USO DO GRÁFICO BIPLOT AMMI
COM REPRESENTAÇÃO DE GENÓTIPO SUPLEMENTAR
PARA RECOMENDAÇÃO DE CULTIVARES EM SOJA
CHAVES, A. A.
P.; DUARTE, J. B.
Unidade acadêmica: Escola de Agronomia
e Engenharia de Alimentos
Endereço eletrônico: apchaves@ubbi.com.br
Palavras-chave: Interação GxA,
estabilidade, adaptabilidade.
O modelo de efeitos principais aditivos e de interação
multiplicativa (análise AMMI) tem sido amplamente utilizado em estudos de
interação de genótipos com ambientes (GxA), nos últimos anos. Esse modelo
combina componentes aditivos para descrever os efeitos principais de genótipos
e de ambientes, e componentes multiplicativos, para os efeitos da interação GxA
(Duarte & Vencovsky, 1999). A análise produz um gráfico de dispersão dos
genótipos e dos ambientes, denominado biplot,
que permite interpretar a estabilidade fenotípica e a adaptabilidade dos
genótipos aos ambientes.
Pacheco et al. (2003) propuseram a representação de um
genótipo virtualmente de interesse, no gráfico biplot obtido por análise AMMI. Definiram-no como genótipo
suplementar e, em consonância com outros estudos, como sendo aquele que
reunisse, na série de ambientes, as mais altas produtividade observadas em cada
local. Com isso, é possível avaliar o potencial dos genótipos reais avaliados,
segundo suas proximidades ou distanciamentos, no biplot, em relação a esse genótipo de referência, o qual possui
características de uma testemunha hipotética ideal.
O objetivo
deste trabalho foi, então, fazer uma análise sobre a interpretação de gráficos biplot AMMI, aplicados em estudos dessa
natureza, em soja. Isso foi feito comparando-se a interpretação tradicional,
que considera como genótipos estáveis aqueles com pontos próximos à origem dos
eixos de interação no gráfico biplot,
e a abordagem alternativa, que considera os genótipos próximos ao genótipo
suplementar como sendo os de maior potencial de recomendação. Com isso,
procurou-se sugerir uma melhor maneira de interpretar e utilizar esse tipo de
representação gráfica para a seleção de genótipos promissores.
MATERIAL E MÉTODOS
Os
dados utilizados neste estudo referem-se a produtividade de grãos de linhagens
e cultivares de soja, de ciclo precoce de maturação, avaliadas nos ensaios
finais do programa de melhoramento coordenado pelo Convênio Cerrados (Centro
Tecnológico para Pesquisas Agropecuárias – CTPA, Agência Rural do Estado de
Goiás, e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa). Os ensaios
foram conduzidos, na safra 2002/2003, em sete localidades da região produtora
de soja, no Estado de Goiás. O delineamento
experimental utilizado em cada ensaio foi o de blocos completos casualizados,
com quatro repetições.
O dados foram analisados pelo método
AMMI (Gauch & Zobel, 1996). A avaliação da estabilidade e
adaptabilidade fenotípica dos genótipos foi feita através da interpretação de
um gráfico de dispersão dos genótipos e dos ambientes avaliados. Esse gráfico,
denominado biplot, consiste na
representação das linhas (genótipos) e colunas (ambientes) da matriz de
interações GxA, num gráfico de componentes principais. Nesse gráfico foi também
representado o genótipo suplementar, definido como uma testemunha ideal em
termos de adaptabilidade, assumido como sendo um genótipo hipotético com
respostas fenotípicas nos ambientes iguais às maiores produtividades médias
observadas em cada ambiente.
A posição
dessa testemunha no gráfico biplot
foi calculada de modo a não exercer influência alguma sobre as coordenadas
gráficas dos reais genótipos e ambientes avaliados. Os detalhes matemáticos
dessa representação são descritos em Pacheco et al. (2003). Assim, além da
interpretação tradicional de um gráfico biplot
AMMI, foi considerada, para a indicação de linhagens de alto potencial
produtivo e com estabilidade agronômica, uma interpretação alternativa
levando-se em conta o posicionamento dos pontos dos genótipos avaliados
relativamente a esse genótipo virtual de referência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise estatística dos dados levou à seleção do modelo
AMMI2, isto é, o modelo que desdobra a tradicional soma de quadrados da
interação (SQGxA) em dois componentes
(modelo com dois termos multiplicativos), representados pelos dois eixos IPCA
do gráfico biplot (Figura 1). Nessa
representação, pôde-se observar um
grande distanciamento do genótipo suplementar (Gs) em relação à origem do
sistema de coordenadas, a região central do gráfico. Isso demonstra que um
genótipo supostamente com as suas características, em termos de interação GxA,
não necessariamente é projetado próximo à origem do gráfico (região
interpretada tradicionalmente como a de localização de um material promissor
estável).
