Constituintes sanguíneos normais de bovinos (Bos taurus) da raça

Curraleiro, em diferentes faixas etárias, criados em regime extensivo

 

BORGES, A. C.; COELHO, M. M. S.; PAULA NETO, J. B.; BARINI, A. C.; LOBO, J. R.; FIORAVANTI, M. C. S.

 

Escola de Veterinária

 

(alinne.vet@pop.com.br / clorinda@vet.ufg.br)

 

Palavras-chaves: Hematologia, Parâmetros hematológicos, Pé-Duro

 

 

 

 

Introdução

 

Para CARVALHO (1985), a raça bovina Curraleiro (também denominada Pé-duro) é dotada de excepcional rusticidade, além de muito dócil e uma incrível capacidade de adaptação a condições adversas. É uma raça que poderá ser de grande utilidade para o pequeno produtor rural, fornecendo-lhe carne, leite e animais de trabalho. A clínica veterinária é de suma importância para a produtividade de um rebanho, pois para que este seja produtivo deve antes de tudo ser sadio. Neste contexto, o hemograma constitui um valioso e fundamental aliado, já que é utilizado na avaliação do estado nutricional e alterações patológicas de diferentes enfermidades. O objetivo deste trabalho foi estabelecer os valores padrão de referência para os seguintes parâmetros hematológicos: eritrograma (contagem do número total de hemácias; índices hematimétricos; dosagem de hemoglobina; determinação do volume globular) e leucograma (contagem do número total de leucócitos; contagem diferencial de leucócitos).

 

 

Metodologia

 

Utilizaram-se amostras sanguíneas de 396 Curraleiros (Bos taurus), divididos nas seguintes categorias: animais menores de 3 meses; de 3 a 6 meses; de 7 a 12 meses; de 13 a 24 meses; de 25 a 36 meses e animais com mais de 36 meses. A quantificação das hemácias foi feita em câmara de Neubauer, na determinação do volume globular foi utilizada a técnica do microhematócrito e para a hemoglobina utilizou-se o método da cianometahemoglobina. O cálculo dos índices hematimétricos absolutos (VCM; CHCM e HCM) foi feito por meio da correlação dos dados obtidos na contagem de hemácias (He), dosagem de hemoglobina (Hb) e determinação do volume globular ou hematócrito (Ht).

No leucograma o primeiro passo foi à confecção dos esfregaços sanguíneos, corados pelo método Rosenfeld. Para a contagem do número total de leucócitos foi adicionado líquido de Türk, efetuando-se a contagem dos leucócitos na câmara de Neubauer.

 

 

 

Resultados e discussão

           

