Projeto nº: 28000000245

TÍTULO

ESTUDO DA ESPERMATOGÊNESE PELO SÊMEN E A MORFOLOGIA TESTICULAR DO GADO PÉ DURO.

AUTORES

SOUSA, A.P.F. (anafervet@ibest.com.br); FRENEAU, G.E. (gfreneau@ufg.br); FIORAVANTE. M.C.; JULIANO.R. S.

UNIDADE ACADÊMICA

Medicina Veterinária, Departamento de Produção Animal

PALAVRAS-CHAVE

Reprodução, testículos, morfologia, bovinos

RESUMO

O Pé-duro é uma raça nativa adaptada das raças Bos taurus ibericus. Objetivando estudar características da espermatogênese de touros desta raça foram avaliadas proporções volumétricas do parênquima testicular (PVT), diâmetro do túbulo seminífero (DTS), biometria (BT) e consistência testicular (CONS), perímetro escrotal (PE), aspecto seminal, motilidade (MOT), vigor (VIG), turbilhonamento (TURB) e defeitos espermáticos maiores (DMA) e menores (DME). Utilizaram-se 15 touros. Aferiram-se PE e CONS e realizou-se colheita para análise dos aspectos físicos e morfológicos dos ejaculados. Após orquiectomia bilateral foi mensurada a BT. Fragmentos de parênquima foram fixados e processados pela técnica de HE de rotina. Resultados de BT: comprimento 9.0±1.3cm, largura 4.9±0.8cm; peso 171.7±73.6g e peso do epidídimo 35.7±15.3g. Resultados de PVT: epitélio 71.5±3.1%; lume 13.0±3.1%; lâmina própria 3.2±0.6%; vasos 1.0±0.4%; células Leydig 1.1±0.4%; tecido conectivo 10.0±3.0%; túbulo seminífero 87.8±3.1%; interstício 12.2±3.1%. DTS foi 195.2±15.5mm, diâmetro do lume foi 87.1±9.4mm. Características seminais foram TURB 2,62±1,2; MOT 74,38±12,94%, VIG 3,0±0,92; aspecto 2±0,53; CONS 3,13±0,64, PE 27,33±3,77cm; DMA 21,06±8,42%; DME 23±6,3%. As características histológicas, BT e de qualidade do sêmen de touros Pé-duro adultos se apresentaram comparáveis com touros de outras raças e subespécies relatados em outros estudos. São necessários mais estudos para caracterizar o perfil andrológico desta raça.

INTRODUÇÃO

O gado Pé-duro surgiu da adaptação da raça Crioulo proveniente do tronco Bos Taurus Ibericus e chama a atenção de produtores por sua rusticidade, maior resistência a pragas e doenças. Entretanto, pouco se sabe sobre os aspectos reprodutivos destes animais.Foram relatados estudos sobre a espermatogênese de raças européias em paises temperados SWIERSTRA (1966) para a raça Shortorn. No Brasil FRENEAU (1991) trabalhou com touros Holandeses e mestiços F1 Holandes-Gir. Porém, não há trabalhos que caracterizem a espermatogênese de europeus adaptados como o Curraleiro.Este trabalho objetiva adicionar informações para caracterização da espermatogênese do Pé-duro, avaliando a morfologia espermática destes animais, proporção volumétrica, diâmetro tubular e biometria testicular pós-castração.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 15 touros adultos da raça Pé-duro com idades entre 3 e 9 anos. Realizou-se uma colheita de sêmen avaliando aspecto, turbilhonamento, motilidade individual progressiva e vigor.  A análise da morfologia espermática foi feita em microscópio de contraste de fase tendo-se contabilizado as patologias de 200 espermatozóides por preparado, dividindo estas em defeitos maiores e menores.

