Sara Fernandes Soares – Aluna Bolsista 2003 – 2004
N° cadastro PRPPG:
22000000233
UNIDADE
ACADÊMICA: ESCOLA DE VETERINÁRIA
E-MAIL: vetsara@brturbo.com.br
Avaliação da resistÊncia acaricida
em larvas de diferentes cepas de Rhipicephalus
sanguineus (Acari: Ixodidae) provenientes de Goiânia-GO
SOARES, S.F.1; CHAVES, V.V.1, SOUSA,
L.A.D. LOULY, C.C.B.2, BORGES, L.M.F3
1. Acadêmica de graduação do curso de Medicina
Veterinária (vetsara@brturbo.com.br)
2. Acadêmica de graduação do curso de Medicina
Veterinária (vvieirachaves@yahoo.com.br)
3. Acadêmica de graduação do curso de Medicina
Veterinária (lorenavet2@hotmail.com
2. Profa. Departamento de Medicina
Veterinária da EV/UFG (carlalouly@hotmail.com)
3. Profa Instituto de Patologia Tropical e
Saúde Pública (ligia@iptsp.ufg.br)
O Rhipicephalus sanguineus é um dos carrapatos mais
amplamente distribuído pelo mundo, cuja importância se deve aos danos diretos e
indiretos ocasionados ao cão. Considerando que a forma mais comum para controle
deste carrapato é o uso de acaricidas e que a resistência interfere diretamente
na eficácia dos produtos, a detecção desta pode determinar o sucesso ou não
deste controle. Neste trabalho foi determinada a dose letal a 99% dos
carrapaticidas, deltametrina, cipermetrina, coumaphos, amitraz e fipronil sobre
40 amostras de R. sanguineus
provenientes de Goiânia – GO. O teste de sanduíche foi feito, em duplicata, em
quatro diluições ao dobro a partir da comercial. As
cepas cujas DL 99 foram maiores do que a dose comercial foram consideradas
resistentes. A resistência foi mais prevalente para o coumaphos (85,18%),
deltametrina (65,78%) e cipermetrina (65,21%). Apenas 2 (5,26%) em 38 foram
resistentes para o amitraz. Foi observada associação entre o histórico do uso
de acaricidas e a presença de resistência.
Palavras Chaves: Rhipicephalus sanguineus, resistência,
cães, Goiânia.
O Rhipicephalus
sanguineus (Latrielle,
1806) é um dos carrapatos mais amplamente distribuído pelo mundo. È
extremamente adaptado ao meio de seu hospedeiro preferencial, o cão, sendo
responsável por danos diretos e indiretos como a transmissão de Ehrlichia canis, Babesia canis e Haemobartonella canis e Hepatozoon canis (Woldehiwet &
Ristic, 1993). O controle deste carrapato envolve a utilização de produtos
químicos, porém o uso constante e incorreto destes pode ocasionar o
aparecimento de cepas resistentes. Vários autores têm determinado a presença de
resistência ou alteração de sensibilidade em amostras de R. sanguineus de diferentes regiões (Fernandes, 2000, Miller et al., 2001 e Bicalho et al. 2001). Considerando que a
detecção da resistência pode determinar o sucesso do controle deste carrapato,
o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia de alguns carrapaticidas sobre
amostras de larvas de R. sanguineus provenientes
de Goiânia-GO através da comparação das doses letais a 99% da amostra em teste com aquela recomendada pelo fabricante.
Fêmeas ingurgitadas de R.
sanguineus foram colhidas em cães, incubadas em estufa (T = 27°C e UR >
80%) por 15 dias, para a postura. Em seguida, os ovos foram colhidos e
incubados em seringas plásticas, até a eclosão. Larvas de 7 a 21 dias de idade
foram testadas de acordo com a técnica do “sanduíche” (Shaw, 1966). As larvas
foram imersas nas diluições recomendadas pelo fabricante de deltametrina (25
ppm), amitraz (250 ppm), coumaphós (500 ppm), cipermetrina (150 ppm) e mais
três seriadas ao dobro. Foram contadas as larvas vivas e mortas de cada
tratamento e calculado o percentual de mortalidade. Nos casos em que a
mortalidade do grupo controle foi maior que 5%, a mortalidade nos grupos
tratados foi corrigida pela forma de Abbott. Cálculos das doses letais 99%
foram feitos através do programa de análise do probito. As cepas cujas DL99 foram
maiores do que a dose recomendada pelo fabricante foram consideradas
resistentes.
