UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA

DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

 

 

 

 

RELATÓRIO FINAL DE BOLSISTA PIBIC

 

 

 

TÍTULO DO PROJETO

 

Desenvolvimento e avaliação de técnicas em biologia molecular aplicadas ao diagnóstico de enfermidades de animais de interesse econômico na região Centro-Oeste (Processo Nº 520779/99-1).

 

 

 

TÍTULO DO SUBPROJETO:

 

Ensaios de PCR para a detecção espécie-específica de Brucella abortus.

 

 

 

 

 

 

 

 

Coordenador: Prof. Dr. Guido Fontgalland C. Linhares.

Bolsista PIVIC: Sávia Calline Carneiro Santos

Email: saviacalline@bol.com.br

 

 

 

 

 

GOIÂNIA

2004

 

Resumo

 

A brucelose é uma enfermidade infecto-contagiosa, transmissível de animal para animal e desses para o homem. A enfermidade resulta em custos diretos ou indiretos para as propriedades rurais e para a indústria animal, tais como: condenação de leite e carne; redução no preço da carne, do leite e derivados; desvalorização para o mercado externo; altos custos com programas de controle, erradicação e pesquisas, além de perdas de animais por infertilidade e por descartes. Entre os métodos de diagnóstico direto, uma das grandes vantagens da técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) sobre os métodos convencionais, está na rapidez e na simplicidade do método. A técnica é ainda extremamente sensível, podendo detectar uma simples molécula de DNA em uma amostra. Desta forma, este trabalho teve como objetivo avaliar ensaios de PCR para o diagnóstico de Brucella abortus e comparar a sensibilidade e especificidade de diferentes protocolos e primers.

 

 

 

 

 INTRODUÇÃO

 

 

Ocorrendo endemicamente em todo o território nacional, a brucelose bovina pode ser diagnosticada em qualquer rebanho, independentemente do sistema de criação e exploração econômica. Além dos prejuízos que a brucelose provoca na própria economia pecuária, seja na queda na produção de leite, seja através da perda de carnes, comprometendo seriamente a produção do rebanho nacional, deve-se ressaltar a queda da produtividade, traduzida pelo aumento significativo do número de vacas estéreis e conseqüente declínio da taxa de natalidade (Boletim de Defesa Sanitária Animal, 1998).

 

Para os programas de controle e erradicação da brucelose, a sorologia para brucelose é o método mais utilizado para o diagnóstico, que é feito a partir de amostras de soro ou plasma sangüíneos (Gonzáles Tomé, 1993; Vanzini, 1995; Bercovich, 1998). O problema verificado com o método sorológico é o grande número de reações cruzadas com outros microganismos Gram-negativos, especialmente com várias espécies dos gêneros Yersinia e Salmonella, assim como Escherichia coli (Gallien et al., 1998).

 

Em face ao exposto, justifica-se plenamente o emprego e desenvolvimento de estudos que visem a viabilização do uso de métodos alternativos avançados, não convencionais, no diagnóstico e no estudo epidemiológico das enfermidades que acometem os animais de interesse econômico da região.

 

Gallien et al. (1998) demonstraram ser o PCR uma técnica mais sensível do que os métodos convencionais de bacteriologia utilizados no diagnóstico de Brucella spp. Sendo assim, optou-se pelo uso da técnica para tornar o diagnóstico direto mais sensível e seguro.

 

 

 

 

1.      OBJETIVOS

 

Os principais objetivos do trabalho foram avaliar:

·          ensaios de reação em cadeia da polimerase (PCR) para o diagnóstico de Brucella abortus, a partir de informações publicadas;

·                           novas seqüências de oligonucleotídeos para a execução da técnica de PCR para Brucella abortus;

·                           a sensibilidade da reação de PCR, empregando-se diferentes combinações de primers, protocolos e programas para o termociclador.