Após a orquiectomia bilateral, testículo e epidídimo foram separados e pesados em balança de prato. Comprimento e largura dos testículos foram mensurados com auxílio de paquímetro. Os fragmentos foram fixados em Formol 10% e processados pela técnica de rotina e corados pela técnica HE. A PVT foi determinada com o auxílio de ocular integradora dotada de uma grade com cinco linhas paralelas e 25 pontos eqüidistantes, acoplada a uma objetiva de 40x. Procedeu-se ao exame de 40 campos, totalizando 1000 pontos por testículo examinado. O DTS foi obtido segundo técnica utilizada por CARDOSO (1981), medindo o mesmo em 20 secções transversais de túbulo seminífero em cada testículo, com o auxílio de uma ocular micrométrica acoplada a uma objetiva de 40x. Os dados obtidos foram estatisticamente analisados calculando: a média, o desvio padrão, o coeficiente de variação e a amplitude.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

São demonstrados na tabela 1 os dados da biometria testicular,  perímetro escrotal, consistência dos testículos, resultados da avaliação das características físicas do ejaculado e características histológicas.

Tabela 1- Perímetro escrotal, biometria testicular, proporção volumétrica, consistência e diâmetro tubular e luminal dos testículos e parâmetros seminais de touros da raça Pé-Duro.

Variáveis

N

Média ± DP

CV

Amplitude

Perímetro Escrotal

15

27,33 ± 3,77

13,79

23,0 – 35,0

Comprimento testículo (cm)

15

9,0 ± 1,3

14,0

7,2 – 11,0

Largura testículo (cm)

15

4,9 ± 0,8

15,8

3,6 - 6,4

Consistência

15

3,13 ± 0,64

20,45

4,0 – 2,0

Peso testículo (g)

15

171,7 ± 73,6

12,8

87,5 - 325,0

Peso epidídimo (g)

15

35,7 ± 15,3

43,0

17,0 – 75,0

Peso Total (g)

15

207,3 ± 82,6

39,9

112,0 - 387,5

Epitélio normal (%)

15

71,5 ± 3,1

4,4

64,0 – 78,5

Lume (%)

15

13,0 ± 3,1

23,6

7,4 – 17,4

Lamina própria (%)

15

3,2 ± 0,6

18,9

2,2 - 4,6

Vasos (%)

15

1,0 ± 0,4

38,9

0,4 - 2,1

Células Leydig (%)

15

1,1 ± 0,4

34,0

0,5 - 1,7

Tecido conectivo (%)

15

10,0 ± 3,0

29,4

6,4 – 17,3

Túbulo seminífero (%)

15

87,8 ± 3,1

3,5

80,1 – 91,4

Interstício* (%)

15

12,2 ± 3,1

25,1

8,6 – 19,9

Retração (%)

15

28.3 ± 9.3

32.8

12.6 – 43.4

Diâmetro lume (µm)

15

87,1 ± 9,4

10,7

70,7 - 103,8

Diâmetro túbulo (µm)

15

195,2 ± 15,5

7,4

170,6 – 218,8

Espessura do epitélio(µm)

15

151,7 ± 11,4

7,4

133,0 – 172,7

Aspecto (0 – 5)

8

2,0 ± 0,53

26,5

1,0 – 2,0

Turbilhonamento (1 – 5)

8

2,62 ± 1,20

45,80

0 – 5,0

Motilidade (%)

8

74,38 ± 12,94

17,40

55,0 – 90,0

Vigor (0 - 5)

8

3,0 ± 0,92

30,67

2,0 – 4,0

Defeitos maiores (%)

8

21,06 ± 8,42

39,98

10,5 -34,0

Defeitos menores (%)

8

23,0 ± 6,3

27,4

14,5 – 32,5

O PE dos touros adultos foi menor dos Bos taurus taurus e mestiços (DI GARCIA, 2002). O peso dos testículos apresentou-se similar aos dos touros Shortorn (SWIERSTRA, 1966) e menor que o dos Nelores (CARDOSO, 1981). Este último trabalho apresentou resultados maiores quanto ao comprimento e largura dos testículos dos animais Pé-Duro. Os testículos dos animais estudados apresentaram-se mais flácidos que os de Bos taurus taurus estudados por DI GARCIA (2002). A PVT do Pé-duro foi superior às relatadas por SWIERSTRA (1966). Estes achados possivelmente sejam devido aos diferentes tipos de fixação de tecido testicular. Observou-se um grau de retração elevado, comparando com relatos de WILDEUS & ENTWISTLE (1983). A porcentagem de epitélio seminífero foi  maior que a relatada por HUMPHERY & LADDS (1975). A PVT da lâmina própria foi superior a estudada por SWIERSTRA (1966).  A proporção de tecido intertubular observada no Pé-duro foi inferior a de touros Shortorn (SWIERSTRA, 1966). A porcentagem de lume tubular foi menor que de touros holandeses e mestiços relatados por FRENEAU (1991). A média do DTS nestes touros foi semelhante às relatadas por FRENEAU (1991).

