VARIABILIADE GENÉTICA DE MANGABEIRA UTILIZANDO MARCADORES MOLECULARES RAPD
CASTRO, L. P.; CHAVES, L. J.
ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS
castroissa@yahoo.com.br;
lchaves@agro.ufg.br
PALAVRAS-CHAVE: diversidade, frutífera, RAPD
A
mangabeira (Harconia speciosa) é uma
frutífera nativa freqüente no cerrado brasileiro com distribuição ampla neste
ecossistema, penetra pela caatinga e chega até os tabuleiros do Nordeste ( LEDERMAN
et al., 2000). O sabor distinto do
fruto da mangabeira confere a esta frutífera, um grande potencial econômico. Como as demais plantas nativas típicas
do ecossistema “Cerrado”, cagaita, piqui, araticum, etc, a mangabeira precisa
ser estudada e ter sua variabilidade genética determinada para garantir sua
conservação e preservação dentro deste ecossistema.
Para estudos de conservação de populações naturais é
necessário um conhecimento detalhado da estrutura genética dessas populações,
bem como de seus sistemas reprodutivos (LLERAS, 1992). Nesse sentido, os
marcadores moleculares têm sido freqüentemente utilizados em estudos de
diversidade e estrutura genética populacional (FERREIRA & GRATTAPAGLIA,
1998).
Os indivíduos do gênero Hancornia
apresentam grande quantidade de polisacarídeos e polifenóis possivelmente
devido à sua característica lactescente. Estes polissacarídeos presentes em H. speciosa, interferem na reação de
polimerase em cadeia (PCR) inibindo a atividade da enzima Taq polimerase (FANG et al.,
1992) e conseqüentemente, a amplificação do material genético fica comprometido
impossibilitando a sua análise através de marcadores dependentes da PCR.
O presente trabalho objetivou desenvolver um protocolo de extração, purificação e amplificação de DNA com a finalidade de caracterizar geneticamente populações de mangabeira de Goiás, usando o marcador molecular RAPD.
MATERIAL E MÉTODO
Foram feitas viagens de
prospecção para identificação de populações a serem analisadas em três áreas
situadas no Estado de Goiás, as quais são: Área 1 (Rodovia Mutunópolis –
Porangatú, km 16), Área 2 (Rodovia Campinorte – Nova Iguaçú, km 7), Área 3 (Rodovia
Caçu – Itarumã, km 3).
As áreas 1 e 2 foram selecionadas de
acordo com os seguintes critérios: região ainda não coletada em trabalhos anteriores
(norte de Goiás), áreas que sofreram pouca ou nenhuma antropização e que
possuem 30 ou mais plantas adultas em um raio de 1 km2,
resguardando-se uma distância mínima de 20 km entre populações. Já a área 3
representava uma população de plantas cultivadas, uma das poucas, senão a única
conhecida no Estado de Goiás. O material para análise foi coletado nas áreas
previamente selecionadas. Cada população foi representada por 30 plantas adultas
amostradas ao acaso.
A extração do DNA
genômico total foi feito segundo o protocolo utilizado por MOURA et al. (2001) a partir de folhas jovens
das plantas coletadas, utilizando o método CTAB (Brometo de
Cetiltrimetilamônio). Este método consiste em macerar 200 ng de tecido foliar
fresco com nitrogênio líquido usando bastão de vidro em microtubos de 1,5 mL e
incubação por uma hora a 650C com 700 ml de tampão de extração (100
mM de tris-HCl, pH 8; 20 mM de EDTA; 1,4 M de NaCl; 2% de CTAB; 1% de polivinil
e 2% de mercaptoetanol) pré-aquecido. As proteínas foram extraídas com solvente
composto por clorofórmio, álcool isoamílico numa proporção de 24:1. Os ácidos
nucléicos foram precipitados em isopropanol frio e lavados com etanol a 70%,
secos a vácuo e ressuspendidos com tampão Te (10 mM tris-HCl, pH 8; 0,1 mM
EDTA), contendo 10 mg/ml de RNA-ase e incubados
a 37 0C por 30 minutos.
Inicialmente, foi testado o
protocolo de extração usado por MOURA et
al. (2001), porém o DNA extraído permaneceu impuro e com coloração parda ou
quase preta. Em seguida foi testado um segundo protocolo, que também foi
utilizado para a extração de DNA de pequi (Caryocar
brasiliense Camb.), sendo possível obter DNA mais limpo, porém o processo
de amplificação ainda ficou prejudicado, mesmo estando diluído a uma
concentração de 0,5 ng/ml, com rendimento de aproximadamente 8%.
A partir do DNA estoque obtido com o segundo
protocolo foi feita uma nova limpeza, promovendo a eliminação de proteínas com
fenol/clorofórmio. Finalmente foi possível obter um material com boa qualidade
e rendimento para amplificação em PCR permitindo as análises com marcadores
moleculares.