 

 

 


2.      MATERIAL E MÉTODOS

 

2.1. AVALIAÇÃO DE ENSAIOS DE PCR A PARTIR DE PROTOCOLOS E PRIMERS PUBLICADOS NA LITERATURA CIENTÍFICA.

 

Na avaliação da técnica do PCR para o diagnóstico de Brucella abortus, foram testados dois diferentes protocolos e seqüências de pares de nucleotídeos sintéticos (primers), a partir de informações publicadas na literatura científica (Romero et al., 1995; Sreevatsan et al., 2000).

O par de primers F4/R2, de Romero et al. (1995), foram construídos, originalmente, para amplificar um fragmento de 905 pares de base (pb) do gene 16S rRNA de Brucella spp., enquanto que o par Bruce1/Bruce2, de Sreevatsan et al. (2000) foram desenhados para se obter um amplicon 311pb do gene de uma proteína de 31 kDa de Brucella abortus (Quadro 1).

 

 

 

Quadro 1. Seqüências e especificidade dos primers, conforme relatado pelos respectivos autores.

PRIMERS

ORIGEM

SEQÜÊNCIAS

ESPECIFICIDADE

F4 (forward)

Romero et al., 1995

5´-tcg agc gcc gcg aag ggg-3´

Brucella spp.

R2 (reverse)

Romero et al., 1995

5´-aac cat agt gtc tcc act aa-3´

Brucella spp.

Bruce1 (forward)

Sreevatsan et al., 2000

5´-acg cag tca gac gtt gcc tat-3´

Brucella abortus

Burce2 (reverse)

Sreevatsan et al., 2000

5´-tcc agc gca cca tct ttc agc ctc-3´

Brucella abortus

 

 

         As concentrações dos reagentes para o preparo do mix de reação de PCR, assim como o emprego dos pares de primers e programação dos ciclos de temperatura (desnaturação, anelamento e extensão) foram feitas em consonância com as informações descritas pelos respectivos autores.

 

 

2.2. AVALIAÇÃO DE ENSAIOS DE PCR A PARTIR DE PROTOCOLO E PRIMERS NOVOS.

 

Com o objetivo de buscar um melhor equilíbrio entre a temperatura de anelamento do primer Bruce1 com a do primer Bruce2, foram efetuadas modificações na extremidade 5´ e 3´ destes, ou seja, do primer Bruce1 foi excluída a base nitrogenada “T” da extremidade 3´ e, do primer Bruce2, foram excluídas as bases “T” da extremidade 5´ e “CCTC” da extremidade 3´. Com esta modificação nas seqüências a temperatura de anelamento foi ajustada para 56 oC, de acordo com a metodologia descrita por Mullis et al. (1994) (Quadro 2).

 

Quadro 2. Seqüências dos primers Bruce1 e Bruce2 modificados.

 

PRIMERS

SEQÜÊNCIAS

TEMP. ANELAMENTO

Bruce1 modificado (forward)

 

5´-acg cag tca gac gtt gcc ta -3´

 

57 oC

Bruce2 modificado (forward)

 

5´-cca gcg cac cat ctt tca-3´

 

55 oC

 

 

O protocolo utilizado nesta fase para a execução da técnica do PCR foi estabelecidos através de adaptações dos procedimentos descritos por Innis et al. (1990). Portanto definiu-se os seguintes componentes e respectivas concentrações para a mistura da reação: 41,75ml de água ultrapura esterilizada; 5ml de tampão para PCR (PCR buffer 10x – 100mM Tris-HCl, pH 9, 15mM MgCl2 e 500mM KCl - Amersham Pharmacia Biotech); 1ml de dNTP 10mM (Amersham Pharmacia Biotech); 0,5ml (=10 pM) de cada primer; 0,25ml de Taq DNA Polimerase (5U/ml - Amersham Pharmacia Biotech); e 1ml (»0,35mg) da amostra do DNA genômico.

As extrações do DNA das amostras foram executadas de acordo com metodologia descrita por Kawasaki (1990).

Como controles para as reações de PCR e para a avaliação da especificidade dos primers foram utilizadas amostras de DNA genômico, extraídas de culturas puras e tipificadas (amostras de referência - ATCC), mantidas em meios de culturas específicos das seguintes espécies: Brucella abortus, B. suis, B ovis e B canis.

