Uma Análise da Representação da Migração no Estado de
Goiás, 1970 a 2004
Mônica Cristina da Silva[1]
(monicgeo@yahoo.com.br)
Dr. Manoel Calaça
Dr. Eguimar Felício
Chaveiro
Instituto de Estudos Sócio
Ambientais IESA/UFG
Palavras-chave: Goiás,
Demografia, Migração
1-INTRODUÇÃO: o Estado de Goiás vem experimentando
desde a década de 1970 um acelerado crescimento populacional, segundo os dados
do GeoBrasil (2000), é o segundo maior Estado receptor de migrantes do país. O
estudo desse fenômeno é de grande relevância nas pesquisas demográficas, agrária
e urbana, pois o movimento populacional perpassa e produz um redesenhar de
territórios, do campo para a cidade, da cidade para o campo, de cidade para
cidade. Além disso, a migração permite analisar as transformações sócio
espaciais do território goiano, seja pelos espaços “luminosos” de atração, como
a região metropolitana de Goiânia, Entorno de Brasília e Sudoeste Goiano ou
pelos espaços “opacos” de repulsão, Norte e Nordeste goiano.
Em nosso trabalho, a migração será entendida como
uma mobilidade forçada que acompanham o movimento da força de trabalho, como
conseqüências das relações capitalistas. E Trabalham nesta perspectiva Oliveira
(1999), para ele a migração ocorre a partir das modificações das estruturas
sócio econômicas do campo promovidas pela industrialização do campo; Damiani
(1997), estuda as migrações como uma reprodução do capitalismo; para Rua
(1997), as correntes migratórias vão votar-se para os pólos regionais em
desenvolvimento; Haesbaert (1996), a migração vai produzir um redesenhar de
territórios; para Santos (1985), a expansão do chamado capital técnico
científico tem como conseqüência a migração forçada, que se dá como
incapacidade financeira de continuar sendo proprietário ou investidor ou da
incapacidade técnica de exercer as novas funções; Becker (1996), concebe a
migração como uma mobilidade forçada pelas necessidades do capital e não mais
como um ato soberano de vontade pessoal.
A partir desta abordagem pretende-se estudar o
acelerado crescimento populacional buscando responder alguns questionamentos:
Quais os fatores de atração de migrantes para Goiás no período aludido? Quais
as áreas de maior concentração populacional, e as áreas pouco ocupadas? Quais
as causas e efeitos do atual padrão de distribuição espacial da população no
estado de Goiás? De que maneira as políticas governamentais contribuem para o
adensamento populacional?
2-OBJETIVO: este trabalho tem por objetivo analisar
o processo do crescimento populacional a partir da migração no Estado de Goiás
no período de 1970 a 2004. Além de compreender a relação de Goiás como um
centro receptor de população; analisar a distribuição da população de Goiás
segundo classes por município; verificar as desigualdades sociais decorrentes
da distribuição demográfica; analisar a relação da modernização da agricultura
com o crescimento populacional e analisar a relevância do processo migratório
para Goiás e suas implicações urbanas.
3-METODOLOGIA: para alcançar tais objetivos
pretende-se fazer um levantamento de material bibliográfico e revisão teórica;
levantamento de dados nos Censos Demográficos de 1970 a 2000 sobre a
distribuição da população; levantamento das fontes documentais do Instituto de
Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central, e outros dados cadastrais
junto à prefeitura e demais órgãos competentes; processamento dos dados
coletados em forma de mapas, tabelas, quadros, gráficos; finalização teórica e
metodológica dos resultados.
4-RESULTADOS E DISCUSSÕES: a partir de 1970 o espaço goiano sofreu reestruturação
no seu quadro demográfico. O modelo modernizador, o processo da urbanização, a
estrutura industrial, produziram um crescimento populacional desigual em todo do
Estado. Esse período marca novos ritmos, direções e intensidades da dinâmica
demográfica em Goiás.
A
principal característica demográfica recente de Goiás neste período foi o
rápido crescimento de sua população urbana e progressiva redução do seu
contingente rural. Isso se deu conforme Estevam (1998) pelos investimentos
governamentais, principalmente pela construção de Brasília que atraiu maciça
migração para o Distrito Federal como para seu entorno. Contribuiu também para
esse crescimento as políticas territoriais de Integração Nacional.
A década de 1970 foi marcada pela expulsão do homem
do campo, resultado da concentração fundiária nas mãos de poucos e grandes
proprietários. Sem investimentos e qualificação para aderir ao novo padrão de
desenvolvimento no campo esses indivíduos são “obrigados” a direcionarem para
outros lugares, e o meio urbano que nesta ocasião foi à alternativa. O
deslocamento da população rural para o campo foi significativo entre as décadas
de 1970 e 1980. Apartir da década de 1990 o êxodo rural já não se torna um
fator principal para o aumento exorbitante da população urbana, ele ocorre com
menos intensidade. Outros fatores justificam as grandes diferenças
populacionais para as cidades. E um deles é a migração de outros estados para
as cidades goianas principalmente para a região metropolitana de Goiânia,
Entorno de Brasília (com destaque para a cidade de Águas Lindas de Goiás que
segundo o Censo de 2000 cresceu 72% em relação à contagem de 1996) e Sudoeste
Goiano (Rio Verde, Jataí, Mineiros). Essa migração interestadual propicia a
formação de periferias no Entorno de Goiânia e Brasília.
