Cadastro PRPPG nº 14000000-107.
Efeito do uso do açafrão como corante sobre as características sensoriais do queijo prato.
NASCIMENTO, C.B.*; MOURA, C.J.**; CRUVINEL, F.W.O.;
MORAES, M.N.;
RABELO, D. S.; TORRES, M.C.L; PAULA, Y. O.
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos
* cintiabarrosn@yahoo.com.br **cjdmoura@agro.ufg.br
RESUMO
O queijo prato possui ampla distribuição no Brasil. Na fabricação deste queijo,
a cor amarela é uma exigência do regulamento técnico de identidade do mesmo,
sendo utilizado o urucum. A legislação não permite o uso de agentes
conservadores para evitar o crescimento dos contaminantes encontrados em
queijos. Entretanto, o açafrão, além de conferir cor aos alimentos, apresenta
efeito antimicrobiano, comprovado, inclusive, em queijo prato. O presente
trabalho constituiu a avaliação sensorial do queijo prato fabricado com
diferentes teores de extrato alcoólico de açafrão (EAA) (1,0%, 1,5% e 2.0%)
após 20 e 40 dias de fabricação. Foram
realizados testes de ordenação e de aceitação. A partir dos resultados do teste
de ordenação e da verificação da atividade antimicrobiana por Toso (2003), os
tratamentos de 1,0% EAA e 1,5% EAA foram levados para avaliação sensorial dos
consumidores segundo escala hedônica de sete pontos. O queijo foi avaliado por
580 pessoas. O queijo com EAA 1,0% e 40 dias de cura foi o que obteve a maior
nota, 5,259. Já o queijo com EAA 1,0% me 20 dias de cura obteve a menor nota,
4,934. Independentemente do tratamento, os queijos com 40 dias de cura
obtiveram maior nota que os com 20 dias.
Palavras
chave: queijo prato, avaliação
sensorial, açafrão, cúrcuma.
1.0
INTRODUÇÃO
O queijo prato possui ampla distribuição no Brasil. A
legislação não permite o uso de agentes conservadores para evitar o crescimento
de microorganismos indesejáveis e contaminantes encontrados em queijos. Na
fabricação do queijo prato, a cor amarela é uma exigência do regulamento
técnico de identidade e qualidade, sendo utilizado o urucum para esta
finalidade.
A cúrcuma é utilizada na
culinária como corante (amarelo) e aromatizante, possuindo um aroma
característico e sabor amargo.
Segundo Bara (1992), a cúrcuma inibe o desenvolvimento de microrganismos patogênicos. O queijo prato enfrenta problemas com a carga microbiana indesejável, em especial o Staphylococcus aureus, devido à grande manipulação empregada na sua produção. Toso (2003) avaliou a utilização do açafrão como corante em queijo prato e o efeito deste na redução de Staphylococcus aureus, seus resultados demonstraram que o queijo tratado com o extrato alcoólico de açafrão reduziu a carga de S. aureus.
Entretanto,
a mudança no corante poderia acarretar mudanças na palatabilidade do alimento,
assim, saber se o consumidor aceitará esta mudança é indispensável para avaliar
a viabilidade da adoção da mudança.
O objetivo do presente trabalho
foi avaliar a aceitabilidade do queijo prato fabricado com extrato alcoólico de
açafrão em substituição ao corante de urucum.
2.0 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 AÇAFRÃO
O açafrão foi
obtido da região de Mara Rosa–GO. A determinação DO TEOR de curcuminóides foi
feita segundo a NBR 13624 da ABNT (1996). O extrato alcoólico foi obtido
segundo técnica descrita por Toso (2003).
2.2 LEITE
Foi utilizado leite tipo C pasteurizado
adquirido no mercado de Goiânia. Foram realizadas análises de acidez, teor de
gordura, densidade e extrato seco desengordurado nos laboratórios do Setor de
Tecnologia de Alimentos da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da
UFG, segundo metodologia recomendada por Silva
(1997).
2.3 QUEIJO
O queijo foi fabricado segundo
FURTADO (1991). Em substituição ao corante de urucum foi utilizado extrato
alcoólico de açafrão nas proporções de 1,0%, 1,5% e 2,0% em relação à
quantidade de leite utilizada. Foram realizadas duas repetições.
O pH dos queijos
foi medido antes da salga, após 20 e 40 dias de fabricação com um pHmetro
Digimed. O extrato seco desengordurado foi determinado segundo SILVA (1997).
