Nº cadastro
PRPPG: 28000000245
Constituintes
Bioquímicos Normais de Bovinos (Bos
taurus) Sadios da Raça
Curraleiro,
em Diferentes Faixas Etárias, Criados em Regime Extensivo
(mmsc_mada@opendf.com.br / clorinda@vet.ufg.br)
Escola de Veterinária
A extinção de
raças naturalizadas, como a Curraleiro, representa uma perda irreparável para a
ciência, pois com elas desaparecerão características genéticas desenvolvidas
através de séculos de seleção natural. O objetivo deste trabalho foi determinar
os valores normais da bioquímica sérica/plasmática. Foram utilizados 309
animais de propriedades rurais dos Estados da Bahia, Tocantins e Goiás. Os
bovinos foram divididos em grupos segundo a faixa etária: GI (até 3 meses), GII
(3 a 6 meses), GIII (7 a 12 meses), GIV (13 a 18 meses) GV (19 a 24 meses) GVI
(25 a 36 meses) e GVII (acima de 36 meses). Os valores médios encontrados
foram: proteínas totais: 7,47 ± 0,95 g/dl, com oscilações e aumento gradativo
com a idade; fibrinogênio: 504,85 ± 222,02 mg/dl; glicose: 29,58 ± 9,61 md/dl,
com aumento concomitante a idade; aspartato aminotransferase: 52,29 ± 21,93
u/l; gama glutamiltransferase: 24,62 ± 17,32 u/l; albumina: 2,82 ± 0,44 g/dl,
diminuindo com o decorrer da idade; fosfatase alcalina: 35,19 ± 30,97 mg/dl,
valores inferiores aos considerados normais em bovinos; colesterol: 97,34 ±
27,76 mg/dl, declinando seus níveis com a idade; uréia: 30,84 ± 18,02 mg/dl e
creatinina: 1,49 ± 0,45 mg/dl, mostrando ligeiro aumento com o decorrer da
idade.
Palavras-chaves:
Bioquímica sérica, glicose, fibrinogênio, AST, FA, GGT
Dentre os primeiros bovinos introduzidos no Brasil encontra-se a raça Curraleiro, que se adaptou muito bem ao solo e clima do sertão. Porém, até o momento pouco se sabe sobre o número de animais ainda existentes, bem como suas particularidades fisiológicas, produtivas e sanitárias (CARVALHO, 1985). Portanto, caso desapareçam também serão extintas as características genéticas mantidas através da seleção natural, como a adaptação e maior resistência a doenças e parasitas (MARIANTE & CAVALCANTE, 2000). De acordo com SOUZA (1997) entre os inúmeros exames que auxiliam o Médico Veterinário, merecem destaque as provas bioquímicas realizadas no soro ou plasma sangüíneo. Contudo, para utilizar tais exames em sua plenitude, faz-se necessário que existam valores padrões de referência para os diversos parâmetros. Desse modo, para garantir a correta interpretação dos resultados, há necessidade de conhecer os padrões de referência para as diferentes espécies, raças e idades e os fatores causadores de suas variações. Neste contexto insere-se este trabalho, que teve como objetivo estabelecer os valores bioquímicos de referência para o gado Curraleiro.
Material e métodos
Foram utilizados para a
pesquisa bovinos da raça Curraleiro, criados a pasto em regime extensivo,
procedentes da Bahia (113 amostras), Goiás (33 amostras) e Tocantins(163
amostras) num total de 309 amostras. As propriedades foram selecionadas junto à
Associação Brasileira dos Criadores do Gado Curraleiro (ABCGC), situada na
cidade de Mara Rosa-GO. Os animais, após detalhado exame clínico, foram
divididos em sete grupos de acordo com a idade, G I (até 3 meses), G II (3 a 6
meses), GIII (7 a 12 meses), G IV (13 a 18 meses), G V (19 a 24 meses), G VI
(25 a 36 meses) e G VII (acima de 36 meses). Para a determinação do
fibrinogênio plasmático foi utilizada a técnica do microhematócrito seguindo
orientações de COLES (1984). A determinação da glicose foi feita a partir do
plasma, sendo analisada pela metodologia da ortotoluidina. A bioquímica sérica
foi determinada a partir do soro, por reagentes comerciais, como descrito por
DOS SANTOS (1999). Foi realizada a estatística descritiva e o coeficiente de
variação foi calculado para determinar a instabilidade relativa de cada um dos
parâmetros avaliados. As comparações entre médias das faixas etárias foram
realizadas pela da análise não-paramétrica de Kruskal-Wallis - 5% (SAMPAIO,
2002).