Os resultados obtidos no eritrograma para o número de hemácias (x 106 / mL) foram de 10,34 ± 2,55 para animais de 0 a 3 meses; 10,51 ± 2,14 para 4 a 6 meses; 9,26 ± 1,66 para 7 a 12 meses;  8,86 ± 2,44 para 13 a 24 meses; 7,67 ± 1,62 para os de 25 a 36 meses e 6,89 ± 1,85 nos maiores de 36 meses. O número de hemácias apresentou um ligeiro aumento do nascimento até os seis meses de idade e a partir daí uma redução inversamente proporcional à idade. Os valores médios de animais recém-nascidos assemelham-se aos valores encontrados por BIONDO (1996), a partir dos 21 até 30 dias de idade, em bezerros da raça Nelore. Os valores descritos neste estudo foram semelhantes, considerando faixa etária equivalente, aos observados por BONFIM (1995) na avaliação do eritrograma de bubalinos (Bubalus bubalis), do nascimento até um ano de idade. Os resultados obtidos para hemoglobina (g / dL) foram: 13,16 ± 2,30;  10,51 ± 2,14; 98 ± 1,71; 11,96 ± 2,27; 11,63 ± 1,48 e 11,61 ± 2,23; respectivamente. A taxa de hemoglobina durante o desenvolvimento etário aumentou até os seis meses de idade, ocorrendo em seguida uma redução brusca até os doze meses, estabilizando posteriormente com o avanço da idade. Os resultados obtidos para volume globular (%) foram: 38,28 ± 4,60; 39,79 ± 3,02; 35,56 ± 4,14; 35,03 ± 4,99; 35,81 ± 3,82 e 33,23 ± 4,74; respectivamente. O volume globular foi superior nos animais mais jovens, até sete meses de idade em relação aos animais com idade mais avançada, sendo visível uma redução posterior dos valores durante o desenvolvimento, atingindo valores inferiores na fase adulta. Os resultados para VCM (m3) foram de 38,39 ± 6,94; 39,31 ± 8,10; 39,25 ± 6,20; 42,80 ± 15,25; 48,08 ± 7,99 e 50,18 ± 9,18; respectivamente. Os resultados obtidos para a CHCM (%) foram de 34,40 ± 4,44; 34,51 ± 4,77; 33,81 ± 3,91; 34,14 ± 4,41; 32,62 ± 3,97 e 34,95 ± 4,84;respectivamente. Obtiveram-se os seguintes valores de HCM (pg): 13,07 ± 2,26; 13,43 ± 2,62; 13,24 ± 2,48; 14,42 ± 4,82; 15,56 ± 2,53 e 17,45 ± 3,75. Os valores de VCM (volume corpuscular médio) e HCM (hemoglobina corpuscular média) mostraram aumento gradativo com a evolução da idade, atingindo maiores valores na fase adulta. Já valores médios do CHCM (concentração de hemoglobina corpuscular média) demonstraram valores praticamente uniformes e lineares com o evoluir da idade. Os resultados obtidos para o número de leucócitos totais foram de 13.902,70 ± 4.980,45; 15.039,58 ± 7.179,30; 12.589,36 ± 3.388,34; 11.793,10 ± 3.299,65; 10.094,70 ± 3.737,40 e 8.780,81 ± 3.112,91. O número de linfócitos foi: 9.252,06 ± 3.512,40; 10.772,19 ± 5.775,19; 8.800,93 ± 2.425,06; 7.618,92 ± 2.565,29; 6.919,63 ± 2.914,16 e 5.128,95 ± 2.245,72; respectivamente. Os valores para monócitos foram: 332,22 ± 318,40; 494,96 ± 724,60; 409,67 ± 364,96; 316,66 ± 321,01; 167,04 ± 156,47 e 175,30 ± 227,80. Observou-se aumento do número de leucócitos até os seis meses de idade e posteriormente um declínio com o avançar da idade. Este comportamento refletiu a dinâmica do número absoluto de linfócitos que apresentou mesmo padrão de distribuição, visto que animais em crescimento apresentam índices linfocitários mais elevados que os adultos, pois neles a atividade imunogênica é mais intensa (GARCIA-NAVARRO et al., 1994). O comportamento dos monócitos também foi semelhante e os menores valores foram verificados nos animais acima de 36 meses de idade. Resultados semelhantes foram descritos por BIONDO (1996). O número de bastonetes foi de: 51,28 ± 131,41; 51,88 ± 153,83; 29,79 ± 56,19; 88,14 ± 209,39; 34,73 ± 78,36 e 49,57 ± 98,24. Os valores de basófilos foram: 0,00 ± 0; 0,00 ± 0; 0,00 ± 0; 6,90 ± 30,29; 11,88 ± 43,02 e 10,34 ± 38,48. Os números de basófilos e bastonetes obtidos neste trabalho não apresentaram variações significativas durante o desenvolvimento etário. Como não foram detectadas diferenças significativas, atribuíram-se as flutuações dos valores a fatores aleatórios. Observação semelhante foi feita por COSTA et al. (2000). Os valores encontrados para segmentados foram: 4.531,44 ± 3.488,55; 3.552,81 ± 2.234,75; 2.963,24 ± 2.159,22; 3.119,92 ± 1.572,31; 2.459,56 ± 1.780,48 e 2.547,88 ± 1.564,89. Os valores médios absolutos de segmentados neutrófilos diminuíram levemente à medida que aumentava a idade. Resultados semelhantes foram encontrados por COSTA et al. (2000) em relação aos segmentados neutrófilos. Os resultados obtidos para eosinófilos foram os seguintes: 119,72 ± 158,36; 167,75 ± 246,58; 327,41 ± 359,28; 673,06 ± 555,92; 603,67 ± 460,59 e 874,06 ± 680,82. O número de eosinófilos aumentou gradativamente com a idade, comportamento semelhante ao descrito por COSTA et al. (2000). Os eosinófilos podem ser observados em animais adultos de muitas espécies, provavelmente com resultado de uma imunidade de memória, ou seja, experiência imunológica, particularmente depois de episódios de parasitismo.

 

 

Conclusão

 

A contagem de hemácias, teor de hemoglobina e volume globular nos animais mais jovens foram maiores em relação aos animais adultos, diminuindo com a idade. Os índices hematimétricos (VCM e CHCM) foram menores nos animais mais jovens aumentando com a idade. A contagem de leucócitos, linfócitos, segmentados e monócitos diminuíram com a idade. Os eosinófilos aumentaram com a idade. Os valores absolutos dos bastonetes e basófilos não sofreram variações significativas em função da idade.

 

Referências bibliográficas

 

1. BIONDO, A. W. Hemograma de bovinos (Bos indicus) sadios da raça Nelore no primeiro mês de vida, criados no estado de São Paulo: influência de fatores etários e sexuais. 1996. 76f. Tese (Mestrado em Clínica Veterinária) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.

 

2. BOMFIM, S. R. M. Mielograma e hemograma em bezerros bubalinos (Bubalus bubalis), do nascimento até um ano de idade. 1995. 77f. Dissertação (Mestrado em Clínca Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.

 

3. COSTA, J. N., BENESI, F. J., BIRGEL, E. H., D’ANGELINO, J. L., AYRES, M. C, BARROS FILHO, I. R. Fatores etários no leucograma de fêmeas zebuínas sadias da raça Nelore (Bos indicus). Ciência Rural, Santa Maria, v. 30, n.3, p. 399-403, 2000.

 

4. GARCIA-NAVARRO, C. E. K., PACHALY, J. R. Manual de hematologia veterinária. São Paulo: Varela, 1994. 169p.

 

5. CARVALHO, J. H. Pé-duro, patrimônio preservado no Piauí. Dirigente Rural, maio, p, 26-28, 1985.