Otimização de pães preparados com farinha de trigo, fécula de mandioca e okara

 

OLIVEIRA, W.M.; JÚNIOR SOARES, M.S.

Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos

will.m.o@pop.com.br e manoel@agro.ufg.br

Okara, fécula de mandioca, pão de forma, farinhas sucedâneas

 

Resumo

O pão de forma é um dos principais itens da cesta básica do brasileiro e tem uma importante posição dentro da sua alimentação. Parte do trigo consumido no país é importado e tem um custo alto para a nação. Portanto, torna-se necessário pesquisar alternativas para diminuição do custo do pão sem, no entanto, diminuir seu valor nutricional. Uma alternativa poderia ser a adição de fécula de mandioca e okara (resíduo do extrato protéico de soja) ao pão de forma. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi otimizar a qualidade do pão de forma, com o maior grau de substituição da farinha de trigo possível. Os resultados do teste de panificação mostraram que, pães feitos com 64,1% de farinha de trigo, 18,9% de okara e 17% de fécula de mandioca, são sensorialmente aceitáveis, apresentando uma durabilidade e aceitabilidade de até 96 horas, sendo assim, indicado para uma possível comercialização do produto.

 

1. Introdução

A produção brasileira de trigo em 2003 foi de aproximadamente 5,5 milhões de toneladas (IBGE, 2004), o que  foi  insuficiente para sua necessidade. Devido às oscilações da taxa de câmbio, e pelo fato do trigo ser cotado em dólares, o preço interno varia de acordo com o mercado internacional e o preço do pão acompanha esta tendência. Tornando-o de difícil acesso às populações de baixa renda. O balanço das contas externas do País, tem levado as autoridades e os pesquisadores a reconsiderarem a substituição parcial do trigo por outras farinhas na elaboração de produtos de panificação (Almeida et al., 1988).

O pão é um dos principais itens da cesta básica do brasileiro e tem uma importante posição dentro da sua alimentação. Em função do exposto, torna-se necessário pesquisar alternativas para diminuição do custo do pão sem, no entanto, diminuir seu valor nutricional.

 Uma das alternativas para solucionar o problema, poderia ser a substituição parcial da farinha de trigo por fécula de mandioca e resíduo do extrato protéico de soja (okara), o que poderia aliar, a redução da importação do trigo (mais caro), com o aumento de consumo da mandioca (mais acessível) e ao mesmo tempo o enriquecimento protéico com a adição de soja.

A fécula de mandioca é um produto com alto potencial para a indústria de alimentos, pois, além de ser produzida em abundância em todo o território nacional, possui um custo relativamente baixo em relação ao custo da farinha de trigo. Sua adição ao pão faz com que, a parte externa deste, não esfarele ao ser cortada, a pestana fica mais lisa e mais suave, internamente a massa fica mais alva e consistente, com menos espaço de ar, o que torna o pão mais saboroso. Além disso, no dia seguinte o pão ficará mais macio, sem endurecer ou “emborrachar” (Amorim, 2002).

O okara (resíduo do extrato protéico de soja) é um produto muito nutritivo, dado que seu teor protéico é de 25% em base seca (Coronel e Tobinaga, 2003).

O objetivo deste trabalho foi otimizar a qualidade do pão de forma produzido com diferentes proporções de farinha de trigo, fécula de mandioca e resíduo do extrato protéico de soja (okara).

 

2. Material e Métodos   

Utilizou-se farinha de trigo especial da marca “EMEGE”, fécula de mandioca tipo 1 da marca “Produtos Caipira”, margarina “Alliance Selection”, sal comum “Sisne”, melhorador “Padeiro pó”, fermento biológico fresco “Mauri”, açúcar cristal “Ecoçucar”, leite em pó “Gloria”, antimofo “Torres ao Panificador”, todos obtidos no mercado local e água potável. O okara foi  obtido pelo método descrito por Mandarino e Panizzi (1998).

A determinação dos teores de umidade, cinzas, proteínas, lipídios e carboidratos, da farinha de trigo, fécula de mandioca e okara, foram realizadas seguindo respectivamente os métodos 44-15, 08-01, 46–13, 30-26 da AACC (1983).

            Neste experimento, investigou-se como as propriedades do pão são afetadas pela variação dos ingredientes principais, utilizando o modelo central composto (MONTGOMERY, 1991), sendo X1 (% da farinha de trigo  / % fécula  de mandioca ) e X2 (% okara  / % de fécula de mandioca). Os níveis codificados variaram de -√2,    -1, 0, 1, +√2. Foram realizados 14 experimentos, com 6 repetições no ponto central para cálculo do erro experimental. As respostas avaliadas foram o volume específico pelo método de deslocamento de sementes de painço e gravimetria, as características externas e internas, aroma, gosto e a nota geral do pão através da avaliação de dois provadores com experiência em panificação. Os resultados foram analisados através da análise de variância e pelos gráficos de superfície de resposta (The SAS System, 1992). Foi realizada uma análise de aceitação do pão, com as melhores propriedades e com maior grau de substituição de farinha de trigo, utilizando uma escala hedônica de nove pontos.