2.4 AVALIAÇÃO
SENSORIAL
Foi realizado
um teste de ordenação no Laboratório de Análise Sensorial do Setor de
Tecnologia de Alimentos da UFG com 20 provadores semitreinados. Os provadores
avaliaram os queijos com as concentrações de 1,0%, 1,5% e 2,0% de extrato
alcoólico de açafrão (EAA) e queijo prato tradicional (corante de urucum)
adquirido no mercado de Goiânia (0% de açafrão). A partir dos resultados desta análise e verificação dos
tratamentos que obtiveram melhores resultados sobre o crescimento microbiano,
foram selecionados os tratamentos que deveriam ser aplicados aos queijos e
submetidos aos provadores não treinados (consumidores).
Após
a definição do melhor tratamento como inibidor do crescimento microbiano foi
realizado o teste de aceitação ao nível de consumidor com 580 provadores
não-treinados em um supermercado com grande circulação de pessoas na cidade
de Goiânia, após 20 e 40 dias de fabricação.
3.0 RESULTADOS E
DISCUSSÃO
O açafrão
utilizado apresentava 6,6mg/100g de
curcuminóides totais no extrato, ou seja, 6,6% de curcuminóides totais.
Os valores encontrados nas análises do leite estão em
conformidade com a legislação vigente. Portanto uma matéria que atende aos
requisitos tecnológicos para o queijo prato.
Os
resultados das análises físico-químicas dos queijos se encontram dentro dos
padrões, não havendo, portanto, interferência do extrato alcoólico de açafrão.
AVALIAÇÃO SENSORIAL
·
TESTE DE ORDENAÇÃO
A partir da
pontuação atribuída pode verificar-se que a amostra mais preferida seria aquela
que apresentasse menor pontuação. O queijo prato tradicional apresentou score
23, o queijo com açafrão 1,0% apresentou score 50, o com 1,5% de açafrão, 57 e
o com 2,0%, 70. Analisando os resultados através do teste de Friedman (α = 5%) verificou-se que houve diferença
significativa ao nível de significância de 5%, entre o queijo tradicional e
aquele condimentado com açafrão. Entretanto, não apresentou diferença
significativa entre os tratamentos de açafrão (1,0%, 1,5% e 2,0%).
Apesar de não existir diferença significativa entre
os três tratamentos, os comentários registrados pelos provadores a respeito do
queijo com 2% de extrato alcoólico de açafrão se mostraram desfavoráveis. O
sabor do queijo foi descrito como desagradável e amargo, dessa forma este
tratamento foi descartado e não apresentado aos demais provadores
·
TESTE DE ACEITAÇÃO
A partir do
teste de ordenação e da verificação da atividade antimicrobiana, definiu-se que
os tratamentos a serem apresentados aos consumidores seriam 1,0% e 1,5%.
Observa-se na
Figura 1 que as notas médias atribuídas pelos provadores foram muito próximas,
variando entre 4,934 e 5,259. O queijo fabricado com 1,0% de extrato alcoólico
e com 40 dias de cura apresentou a maior nota, significando uma maior
aceitação. Para os dois tratamentos
observa-se um aumento do nível de aceitação dos queijos ao aumentar o tempo de
cura, isso pode ser devido à liberação de compostos aromáticos durante a cura e
às mudanças bioquímicas normais do processo de maturação do queijo.
Figura 1.
Notas médias atribuídas pelos consumidores aos queijos analisados.
4.0 CONCLUSÕES
·
O queijo prato
fabricado com açafrão teve uma melhor aceitação com o período de cura aumentado
para 40 dias.
·
O queijo prato
fabricado com 1,0% de EAA de 40 dias apresentou maior aceitação.
5.0 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13624 –
Cúrcuma – Determinação do teor de curcumina – Método de ensaio. Maio, 1996.
BARA, M.T.F. Avaliação do efeito inibidor de condimentos no
crescimento de Yersinia enterocolitica. 1992. Dissertação (Mestrado)
UFV, Viçosa: 1992.
FURTADO, M.M; LOURENÇO NETO, J.P.M. Tecnologia de Queijos. São Paulo. Dipemar, 1994.
TOSO, Mônica. Instituto de Patologia
Tropical e Saúde Pública - UFG. Goiânia. Comunicação pessoal, 2003.
SILVA, P.; PEREIRA, D.; OLIVEIRA, L. Físico-química
do leite e derivados: Métodos
analíticos. Juiz de Fora: Oficina de Impressão, 1997.
Fonte Financiadora: CnPQ