Resultados e discussão
Os valores médios do
fibrinogênio ficaram entre 431,25 mg/dl e 569,57 mg/dl e não houve diferença
significativa (p> 0,05) em função da idade. Valores parecidos foram
encontrados por FAGLIARI et al. (1998) em outras raças bovinas. A glicose
variou com a faixa etária, ocorrendo diminuição significativa (p<0,05) com o
avanço da idade. A média geral para o Curraleiro foi 29,58 mg/dl, variando
entre 9,97 e 39,19 mg/dl, valores bem abaixo daqueles relatados por SOUZA
(1997). O valor médio geral das proteínas totais foi de 7,47 g/dl e variou de
acordo com a idade. Os maiores valores foram observados nos animais mais velhos
(p<0,05), porém não houve um aumento gradativo das médias, como foi
observado em vacas Jersey por GREGORY (1995). A média da albumina para o
Curraleiro foi 2,82 ± 0,44 g/dl, ocorrendo um decréscimo com a idade até os 24
meses quando se elevou um pouco, estabilizando aos 36 meses de idade. SOUZA
(1997) encontrou oscilações de albumina entre 3,06 e 3,78 g/dl numa população
de bovinos e bubalinos. A média de AST encontrada para a raça Curraleiro foi
52,29 ± 21,93 U/L, maior que as médias encontradas por FAGLIARI et al. (1998)
para bovinos Nelores (entre 40,81 e 46,16 U/L) e Holandeses (entre 37,92 e
40,02 U/L). Em ambos trabalhos não foram verificados aumentos evidentes com a
elevação da idade, como o descrito por SOUZA (1997). FIORAVANTI (1999)
encontrou valores de referência em seu grupo controle (Nelore) maiores que os
verificados para a raça Curraleiro. O valor médio geral da atividade sérica da
GGT para os Curraleiros foi de 24,62 U/l (± 17,32l) Comparando com bovinos da
raça Nelore, onde FIORAVANTI (1999) encontrou média de 16,85 U/L (± 3,49),
observa-se valores maiores para os Curraleiros. SOUZA (1997) relatou valores de
GGT maiores em bezerras com menos de três meses de idade, o que também foi
observado para o Curraleiro GREGORY (1995) encontrou os maiores níveis em
bezerras com até três meses de idade (31,15 ± 38,70 U/L) para em seguida
diminuírem abruptamente, atingindo os menores valores no grupo com idade entre
seis e 12 meses (8,70 ± 2,40 U/L). Para o Curraleiro não houve diferença significativa
entre as diferentes faixas etárias. A média do colesterol encontrada foi 97,34
± 27,76 mg/dl, sendo que a maior média encontrava-se no G I (até três meses)
ocorrendo uma diminuição gradativa até os 36 meses de idade. FIORAVANTI (1999)
encontrou média igual a 118,48 ± 25,94 mg/dl em bovinos Nelore. BORGES et al.
(2001) estudando novilhas doadoras de embriões tratadas com somatotropina
encontraram, em seu grupo controle, uma variação nos níveis de colesterol médio
de 69,2 a 112,6 mg/dl, resultados mais próximos daqueles encontrados nos
Curraleiros. Os valores da fosfatase alcalina em Curraleiros foram
significativamente maiores (p<0,05) nos animais mais jovens. Mesmo assim
muito inferiores aos relatados por outros autores como FAGLIARI (1998) e FIORAVANTI
(1999), em trabalhos realizados no Brasil. Nos animais Curraleiros não foi
observado diferença significativa (p>0,05) nos níveis de uréia sérica, nas
diferentes faixas etárias, sendo a média geral de 30,84 ± 18,02 mg/dl. FAGLIARI et
al. (1998) não detectaram influência do
fator etário nos níveis de uréia para as raças Nelore e Holandesa. O valor
médio da creatinina sérica dos bovinos da raça Curraleiro foi de 1,49 ± 0,45
mg/dl, sendo que ocorreu um ligeiro aumento com a elevação da idade. SOUZA (1997)
detectou diferenças significativas apenas ao comparar o grupo de bezerras até
três meses e o grupo de vacas entre 24 e 48 meses.
Conclusões
Para os bovinos da raça Curraleiro
foi possível concluir que: o valor médio das proteínas totais é de 7,47 ± 0,95
g/dl, ocorrendo oscilações nas diferentes faixas etárias. O valor médio para o
fibrinogênio é de 504,85 ± 222,02 mg/dl, não havendo diferença significativa
com a idade. O valor médio da albumina é de 2,82 ± 0,44 g/dl, ocorrendo
diminuição com o decorrer da idade. O valor médio da glicose é de 29,58 ± 9,61
md/dl, sendo que, com a elevação da idade, os níveis plasmáticos aumentam. O
valor médio da AST é de 52,29 ± 21,93 U/L, não havendo variação com a idade. O
valor médio da GGT é de 24,62 ± 17,32 U/L, não ocorrendo variação com a idade.
O valor médio da FA é de 35,19 ± 30,97 mg/dl, inferior aos valores considerados
normais em bovinos. O valor médio do colesterol é de 97,34 ± 27,76 mg/dl ,
declinando com a elevação da idade.O valor médio da uréia é de 30,84 ± 18,02
mg/dl e não foi observada diferença nos níveis de uréia sérica, nas diversas
faixas etárias. O valor médio da creatinina é de 1,49 ± 0,45 mg/dl, mostrando
um ligeiro aumento com o decorrer da idade.
Referências
bibliográficas
1.
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