Análise bioclimatológica do conforto térmico de instalações para caprinos leiteiros em confinamento na região Centro-Oeste

 

MORAES, J. M.; DIAS, D. S. O.; FIORAVANTI, M. C. S.; CAMPOS, A. M.; SOUSA, R. B.; CARNEIRO, O. A. C. F.; DIAS, M. J.

 

Escola de Veterinária

 

(mmjulia_vet@yahoo.com.br / mdias@vet.ufg.br)

 

Palavras-chave: Caprinos leiteiros, Conforto térmico, Instalações

 

 

 

Introdução

 

Na região Centro-Oeste, as raças caprinas mais exploradas são Saanen, Alpina e Toggenburg, devido a sua melhor adaptação às variações climatológicas durante o ano. A elevada intensidade de radiação incidente nas regiões tropicais associada às altas temperaturas e umidade relativa do ar, são condições que geram o desconforto térmico e levam conseqüentemente ao estresse calórico em animais alojados em escala industrial de produção. Daí a necessidade de instalações adaptadas, com características de climatização mínima interna, que permitam ao animal desenvolver todo seu potencial genético (NÄÄS, 1998). O ambiente interno de uma instalação é resultante das condições locais externas, das características da construção e dos materiais utilizados na construção da instalação, da raça, do número de animais alojados e do manejo (RIVERO, 1986). Segundo BAÊTA & SOUZA (1997) os fatores constituintes do ambiente térmico dos animais tais como temperatura, umidade, radiação e ventos são os que causam maiores efeitos sobre o bem estar animal. Sendo assim, a implantação correta do manejo e das instalações do capril, determinada por estudos bioclimatológicos, são importantes na manutenção de temperaturas ambientais dentro da faixa de conforto, proporcionando elevação na produtividade do rebanho leiteiro (TEIXEIRA, 1983). O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das condições ambientais das instalações de caprinos leiteiros confinados no município de Roselândia (GO) , visando identificar os pontos críticos, a fim de propiciar conforto térmico para os animais.

 

 

 

2 Material e métodos

 

O trabalho foi desenvolvido no Capril São José, localizado no município de Roselândia, aproximadamente 30 km de Goiânia, no período de agosto de 2002 a julho de 2003. As instalações do capril eram em madeira, com telhado de fibro-cimento, cobertura em duas águas, pé-direito de 2,8 m, largura de 12,0 m, piso ripado e suspenso e ventilação natural. As raças estudadas foram a Alpina e a Saanen, sendo seis animais de cada raça. Os animais eram criados em sistema de confinamento, recebendo volumoso e suplementação com ração e sal mineral. Os dados foram coletados semanalmente, em duas fases: verão e inverno totalizando 50 semanas. Os horários de coleta foram das 8 às 18 horas, em intervalos de duas horas. Para determinação do conforto térmico das instalações foram utilizados os seguintes instrumentos: termohigrógrafo (utilizado para medir a carga térmica de radiação - CTR); anemômetro digital (utilizado para medir a velocidade do vento -VV m/s); termohigrômetro digital (utilizado para medir a temperatura ambiente (TA) e a umidade relativa do ar - UR). Para determinação do conforto térmico dos animais foram utilizados os seguintes parâmetros: temperatura retal (TR); freqüência cardíaca (FC); freqüência respiratória (FR); índice de temperatura de globo negro e umidade (ITGU); produção de leite (PL). Foi realizada a análise estatística dos dados, obtendo-se significância de 5% de probabilidade no teste F na análise de variância e aplicado o teste de Tukey. Posteriormente obteve-se uma análise de correlação (utilizando a correlação de Pearson) entre TA e TR, TA e FR, TA e FC, TA e PL, ITGU e TR, ITGU e FR, ITGU e FC, ITGU e PL e a seguir foi estabelecida uma equação de regressão para cada caso. Após a análise individual, foi feita a análise conjunta, para estudar o efeito das estações verão e inverno.

