N° DE CADASTRO NA PRPPG:
22000000157
TÍTULO: DETECÇÃO DE
CALICIVÍRUS EM AMOSTRAS FECAIS PROVENIENTES DE CRIANÇAS COM GASTROENTERITE
AGUDA DE BRASÍLIA/DF E CAMPO GRANDE/MS.
SILVA, V. B.; BORGES,
A. M. T.; CARDOSO, D. D. P.
LABORATÓRIO
DE VIROLOGIA, IPTSP/UFG, GOIÂNIA/GO.
viniciusbarreto11@yahoo.com.br,
divina@netgo.com.br
RESUMO:
Dentre os vários agentes relacionados com a etiologia das
gastroenterites virais os calicivirus têm sido descritos como importantes
patógenos, desencadeando vários sintomas e sendo grande preocupação quando
acometem crianças. Neste estudo foram analisadas 765 amostras fecais colhidas
de crianças menores de 5 anos de idade, residentes na região Centro – Oeste
(Brasília e Campo Grande), apresentando quadro de gastroenterite aguda. Para
detecção dos calicivírus, nas amostras fecais, foi realizado o procedimento de
RT-PCR seguido de analise em eletroforese em gel de agarose 2.0%. Das 765
amostras analisadas 36 foram positivas para calicivírus, sendo que das amostras
em que se conhecia o gênero 17 foram provenientes de crianças do sexo masculino
e 18 provenientes de crianças do sexo feminino (diferença não significativa).
Calicivírus foi identificado em crianças com até 36 meses de idade, com maior
percentual encontrado na faixa de 25 a 36 meses (estatisticamente não
significativo).
Palavras-chave: calicivírus, RT-PCR
INTRODUÇÃO:
Gastroenterite viral é uma das doenças mais comuns
que acomete a espécie humana, sendo relacionada com vários agentes, como:
rotavírus, adenovírus, astrovírus, coronavírus e calicivírus (Tiemessen et al., 1989; Wright et al.,
1998).
Os calicivírus humanos têm sido considerados como a
maior causa de gastroenterite aguda não bacteriana em pessoas de todas as
faixas etárias em diferentes partes do mundo.
Os
calicivírus pertencem à família Caliciviridae, baseado em suas
características genômicas. Esta família é composta por quatro gêneros: Norovirus,
Lagovirus, Sapovirus e Versivirus (ICTV, 2002). Apenas os gêneros Norovirus
e Sapovirus infectam os seres humanos.
A
ingestão de alimento e água contaminados é o veiculo mais comum de contaminação
deste agente, podendo ocorrer também através do contato pessoa-pessoa ou mesmo
por aerossóis produzidos durante o vômito (Caul, 1996).
Os
dados em relação a este agente são escassos na região Centro-Oeste, afirmação
esta especificamente verdadeira para Campo Grande e Brasília. O presente estudo
objetiva demonstrar a circulação de calicivírus humano em população infantil
(até 5 anos de idade), em duas cidades da referida região.
MATERIAL
E MÉTODOS
MATERIAL
DE ESTUDO:
O material de estudo consistiu de 765 amostras fecais
provenientes de crianças com quadro de gastroenterite aguda de duas cidades da
região Centro-Oeste do Brasil, sendo 416 amostras de Campo Grande/MS e 349
amostras de Brasília/DF.
METODOLOGIA:
a-Extração do
ssRNA viral: A
extração do ssRNA viral foi realizada a partir de suspensões fecais a 20%,
seguindo a metodologia descrita por Boom et al (1990) com modificações
(Cardoso et al, 2002).
b-Síntese do
cDNA: A
síntese do cDNA a partir do ssRNA viral, extraído das suspensões fecais, foi
realizada utilizando-se um iniciador randômico pd(N)6 (Amersham Pharmacia
Biotech, Inc.).
c-Reação em
cadeia pela polimerase pós-transcrição reversa: A RT-PCR foi realizada a partir dos produtos da
síntese do cDNA, utilizando-se dois pares de iniciadores específicos (E3/NI,
P289/P290), seguindo as metodologias descritas por Green et al (1995) e
Jiang et al (1999) com modificações (Cardoso et al, 2002).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO:
Tabela 2- Distribuição das amostras fecais positivas para calicívirus provenientes de crianças de Campo Grande e Brasília, com quadro de gastroenterite aguda, de acordo com o gênero.