O controle negativo se constituiu de água ultrapura inoculada na mistura de reagentes (mix) da reação, nas mesmas concentrações utilizadas para as amostras inoculadas com DNA.

Os produtos obtidos pela amplificação de DNA, foram submetidos a eletroforese em gel de agarose a 1%, contendo 2% de brometo de etídio (0,4mg/ml) e, em seguida observados em transiluminador com luz ultravioleta em sala escura (Costa et al. 1996). Para a determinação do tamanho dos fragmentos amplificados, foi utilizado 1mg de marcador de peso molecular de 100pb. As amostras que foram testadas, assim como o marcador de peso molecular e os controles positivo e negativo foram previamente homogeinizados com solução corante (25% Ficoll 400,0,25% azul de bromofenol, 0,25% xileno cianol em 9 partes de glicerol) para melhor avaliação do tempo de corrida da eletroforese.

Os resultados de interesse, obtidos pela eletroforese, serão documentados através da fotografia com câmara polaroid. O material fotográfico será utilizado para publicações científicas e apresentação em reuniões científicas.

 

 


2.3. COMPARAÇÃO DA SENSIBILIDADE ENTRE OS ENSAIOS DE PCR

 

Com a finalidade de verificar, entre os diferentes protocolos estudados, qual apresentava maior sensibilidade para a detecção de fragmentos DNA de B. abortus, a amostra de DNA genômico, utilizada como referência para esta espécie, foi diluída em série de 1/10 a 1/10.000.000. As diluições foram todas submetidas à duas reações de PCR. A primeira empregando-se primers e protocolo descrito por Sreevatsan et al. (2000) e a outra com os primers modificados e protocolo adaptado, conforme descrito no item 2.2.

 

3.      RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

As reações de PCR empregando-se o protocolo e primers (F4 e R2) de Romero et al. (1995) foram efetivas para a amplificação do fragmento esperado de 905pb tanto a partir do DNA genômico de B. abortus, quanto de B. suis, B. canis e B. ovis, sendo portando caracterizado como um método de diagnóstico gênero-especifíco. Estes resultados estão de acordo com a informação dos autores, no artigo original.

Os resultados obtidos com o protocolo e primers (Bruce1 e Bruce2) de Sreevatsan et al. (2000) foram positivos para a amplificação do fragmento esperado de 311pb de B. abortus, no entanto as reações também amplificaram fragmentos de tamanho semelhante de B. suis, B. canis e B. ovis. Estes resultados diferem daqueles publicados pelos autores do artigo original, no qual apresentaram resultados apontando o ensaio como sendo espécie-específico para B. abortus.

O ensaio de PCR, realizado com os primers de Sreevatsan et al. (2000) modificados neste trabalho e designados de Bruce1 mod. e Bruce2 mod., apresentaram resultados semelhantes no aspecto de especificidade, amplificando fragmentos de DNA de B. abortus,  B. suis, B. canis e B. ovis. Portanto o método deve ser reconhecido como gênero-específico. Como desvantagem, com relação ao método original, foi observado amplificação de algumas bandas inespecíficas.

 

Modificações efetuadas nas seqüências dos primers Bruce1 e Bruce 2, selecionados originalmente por Sreevatsan et al. (2000), assim como nas condições de temperaturas empregadas nos ciclos e concentrações, proporcionaram um aumento na sensibilidade de detecção do DNA genômico de Brucella, na ordem de 10 vezes. A reação de PCR no primeiro caso foi positiva até a diluição de 1/100.000 enquanto que naquela empregando-se primers modificados e novo protocolo, o resultado foi positivo até a diluição de 1/1.000.000. A maior sensibilidade observada na segunda reação de PCR na qual foram utilizados os primers modificados, pode ser explicada pelo maior equilíbrio na e temperatura de anelamento entre os pares de primers, conforme Mullis et al. (1994).

 

 

4.      CONCLUSÕES

 

As reações de PCR empregando-se os pares de primers F4/r2 e Bruce1/Bruce2 e seus respectivos protocolos originais são efetivas para a amplificação gênero-específica de Brucella spp. (B. abortus, B. suis, B. canis e B. ovis).

