PEQUI (Caryocar brasiliense) MINIMAMENTE PROCESSADO

FREITAS, L. F.; SOARES JÚNIOR, M. S.

Departamento de Engenharia de Alimentos

liviaffreitas@hotmail.com ; manoel@agro.ufg.br  

Resumo

O Pequi, Caryocar brasiliense, ocorre espontaneamente no Cerrado. O uso das espécies nativas pode ser uma alternativa econômica para o aproveitamento sustentável da região. Com aromas e sabores marcantes e peculiares o pequi é extremamente apreciado por moradores da região e facilmente poderia conquistar novos mercados consumidores. O objetivo deste trabalho foi desenvolver recomendações tecnológicas para o processamento mínimo de pequi e observar a queda de qualidade do pequi minimamente processado durante o armazenamento com e sem branqueamento e embalados em diferentes filmes plásticos (PVC, PEBD e laminado) sob refrigeração. Os resultados mostraram que o branqueamento  influenciou o escurecimento do pequi minimamente processado. Ocorreu significativa perda de massa fresca nas embalagens de PVC e PEBD em relação a laminado a vácuo. As amostras com laminado e branqueamento propiciaram um melhor manutenção da aparência, permanecendo com qualidade comercial por até dez dias, enquanto que as de PVC e PEBD com branqueamento por sete dias. As amostras sem branqueamento podem ser comercializadas por no máximo cinco dias.

Palavras-chave: minimamente processado, pequi.

1. Introdução

O fruto do pequizeiro (Caryocar brasiliense) é um fruto caracteristico do Cerrado. Além do alto valor nutricional e o uso alimentar em pratos típicos da região, o pequi constituí-se numa fonte de renda importantíssima para a população das regiões produtoras, porém, novas formas de comercialização, agregando valor ao pequi, podem possibilitar o aumento de renda das famílias dos produtores rurais e a disponibilidade destes produtos a uma fatia maior de consumidores (Almeida, Silva & Ribeiro, 1991). 

O objetivo deste trabalho foi desenvolver recomendações tecnológicas para o processamento mínimo de pequi, acompanhando durante o armazenamento sob refrigeração a acidez titulável, o pH, a porcentagem de ataque de doenças e a aparência, cor e escurecimento do pequi minimamente processado embalado em diferentes filmes plásticos (policloreto de vinila, polietileno de baixa densidade e laminado com três camadas (PEBD/ nylon/ PEBD), com e sem branqueamento.

 

2. Materiais e métodos

Os pequis provenientes do Estado de Tocantins (cedidos pelo CEDAC – Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado) foram selecionados, descartando-se os que apresentavam injúrias. Os de aparência boa foram submetidos a uma lavagem por imersão em água e sanificados  por 15 minutos em solução de 100ppm de hipoclorito de sódio. Em seguida os frutos foram descascados manualmente em ambiente e recipiente previamente higienizados. Logo após, os pequis selecionados foram divididos em dois lotes, um para o branqueamento e o outro não. O branqueamento foi realizado pela imersão dos frutos em água fervente durante 4 minutos, seguido por um esfriamento em solução aquosa com 50ppm de cloro a uma temperatura próxima a 5oC. Os frutos foram secados naturamente por aproximadamente 1 hora. O experimento realizado foi composto por seis tratamentos em triplicata: com e sem branqueamento e em três diferentes tipos de embalagem, totalizando dezoito amostras. Porém, como se realizaram análises destrutivas foram elaborados seis grupos de dezoito amostras, totalizando cento e oito amostras. As diferentes embalagens flexíveis utilizadas foram: policloreto de vinila (PVC), polietileno de baixa densidade (PEBD)  e laminado com três camadas (PEBD/ nylon/ PEBD) da marca Selovac, com vácuo parcial. Os frutos foram pesados em porções de aproximadamente 200g e distribuídos em bandejas de isopor (poliestireno expandido), de 15 x 15cm com exceção dos embalados com laminado à vácuo, que foram colocados diretamente na embalagem sem suporte. Todas as amostras devidamente embaladas foram armazenadas em câmara fria a 10oC.As análises físico-químicas destrutivas observadas foram: a) pH, utilizando-se um potenciômetro digital; b) acidez titulável total ATT%, utilizando para calculo a seguinte expressão: ATT%=(N x V x f x 100) / P, onde N é a normalidade, V o volume em mL de NaOH, f o fator de correção e P o peso em gramas. Nas análises não destrutivas, as amostras dos diferentes tratamentos foram avaliados diariamente de acordo com: a) perda de massa fresca, pelo método gravimétrico; b) aspecto geral em função das características iniciais do pequi atribuindo-se notas (1. ótimo, 2. bom, 3. regular, 4. péssimo); c) mudança de coloração, avaliada através de notas (1. cor viva, 2. opaca, 3. início de escurecimento, 4. escurecida),  considerando que a coloração inicial é um amarelo forte e brilhoso e d) doenças, avaliadas em % sendo dada pela relação número de produtos infectados por bandeja pelo número total de produtos na bandeja. Os resultados foram analisados pela análise de variância (ANOVA).