IPCA2 (kg/ha)1/2
IPCA1 (kg/ha)1/2
Figura 1. Gráfico biplot AMMI para um grupo de genótipos de soja (identificados de G1 a G28), do ciclo precoce de maturação, avaliados em sete ambientes (A1 a A7) do Estado de Goiás, no ano agrícola 2002/2003.
A maior parte dos genótipos cujos pontos foram projetados próximo à origem do sistema de coordenadas, na Figura 1 (genótipos estáveis segundo a interpretação convencional), não foi constituída por materiais de desempenho agronômico desejável. Por conseguinte, tais genótipos podem não se comportar como genótipos vencedores, ou seja, com as maiores médias de produtividade em cada ambiente; o que, em síntese, é o mais interessante aos melhoristas e aos produtores.
Por outro lado, os genótipos com pontos localizados mais proximamente ao do genótipo suplementar, no gráfico biplot, apresentaram um comportamento distinto. Esses genótipos, que possuem tendência de responderem às variações ambientais similarmente ao genótipo de referência (interagem com os ambientes de cultivo de maneira similar a essa referência genotípica teórica), no presente caso, coincidiram exatamente com os genótipos de maiores médias de produtividade; mostrando, portanto, alto potencial para serem recomendados como cultivares comerciais. O genótipo BRAS99-2254 CE, por exemplo, que foi o que mais se aproximou da projeção do genótipo suplementar, destacou-se como o de maior produtividade média sob todos os ambientes avaliados (3.500 kg/ha), vencendo todos os seus concorrentes em duas localidades e classificando-se em segundo ou terceiro lugar em outros três ambientes.
Tal análise demonstra que a representação de um genótipo suplementar de referência, tal como o proposto por Pacheco et al. (2003), pode ser uma ferramenta adicional bastante útil para uma melhor interpretação de um gráfico biplot AMMI, sobretudo em aplicações voltadas à recomendação de cultivares.
CONCLUSÕES
·
Genótipos representados próximos à origem do sistema de
coordenadas, num gráfico biplot AMMI,
não necessariamente são materiais de elevado potencial para recomendação como
cultivares.
·
No gráfico biplot,
há uma tendência de genótipos altamente produtivos e vencedores se aproximarem
do genótipo suplementar (definido como um material hipotético que atinge as
produtividades máximas observadas em cada ambiente), haja vista suas
similaridades de respostas às variações ambientais, no sentido de interagirem
positivamente com os ambientes de cultivo.
·
A representação de um genótipo suplementar, com
características hipotéticas de um genótipo de interesse (um ideotipo), é uma
ferramenta adicional para um melhor aproveitamento das informações num gráfico biplot AMMI.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
DUARTE,
J. B.; VENCOVSKY, R. Interação genótipos
x ambientes: uma introdução à análise AMMI. Sociedade Brasileira de
Genética. Série Monografias, n. 9. Ribeirão Preto, SP. 1999. 60 p.
GAUCH, H.G.; ZOBEL, R.W. AMMI analysis of yield
trials. In KANG, M.S.; GAUCH, H.G. (Ed.). Genotype
by environment interaction. Boca
Raton: CRC Press, 1996. p. 85-122.
PACHECO, R. M.; DUARTE, J. B.;
VENCOVSKY, R.; BALDIN, J. P.; OLIVEIRA, A. B. Emprego de tratamentos
suplementares no método AMMI aplicado à análise da estabilidade fenotípica de
genótipos. In: Simpósio de Estatística
Aplicada à Experimentação Agronômica, 10 / Reunião da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria,
48. Lavras, MG. Jul. 2003. p. 432-437.