O novo protocolo proposto neste estudo, empregando-se os pares de primers Bruce1 modificado e Bruce2 modificado apresentaram resultados superiores quanto à sensibilidade, no entanto promoveram reações menos específicas.

 

 

5.      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

1.      BERCOVICH, Z. Maintenance of Brucella abortus – free herds: A review whith emphasis on the epidemiology and the problems in diagnosisng brucellosis in areas of low prevalence. The Veterinary Quarterly. 20(3):81-88, 1998.

 

2.      BOLETIM DE DEFESA SANITÁRIA ANIMAL: BRASIL, Ministério da Agricultura, Secretaria de Defesa Agropecuária, Departamento de Defesa Animal. Brasília, D.F., v.27, n. 1-4, 112p., 1998.

 

3.      BRICKER, B. J.; HALLING, S. M. Differentiation of Brucella abortus bv. 1, 2, and 4, Brucella melitensis, Brucella ovis, and Brucella suis bv. 1 by PCR. J. Cl. Microbiol., 32(11):2660-2666. 1994.

 

4.      COSTA, M. da; GUILLOU, J.P.; GARIN-BASTUJI, B. et al.. Specificity of six gene sequences for the detection of the genus Brucella by DNA amplification. J. Appl. Bacteriol., 81:267-275, 1996.

 

5.      GALLIEN, P.; DORN, C; ALBAN, G. et al.. Detection of Brucella species in organs of naturally infected cattle by polymerase chain reaction. Vet. Rec., 142:512-514, 1998.

 

6.      GONZÁLES TOMÉ, J. S. Curso de Brucelosis Animal. Organização Mundial de Saúde, Goiânia, jun, 63p. 1993.

 

7.      INNIS, M.A.; GELFAND, D.H.; SNINSKY, J.J.; WHITE, T.J. PCR protocols – a guide to methods and applications. London: Academic Press, Inc., 460p., 1990.

 

8.      KAWASAKI, E.S. Sample preparation from blood, cells and other fluids. In: INNIS, M.A.; GELFAND, D.H.; SNINSKY, J.J.; WHITE, T.J. PCR protocols: a guide to methods and applications. Academic Press, New York, pp.147-152. 1990.

 

9.      LEAL-KLEVEZAS, D.S.; MARTÍNEZ-VÁZQUEZ, I.O.; LÓPEZ-MERINO, A.; MARÍNEZ-SORIANO, J.P. Single-step PCR for detection of Brucella spp. from blood and milk of infected animals. J. Cl. Microbiol., 33(12):3087-3090, 1995.

 

10.  OUAHRANI-BETTACHE, S.; SOUBRIER, M.P.; LIAUTARD, J.P. IS6501-anchored PCR for the detection and identification of Brucella species and strains. J. Appl. Bacteriol., 81: 2, 154-160, 1996.

 

11.  RIJPENS, N.P.; JANNES, G.; ASBROECK, M. et al.. Direct detection of Brucella spp. in raw milk by PCR and reverse hybridization with 16S-23S rRNA spacer probes. Appl. Env. Microbiol., 62:(5):1683-1688, 1996.

 

12.  ROMERO, C.; PARDO, M.; GRILLO, M.J. et al.. Evaluation of PCR and indirect enzyme-linked immunosorbent assay on milk samples for diagnosis of brucellosis in dairy cattle. J. Cl. Microbiol., 33(12):3198-3200, 1995.

 

13.  VANZINI, V. Las pruebas sorológicas utilizadas para el control de la brucelosis bovina In: INTA. Estrategias para el control de la brucelosis de los bovinos com énfasis en estabelecimentos com alta prevalencia. INTA- Estação experimental de agropecuaria. Rafaela. Out., 20p. 1995.

 

14.  VERGER, J.M.; GRAYON, M.; TIBOR, A. et al.. Differentiation of Brucella melitensis, B. ovis and B. suis biovar 2 strains by use of membrane protein- or cytoplasmic protein-specific gene probe. Res. Microbiol., 149:509-517, 1998.