 

 

 

3 Resultados e discussão

 

            Nas análises de variância da temperatura ambiente (TAºC), umidade relativa (UR%), carga térmica de radiação (CTR), índice de temperatura de globo negro e umidade (ITGU) e velocidade do vento (Vv m/s), em todos os casos não tiveram resultados significativos (P > 0,05) em relação às estações verão e inverno, mas obtiveram significância (P < 0,01) em relação aos dias e horários de coleta. As maiores médias de TA ocorreram às 14 horas com valor de 30,24ºC, o mesmo ocorrendo com a CTR, com valor de 483,94 e com o ITGU, com valor de 77,43. A menor média de umidade relativa ocorreu às 16 horas, com valor de 46,93%. Segundo CURTIS (1983), o ambiente pode ser considerado termicamente confortável em temperaturas de 18 a 25ºC e umidade relativa do ar de 50% a 70%. Esses valores contrastam com os obtidos nesta pesquisa, demonstrando que os valores de UR e TA não se encontravam na margem de conforto térmico, demonstrando a necessidade de um sistema de nebulização interna. Os valores de CTR e ITGU explicam-se pela capacidade do material do telhado em absorver energia, primeiramente, de ondas curtas (sol) para posteriormente, transformá-la em ondas longas. A maior média de Vv (m/s) ocorreu às 8 horas com valor de 0,63, o que está abaixo do preconizado para o conforto térmico, mostrando a necessidade de mais ventilação na instalação. Na análise de variância da TR dos animais, não se obteve significância. Já na análise da FR e FC, obteve-se significância (P < 0,01) em relação às raças Alpina e Saanen e aos dias e horários de coleta, mostrando que a FR e FC se alteraram nos dias e horários mais quentes, onde encontrou-se valores acima da média de conforto térmico. Não houve significância (P > 0,05) nos resultados de PL em relação às raças. Houve um alto índice de correlação e de significância (P < 0,01) entre a TA e o ITGU, o que significa que com o aumento da TA, ocorrerá o aumento do ITGU. Mas não houve significância (P > 0,05) entre TA e TR e ITGU e TR. Já as correlações entre TA e FR, TA e FC, ITGU e FR e ITGU e FC, produziram resultados significativos (P < 0,01). Não houve significância (P > 0,05) nas correlações entre TA e PL e ITGU e PL.

 

 

4 Conclusão

 

Os valores de TA, UR, CTR e ITGU apresentados estão na faixa de desconforto térmico, mostrando a necessidade de se implantar um sistema de nebulização interna e escolher algum outro material para a cobertura. As médias de Vv (m/s) encontradas estão abaixo da média preconizada, mostrando a necessidade de aumentar o sistema de ventilação da instalação. Os valores de freqüência respiratória e cardíaca encontraram-se na faixa de desconforto térmico, estando muito acima do normal preconizado.

 

 

 

5 Referências bibliográficas

 

1 BAÊTA, F. C.; SOUZA, C. F. Ambiência em edificações rurais – conforto animal. Viçosa: UFV, 1997. 246p.

 

2 CURTIS, S.E. Environmental management in animal agriculture. Ames: The Iowa State University Press, 1983. 409p.

 

3 NÄÄS, I. A. Biometeorologia e construções rurais em ambiente tropical. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMETEOROLOGIA, II, Goiânia, 1998. Anais... Goiânia, Sociedade Brasileira de Biometeorologia, 1998. 63-73 p.

 

5 RIVERO, R. Arquitetura e clima: acondicionamento térmico natural. 2. ed. Porto Alegre: D.C Luzzatto, 1986, 240p.

 

6 TEIXEIRA, V. H. Estudos em índices de conforto em duas instalações de frango de corte para as regiões de Viçosa e Visconde do Rio Branco, MG. Viçosa: UFV, 1983. 62p. Dissertação (Mestrado em Construções Rurais e Ambiência) – Universidade Federal de Viçosa.