Conforme os dados do IBGE em 1999 os estados que
mais enviaram migrantes para Goiás são: Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal,
São Paulo, Tocantins, Ceará e Maranhão. Em 2000 os estados que destacaram em
número de migrantes para Goiás são: Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal,
Tocantins, Maranhão, São Paulo e Piauí. Em 2002 o quadro de migrantes não
diminui, pelo contrário, os estados de Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal
continuam enviando migrantes para Goiás, em quatro anos (1999 a 2002) esses
estados foram os que mais enviaram migrantes para o território goiano. O número
de migrantes para Goiás cresceu 3,6% de 1999 a 2002.
O Estado de Goiás se caracteriza como um povo
migrante, segundo Gomes (1993) em 1940, 70% de sua população já era migrante. De
acordo com os dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio e do Censo
2000 mais de 25% da população residente em Goiás nasceu fora do estado.O
contingente populacional que chega no estado, segundo Censo Demográfico (2000),
vai concentrar na Região Metropolitana de Goiânia, no Entorno de Brasília e na
Região do Sudoeste Goiano. A Região Metropolitana de Goiânia concentra os
migrantes do Tocantins, Maranhão, de Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Distrito
Federal, Piauí. O Entorno de Brasília apresenta desde a sua criação 1960 uma
intensa migração de nordestinos, principalmente para trabalhar na construção
civil, e ainda hoje, concentra o maior número de nordestinos que chegam no
estado. Os municípios goianos com maior porcentagem de migrantes em 2000 estão
localizados na Microrregião do Entorno de Brasília. A construção da Capital
Federal contribuiu para a formação das cidades satélites, e sua expansão
contribuiu para o crescimento populacional das cidades do seu entorno. Águas
Lindas de Goiás, Valparaíso de Goiás, Novo Gama foram criados no ano de 1995,
em apenas nove anos são entre outros municípios que mais atraem migrantes. No
Sudoeste Goiano a população na sua maioria é originária do Sul do país,
principalmente do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul. As cidades com
maior concentração populacional nesta microrregião são: Rio Verde, Mineiro,
Jataí, Chapadão do Céu, todas com intensa atividade agropecuária, principalmente
pela atividade da soja voltada para o Agronegócio.
Um fator importante ao se analisar o crescimento
demográfico diz respeito à porcentagem de mulheres que migram para Goiás. O
estado recebe mais mulheres (1.897.476) do que homens (1.852.065) de outras
unidades da federação, a maioria vem em busca de novas oportunidades de
trabalho e estudo.
5-CONSIDERAÇÕES FINAIS: Goiás ainda é um estado em
constante mutação, seja Demográfica, Econômica, Política ou Cultural. A sua
condição de “centralidade” a qual permite relações com o restante do país,
principalmente com São Paulo, Centro de Poder do país; e o desenvolvimento dos
pólos regionais contribui para as transformações e mobilidade populacional do
Estado. A abordagem demográfica de Goiás levanta inúmeras indagações sobre o
intenso crescimento populacional e produz relações intrigantes sobre o espaço
demográfico enquanto uma fronteira em constantes mutações.
6-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BECKER, Olga Maria Schild. Mobilidade Espacial da
População: conceitos, tipologia, contextos. In:
CASTRO, I.E. De . Et alli (org). Questões atuais da
reorganização do território. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
CENSO DEMOGRÁFICO. Características da população e dos domicílios Resultado do Universo.
Rio de Janeiro: IBGE, 1970/2000.
DAMIANI, Amélia. População e Geografia. São
Paulo: Contexto, 1997.
ESTEVAM, Luís. O
tempo da transformação: estrutura e dinâmica da formação econômica de Goiás.
Goiânia: Ed. do Autor, 1998.
GeoBrasil 2000-Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil. Organizado por Thereza Christina Carvalho
Santos e João Batista Drummond Câmara. Brasília: Edições IBAMA, 2002.
GOMES, Horieste; TEIXERA NETO, Antônio. Geografia Goiás-Tocantins. Goiânia: ed.
UFG, 1993.
HAESBERT, Rogério. “Gaúchos” e baianos no “novo”
nordeste: entre a globalização econômica e a reinvenção das identidades
territoriais. In: CASTRO, I.E.de. Et. Alli (org). Questões atuais da reorganização do território. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1996.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Território e
migração: uma discussão conceitual na geografia. Simpósio Internacional
sobre Migrações. São Paulo: USP, 1999.
RUA, João. Repensando a Geografia da População.
Revista do Departamento de Geografia: UERJ, n.1, jan. 1997 (p.57-71).
SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel,
1985.
[1] Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia
IESA/UFG, ex-bolsista graduação PIBIC/CNPq 2001 a 2003.