 

3. Resultados e discussão

Durante todo o experimento as perdas de massa foram significativamente maiores nos tratamentos com PVC e as menores foram nos tratamentos com laminado. Esse comportamento provavelmente se deve a diferença de permeabilidade dos materiais utilizados como embalagem. O PVC é mais permeável ao vapor de água que o polietileno e que o laminado (Gorris & Peppelenbos, 1992). A perda de peso é provocada pela perda de umidade através do  processo de transpiração, em conseqüência do déficit de pressão de vapor (DPV) existente entre os tecidos internos das frutas e o ambiente externo. O DPV é tanto maior quanto mais alta a temperatura e/ou mais baixa a umidade relativa do ar ambiente. A utilização de embalagem com filmes plásticos, durante o armazenamento refrigerado, promove maior umidade relativa ao redor das frutas, reduzindo o DPV e, conseqüentemente, a transpiração. Como conseqüência, as frutas permanecem com maior turgidez e sem sintoma de murchamento (Woods, 1990).

Considerando mudança de coloração, no primeiro dia os tratamentos de PVC, PE e laminado não se diferenciaram significativamente entre si apresentando cor viva. No terceiro dia os tratamentos com PVC e laminado sem branqueamento não se diferenciaram passando de cor viva para início de escurecimento, já o PE sem branqueamento apresentou a maior variação passando de cor viva para escurecida e permanecendo dessa forma até o fim do armazenamento. O laminado com branqueamento teve a menor variação, pois passou de cor viva para opaca e permaneceu com essa característica até o fim do experimento. A partir do sétimo dia os tratamentos não se diferenciaram significativamente passando de início de escurecimento para escurecida com exceção do laminado com branqueamento que manteve cor opaca até o décimo primeiro dia. O branqueamento mostrou-se eficiente nesse experimento, inativando as enzimas de escurecimento do pequi  (Araújo, 2001). Considerando a aparência geral, foi estabelecido, que o nível de aceitação mínimo para comercialização seja nota 3 (aspecto geral regular), os tratamentos embalados com PVC e PE podem ser comercializados até o sétimo dia e o laminado com branqueamento por mais de onze dias.

No segundo dia o pH foi maior nos tratamentos sem branqueamento seguidos pelos tratamentos PVC e PE com branqueamento, enquanto que o tratamento com menor pH estatisticamente foi o laminado com branqueamento. No quarto dia o pH foi maior nos tratamentos com laminado, seguido pelo tratamento de PVC sem branqueamento. Os tratamentos com PE sem branqueamento não diferiu dos tratamentos com PVC e PE com branqueamento.

           Com relação ao ataque de microrganismos, todos os tratamentos do primeiro ao sétimo dia não apresentaram doenças. No nono dia as amostras com PVC e PE com branqueamento se diferenciaram significativamente das demais por apresentar maior aparecimento de doenças, já o laminado com branqueamento não teve o aparecimento de doenças sendo o melhor tratamento para a comercialização.

O uso de vácuo, modifica a atmosfera de conservação do produto, dada a ação da respiração no seu interior, com aumento na concentração de CO2 e diminuição na de O2 (Wiley, 1994). Tais alterações podem diminuir o desenvolvimento fungos (aeróbios), assim como o desenvolvimento de desordens fisiológicas e de deteriorações bioquímicas.

 

4. Conclusões

Os tratamentos sem branqueamento perderam qualidade em cor e aspecto geral mais rápido que os branqueados, sendo que no quinto dia já não apresentavam boas características comerciais.

 O ataque de microrganismos ocorreu somente no nono dia para os tratamentos PVC e PE, exceto o laminado com branqueamento que até o final do experimento não havia ocorrido ataque de microrganismos.

O pequi minimamente processado embalado com PVC e PE sem branqueamento agüenta cinco dias quando armazenado a 10ºC, o laminado sem branqueamento não suporta dois dias, devido o acúmulo de gás.

As amostras com branqueamento embaladas com PVC podem ser comercializadas por sete dias e a de PE por nove. As amostras de laminado podem ser comercializadas por mais de dez dias.

5. Referências Bibliográficas

ALMEIDA, S. P.; SILVA, J. A.; RIBEIRO, J. F. Aproveitamento alimentar de espécies nativas dos cerrados: araticum, baru, cagaita e jatobá. 2 ed. Brasília: EMBRAPA – CPAC, 1991. 83p.

ARAUJO, J. M. A. Química de Alimentos. 2ºedição. Viçosa: UFV, 2001, 411p.

GORRIS, L. G. M. & PEPPELENBOS, H. W. Modified atmosphere and vacuum packaging to extend the shelf life of respiring food products. HortTechnology. v.2, n.3, p.303-309, 1992.

SARZI, B.; DURIGAN, J. F.; ROSSI, O. D. Temperatura e tipo de preparo na conservação de produto minimamente processado de abacaxi pérola. Revista Brasileira de Fruticultura. Jaboticabal, v.24, n.2, p.14-16, 2002.

WILEY, R.C. Minimally processed refrigerated fruits and vegetables. New York: Chapman & Hall, 1994. 368p.

WOODS, J. L. Moisture loss from fruits and vegetables. Postharvest News and Information. v.1, n.3, p.195-199, 1990.