QUALIDADE
MICROBIOLÓGICA DA CARNE DE RÃ MANTIDA EM CONDIÇÕES DE REFRIGERAÇÃO
MORAIS, J. C.; SOARES, G. C.; JÚNIOR, L. P. S; TORRES, M. C.
L; SILVEIRA, M. F. A.
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos - UFG
Jana_ufg@hotmail.com
; celialopes@agro.ufg.br
Palavras chave: carne de rã, microbiologia, estocagem
INTRODUÇÃO
A carne de rã é o principal produto da ranicultura, sendo comercializada fresca, congelada ou processada, cujo excelente sabor e qualidades nutricionais têm propiciado crescimento considerável do seu consumo, não obstante às restrições de preço. A coxa é a parte de maior aceitação, embora no Brasil esta preferência não seja tão acentuada como no mercado internacional, onde praticamente não se consome o restante da carcaça (Lima, 1994). A rã viva tem sido exportada para os Estados Unidos, onde os restaurantes especializados na cozinha oriental absorvem grande quantidade do produto.
É
de grande importância para o consumo de uma carne de qualidade o conhecimento
do shelf life do produto. Os
microrganismos interferem diretamente nesse período de aceitabilidade assim
como o método de conservação a que é submetido. É ampla a gama de
microrganismos ocorrentes nas carnes, por causa de sua complexa composição
(proteínas, glicídios, lipídios, vitaminas e sais minerais), de seu elevado
teor de umidade (65 a 75%) e de um pH apropriado ao desenvolvimento microbiano
(Pardi et al., 2001). A microbiota natural da carne fresca é constituída de
microrganismos mesófilos e psicrotróficos, mas há uma tendência à predominância
dos últimos, devido ao uso de temperaturas de refrigeração. A alteração
microbiana mais séria caracteriza-se pela multiplicação dos microrganismos, os
quais podem modificar as características organolépticas dos alimentos,
depreciando-o ou impedindo o seu consumo (Xavier & Beraquet, 1993).
O
objetivo deste trabalho foi avaliar o período em que a carne de rã se mantém em
condições de consumo, quando estocadas à temperatura de 2ºC ± 1ºC.
Foi acompanhado o processo de abate da rã no abatedouro Ranajax, localizado no município de Hidrolândia/GO, observando-se as condições higiênicas de abate.
Após as operações de abate, setenta carcaças foram acondicionadas em caixas de isopor com gelo e transportadas para o laboratório do Setor de Engenharia de Alimentos da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos/UFG.
Procedeu-se a pesagem de cada carcaça e acondicionamento em sacos laminados (Polietileno de baixa densidade (PEBD) /Nylon/PEBD) contando com aproximadamente 700 gramas de amostra em cada saco, e armazenadas à temperatura de refrigeração (2ºC ± 1ºC).
Contagem
padrão em placas de psicrotróficos
Foi realizada
a contagem padrão em placas de psicrotróficos em meio Ágar Padrão para Contagem
(PCA), nos tempos 0, 30, e 60 dias para avaliar as condições de estocagem e o tipo de embalagem utilizada na vida de
prateleira do produto. As análises foram efetuadas em porções de 10 gramas da
amostra, pesada assepticamente e homogeneizada com 90 mL de água peptonada
0,1%. A seguir, foram feitas diluições até 10-4 e colocadas em
placas de Petri, com adição de aproximadamente 15 mL do meio PCA. Estas, após
homogeneização e solidificação, foram invertidas e colocadas em estufa a 10°C
durante 7 dias. Após incubação foi realizada a contagem expressa em unidades
formadoras de colônias por grama de carne (UFC.g-1), segundo Junqueira,
Silva & Silveira (1997).
As médias dos
resultados obtidos na análise microbiológica, em cada período de estocagem,
estão apresentadas na Tabela 1.
TABELA 1 – Médias dos resultados da
Contagem de psicrotróficos (UFC.g-1) em carne de rã acondicionada em
embalagem com e sem vácuo em tempo de estocagem de 0, 30 e 60 dias.
Condições de embalagem |
Tempo de estocagem (dias) |
UFC.g-1 |
Com vácuo |
0 |
9,5x102 |
|
30 |
3,2x103 |
|
60 |
1,2x103 |
|
0 |
9,5x102 |
Sem vácuo |
30 |
3x104 |
|
60 |
5,6x102 |
Pelos
resultados apresentados na Tabela 1 verifica-se que as contagens de
psicrotróficos nas carnes embaladas com e sem vácuo nos tempos de 0, 30 e 60
dias após abate, apresentaram-se abaixo de 3x104 UFC.g-1.
Na avaliação microbiológica de carnes refrigeradas, Kohlmann et al. (1991)
mencionam que a contagem das bactérias psicrotróficas deve ser baixa, pois ao
se multiplicarem sob refrigeração, produzem enzimas extracelulares,
especialmente lipases e proteases, que representam um problema por hidrolizarem
constituintes do alimento (proteínas e
lipídeos). Fatores ambientais como temperatura, pH e aeração influenciam a
síntese e ação destas enzimas.
A avaliação sensorial de aparência do produto quanto à mudança de cor e aos aspectos relacionados ao desenvolvimento de sabores e odores desagradáveis não foram percebidos pela equipe de provadores durante a avaliação de maciez e suculência da carne, estocada por 30 dias. Segundo Cromie, citado por Santos et al. (1999), as alterações em um determinado produto alimentício se iniciam quando o número de psicrotróficos atinge 107 UFC.g-1.
Observou-se
que após 30 dias a carne embalada sem vácuo apresentou odores mais acentuados
que a carne embalada à vácuo. Bailey et al, citado por Xavier & Beraquet
(1993), interessados em determinar a vida-de-prateleira da carne de frango,
verificaram que as amostras estocadas em condições aeróbias foram rejeitadas
aos 14 dias devido a odores pútridos, provenientes do crescimento de Pseudomonas. No caso da carne de rã,
provavelmente, a contagem de psicrotróficos baixa se deve às boas condições
higiênicas durante o abate das rãs como: procedimentos de imersão dos animais
em água gelada e clorada a 1%, para higienização das carcaças, etapas de
sangria, retirada do couro e evisceração executados rapidamente, evitando a
contaminação, pouco contato com os operadores e as condições ambientais de
abate climatizadas com temperatura de refrigeração.
Conclui-se
que:
-
As
carnes de rã embaladas com e sem vácuo apresentaram contagem de psicrotróficos
abaixo daquela citada como capaz de causar alterações nos alimentos.
-
Nenhuma
alteração de cor e odores estranhos foi observada durante 30 dias de estocagem
dos produtos nos tratamentos estudados.
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Fonte
de financiamento: A matéria prima (carne de rã) foi doada pelo Ranário Ranajax
– Hidrolândia / GO.