 

3. Resultados e discussão

As composições químicas da farinha de trigo, fécula de mandioca e okara, foram respectivamente: 12,88, 12,42 e 74,65% de umidade; 0,51, 0,04, 0,58% de cinzas; 10,95, 1,12  e  8,61% de proteínas; 1,00,  0,50 e 3,95% de lipídios; 74,68, 85,92 e 12,21% de carboidratos. Os valores obtidos, estão de acordo com os valores descritos por Khalil et al. (1999), Soares Júnior (1995), Tedruz et al. (2001) e Carvalho et al. (2003).

Com relação às respostas avaliadas, observou-se em termos gerais que, quando se aumenta a relação X1, aumenta o volume específico. O máximo volume específico obtido pelo modelo, foi de 4,53cm3/g. A região do gráfico, correspondente à faixa próxima destes valores máximos, esta abaixo de –0,9 para X2 e em qualquer ponto de X1. A maior nota obtida para a média da cor da crosta foi 8,95. As regiões do gráfico correspondentes aos máximos valores para a nota da média da cor da crosta ficam abaixo de –0,6 para X2 e próximo do intervalo de X1 compreendido entre –1,0 e 0,75. Já para a média da característica da crosta, observou-se que, a maior nota obtida foi 3,78. A região onde ocorrem os maiores valores, fica abaixo de –0,9 para X2 e abaixo de –0,1 para X1. A maior nota  para a média da cor do miolo foi de 9,96. As regiões correspondentes aos máximos valores, ficam abaixo de –1,3 para X2 e entre –0,9 e 1,4 para X1. Já para a resposta buracos na estrutura do miolo, a maior nota obtida foi de 9,18. A região experimental de máximo, foi abaixo de -0,75 para X2 e entre –1,3 e 0,9 para X1. Com relação à média da estrutura do miolo, a maior  nota  foi de 9,27.  As regiões correspondentes  aos  máximos  valores,  ficam

abaixo de –0,9 para X2 e entre –1,4 e 1,0 para X1. Quanto ao aroma, observou-se que, a maior nota foi de 9,18. A região de máximo para a nota do aroma fica abaixo de –0,8 para X2 e entre –0,7 a 1,2 para X1. Já com relação ao gosto, observou-se que a maior nota foi 10,23. A região de máximo para a nota de gosto foi acima de –1,1  e abaixo de 0,7 para X2 e entre  0,9 e 1,5 para X1.  Finalizando, a maior nota geral foi 84,55. A região de máxima nota geral, fica acima de –1,0 para X2 e entre -0,9 e 1,2 para X1.

O pão feito com 64,1% de farinha de trigo; 18,9% de okara e 17% de fécula de mandioca, foi escolhido (em razão de seus altos valores de substituição) para a análise de aceitação. Uma hora após a produção dos pães, o resultado de aceitação obtido, teve uma nota média de 7,73 (8 = gostei muito), 48 horas após a produção do mesmo a nota média foi 7,13 (7 = gostei moderadamente) e após as 96 horas a nota média foi de 6,63 (6 = gostei ligeiramente).

 

4. Conclusões

            A substituição parcial da farinha de trigo por fécula de mandioca e okara no pão de forma por até 35,9%, mostrou-se tecnicamente viável, obtendo-se pães com boa qualidade sensorial e cujo volume específico é bem próximo do pão de forma comum.

            Pães feitos com 64,1% de farinha de trigo; 18,9% de okara e 17% de fécula de mandioca, apresentam uma boa aceitação por até 96 horas após a produção.

 

5. Referências Bibliográficas

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ALMEIDA, L.A.S.B.; NETO, L.C.B.; MORETTI, V.A.; FILHO, J.G.; VIEIRA, M.C. Minimização do Custo de Misturas de Farinhas na Substituição Parcial do Trigo. Colet. Do Ital, Campinas, 18 (2) : 140-160, jul./dez. 1988.

AMORIM, S. Corte pela Raiz. Safra, Goiânia, ano III, p. 32-36, jul. 2002.

CORONEL, E.V e TOBINAGA, S. Aplicacion de la Tecnologia de Lecho de Chorro al Secado de Okara. Anais (cd room) 5º Simpósio Latino Americano. Campinas: UNICAMP/ FEA, 2003.

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KHALIL, A.H.; MANSOUR, E.H.; DAWOUD, F.M. Influence of Malt on Rheological and Baking Properties of Wheat-Cassava Composite Flours. Food Science and Technology Department. Menfofiya, p. 159-164, 1999.

SOARES JÚNIOR, M.S. Propriedades Funcionais de Extrusados de Amido Mandioca (Manihot eculenta Crantz) como emulsificantes. Londrina, 1995. 121p. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Londrina.    

MANDARINO, J.M.G ; PANIZZI, M.C.C. Soja: Uma Opção Saborosa e Nutritiva   Goiânia: EMBRAPA, 1998. 10p.

MONTOGOMERY, D. Diseño y Análisis de Experimentos. 3rd  ed. Mexico: Grupo Editorial Iberoamérica, 1991. 589 p.

TEDRUZ, G.A.S.; ORMENESE, R.C.S.C.; SPERANZA, S.M.; CHANG, Y.K.; BUSTOS, F.M. Estudo da Adição de Vital Glúten á Farinha de Arroz, Farinha de Aveia e Amido de Trigo na Qualidade de Pães. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v.21, n.1, Jan/Abr 2001.

The SAS System for Windows 3.95 – Release 6.08. SAS Instute, Inc. Cary, NC, USA, 1992.

 

6. Fonte de financiamento

UFG