Das 28 cepas testadas frente ao coumaphos 23 (85,18%) foram
resistentes, 25 (67,5%) em 38 foram resistentes para a deltametrina e 15
(65,21%) em 23 foram resistentes para cipermetrina. Apenas duas (5,26 %) cepas
em 38 testadas apresentaram resistência para o amitraz. Houve resistência mista
em 55% das cepas, sendo mais prevalente para deltametrina e coumaphos. Estes
resultados são diferentes daqueles obtidos por Bicalho et al. (2001) em Belo Horizonte que obtiveram 100% de mortalidade
de larvas de R. sanguineus nas mesmas
bases químicas testadas no presente trabalho, mas semelhantes aos obtidos por
Fernandes (2000). A presença de resistência em larvas de R. sanguineus parece estar relacionada aos tratamento acaricidas
realizados, pois das cepas com
histórico de uso carrapaticida no hospedeiro e no meio ambiente 91,66%
apresentaram resistência a algum produto e apenas 61,53% das cepas onde não era
realizado nenhum tipo de tratamento acaricida apresentaram algum tipo de
resistência. Estes achados são facilmente explicados, pois o uso freqüente de
acaricidas é uma das principais causas do aparecimento de cepas resistentes
(Shaw, 1966). A resistência foi mais prevalente para a deltametrina e coumaphos do que para a
cipermetrina e amitraz. Estes resultados podem estar associados com o histórico
de uso destes produtos bem como com o tipo de gene envolvido na resistência. Em
muitos insetos a resistência a inseticidas piretróides é devida à redução no
alvo de ação do produto, isto é nos canais de sódio do sistema nervoso, um fenômeno
chamado resistência KDr (Knockdown resistance). (Wang
et al. 2002). O fato que muitas cepas resistentes
para deltametrina não o foram para a cipermetrina parece evidenciar que
dois mecanismos distintos para resistência a
piretróides atuam em R. sanguineus do
município de Goiânia –GO. Estes resultados estão de acordo com o observado por
Miller et al. (2001) que verificaram que R.
sanguineus do Panamá tinha resistência do tipo KDr e outro caracterizada
pelo aumento da atividade da esterase
Cepas de R. sanguineus do município de Goiânia-GO
apresentam resistência aos acaricidas deltametrina, coumaphos, cipermetrina e
amitraz, sendo maior a prevalência para a deltametrina e coumaphos, e menor
para o amitraz. A resistência está relacionada com a origem da cepa e histórico
de combate ao ectoparasito nos cães.
Figura 1: Percentagem
de cepas de larvas de R. sanguineus
resistentes dentre as testadas para amitraz, cipermetrina, delatmetrina e
coumaphos.
BICALHO, K. A., FERREIRA, F., BORGES,
L.M.F, RIBEIRO, M.F.B. 2001. In vitro evaluation of the effects of some
acaricides on life stages of Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae). Arq.Bras. Med. Vet. Zootc., 53: 548-552.
FERNANDES, F.F. 2000. Atividade
in vitro de permetrina, cipermetrina
e deltametrina sobre larvas de Rhipicephalus
sanguineus (Latreille, 1806) (Acari, Ixodidae). Arq. Bras. Med. Vet.
Zootec. 52: 6 Belo Horizonte.
MILLER, R.J., GEORGE,J.E.,GERREIRO,F.,
CORPENTER,L., WELCH,J.B .2001. Characterization
of Acaricide Resistance in Rhipicephalus sanguineus (Latrille) (Acari:
Ixodidae) Collected from the Corozal Army Veterinary Quarantine Center, Panama. J. Med.
Entomol. 38(2): 293-302.
SHAW, R.D. 1966.
Culture of an organophosphorus resistant strain of Boophilus microplus (Can.). Bul. Entomol. Res., 56:389-404.
WANG,
R.W.; LIU, Z.Q.; DONG, K.; ELZEN, P.J.; PETTIS, F.; HUANG, Z.Y. Association of
novel mutations in a sodium channel gene with fluvalinate resistance in the
mite, Varroa destructor. Journal of Apicultural Research, v. 41,
p. 17-25, 2002.
WOLDEHIWET, Z.; RISTIC M.. Rickettsial and Chlamydial diseases of
domestic animals. New York. USA,
1993, p. 427.