Campo Grande/MS Brasília/DF Total N° % N° % N° % |
Masculino 15/238 6.3 2/185 1.1 17/423 4.0 Feminino 15/175 8.5 3/159 1.9 18/334 5.4 |
Total 30/413 7.2 5/344 1.4 35/757 4.6 |
Dos pacientes provenientes
de Brasíla/DF, 5 (1.43%) não foram obtidas as informações sobre o gênero, destas
5 amostras 1 foi positiva para calicivírus. Dos pacientes de Campo Grande, 3
(0.72%) não foram obtidos a informação sobre o gênero, destas 3 amostras
nenhuma apresentou resultado positivo.
Tabela 3- Distribuição de amostras fecais positivas para calicivírus provenientes de crianças de Campo Grande/MS e Brasília/DF, com quadro de gastroenterite aguda, de acordo com a faixa etária.
Campo Grande/MS Brasília/DF Total N° % N° % N° % |
< 7 meses 10/125 8.0 1/96
1.0 11/221 5.0 7-12 meses 10/158 6.3
1/109 0.9 11/267 4.1 13-24
meses 8/110 7.2 1/90
1.1 9/200 4.5 25-36
meses 1/9 11.1
2/28 7.1 3/37 8.1 > 36 meses 0/3 --- 0/19 --- 0/22 --- |
Total 29/405 7.1 5/342 1.4 34/747 4.5 |
Dos pacientes provenientes
de Brasília/DF, 7 (2.01%) não foram obtidas as informações sobre a faixa
etária, destas 7 amostras 1 foi positiva para calicivírus. Dos pacientes
provenientes de Campo Grande, 11 (2.64%) não foram obtidas as informações sobre
a faixa etária, destas 11 amostras 1 foi positiva para calicivírus.
A
incidência dos calicivírus no mundo é pouco conhecida. Estudos têm sido feito
em regiões dos Estados Unidos e Europa, porém, estes são realizados
principalmente para Norovírus, sendo a prevalência dos calicivírus humanos,
subestimada na população. Observou-se um percentual total de positividade para
calicivírus humanos de 4,7% (36/765). O percentual de positividade em relação
ao local de coleta das amostras mostrou-se variado. Brasília apresentou um
percentual bem inferior (1,7%) em relação a cidade de Campo Grande (7,2%). Este estudo é semelhante a dados obtidos
de outros locais, que mostram percentuais variáveis de acordo com o local de
coleta das amostras.
CONCLUSÕES:
Foi observado um percentual de 4,7% de positividade para calicivírus humanos em amostras fecais provenientes de crianças (até 5 anos de idade com quadro de gastroenterite aguda) de duas cidades da região Centro-Oeste.
O percentual de positividade em relação ao local de coleta das amostras mostrou-se variado. Brasília apresentou um percentual bem inferior (1,7%) em relação à cidade de Campo Grande (7,2%), sendo estatisticamente significativo. Estes resultados foram semelhantes a dados obtidos de outros estudos, que mostram percentuais variáveis de positividade de acordo com o local de coleta das amostras.
Não foi observada diferença estatística significativa de positividade para calicivírus em relação ao gênero das crianças.
A análise de
positividade para calicivírus em relação à faixa etária não mostrou diferença
estatística significativa, embora as crianças que
apresentaram maior índice de infecção tinham entre 25 a 36 meses de idade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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FONTE DE FINANCIAMENTO: CNPq