De acordo com o segundo protocolo testado foram usados150 mg de
tecido foliar fresco com nitrogênio líquido usando chave “Philips” em
microtubos de 1,5 mL e incubação por uma hora a 650C com 750 ml de tampão de
extração pré-aquecido. As proteínas foram extraídas com clorofórmio/álcool
isoamílico (24:1). À fase aquosa foram adicionados 50ml de uma
solução de CTAB a 10% e posteriormente foi repitida a extração com CIA. Os
ácidos nucléicos foram precipitados em isopropanol frio e lavados com uma
solução 1 M NaCl pois o pellet apresentava-se muito viscoso e escuro. Em
seguida, foram feitas 2 lavagens subsequentes com etanol 70% e 1 lavagem com
etanol absoluto. Os pellets foram secos e ressuspendidos com tampão TE.
A limpeza de proteínas utilizando
fenol/clorofórmio, consiste na adição de 50ml de fenol equilibrado e 50ml de CIA em
100ml de DNA
estoque em TE. Após a transferência da fase aquosa para outro tubo foram
adicionados 100ml de CIA. A
fase superior foi pipetada novamente e foram adicionados 5ml de NaCl 5M
para um volume de 100ml e, em
seguida, foram colocados 250ml de etanol
absoluto gelado. O microtubo foi mantido a - 20°C por no mínimo uma hora. Por fim foram
feitas duas lavagens subsequentes com etanol 70% e uma com etanol absoluto.
Depois do pellet seco foram
adicionados 50ml de TE.
A
concentração de DNA nas amostras dos indivíduos foi estimada pela comparação
com uma amostra de concentração conhecida de DNA do fago l íntegro, em
gel de agarose 0,8%. Foi estimada a concentração de DNA por mL e
consequentemente a quantidade total de DNA extraído.
A partir das amostras de DNA, foram
feitas as reações de amplificação, de acordo com MOURA et al. (2001). Cada reação consiste de 30 ng de DNA; 50 mM KCl, 10
mM Tris-HCl pH 8,3; 2,0 mM de MgCl; 250 mMde dNTP’s; 250 nM de “primer” e 2 unidades de Taq
polimerase. A amplificação enzimática
foi feita por um termociclador programado para 48 ciclos, sendo um ciclo
inicial de 5 minutos a 94oC; e 47 ciclos composto de: 92oC
por 30 segundos (desnaturação do DNA), 37oC por 1 minuto e
30segundos (anelamento do “primer” ao DNA molde) e um ciclo final de
polimerização de 72oC por 6 minutos.
Os fragmentos gerados por amplificação
foram separados por eletroforese em géis de agarose horizontais 1,4%, em uma
concentração de 1% em tampão TBE (Tris-borato 90 mM e EDTA 2 mM), para
verificação de polimorfismo. Após a separação, os resultados foram visualizados
por tratamento com brometo de etídeo por 10 minutos, lavagem em água destilada
por 5 minutos e posterior visualização em luz ultravioleta com o uso de um transiluminador.
A partir da extração de DNA utilizando o protocolo de M0URA
et al. (2001), foi obtido um material
viscoso e pardo, considerado um material impuro. O segundo protocolo (utilizado
para extração de DNA de piqui) foi obtido um material mais puro, porém o DNA
não amplificava após passar pela PCR. Mesmo diluindo-o a uma concentração de
0,5 ng tinha-se apenas cerca de 8% de rendimento. Por fim, com a eliminação de
proteínas utilizando fenol/clorofórmio foi possível obter um protocolo para
obtenção de DNA mais específico para ser utilizado em análises com marcadores
moleculares para H. speciosa. Com
esta técnica foi possível obter uma média de 32,5 ng/ml,
a cada 150-200 mg de tecido foliar.
Estabelecido o protocolo de extração, purificação e amplificação
do DNA, este está sendo aplicado ás amostras coletadas para se determinar a
estrutura genética das populações.
Apesar de se
perder uma certa quantidade de DNA durante a purificação, com o uso de fenol
equilibrado e Clorofórmio isoamílico obteve-se considerável melhoria na
qualidade do material genético extraído e uma boa amplificação no termociclador.
FERREIRA, M.E. & GRATTAPAGLIA, D.
Introdução ao uso de marcadores moleculares em análise genética. 2a
Ed., Brasília: Embrapa. 1996. 220 p.
LEDERMAN, I. E.; SILVA JÚNIOR, J.F. da;
BEZERRA, J. E. F.; ESPÍNDOLA, A. C. de MELO. Mangaba (Hancornia speciosa Gomez). In: LEDERMAN, I. E. Série Frutas Nativas. Jaboticabal: Funep, 2000.
35p.
LLERAS, E. Conservação de recursos
genéticos florestais. Revista do
Instituto Florestal Brasileiro. São Paulo, v.4, p. 1179-1184, 1992.
MOURA, N.F. ZUCCHI, M.I.; PINHEIRO, J.B.; VENCOVSKY, R.;
CHAVES, L.J.; MOURA, M.F. Seleção de marcadores RAPD para o estudo da estrutura
genética de populações de Hancornia speciosa Gomes (Mangaba) In: CONGRESSO NACIONAL DE GENÉTICA. 47. 2001,
Águas de Lindóia. Anais... Águas de
Lindóia.
FONTE DE FINANCIAMENTO
Este trabalho teve apoio financeiro do
CNPq e Capes.