Biologia de Maecolaspis sp. e Megaceslis sp. em condições de laboratório

 

Fernando Simões Gielfi1 & Franciela Guerra2

Campus Avançado de Jataí, Curso de Agronomia

  1. gielfi@jatai.ufg.br; 2. franciela.guerra@uol.com.br

Resumo

Estudou-se a abundância,desenvolvimento e biologia de Maecolaspis sp e Megascelis sp. em condições de laboratório. Verificou-se que para as condições de Jataí, Megascelis sp. é predominante sobre Maecolaspis sp. As populações de larvas no solo são baixas quando comparadas com a população de adultos. Plântulas de soja mostraram-se inadequadas para o desenvolvimento de Maecolaspis sp., no entanto os insetos completam o ciclo quando alimentados sobre este hospedeiro. A dieta artificial empregada foi inadequada para o desenvolvimento de Maecolaspis sp, visto que nenhuma larva completou seu ciclo. O tempo médio para que Maecolaspis sp. complete seu ciclo foi de 32,8 dias.

 

Palavras-chave: soja, inseto, praga de solo

 

INTRODUÇÃO

 

Insetos da Família Chrysomelidae, comumente referidos como “vaquinhas” e “cascudinhos”, principalmente dos gêneros Cerotoma, Diabrotica, Megascelis e Maecolaspis ocorrem freqüentemente em lavouras de feijão e soja. Os adultos alimentam-se de folhas, flores e vagens das plantas hospedeiras. As larvas podem atacar as sementes em germinação, plantas recém emergidas e as raízes de plantas em desenvolvimento, além de nódulos das leguminosas (HEINECK, 1993).

No Brasil, a literatura sobre o hábito alimentar de insetos do gênero Megascelis e Maecolaspis é escassa. Sabe-se que são insetos que atacam a parte aérea das planta, mas nos Estados Unidos há registros de que, em altas densidades populacionais estes insetos alimentam-se de raízes e nódulos de soja (DIETZ et al., 1976). Nos locais onde estas altas populações ocorrem, aparecem manhas em reboleiras, semelhantes às encontradas em áreas com nematóide.

No Brasil, a literatura sobre hospedeiros desta espécie é relativamente escassa. Insetos deste gênero foram encontrados atacando citros (C. pallipes), eucalipto (C. quadrimaculata), espiguetas de trigo (C. tarsata), goiabeira, jabuticabeira e outras mirtáceas (C. tetrastica), soja e trigo (C. tibialis), enquanto espécies do gênero Maecolaspis foram relatadas atacando berinjela, citros e algumas solanáceas (M flavipes), tubérculos de batatinha (larva) e outras solanáceas (M. occidentalis), videira, algodoeiro e batata doce (M. trivialis). LOURENÇÃO et al. (1997) e HOFFMANN-CAMPO et al. (2000), relatam a ocorrência desse inseto atacando soja sem, no entanto, fazerem qualquer referência a outro hospedeiro.

O objetivo do presente trabalho foi estudar a ocorrência, desenvolvimento de Maecolaspis sp. e Megascelis sp. em condições de laboratório, assim como a biologia destes insetos.

 

MATERIAL E MÉTODO

 

Levantamento da densidade populacional de larvas adultos

Os levantamentos das densidades populacionais de larvas e adultos foram realizados no município de Jataí no período de novembro/2003 a fevereiro de 2004. Realizou-se também o levantamento de larvas presentes nos nódulos de soja.

 

Levantamento da população de larvas no solo

 

O levantamento de larvas no solo foi realizado através de amostragem de solo retirado de trincheiras de 1,0x0,30x0,30m, num total de 10 pontos por cada área amostrada. O solo foi trazido para o laboratório, revolvido e as larvas coletadas foram identificadas e o número total de larvas de Maecolaspis sp. e Megaceslis sp. anotado.

 

Levantamento da população de adultos

 

O levantamento de adultos nas áreas amostradas foi realizado através de rede de varredura. Um número médio de 10 “redadas” foi adotado pelo amostrador, caminhando aleatoriamente na área. Os insetos foram mortos num frasco mortífero, acondicionados em recipientes e levados ao laboratório para posterior contagem e identificação.

 

Levantamento de larvas em nódulos de soja.

