O. gratissimum (extrato bruto etanólico, fração hexânica, clorofórmica, acetato de etila,
óleo essencial e o eugenol), diluídos em 1ml de dimetilsulfóxido (DMSO).
Após homogeneização, foi transferido 5ml do 1o tubo para o
2º, e assim sucessivamente (diluição ao dobro) de tal modo que as concentrações
variaram de 10000 a 9,8 mg/ml,
Em seguida de cada tubo foi transferido 2ml da solução para uma placa de Petri na qual se acrescentou 18ml de ágar RPMI 1640,
fazendo-se uma perfeita homogeneização, de tal modo que as concentrações do
extrato ficaram diluídas 10 vezes obtendo-se, concentrações que variaram de
1000 a 0,9 µg/ml.
A avaliação de bioatividade de O. gratisssimum sobre Paracoccidioides brasiliensis
foi feita pela medida dos halos de crescimento (diâmetro da colônia, em mm),
por períodos de 15 dias, e comparados a uma placa controle, onde não havia
extrato da planta.
Foi observado que o eugenol e o óleo essencial de O. gratissimum possuem atividade de
inibição no desenvolvimento das colônias de P.
brasiliensis nas concentrações utilizadas de 500 e 250 µg/mL. Isso foi
verificado através de curva de crescimento obtida em diferentes dias. A
inibição de Pb 1578 e 01 pelo óleo essencial de O. gratissimum e por eugenol foi significativamente diferente
(p< 0.05) nas concentrações de 500µg/mLe 250µg/m, em relação ao controle
(sem adição de qualquer componente da planta [p< 0.05]).
A transição da forma filamentosa para leveduriforme
dos dois isolados de P. brasiliensis
sob a ação do eugenol nas concentrações de 500 e 250 mg/mL foi significantemente menor do que quando
comparada ao controle (sem adição da planta).
A ação do óleo essencial de O. gratissimum nas concentrações de 500 mg/mL e 250mg/mL não foi capaz de inibir significativamente (p
< 0,05) a transição da fase filamentosa para leveduriforme do P. brasiliensis 1578. A transição da
forma filamentosa para leveduriforme do isolado de P. brasiliensis 01 sob a ação do óleo essencial nas concentrações
de 500 e 250 mg/mL foi
significantemente menor do que quando comparada ao controle.
A obtenção de maior crescimento de P. brasiliensis do controle quando
comparado ao crescimento deste fungo adicionado de eugenol ou de óleo essencial
verficada pelas curvas de crescimento mostra a elevada atividade fungitóxica
destes componentes sobre este fungo. O comportamento de crescimento de P.
brasiliensis (01) sob a atividade do eugenol que foi menor a 250µg/mL do
que a 500µg/mL parece a princípio sem explicação. No entanto a análise da curva
de regressão mostrou que na concentração de 500µg/mL de eugenol sobre Pb 01
houve uma diferença significativa no 2º
dia de contato (ponto de intersepto) do fungo com este composto, o que pode ter
levado a morte um grande número de suas células, interferindo nos resultados
posteriores (inclinação).
A transição é considerada de elevada importância no
desencadeamento da doença. Propágulos do fungo na fase filamentosa penetram por
via inalatória sendo que a transformação para a fase leveduriforme ocorre
durante o estabelecimento inicial da infecção após o fungo ganhar acesso ao
hospedeiro através de sua porta de entrada, os pulmões. Portanto, a inibição de
transformação do fungo (Pb 01 e 1578) da fase miceliana para leveduriforme
obtida pelo óleo essencial e eugenol visualisada pelas curvas de crescimento
podem representar a base para futuros experimentos, na tentativa de busca de
novos fármacos.
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Fonte de Financiamento:
CNPq