Quanto às características seminais, poderia ter havido falha técnica no processamento dos dados, pois se a MOT e VIG estão mais elevados que dos touros Gir leiteiro (MARTINEZ et al., 2000), a patologia espermática não deveria estar tão elevada, de acordo com comparação de estudos de DI GARCIA (2002) e MARTINEZ et al. (2000). Todavia, não deve-se descartar a hipótese de alta patologia espermática, devido a deficiência de manejo nutricional ou interferência climática o que concorda com os dados de CONS. O TUB também foi maior que de Gir leiteiro (MARTINEZ et al., 2000). Possivelmente estas diferenças encontradas poderiam ser atribuídas ao escasso processo de seleção que este grupo zootécnico tenha sofrido e as diferenças de idades entre os trabalhos. O Pé-duro é um bovino pequeno e proporcionalmente, seus testículos são menores que de raças zebuínas, o que pode explicar o resultado da BT e PE. O sistema extensivo e o manejo adotados, além da interferência climática somados às diferenças observadas em trabalhos prévios leva a sugerir novos estudos com maior quantidade de animais para caracterizar o padrão de desenvolvimento reprodutivo deste grupo genético.

CONCLUSÃO

Foram apresentadas algumas características reprodutivas em touros Pé-duro adultos. As características histológicas, de biometria testicular e de  qualidade de sêmen se apresentaram comparáveis às de touros de outras raças e subespécies relatadas em outros estudos. São necessários mais estudos para caracterizar o perfil andrológico de touros desta raça.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.       CARDOSO, F. M. Morfologia cinética e quantificação da espermatogênese em zebus (Bos indicus). 1981. 208 f. Tese (Doutorado em Morfologia) – Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

2.       DI GARCIA, V.; FRENEAU, G.E. Características reprodutivas de touros Bos taurus taurus e mestiços em três períodos do ano. In: REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., 2002, Recife. Anais. Recife:SBZ, 2002.

3.       FRENEAU, G.E. Desenvolvimento reprodutivo em tourinhos holandeses e mestiços holandês-gir, desde os seis até os 21 meses de idade (Puberdade e pós-puberdade). 1991. 254 f. Tese (Mestrado em Reprodução Animal) - Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

4.       HUMPHREY, J. D.; LADDS, P. W. A quantitative histological study of changes in the bovine testis and epididymis associated with age. Research in Veterinary Science, v.19, p.135 -141, 1975.

5.       MARTINEZ, M. L.; VERNEQUE, R. S.; TEODORO, R.L.; PAULA, L.R.O.; CRUZ, M.; CAMPOS, J. P.; RODRIGUES, L. H.; OLIVEIRA, J.; VIEIRA, F.; BRUSCHI, J. H.; DURÃES, M.C. Correlações entre características da qualidade do sêmen e a circunferência escrotal de reprodutores da raça Gir. Revista Brasileira de Zootecnia, Belo Horizonte, n. 29(3), p.700 – 706, 2000. 

6.       SWIERSTRA, E. E. Structural composition of Shorthorn bull testes and daily spermatozoa production as determined by quantitative testicular histology. J. Anim. Sci., v. 46, p. 107-119, 1966.

7.       WILDEUS, S.; ENTWISTLE, K. W. A quantitative histological study of testicular and epididymal development in bos indicus cross bulls. Animal Reproduction Science, v. 6, p. 1-10, 1983.

FONTE DE FINANCIAMENTO: CNPQ