 

O levantamento larvas em nódulos foi realizado em uma área localizada no município de Jataí, diferente daquela descrita acima. O sistema radicular de plantas de soja em cada ponto amostral foram retirados e acondicionados em sacos de papel e em seguida levados para o laboratório, onde procedeu-se a contagem do número total de nódulos, nódulos normais  e nódulos com larvas e/ou nódulos danificados pelas espécies de Maecolaspis sp.e Megascelis sp. Após a contagem, estes nódulos foram mantidos em BOD, em temperatura de 25±2oC, a fim de observar a emergência de adultos.

 

Estudo da Biologia de Maecolaspis sp. e Megascelis sp. em condições de laboratório

 

Para estudo da biologia de Maecolaspis sp e Maecolaspis sp. foram avaliados os seguintes parâmetros:

a.      Número de ovos/massa de ovos: nas massas de ovos obtidas em laboratório foram contados os números de ovos/massa de ovos e obteve-se o número médio.

b.      Período ovo-adulto

 

Resultados e Discussão

 

Levantamento da densidade populacional de larvas e adultos

 

O levantamento de larvas nas áreas amostradas revelou uma baixa densidade populacional no solo. Estes resultados não podem ser correlacionados com a presença de adultos nestas áreas, pois a população de adultos nas áreas amostradas era elevada, tanto de espécimes do gênero Maecolaspis, quanto Megascelis. O comportamento de oviposição desse inseto é pouco estudado e os dados em literatura são inexistentes.

Os resultados dessas amostragens indicaram que o gênero Megascelis é mais abundante que Maecolaspis, tanto na soja quanto em feijão, estando sempre em densidades populacionais mais elevadas. As densidades populacionais desse gênero na soja e no feijão são muito semelhantes. No entanto não é possível afirmar que não há diferença na preferência alimentar por uma das espécies, visto que em função das altas populações na soja, há uma constante migração de insetos para áreas de feijão, principalmente no final do ciclo da cultura da soja, quando há competição por alimento. Neste mesmo período, a migração para áreas de milho safrinha é significativa, pois as plântulas fornecem mais um local de alimentação.

O levantamento de larvas em nódulos revelaram um grande número de nódulos danificados por larvas. A espécie predominante foi de Megascelis sp., visto que do total de 12 adultos que emergiram dos nódulos, 11 foram dessa espécie.

 

Biologia de Maecolaspis sp. e Megascelis sp. em condições de laboratório

 

Com relação ao número de ovos por massa de ovos, este variou de 50 até 121 ovos, com número médio de 94,14 ovos. Não foi possível determinar o número médio de massa de ovos por fêmea.

O período médio para eclosão da larva em 10 amostras isoladas em laboratório foi de 9,5 dias. Constatou-se que o período larval de Maecolaspis sp. foi de 23,3 dias, o que permite concluir que para completar o ciclo (ovo-adulto) o período médio requerido foi de ,32,8 dias.

 

Conclusções

a.      Megascelis sp. é a espécie de cascudinho mais abundante em Jataí –GO, tanto em feijão quanto em soja;

b.      Em algumas áreas é possível constatar a presença de larvas, principalmente de Megascelis sp., atacando nódulos de soja;

c.      Maecolaspis sp. apresenta em condições de laboratório um ciclo médio de 32,8 dias;

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIETZ, L.L., VAN DUYN, W., BRADLEY, J.R., RABB, W.M., BROOKS, W.M., STINNER, R.E. A guide to identification and biology of soybean arthrops in North Caroline. N.C. Agric. Exp. Stn. Technology Bulletin. 1976, 238p.

 

HOFFMANN-CAMPO, C.B., MOSCARDI, F., CORRÊA-FERREIRA, B.S., OLIVEIRA, L.J., SOSA-GÓMEZ, D.R., PANIZZI, A.R., CORSO, A.R., GAZZONI, D.L., OLIVEIRA, E.B. Pragas da soja no Brasil e seu manejo integrado. Embrapa Soja. Circular Técnica, 30. 2000. 70p.

 

HEINECK, M.A. Aspectos biológicos de C. arcuata tingomariana em soja. In: Reunião Sul-Brasileira de Insetos do Solo, 4, Passo Fundo, 1993. Anais. , p. 9-11, 1993.

 

LOURENÇÃO, A.L., MIRANDA, M.A.C., PEREIRA, J.C.N.A., AMBROSANO, G.M.B. Resistência de soja a insetos; X comportamento de cultivares e linhagens em relação a percevejos e desfolhadores. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil. v. 26, n.3, p.543-50, 1997.